quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Até pró ano!

Sempre estranhei esta espécie de euforia que se vive à volta do "fim-de-ano". Encarei-a sempre mais como uma desculpa para se cometerem alguns excessos, numa tentativa de catarse do ano que finda. Mas o certo é que, muito embora se mudem os calendários e as agendas, o resto permanece lá. O mesmo trabalho, os colegas do dia anterior, o mesmo chefe, o trânsito de sempre, os filhos e o marido. Passada a euforia, as resoluções inspiradas por Baco e a ressaca que não permite nunca que esses resoluções se cumpram, o essencial da vida não mudou.
O calendário de 2009 pode estar hoje na sua última página mas não me apetece fazer balanços nem resoluções cujo fim não depende só de mim. Mas posso falar do que guardo de 2009: finalmente aprendi a relativizar e a desdramatizar, a ver que as coisas que me parecem más também têm um lado positivo. E tento hoje encontrar nas coisas o seu lado mais positivo. E as coisas não me têm corrido mal! Vi o meu filho crescer forte e com saúde e com muita personalidade também! E entretanto decidimos que era a altura de aumentar a família! Do que de menos bom se passou não guardo memória, nem quero!
2010 será marcado mesmo a meio. Teremos um período AN (Antes do Nascimento) e um período DN (Depois do Nascimento). Nos próximos 365 dias espero novos e renovados desafios, espero comprovar que ter dois filhos não equivale a ter o dobro do "trabalho" mas sim muito mais e espero estar à altura desses desafios. De resto, 2010 será um ano de preparação, de planificação, de lançamento para aquele que será o ano que poderá marcar uma mudança de rumo nas nossas vidas: 2011! Entretanto, o meu desejo para 2010 é muito simples: bom humor e muita energia positiva!
Para todos desejo isso mesmo, uma disposição muito "sweet" e toda a energia que conseguirem obter! É isso que encontro numa das músicas que mais me marcou este ano e não consigo deixar de ouvir em volume máximo...



Feliz 2010!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Ainda se lembram?

Tenho mais piada que o Bruno Aleixo.

O conceito até era engraçado: um "ewok" de Coimbra a dar pequenos conselhos para uma vida melhor! Uma coisa bem experimental, bem ao jeito da Internet, um projecto que prometia tornar-se num fenómeno de culto no panorama do humor cibernético. Mas não. Da internet para a TV, de "ewok" para um cão rafeiro qualquer e, finalmente para as massas através de uma rádio nacional.
Hoje vinha a ouvir mais um dos episódios de "Bruno Aleixo a falar no rádio" na Antena3 e, pasme-se, nem gargalhada, nem um sorriso, nem sequer a intenção disso. Mas pensei que, se escolhesse apenas um de todos os episódios que já vi/ouvi, calharia sempre cocó. E ri-me da minha própria piada.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os Corredores da Vida.

"Porque são nos hospitais tão importantes os corredores?. Existem as salas de espera, as enfermarias, os elevadores, os quartos, as salas de operações, etc...mas os 'corredores' enquanto espaço (de caminho para o desconhecido) ganham um protagonismo nos relatos dos doentes (e também na literatura de ficção). A fotografia deste blogue tem também um corredor...". Este é um comentário da ex Ana que me fez reflectir. Na verdade, porque é que os corredores dos hospitais são tão presentes e têm um papel tão dramático na ficção. Veja-se a "Anatomia de Grey" por exemplo. As grandes questões dramáticas e muito do desenrolar da história acontece nos corredores!

