sexta-feira, 6 de julho de 2012

Vamos a subir os padrõezinhos faxavôre.

Ora bem, é mais que sabido que aqui na Suíça ao se dar um pontapé num calhau (e aqui o que há mais é calhaus, e dos grandes!) saem de lá 20 Portugueses. Ainda ontem à noite, cerca de 7 em cada 10 pacientes que atendi na Urgência eram tugas. True story. O que, sabendo-se que somos alguns milhares só em Lausanne, não seria de admirar não fosse dar-se o caso de existir um certo padrão... Passo a explicar: na Urgência onde trabalho existem 2 sectores distintos para onde os doentes podem ser triados: o Sector A (de "Ambulatório") para onde são triados os doentes com males menores, coisas como Gripezecas, lombalgias, epigastralgias, e histerias em geral; já no Sector C (de "Couché"ou seja deitado) recebemos os doentes "à séria" as dispneias, os enfartes e os AVC. Portanto, não há cá misturas. E eu ontem à noite estive a trabalhar no Sector A...
Ora, os meus colegas já denominaram este Sector A como: "a Urgência dos Portugueses". Os tugas dirigem-se a este serviço como à padaria. Dói a barriguinha, urgência; dói o dentinho, urgência; dói a cabecinha, urgência; está deprimidinha, urgência. Então durante a noite é um vê se te avias! Ele é Costas, Silvas, Pereiras e Ferreiras com farturinha. E os meus colegas estranham este padrão e pedem-me explicações, explicações essas que eu não tenho. Acontece que em Portugal o padrão é o mesmo! E se bem que em Portugal pode sempre invocar-se o facto de que há milhões de portugueses sem médico de família, aqui esse facto não é aplicado. Só posso depreender que é algo que está inscrito no nosso código genético. E eu ontem fartei-me de falar português no serviço, ao ponto de entrar nas boxes já a disparar na língua de Camões mesmo se o doente fosse de outra nacionalidade!
Outro padrão que tenho reconhecido é a tendência para os meus pares de outras nacionalidades partirem do princípio que TODOS os tugas vão para Portugal de carro e passam lá o mês inteiro. Só isso pode explicar o facto de me perguntarem (demasiado) frequentemente "Então, vais de carro para Portugal? E já só voltas em Agosto hem?" Eh pá não, vou de avião e fico num hotel OK? E eles estranham.
E pronto, de uma assentada mais dois aspectos que identificam os Tugas aqui na Suíça: somos uns doentes chatos e incapazes de viajar de avião.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Nurse Jackie explica.

Anda tudo agora "ó tio, ó tio" por causa dos enfermeiros contratados a menos de 4€ à hora. Mas o problema não é de hoje e já há muito se ouve falar de enfermeiros a trabalhar de borla para "ganhar experiência" mas a isso o recém eleito bastonário dos enfermeiros chamou "empreendedorismo". Na verdade o problema é demasiado complexo e não estou para grandes reflexões. No entanto...
Aqui há uns dias, numa discussão facebookiana falava-se do enfado que são agora as séries dobre médicos e medicina, desde House a Grey. E alguém falou sobre Nurse Jackie. Eu cá acho que todas essas séries revelam bem o porquê da situação dos enfermeiros. Vejamos, em House quase não aparecem enfermeiros e quando aparecem são para ser insultadas pelo protagonista. Decerto dirão que o protagonista insulta toda a gente mas quando toca aos enfermeiros os insultos são sempre dirigidos quer a inutilidade da sua existência quer tornando evidente que é perfeitamente irrelevante as suas acções e que a finalidade da sua presença é fazer aquilo que o médico manda. Já na Anatomia de Grey, os enfermeiros aparecem em 3 situações muito específicas: a mais comum é estarem sempre lá para pegar num qualquer dossier clínico lhes passa para as mãos dizendo "Acabe de preencher o relatório que eu tenho mais que fazer" (talvez não por estas palavras mas pronto); a seguir vê-se os enfermeiros sentados atrás de um balcão com cara de enfado a dar informações tortas aos visitantes; depois, se o enfermeiro tem algum destaque nalgum episódio é porque anda enrolado com algum médico porque este quer fazer ciúmes a um outro doutor ou então aparece com uma função de comic relief, a atenuar de uma forma cómica o dramalhão usual desta série.  
Se recuarmos até ER, a pioneira de todas as séries de médicos na TV, os enfermeiros sempre apareciam nas reanimações a trabalhar com os médicos e até existiam algumas personagens principais que eram enfermeiros, num reflexo bastante aproximado da realidade. Mas (não há bela sem senão) esses enfermeiros-personagens-principais ou se tornavam médicos com o desenrolar da acção ou, não conseguindo tornar-se médicos, o sonho estava lá assim como as notas da faculdade para o fazer só que havia sempre uma condição qualquer que os impedia e, por causa disso eles eram infelizes.
Na única série em que um enfermeiro é protagonista, a Nurse Jackie é completamente desequilibrada, rouba drogas aos doente para se drunfar no WC e fornica avidamente um pouco por todo o hospital. Coloca frequentemente a vida dos doentes em risco porque está sempre drunfada e só se safa porque é amigalhaça da directora. 

I rest my case.