quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pancadinhas de Amor.

Esta semana, Festa de S. Pedro no Seixal! Por lá andámos divertidos com o mais velho a pedir para andar em tooooodas as diversões e o mais novo fascinado com as luzes e todo o barulho. Mas o mais divertido mesmo foi andar nos carrinhos de choque com o Gabriel! Céus! Há anos que não andava nos carrinhos de choque e já não me lembrava como aquilo é mesmo, mesmo divertido! Todo o ambiente é tão foleiro com os milhares de luzes coloridas, os néons fatelas, as pinturas a plagiarem rascamente tudo o que é marcas e imagens de referência e a música, aiiii a música!, tudo o que é hits orelhudos dos grupos "dos jovens" ornamentado pela batida mais básica das pistas de dança, o que faz com que nos pareça que estamos a ouvir sempre a mesma música, sem intervalos! Mas é isto mesmo a magia destas festas populares, o gosto duvidoso, a tentativa falhada de ser "cool", o exagero das músicas e das luzes. Mas voltando aos carrinhos de choque...
É incrível que o ambiente e as personagens da pista sejam os mesmos de que me lembro, de há 15 anos atrás! Os mesmos grupos de rapazes a contar os trocos para comprar fichas, os mesmos grupos de raparigas a fazerem-se difíceis. Na pista lá andam aos pares, dois rapazes num carro, duas raparigas no outro em que eles as perseguem e tentas abalroá-las o mais violentamente possível! Julgo existir aqui uma metáfora para a relação entre homens e mulheres mas nem sequer me atrevo a desenvolver... Aliás, parece-me que deve ser o único sítio do mundo onde uma pancada lateral (ou frontal!) certeira é uma maneira aceite de dizer "Gosto de ti miúda!". E lá andam elas, alegremente a serem abalroadas à bruta enquanto se fazem fortes e eles, sorriso maroto nos lábios a murmurar "Gostas assim, à força não gostas? Toma!"
Depois, os mesmos personagens de há 15 anos desfilam naquela passerela:
-O Arrumador-de-Carrinhos: o rei e senhor da pista. É o fulano, empregado, que tem como função arrumar os carrinhos abandonados no meio da pista. Mal encarado, não sorri nunca, cigarro no canto da boca. Toda a gente o respeita, ele é o mestre dos carrinhos. É o salvador das meninas cujo carro não anda lançando-se pelo frenesim de carros que correm em todas as direcções e pendura-se no para-choques agarrando-se à barra traseira do carro com um braço e conduzindo o carro com a mão livre, numa posição protectora para as donzelas em perigo. Passa-se se alguém bate contra a fila de carros que ele tão bem alinhou.
- Os Rufias-da-Pista: dois rapazes já no final da adolescência. Sentam-se não no banco do carro mas sim em cima dos encostos traseiros do mesmo. Conduzem como loucos tentando bater o mais violentemante possível contra os carros com as miúdas mais giras. São constantemente perseguidos pelo Arrmador-de-Carrinhos, que desafiam.
-As Miúdas-Mais-Giras-da-Pista: duas raparigas, giraças, conduzem de nariz empinado e não perdem nunca a postura por mais vezes que as atinjam. Acabam por ir-se embora, enfadadas porque já nenhum rapaz lhes liga.
- O Pintas: um gajo claramente já trintão mas que gosta de passar por adolescente. Nunca tira os óculos de sol, gira pela pista e não gosta de ser tocado. Sorri maliciosamente para as adolescentes que se agrupam nas laterais da pista. Passa a noite dentro do carrinho porque não quer ir para casa da mãezinha com quem partilha a cama.
- Homem-Trintão-Agarrado-a-Filho-Pequeno: diverte-se mais do que o filho. O pequeno vai muitas vezes com um ar aterrorizado. (ora aqui está um retrato que me parece demasiado familiar...).

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Je suis, tu es, il est...