Os corredores hospitalares têm uma grande importância no dia-a-dia de um hospital não por aquilo que valem como um factor que contribua para o desenrolar da "acção" mas mais como um espaço de encontro entre os profissionais. As máquinas de café estão nos corredores, as pessoas encontram-se e falam dos seus problemas (e dos problemas dos outros!) nesses corredores. Eu, por exemplo, utilizo o corredor quando preciso de "escapar" por momentos a tudo aquilo que se desenrola nos quartos e salas de tratamento ou exames. É o espaço que eu utilizo para me sentar e repousar um bocado, tendo a certeza que não vou ser interrompido por algum doente ou familiar. O corredor é território neutro no confronto entres doentes, famílias e profissionanis! Depois, todas as situações mais emocionais que envolvam dois profissionais acontecem no corredor! Arrufos de namorados, discussões, beijos, conversas alegres ou tristes, revelações e desabafos, confrontos e resolução de conflitos, finais de relações e "rapidinhas"! Tudo isto acontece nos corredores.

Calculo que, para os doentes, o corredor tenha algum tipo de valor simbólico. Para aqueles que vão ser submetidos a grandes cirurgias o corredor deve ser encarado como a última etapa de um caminho que deixará de ser conhecido a partir das portas do Bloco Operatório. Para os que estão internados será uma espécie de Limbo onde aqueles corpos se encontram presos. O mundo que existe para lá dos quartos, o único sítio onde podem dar mais de 5 passos seguidos sem encontrar uma parede.

Mas os corredores pertencem aos profissionais. Aos enfermeiros e médicos, auxiliares e técnicos e aos empregados da limpeza. É nos corredores que a vida pessoal desta gente se desenrola e é neles que, muitas vezes se decide da vida dos doentes e do próprio hospital. E por isso eu lhes chamo os "corredores da vida".

Indicador de Produtividade.

Percebe-se as prioridades de um Povo no combate à "crise" quando o tema dominante das conversas de café é, por esta altura, o número de feriados e "pontes" que ocorrerão em 2010.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Isto é O Natal!

Feliz Natal a todos!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Momentos Preciosos.

"PAI, PAI,PAI, PAIIII! Estão dois ursos atrás de ti, pai!
Onde filhote, onde??
Atrás de ti pai!! FOGE!! (e corre rapidamente para trás da cama do nosso quarto ficando à espreita com um sorriso maroto)
Mas filho, estes são dois ursos amigos! Vês como eles não fazem mal?
(sai do seu esconderijo e fica em pé a olhar para o tecto) Vocês não são mauzões, ursos? Pai, os ursos são amigos! (um sorriso e dirige-se a mim com um bracito levantado, como se viesse de mão dada com um dos ursos!)
Vês. Como se chamam os ursos?
Kenai e Koda! O Kenai é grande e o Koda pequenino! Vamos saltar!!! (ele tem um colchão no chão do quarto que usa como trampolim!) Senta pai, senta!
(ia sentar-me no puff quando...) NÃO!!! NÃO SENTES AÍ!!! Aí está o Kenai...
Desculpa... sento-me no chão então.
Ó pai, pai olha como salto com o Koda!! (salta vigorosamente com os dois braços levantados fingindo estar de mãos dadas com o urso) Anda saltar com o Kenai!!
(e eu lá vou, saltando como se estivesse a segurar as enormes patas de um urso)
Pronto filho, o Kenai e o Koda vão dormir. E tu também tens de vir para a caminha..
Não! Quero saltar!
Vá, escolhe a história que queres ouvir hoje...
Os ursos podem ouvir a história também?
Claro que sim filho!!!
KENAI E KODA, KENAI E KODA!! Vamos ouvir a história!!! (sobe já para a sua cama levando consego o livro que escolheu. Senta-se)
Kenai sentas aqui e o Koda senta aqui! (e aponta os locais onde os ursos se devem sentar, enquanto se aperta o mais possível contra a cabeceira para arranjar espaço para os enormes ursos!)
Podes começar a contar pai!!! (e passa-me o livro que escolheu: Kenai e Koda, da Disney!)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Mais um pensamento pensado pela minha cabeça pensante...

Há médicos que percebem muito dos medicamentos e das doenças. Outros há que percebem de doentes.
Qual preferiram?

Medicina Moderna.

