sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Esquizo-histerismo.

Com a esquizo-histeria com que os Portugueses lidam com o H1N1 os serviços estão atolados em gripes e viroses. Passo o meu precioso tempo a explicar que, nesta fase da pandemia NÃO SE FAZ O TESTE LABORATORIAL PARA DESPISTE DO H1N1! Mas as pessoas continuam a insistir em saber se têm a gripe A ou a "normal", como se disso dependesse o sucesso do seu tratamento...
Tudo isto para dizer que não tenho tido tempo para vos dar a atenção que me merecem e fizeram por garantir. Obrigado e continuação.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fétiche.

Música. De uma forma geral, toda a gente gosta de música. Clássica ou moderna, pop, rock, jazz, soul, hip-hop, popular, pimba, fado, enfim, o que seja. Depois há aqueles que são conquistados pelas letras da canção e ou outros, cujo principal interesse reside na melodia.
Eu pertenço ao segundo grupo. O que me conquista, o que me chama a atenção numa canção é a parte melódica. Os riffs de guitarra, o ritmo do baixo, a percussão da bateria, a voz do cantor. Para ser conquistado por uma canção, ela tem que me envolver. Como, na maior parte das vezes, ouço música no carro, a canção tem que preencher todo aquele pequeno espaço, o baixo tem de se fazer sentir no meu peito, a guitarra tem de me fazer mover o dedo como se fosse eu próprio o guitarrista responsável por aqueles acordes. A bateria tem de ter o condão de mover o meu pá ao som da sua batida (o esquerdo porque o direito está no acelerador e não daria bom resultado!!). Nunca me importo com a letra de início. Trata-se de sentir a música em vez de a ouvir... Claro que depois, quando descodifico a letra, chego à conclusão que nem sempre as palavras fazem jus às emoções!
Depois, alguns pormenores fascinam-se. Um piano dissonante no meio da canção, uma batida descompassada, um solo de baixo, uma palavra dita fora do tempo, um grito, um "yeah" berrado ao microfone. Pequenos pormenores que, estando fora do contexto, enriquecem a canção. Por tudo isto eu tendo a preferir os álbuns live. Dos meus grupos favoritos, grupo em que pontificam os ENORMES Radiohead (vénia), os melancólicos Cure e os electrizantes Pixies (aplausos, aplausos) já só ouço as suas versões "ao vivo". Porque as suas canções são re-inventadas, onde havia um solo de piano aparece agora uma guitarra, o tom do cantor está acima ou abaixo da versão original, a letra nem sempre é a mesma e a energia anda à solta! Não há edição, percebe-se as pequenas imperfeições, os erros, os atrasos, a letra que se esqueceu. E são estes "imperfeições" que constroem os mitos!!
Por outro lado, aparecem por vezes canções de grupos mais ou menos conhecidos dentro da minha esfera de gosto musical que me conquistam à primeira audição! Não sendo potenciais clássicos, são músicas que me fazem sempre subir o volume do autorrádio ou do iPod. São as músicas-do-momento, fétiches musicais momentaneos que duram algum tempo para depois fartar, arrumar e substituir. Assim, a minha canção-fétiche do momento! Espero que gostem...


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sim, pois claro...


Prendinha do colega Tabanika. A razão pela qual eu não gosto da palavra anglosaxónica "nurse" é que não tem correspondência no masculino, em português... e isso é um bocado panisgas!!
Obrigadinho ó colega!!
;)

Erros.