Nos últimos tempos tenho dedicado algum do meu tempo a estudar o Francês. Aliás, a minha companheira mais próxima nos últimos dias tem sido a Gramática Essencial do Francês que, neste caso, foi traduzida do Alemão! Confusos? Pois.
Mas enfim, ando perdido por entre o Imparfait, o Conditionnel, o Subjonctif e o Gérondif. De vez em quando encalho nas terminações e liaisons e não percebo porque é que aquele verbo está conjugado daquela forma. Farto-me de ler artigos sobre Portugal e sobre os Portugueses na Courrier International e isso é bom porque percebo qual a imagem que os estrangeiros têm acerca de nós! E tenho a enervante tendência de traduzir automaticamente para o francês (por vezes em voz alta!) tudo o que esteja a ler. Dou por mim a pensar "como é que se diz isto em francês" e a fazer contas de como se constrói o presente do conjuntivo: será o radical do presente com as terminações do imperfeito ou o radical da terceira pessoa do plural? Nem uma coisa nem outra, já estou a confundir esta merda toda outra vez...
Imgaino como serão os meus dias lá, a falar uma língua adoptada. Sinto que é muito cansativo falar numa língua que não é a nossa, o cérebro a trabalhar, a fazer as ligações todas e a procurar o que vai com o quê! E isto nota-se porque o Português é para nós como respirar, é inconsciente, fazêmo-lo sem nos dar-mos conta disso. Mas o que me preocupa é, para além de me fazer entender o melhor possível e não fazer figura de urso, não trocar presente com futuro e masculino com feminino, como é que raio é que me vou desemerdar num debate, discussão, troca de galhardetes? Porque em português é fácil: "tás é parvo!, isso querias tu agora, vai mazé trabalhar!, mas isso tem lá alguma lógica? Não percebes nada disto vai mazé prá escolinha e se não estás bem muda-te!", percebem a ideia não é? E depois ponho-me a tentar dizer isto tudo em Francês e... "tu es fou! tu voudrais ça maintenant, va travailler! mais il y a de logique? Tu ne sais rien retourne à l'école et si tu n'est pas d'accord tu peux te changer!". Isto não funciona...
Merde.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Hoje, pela primeira vez na vida, comprei um bilhete de avião só de ida. Ainda não sei bem o que sentir ou o que pensar...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Carreiras alternativas.

O post anterior não surge do nada, apenas porque me lembrei de compilar todos os esteriótipos associados ao emigra tuga. Nada disso. A verdade é que encontro imensa gente (mais do que consigo compreender) que ao saber que vou trabalhar para a Suíça me pergunta: "Mas vai trabalhar como enfermeiro ou..." deixando a pergunta no ar como que processando as alternativas. E isto mostra um grande preconceito face ao emigrante português! E eu lá respondo "Então...? Pois..." mas com muita vontade de responder algo do género:
"Nã! Enfermeiro? Era o que faltava! Ia lá eu quebrar com gerações de pedreiros, jardineiros, empregados da limpeza, empregados de cozinha, garçons, barmans e porteiros de hotel portugueses que dominam por terras helvéticas. Pfff."
Sem desprimor para nenhuma destas profissões (eu até tenho familiares muito próximos em 4 ou 5 destas profissões lá na Suíça!) até porque em algumas delas se ganha mais que na enfermagem!, mas isto só revela que na mente das pessoas se vais trabalhar para o estrangeiro deve ser para fazer este tipo de trabalhos.  

terça-feira, 21 de junho de 2011

Tentativa parva e provavelmente falhada de reunir todos os esteriótipos do emigrante português.

Hoje sonhei com o futuro próximo! Lá vinha eu em plena autoroute com as fenêtras abertas, na minha linda voiture rebaixada, vidros escuros e um enorme escorpião no vidro de trás. Na rádio o "Meu Querido Mês de Agosto" e os putos lá atrás, sentados no meio das malas, das geleiras, dos chocolates que comprei para a família toda. E no retrovisor um terço e a imagem de Nª Sra.
Eu venho com um enorme fio de ouro, o cabelo curtinho mas com uma melena que me tapa o pescoço. Agora só falo "françuguês": David vien ici e passa-me aí a viande; Gabriel tu vas tomber... eu não te disse que ias caír!!! Vimos passar o mês na nossa maison na aldeia, uma bela maison com 7 quartos, 2 salas, 2 cozinhas, varandas a toda a volta e escadas exteriores. Com a pressa e assim que passo a fronteira e entro em Portugal, toca a acelerar com fartura que aqui não há cá multas como em França e em Espanha e até passo alguns fogos rouge que ninguém viu! Ah, adoro Portugal...
Mas afinal Portugal é um país de merda! As autorroutes são más, as da Suíça são muito melhores! E os portugueses não sabem conduzir. Se fosse na Suíça não esperava tantas horas para ser atendido no banco e no hospital. Na rua não há pubelas e está cheio de lixo no chão. Por isso é que atirei o saco de lixo que trazia no carro desde Paris, afinal isto já está tudo tão sujo que não se nota. O que nos vale é o sol.
Na Suíça não há sol e os suíços são racistas. A comida é cara e não presta para nada. O que vale à Suíça são os francos e as autorroutes para portugal. E agora está na hora de partir, é carregar o carro com vinho, bacalhau, presunto, maças, batatas, cebolas, Vinho do Porto (que a madame minha patroa gosta muito!), chouriços que não há disso lá nas montanhas!
Au revoir e até ao meu regresso!

Falhei algum (esteriótipo)?

domingo, 19 de junho de 2011

Divorciado.