"O que deram os exames do meu pai?". Foi assim que hoje fui abordado por um familiar de um dos meus doentes. Os exames, o diagnóstico, as análises. É uma abordagem comum esta, a de dar a preocupação que se devia ter com o doente aos meios complementares de diagnóstico. São poucas as pessoas que fazem perguntas como "Como passou a noite? Comeu bem? Teve dores? Febre? Caminhou? Saiu da cama?" enfim, perguntas que estejam directamente relacionadas com o bem-estar do seu familiar.

Depois, quando tento explicar que o doente está melhor fisicamente, mais orientado, mais independente, que já tomou banho no WC em vez do costumeiro banho na cama, que até se alimentou sozinho, eis que vislumbro na face do familiar a expressão que revela que não é essa a informação que interessa. "Tem alguma questão?" pergunto, "Sim, sim! O que revelou a TAC que o meu pai fez ontem?". "Lamento mas essa é uma questão que terá que colocar ao médico assistente. Mas fique descansado que o seu pai está melhorado, bem-disposto e o exame não revelou nada de extraordinário.". "Então mas não me pode dizer o que deu o exame?". "Poder, poder, posso! Mas não era a mesma coisa!". Claro que esta última frase é imaginada mas é, muitas vezes a resposta que me apetecia dar!

Porque a maioria das pessoas dá demasiada importância aos exames, como se eles por si sós fossem capazes de resolver todo os males que se abateram sobre eles. O mesmo se passa com o diagnóstico. As pessoas encontram conforto no facto de haver um diagnóstico estabelecido, se é uma pneumonia, um AVC, uma pielonefrite, uma diabetes. Um diagnóstico do tipo "síndrome febril de causas desconhecidas" simplesmente não é aceitável. Presumo que tenha alguma coisa a ver com uma falsa sensação de controlo sobre a situação. A segurança que traz o saber o que se passa, o que despoletou a situação, o curso que seguirá o tratamento e o resultado final. Mas a medicina não é uma ciência exacta porque lida com Humanos e isso diz tudo.
Mas tudo isto para dizer apenas isto: de que vale ao doente que tenhamos determinado o diagnóstico correcto, que os exames sejam determinantes e conclusivos, que as análises estejam todas dentro dos parâmetros normais se o doente se encontra confinado à cama, a contorcerem-se com dor, completamente desorientados, imobilizados e deitados sobre a sua própria merda fétida?
Nada.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Paranóias Suburbanas.