O erro. Todos os profissionais erram mas poucos serão os profissionais cujo erro pode decidir entre a vida e a morte de terceiros. Os médicos (numa primeira análise) e os enfermeiros (quer queiramos quer não!) são dois desses grupos. E há dois factores essenciais que potenciam o erro médico: a inexperiência e o excesso de trabalho! Eu já passei pelos dois e já vi outros passarem pelo mesmo.
A primeira vez que realmente errei, colocando em risco a vida do paciente, era ainda um estagiário do último ano. Depois de administrar insulina a um doente apercebi-me que tinha picado o doente errado. A insulina em doentes com níveis de açúcar normais no sangue vai baixar esses mesmos níveis a níveis potencialmente fatais. Recorri à enfermeira responsável pelo meu estágio e expliquei-lhe o que estava a acontecer. Ela, experiente, ajudou-me a monitoirizar o doente a manter os níveis de glicémia em valores normais. O único prejudicado foi o doente que foi picado nos dedos a cada hora, durante toda a noite!!! Esta foi uma valiosa lição para mim e hoje não administro nada sem me certificar que tenho o medicamento certo e o doente certo! Este foi um erro causado pela desatenção e pela inexperiência.
O segundo erro marcante ocorreu na Urgência de um grande hospital da zona de Lisboa, com uma afluência desumana, era eu já um enfermeiro certo das minhas competências e já com alguma experiência. Ao tratar de uma doente, estando munido de todo o material para colocar um soro numa veia e com todas as seringas cheias com os fármacos prescritos, coloquei o soro endovenoso em curso e comecei a injectar todos os fármacos prescritos. incluindo um que tem indicação para ser dado APENAS por injecção intramuscular (na nádega) e NUNCA endovenoso... Assim que terminei de injectar o fármaco, o meu erro atingiu-me na barriga como se fosse um murro! Naquela altura só havia uma coisa a fazer: vigiar a doente e estar preparado para o pior. Felizmente a doente não se ressentiu e tudo correu pelo melhor. Neste caso o erro foi potenciado pela pressa e pelo escesso de trabalho com que somos confrontados. Depois disto já tive vários sustos mas nada de grave!!
O mesmo já me aconteceu com médicos. Um que prescreveu um fármaco anti-convulsivo numa dose DEZ VEZES superior ao indicado que, se fosse administrado seria a morte do doente! Inexperiência. No outro, um experiente e competente médico prescreveu um fármaco cardíaco numa dose três vezes superior ao indicado, o que significaria também a morte do paciente. Aqui, excesso de trabalho. Em ambos os casos, os médicos ficaram gratos pela minha atenção.
Obviamente que somos humanos e podemos errar mas, no nosso caso, a tolerância com o erro é nula. Nem poderia ser de outra forma. Estes casos que descrevi serviram para que eu aprendesse a evitar esses erros mas o que me preocupa são os erros não detectados. Porque morrem doentes em circunstÂncias estranhas, principalmente em Urgência e nem sempre (quase nunca) quem erra partilha essa experiência com os restantes. O erro médico é a "besta" que ninguém quer encarar ou admitir, o "tabu" que não interessa ser desvendado, uma "área cinzenta" onde ninguém sabe bem quem é ou foi responsável. E (aos futuros enfermeiros que seguem este blog, prestem atenção) quando um médico cai, nunca o faz sozinho! Arrasta consigo alguns outros profissionais, quase sempre enfermeiros. Chama-se "erro médico" mas não é certamente só aplicado aos médicos.

sábado, 24 de outubro de 2009

There...

Que banda... que... banda!!



Simplesmente os melhores.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Por ali e por além...

Sobre viagens. Gosto de viajar. Melhor, gosto de conhecer novos sítios, porque a viagem propriamente dita, a deslocação do ponto A para o ponto B entedia-me. E, por isso, não gosto de longas viagens de carro! Para fora do país sempre de avião, se possível, mas o que eu gostava mesmo era de um sistema de teletransporte como aquele do "Star Trek"!! Num segundo em Lisboa e no seguinte em Tóquio!!
Desafia-me a Ana C. a descrever as três viagens mais marcantes. Ao contrário dela, isso não é uma tarefa difícil porque viajo muito menos do que gostaria! Assim:
Cólonia, Alemanha: é marcante porque foi a primeira vez que viajei de avião e porque foi nessa viagem que eu e a Mariana decidimos casar!! É suficiente para relembrar não?
Bósnia e Herzegovina: estive lá durante uns meses numa missão humanitária. É marcante por vária razões. É impressionante ver que as marcas da guerra se mantêm 10 anos depois do seu fim. E não me refiro à destruição física mas sim às marcas psicológicas que se perpetuam, aos sentimentos de ódio entre etnias. Uma tradutora de etnia bósnio-croata dizia-me: "Como posso algum dia perdoar aos muçulmanos se eu vi o meu pai, primos e tios serem executados por eles?". E vários relatos semelhantes se ouvem também dos muçulmanos. Foi bom trabalhar com os locais e também com outros enfermeiros alemães, franceses e norte-americanos. O país, apesar de arrasado é lindíssimo e tem imenso potencial.
Paris: tenho uma ligação grande com esta cidade. Cresci a ouvir relatos acerca dela por parte dos meus primos "franceses" pelo que, ao chegar lá senti-me estranhamente integrado! Foi a primeira viagem com o Gabriel, a cidade é lindíssima. Vamos voltar!!
Quanto a viagens a fazer?? Bom, esta é fácil!! Todas as capitais europeias pois gosto muito de passear por cidades, EUA e NY como toda a gente e depois os paraísos turísticos mostrados pela "Volta ao Mundo"!!!
Coisa pouca, portanto!!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