Casei-me com ela em 98. Nunca foi uma relação fácil nem sequer consensual. Duas visões completamente diferentes do mundo. Posso afirmar que foi um casamento por conveniência e em 13 anos de vida conjunta, nunca me senti verdadeiramente confortável naquela situação. Mas enfim, a vida corre, o tempo escoa e fui ficando. Primeiro por medo de um futuro fora daquela rotina, depois por obrigação.
Não me esqueço da angústia que senti no dia do casamento, um sentimento forte e físico que me deixou doente. As mão tremiam, o peito apertava, a testa suada. Mas não havia como voltar atrás. Respirei fundo, enchi-me de coragem e fui em frente! Os primeiros meses foram intensos em sentimentos de ansiedade, repulsa, tristeza, depressão. Mas com os anos, um homem a tudo se habitua. Fiquei, mas sempre com aquele sentimento de que não pertencia ali. Nos momentos menos bons jurava que iria abandonar logo que pudesse. Tentei convencer-me que, com o passar dos anos, iria habituar-me ás condições daquela relação, iria encarrilhar e entrar na rotina mas o passar dos anos, da idade só me veio trazer mais certezas, mais vontade de sair e de mudar. Senti-me cada vez mais preso, mas agrilhoado, diminuido, oprimido.
Tentei sair em 2008 mas não consegui, a Lei estava contra mim. Em 2009 também. Voltava para ela contrariado, o coração apertado, o sangue a ferver, a vontade de partir tudo e fugir. Muitos foram os que me perguntavam porque queria abandonar uma relação de tantos anos, segura, consolidada. Menos os que me encorajaram. Estava furioso com tudo mas respirei e acalmei. Criei este blog e isso ajudou. Vivi estes últimos 3 anos na sombra mas agora acabou.
Casei com a tropa em 98. Treze anos depois estou, finalmente, livre!

Metáforas à parte: entrei para o Exército em 98, estava desempregado e vi ali uma saída. Sempre tinha dito que não queria nada com fardas... Tirei o curso de Enfermagem lá dentro, pago pelo exército e isso colocou-me perante um contrato obrigatório de 8 anos. Ao longo dos anos nunca senti que aquela farda me servisse, senti-me sempre um estranho áquela organização. Para se ser militar tem que se acreditar na organização e na ideologia. Eu nunca acreditei, ainda hoje não acredito. Senti-me muitas vezes frustrado e humilhado mas enfim, é a tropa. Cumpri a minha obrigação e agora é hora de partir noutra aventura. Não posso afirmar que foi uma perda de tempo. Se não tem sido essa a minha opção, não seria nunca quem sou hoje. Aprendi muito e cresci muito nestes 13 anos de exército mas raramente pelas melhores razões. Poderão dizer que o Exército me pagou o curso e me deu emprego e isso é verdade, mas acreditem que o que cobram depois implica juros muito altos: a nossa individualidade e a nossa liberdade. Para muitos isso vale pouco mas não para mim. Se algum militar me está a ler neste momento poderá ou não compreender o que digo. A maioria não compreende e sente-se traído por mim, por ter abandonado a "família militar". É uma pena, mas é compreensível à luz da doutrina militar.
Milhares de vezes imaginei este texto, este dia, o dia em que me veria dono do meu futuro novamente. Não espero que compreendam, todos vós que não conhecem a instituição militar por dentro, mas tinha que escrever isto numa espécie de comunicado ao mundo: estou, finalmente, LIVRE!

DE BORLA!

Parece que está na moda oferecer alfaces e tomates mas nós ESTAMOS A OFERECER LIVROS! Conheçam as BORLAS que estão no Asas para voar!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Estou além.

A novidade ainda não é oficial, foi um passarinho que me soprou ao ouvido... A ansiedade continua cá, apaziguada pela informação informal que tudo se irá resolver dentro do esperado e dos prazos. Mas, tal como Tomé, eu só acredito quando tiver o papelinho na mão!

Deparo-me agora com uma situação que já não vivia há muito, uma espécie de limbo, uma zona intermédia entre o meu passado e o meu futuro. Por um lado tenho de continuar a trabalhar nos sítios de sempre mas por outro, a minha imaginação já não está cá. A minha mente está noutra dimensão, mais à frente no tempo, imaginando o que vai ser, o que vai acontecer, traçando cenários no novo hospital, no novo serviço, na nova casa, no novo país. Como será falar francês todo o dia, todos os dias, como serei recebido e integrado na nova equipa, como será a adaptação ao clima, como será a nossa nova casa? Preocupo-me principalmente com a integração do Gabriel na nova escola com uma língua diferente, com o facto do David ter que ir para uma creche. Penso em tudo o que terei que fazer de novo lá. E estou entusiasmadíssimo com tudo isso!

Mas também tenho montes de coisas para resolver por aqui. Mas com isso não sonho.

Já não estou cá, estou além!

Ui ui ui!

Novidade da boa na praça! Finalmente.

I'll be back... soon!