Eu moro nos subúrbios. Na verdade, nos subúrbios dos subúrbios. É um aglomerado de vivendinhas geminadas, todas muito parecidas por fora e por dentro, mais ou menos com as mesmas áreas. Visto através do Google Earth, o sítio onde moro é uma espécie de folha quadriculada. As casas podem ter ou não uma garagem. Sendo que as áreas exteriores não são as maiores, o conceito "jardim e garagem" não se aplica! Quem tem garagem fica com um "jardim" com cerca de 1 m2! Nós abdicámos da garagem e temos um jardim(zeco) que até é bastante agradável!
A população que vive neste tipo de urbanização é, normalmente, daquela "classe-média" que já não existe, a classe que acaba sempre por sentir e suportar as "crises". Famílias jovens com filhos pequenos que, não tendo capacidade financeira para viver em zonas mais nobres, mais perto do trabalho, optam por se afastar para locais onde as casas são mais baratas. E o que se passa com esta malta? A maioria tem uma fixação quase patológica com "cozinhas rústicas".
As garagens de que falei antes não são suficientemente grandes para que lá caiba um carro. Melhor, o carro cabe mas depois teríamos que dormir lá dentro porque não seríamos capazes de abrir as portas!! Ou seja, quem compra as casas com a "garagem" o faz por duas razões: ou precisa de uma grande arrecadação ou vai ali instalar uma "cozinha rústica". E o que é uma "cozinha rústica"? Bom, é um sítio que as pessoas decoram com muito mau-gosto antes de mais! As paredes são forradas com cerâmica que imita a pedra ou o barro, colocam-se uns potes de ferro comprados na feira mensal de Azeitão (no primeiro domingo de cada mês!), um forno a lenha de tijolo e uma churrasqueira e decoram-se as paredes com passarinhos de barro a voar aos pares, imagens da região de onde é proveniente o orgulhoso proprietário e, nunca falta, uma TV!
Há muito que tento desconstruir este conceito de "cozinha rústica" que defino como... parvo. Qual a sua finalidade? Não sei. Sendo uma cozinha onde se confecciona a comida, porque é que a única coisa que eu vejo fazer numa "cozinha rústica" é a carne grelhada, enquanto que tudo o resto vem da normalíssima cozinha da casa? O forno de lenha é utilizado apenas uma vez, na inauguração, porque depois disso a mulher da casa não está para se chatear a amassar o pão e a alimentar o forno com lenha enquanto o orgulhoso proprietário da "cozinha rústica" está a ver o futebol na TV. E desde quando algo rústico compreende uma TV? Ultrapassa-me. Também me ultrapassa o facto de, no inverno, as pessoas estarem à lareira da sua "cozinha rústica", com uma mantinha nos joelhos a ver a novela da noite da TVI e, no final da noite, terem que atravessar o seu pequeno jardim para voltarem para dentro de casa. É coisa para lhes dar um resfriado. Além de que, para essas actividades existe uma nova invenção, uma coisa vanguardista é certo, chamada "sala de estar". Mas isso sou eu que sou modernaço!
Existe ainda uma outra corrente de pensamento acerca do conceito de "cozinha rústica". Aqueles que não compraram a garagem vão construindo a sua própria cozinha rústica, por partes. Assim tipo uma deformação da teoria da Gestalt onde o todo é sempre mais que a soma das partes. Iniciam com a instalação de um pequeno grelhador num canto do jardim. Depois, porque é chato estar a grelhar carne à torreira do sol ou à chuva, lá se constrói um telheiro e, já que estamos a construir, porque não um forno a lenha para o pãozinho e o borrego? Agora, já com paredes, fica mal este branco-morto, toca a colar as tais imitações de rocha ou tijolo-burro e compor o quadro com as imagens de barro das andorinhas e da serra da estrela e, nunca se sabe, um cão de loiça!!! Mas o que acabava mesmo em beleza esta bela obra era a marquise de alumínio lacado a branco. Assim se constrói, por etapas a bela "cozinha rústica" com vista para a faixa de relva com 0,5x2 m que sobreviveu à construção de tão marcante obra.
São estas as minhas divagações suburbanas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Acho que estou a chocar uma esquizofrenia...

No hospital, diz o médico:
- O senhor é o dador de sangue?
- Não, eu sou o da dor de cabeça!
O que é que um tubarão diz para o outro?
-Tubaralhas-me
Como é que as enzimas se reproduzem?
- Fica uma enzima da outra.
Para que servem óculos verdes?
- Para verde perto.
Por que a mulher do Hulk se divorciou dele ?
- Porque ela queria um homem mais maduro.
O que é que um cromossoma fala pró outro?
- Cromossomos bonitos!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um Conto que Poderia Ser Real.

Ele era ansioso, histérico, hipocondríaco. Cismava que ia morrer a toda a hora porque o coração palpitava, porque sentia uma pontada no estômago, uma dor no flanco, uma dor de cabeça. Enfarte, AVC, trobose, apendicite. Se estava cansado ao final do dia logo se diagnosticava uma fibromialgia. Lia exaustivamente todas as bulas dos medicamentos até as decorar para testar os diversos médicos. Tinha vários porque gostava sempre de uma 2ª opinião. E, como era avisado, pedia também uma 3ª, uma 4ª e uma 5ª até que algum deles concordasse com o seu autodiagnóstico, pesquisado do Google ou na Wikipédia.
Comia tudo, de tudo e bebia. Por vezes mais do que a conta. A culpa consumia-o e temia morrer de um ataque fulminante de colesterol ou de diabetes ou de tensão alta. "O colesterol alto não é letal, ninguém morre de repente porque o colesterol está alto!" disse o médico. "Você está muito ansioso." Não o descansou "Ouvi dizer que se pode morrer de ansiedade..." respondeu e do médico só obteve um abanar de cabeça condescendente e uma receita passada enquanto pensava de si para si "Tu és é psiquiátrico... nunca mais acabam a merda das consultas..."
Tomava os ansiolíticos e os antidepressivos religiosamente, por vezes duplicava a dose porque sentia que o seu corpo estava a contrair uma nova doença a cada minuto. Cancro, flebite, arterosclerose, tuberculose, próstata, gota, anemia, insuficiência renal, disfunção eréctil. No trabalho comia sempre sozinho, numa arrecadação. Por um lado tinha medo de apanhar a tuberculose, dizem que está a voltar em força e que se apanha em locais com muita gente, mas por outro lado nunca ninguém se sentava com ele. Não percebia porquê.
Um rapaz do armazém encontrou o seu corpo numa arrecadação escondida. A face negra, o corpo pálido. Os bombeiros dizem que se engasgou com um bocado de pão integral.

Escrito noutro tempo, noutras andanças. Escrito no início desta aventura dos blogs.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ginásio. Balneário. Homens. Músculos. Fio dental. Medo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pais Natais Suicidas*.

Quando se fala apenas na alegria e solidariedade trazida pelo Natal, quase ninguém aborda o lado negro desta quadra festiva. Falaremos hoje do drama vivido nesta época cheia de significado por aquele que é, talvez, o maior símbolo do Natal e o mais reconhecido pelas crianças do todo o Mundo. Falamos obviamente do Pai Natal.
Esta figura mítica é hoje a base de uma indústria que move milhões. O grande problema é que não há lugar para toda os profissionais. A Associação Portuguesa de Pais Natais Profissionais aponta o dedo ao Governo. Segundo Nicolau Neve, presidente da APPNP, "o governo não acautelou os direitos deste grupo profissional ao permitir o acesso ás funções de Pai Natal de profissionais não acreditados e com formação não adequada. Isso é particularmente ofensivo quando observamos a usurpação das nossas funções por Pais Natais temporários, biscateiros que julgam que basta colocar umas barbas postiças e gritar HO HO HO nos centros comerciais. De notar que os Pais Natais inscritos na APPNP, a única entidade acreditada para o acreditamento dos Pais Natais em Portugal exige, por exemplo que as barbas brancas sejam originais e não permite o uso de barbas postiças." Esta situação está a levar ao desespero os Pais Natais mais antigos nas funções uma vez que "os centros comerciais optam por serviços mais baratos destes profissionais não reconhecidos, não dando importância à qualidade dos serviços prestados" ainda segundo Nicolau Neve. Os profissionais no desemprego estão a perder qualidade de vida, sendo este facto particularmente visível no que diz respeito à saúde. A APPNP garante aos seus profissionais um seguro de saúde que permite a monitorização regular do estado clínico dos seus afiliados. Rudolfo Azevinho, Pai Natal no desemprego, afirma "esta barriga que aqui vêm é genuína. Nos 20 anos de exercício profissional nunca usei nenhuma almofada por baixo do fato vermelho. Mas isto é uma profissão de risco, de desgaste rápido pois esta barriga traz consequências: problemas de coluna e joelhos, colesterol e problemas gástricos".
Estas razões levam a que cada vez mais Pais Natais optem por acções radicais, entre as quais a mais popular é o suicídio. É cada vez mais comum observarmos Pais Natais pendurados nas janelas dos prédios, nas varandas e nas árvores. As posições dos seus corpos transparecem o desespero em que se encontram e aquela corda a que se agarram simboliza o fino fio de esperança a que ainda se agarram. Mas a vida continua, indiferente, ao apelo desta gente que clama por ajuda. As pessoas passam, olham e seguem o seu caminho tal a normalidade destas acções. A taxa dos que se soltam em direcção ao abismo é cada vez maior, os que se mantêm agarrados ao fio da esperança e da vida passam, muitas vezes, dias, semanas expostos à intempérie sempre abandonados, sempre sós, sempre desesperados.
Artigo do Jornal "Barbas Brancas"
*ou Haverá Coisa Mais Parva que Pendurar um Pai Natal Insuflável no Parapeito da Janela?

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Noite, outra e outra vez.

São neste momento 7:40. Mais uma noite passada entre doentes e doenças, entre gemidos e silêncios. Porque são os silêncios que, por vezes mais me preocupam...
Tudo bem, nenhuma baixa, mais uma que passou. Mas juro, juro que com a noite, o corredor estreita e alonga, as sombras ganham vida e os sons têm outro significado. Definitivamente trabalhar "nesta noite" e não na outra, a da música e das luzes, é um mundo paralelo. Após tantos anos "nesta noite" e nem tanto na outra, já devia estar habituado mas o certo é que não estou. Bolas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mundo Irreal.

Preparo-me para a espera, a ansiedade, o desespero. Compro a Visão dessa semana e levo um livro, não vá a revista não ser suficiente. No dia anterior ensaio uns mantras para me acalmar. Mas não é! Assim que avisto o edifício mando uns berros e uns impropérios vernaculares hardcore, no abrigo da insonorização do automóvel e com a música bem alta. Assim, quando tiro a minha senha para o Atendimento Geral da Segurança Social limito-me a respirar fundo quando me apercebo que estão apenas 187 pessoas à minha espera. São 8:30.

A Segurança Social é um mundo paralelo, um universo à parte separado do mundo real por portas de vidro. Cada vez que lá vou lembro-me do Banco de Gringotts, do universo Harry Potter, que é gerido por uns duendes de aspecto horroroso e pouco simpático, cuja missão é dificultar ao máximo o acesso de estranhos ao banco. Não quer dizer que os duendes da Seg. Social sejam feios (muito embora o sejam na maioria dos casos) mas simpatia é algo que deve ter ficado à porta daquele mundo muito particular. E julgo perceber que a táctica utilizada para nos manter fora daquele mundinho só deles deve ser "fazê-los esperar até à exaustão!". Sim, porque quatro ou mais horas de espera é desesperante!!!

Mas, enfim, tento aproveitar esse tempo da melhor maneira. Ler e observar! Gosto particularmente de observar os funcionários dos postos de atendimento ao público. Gosto de tentar perceber os seus padrões de comportamento e imaginar que tipo de conversas mantêm com o público. Por exemplo, no posto de atendimento nº 7 está o duende-fóssil. Aquele que já trabalha naquele posto desde 1980 e cuja mente está formatada para reencaminhar todos os utentes que à frente dele se sentarem para uma qualquer repartição, independentemente da questão que lhe colocam e da repartição! "Preencha o formulário 37822/C-1001A e dirija-se à Repartição para os Assuntos que Agora Não Me Dá Jeito Nenhum Resolver. PRÓXIMO!!!". E é ver as pessoas, que nem tiveram tempo para se sentar, a abandonarem o edifício com o olhar vazio de quem foi colocado perante um enigma do Dan Brown sem, no entanto terem as competências de Robert Langdon.

Ali, no posto de atendimento nº25 está a duende-histérica. Esta duenda é uma mulher nos seus cinquenta-e-picos-com-a-mania-que-se-mantém-boa-como-quando-tinha-trinta. Baixinha, cabelo branco-oxigenado, grita histericamente com todos os que se sentam à sua frente. "MAS QUEM É QUE LHE DISSE QUE TINHA DIREITO A SUBSÍDIO??! NÃO TEM NADA PORQUE NÃO PREENCHEU O MODELO 58894030-FGSJE! E NÃO ME DIGA QUE NÃO SABIA PORQUE ISSO FOI PUBLICADO EM DEC-LEI! FOI UM COLEGA MEU? ELE DEVE É SER PARVO!" Detenho-me mais tempo nesta personagem porque é a que proporciona momentos mais divertidos! As pessoas ou devolvem-lhe os berros ou saem a chorar. A primeira situação é a mais gira porque implica bate-bocas que dão textos e inspiração imperdíveis!!!

Depois, no atendimento nº 3, temos a duenda-giraça! A duenda-histérica detesta a duenda-giraça e deseja secretamente a sua morte lenta e agonizante. A duenda-giraça é uma vistosa mulher vinte-e-muitos-trinta-e-poucos extremamente atenciosa mas que, lamentavelmente, não percebe nada dos meandros burocráticos da Seg. Social e está, constantemente a chamar a duenda-chefa-da-repartição. Esta, uma mulher com 1,50m mas cuja permanente capilar dá a sensação de medir uns bons 1,80m e que usa saltos de 15 cm, aparece apressada e com alguns papéis na mão, óculos pendurados ao volumoso peito com uma pesada corrente de um metal amarelo, os dedos das mãos repletos de anéis simples ou incrustados com coloridas pedras, como se a autoridade fosse atribuída pela quantidade de ornamentos que cada um tem a capacidade de ostentar. Chega apressada, dirige um olhar reprovador à duenda-giraça (nenhuma das duendas menos novas gosta dela, ao contrário dos duendes, novos ou velhos) enquanto se apressa a resolver o problema que lhe foi colocado com um "Não tem direito!".

E, depois deste exercício de aquecimento, vou ali à Seg. Social esclarecer uma dúvida que não consegui resolver através da internet... só espero ser chamado pela duenda-giraça! Não me resolve nada, mas sempre tenho a oportunidade de falar com a gerente!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Estejam atentos quando andarem nos corredores de algum hospital...

Mas haverá melhor tema para regressar aos textos dignos desse nome, em vez de posts sobre os abdominais do CR7/9 e listas de Natal megalómanas, do que... cadáveres? Não. Um cadáver é uma pessoa, amemos o cadáver. Eu já vi, já mexi e já empacotei a minha dose de cadáveres. Uns com mais vontade outros com menos, uns com pesar e outros com uma estranha leveza, o que me levou a reflectir sobre o psicopata assassino que pode morar nas entranhas da minha mente. Mas nunca com indiferença. De todos os cadáveres com que já tive o prazer de privar (cá está a tal leveza...) houve dois particularmente marcantes: o primeiro, por razões óbvias e um com quem me cruzei nas Urgências de um hospital central da zona de Lisboa. Corria o ano de 2005...
Encontrava-me no Balcão de Mulheres, como sempre o mais movimentado ou não fossem as mulheres as nossas principais e mais fieis clientes, e os bombeiros trazem-me uma senhora deitada numa maca. Magra, nariz afilado e cabelo negro, apresentava-se pálida mas consciente. Não me lembro do nome mas trocámos algumas palavras. Tosse, febre, falta de forças em Novembro ou Dezembro logo me remeteram para algum tipo de infecção pulmonar. O médico enviou-a para o Rx. O tempo passou, os doentes também até que uma senhora me abordou: "Sr. Enfermeiro, a minha mãe não se está a sentir bem..."
"Desculpe?"
"A minha mãe, mandou-a fazer um Rx mas ela ainda não foi vista e não está a sentir-se nada bem."
"Mas... o que se passa?"
"Bom, ela simplesmente deixou de falar comigo..."
Acompanhei a senhora até ao corredor onde os pacientes esperam pela chamada para os exames e, assim que virei a esquina percebi o problema da doente. Um pálido translúcido, os lábios escuros, o olhar vazio, por mais que descreva um cadáver não é possível transmitir aquele aspecto... bom, aquele aspecto morto! No corredor, com dezenas de pessoas a circular, doentes e profissionais! Claro que não podia revelar o meu diagnóstico ali, no meio de tanta gente...
"Dª Fulana? Ó Dª Fulana, sente-se bem?.... Pois, não reage.... aguarde aqui que vou leva-la já para dentro! Vamos fazer um tratamento Dª Fulana!!" E, calmamente, empurrei o cadáver para a sala de reanimação, liguei-a ao monitor para observar aquela linha plana e continua que é, tão dramaticamente usada nos filmes e séries para marcar a morte do artista, e chamei o médico.
"O qu'é q'foi pá?"
"Doctor! A mulher foi-se."
"'Atão s'tá morta p'ra qu'é q'me chamas??" E retirou-se tão depressa como chegara. O cadáver ficou-me "nos bracinhos". E ali fiquei, a fazer tempo. Não podia sair logo e transmitir a notícia à filha, ela aperceber-se-ia de que pouco ou nada tinha sido feito e por isso, ali fiquei. Aproveitei aquele tempo morto (piada fácil, eu sei) para adiantar trabalho e fazer a verificação das máquinas e para repor material. Depois chamei o médico para que ele certificasse o óbito e transmitisse a notícia à família. E não, não me envergonho de ter passado a "batata quente"!
E pronto, mais uma história real do país real onde, por vezes as pessoas morrem nos corredores de hospitais enquanto esperam por exames. A sorte ainda vai sendo o facto de andarem por aí uns carolas enfermeiros!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Querido Pai Natal,

Já há uns anos largos que não te escrevia. Desculpa lá. Este ano não vou pedir as coisas do costume como a paz no mundo e o fim do aquecimento global e essas tretas. Que raio! Se por todo o lado somos atacados pelo lado sombrio e consumista do Natal, eu também quero a minha fatia! Mas enfim, a minha educação não me permite ser um puro-sangue consumista que compra porque sim e sinto-me na obrigação de justificar os meus desejos de natal para 2009. Então? Preparado? Cá vai:
(as imagens não reflectem o produto desejado. Devem ser usadas apenas como exemplo ilustrativo.)

Porque temos que proteger os olhinhos!

Porque... porque... porque escrevo muito na Internet e nem sempre tenho o computador do serviço disponível.


Porque a saúde dos pés se reflecte em todo o corpinho!


Porque a minha velhinha e compacta P100 já não satisfaz a qualidade fotográfica que os meus filhos merecem!

Portanto, são apenas coisinhas simples para um menino que se portou bem todo o ano! Trabalhei com afinco, ajudei o próximo cuidando das suas maleitas e, caramba!, até fiz um bebé!! Vá lá, Pai Natal (ou Menino Jesus, que eu não sou esquisito sobre de onde vêm os presentes) não estou a pedir nada de mais.

Um grande abraço e um beijinho nessas tuas barbas fofinhas de velhinho adorável!

Miguel.

Olha, Olha, o Incrível Hulk...


Diz que faz 3000 abdominais por dia...
Pfff.... grande coisa.

(A inveja também é verde.)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Brincalhona...

Depois de uma noite em que não dormiu, passou o tempo a tentar sair da cama saltando por cima das grades de protecção lateral, a gritar por alguém imaginário obrigando-me a ir ao pé dela para a devolver ao leito, a arranjar a roupa e a fralda, uma senhora diz-me, muito sorridente, pelas 6 da manhã:
-"Bom dia Sr. Enfermeiro! Dormi muito bem mas não sei porque me sinto tão cansada..."
Bolas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Malditos Sindicalistas!!

Eu, dono e senhor deste estaminé, não dou o devido valor aos meus pequenos funcionários. Não os valorizo, não os congratulo, não os gratifico. E só me apercebo da sua real importância quando eles param as suas actividades e me encravam o ritmo de trabalho deste empreendimento.

Pois é, o Sr. Criativo está de greve novamente e, sem ele, isto não funciona. Esperam-me duras negociações...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Porto em imagens...

Aliados



Jardins de Serralves


Rotunda da Boavista

E o nosso principal meio de transporte!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Profundíssima conclusão após aturada reflexão do meu brilhante e sombrio intelecto:

Os médicos são como as noivas. Andam de branco e deixam toda a gente à espera.