10 m2

"Aguarde aqui.". A sala era pequena e fria. Uma pequena mesa com revistas antigas. Dois cadeirões de veludo verdes. As paredes brancas, despidas, com manchas amareladas de humidades antigas e entranhadas. O lambrim de 1,20 m estava gasto, partido em alguns lugares revelando o cimento despido e bolorento. O rodapé revelava buracos irregulares na madeira corroída pelas térmitas, túneis de acesso ao submundo dos ratos e insectos.
Sentou-se a medo. Sentiu as molas do sofá quando se sentou e ouviu-as ranger, cedendo ao seu peso. Pegou numa revista e viu uma foto do Goucha ainda com bigode e com um aspecto sóbrio. Estava à espera de uma reunião importante com o Director da empresa onde trabalhava. Sentia um tremor constante no corpo que o obrigava a constantemente mudar de posição. Sacou do telemóvel e pesquisou em todos os itens do menu até se cansar. Passaram 5 minutos. Levantou-se e percorreu a sala em todo o seu comprimento. Olhou pela janela. Estava num rés-do-chão que dava para as traseiras do prédio. Contentores do lixo, móveis velhos e partidos, um gato. Ensaiou o discurso que convenceria o Director a promovê-lo. Era essencial que assim fosse. Precisava do dinheiro. A casa, os miúdos, os carros. Passou as mãos pelo beiral do lambrim. Pó seco e antigo entrou-lhe pelo nariz. Detestava pó, estava agora com dor de cabeça. A porta de entrada, fechada, tinha um vidro fusco que apenas lhe permitia ver vultos. Sobressaltava-se quando ouvia passos no enorme corredor vazio lá fora e decepcionava-se quando o vulto passava, apressado pela porta, sem se deter. Passaram 20 minutos.
O relógio parecia zombar da sua impaciência. O grande ponteiro dos segundos, sempre irrequieto no horário de trabalho curto para as tarefas a desempenhar, estava agora apático, sonolento. Arrependeu-se de ter deixado a "Visão" daquela semana no carro. Poderia lá ir buscá-la mas tinha sido avisado da falta de tempo do Sr. Director, da sua intolerância aos atrasos. Não queria arriscar ser chamado durante aqueles minutos de ausência. Ficou. Fixou as formas retorcidas da base da mesinha, em ferro forjado. Desenhou-as com a mente e confirmou em seguida o seu sucesso. As mancha de humidade na parede eram agora manchas de Rorschach. Viu um lobo, um punhal, uma bala, uma caveira. Passaram 2 horas.
Ouvia o seu coração ribombar, os dentes a ranger, a respiração a acelerar, os pêlos a eriçar, os ratos a correr nas paredes, os insectos a roer a madeira. As manchas de humidade cresceram. Um punhal, uma bala, uma caveira. Cocou a cabeça despenteando os cabelos. O discurso ensaiado estava confuso, palavras soltas, vagas, incoerentes. A mente vazia. Passaram 5 horas.
Um vulto trespassou o vidro frio da porta "Acompanhe-me". As pernas torpes, dormentes, bambas. Cambaleou, seguiu e endireitou-se. O coração disparou. Entrou no gabinete. "Não tenho muito tempo, seja breve." Engoliu em seco, a voz secou. "Desembuche homem!", a língua gelou. "Se não tem nada a dizer, homem, saia." Não saiu. "Está parvo? Quer ser despedido?!??!!" Não respondeu.
Um punhal, uma bala, uma caveira.

Papéis

Papeis. Na vida desempenhamos vários papeis. Em casa marido e pai. No trabalho, enfermeiro, chefe ou chefe de equipa. Papéis onde se espera que tenhamos uma determinada actuação, uma determinada postura. Num teatro não há mistura de papéis. Não se agarra num novo papel antes que o anterior esteja terminado, não se trocam roupas e adereços entre duas personagens. Mas na vida todos estes papéis estão ligados, contidos no mesmo invólucro, são várias faces da mesma personagem.
É como se todos fossemos uma espécie de Jeckyll e Hide com múltiplas personalidades, e procuramos a todo custo harmonizar todos os nossos pequenos egos. Mas não é possível essa harmonia quando há dois ou mais papéis em constante conflito, em constante competição pela nossa atenção. Não é possível desempenhar todos os papéis que nos foram sendo atribuídos com a mesmo sucesso e o mesmo empenho. Ou será?
Eu, pelo menos, não sou.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mau Karma.

Hoje foi um daqueles dias neuróticos. Impliquei, chateei, zanguei, berrei e encafuei-me no gabinete porque já estava farto de ouvir toda a gente! Hoje todos os pequenos confrontos foram éplicos conflitos, todas as pequenas questões foram grandes problemas, os pequenos esquecimentos grandes falhas e incompetências. Hoje não houve espaço para rir nem para brincar, nem para pregar partidas. Hoje estive impossível de aturar e sem pachorra para aturar ninguém.
Hoje foi um dia de neura, daqueles que raramente acontecem, mas o que me intriga mesmo é que não consigo atribuir um motivo, uma razão para este estado de espírito. Tudo bem que entalei um dedo logo que cheguei ao serviço mas, não é suficiente. Mas sei que foi algo (ou alguém?) que me encheu de energia negativa hoje.
Amanhã é outro dia...

Fantástico!

Hoje, 19 de Outubro de 2009, recorde absoluto de visitas a este blog: 253! Desde o início, cerca de 32000 visitas! Significa muito para mim, obrigado a todos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PORRADA!! ANDA TUDO À PORRADA NAS URGÊNCIAS!!!
Vou só ali afiambrar uns sopapos nos anormais que agrediram o Segurança e volto já...

Pingo Doce, venha cá!!

Adoro o novo anuncio do Pingo-Doce!! É fantástico e está lá tudo! O jingle que começa como um fado, apelando ao sentimento português, as paisagens facilmente conotadas com o país, as gentes "típicas" e um toque muito americanizado que é o da Bandeira Portuguesa desfraldada ao vento. Depois, a transformação da música numa coisa pseudo-pop que se entranha na mente dos ouvintes e imagens de belas funcionárias do supermercado, sempre com um sorriso nos lábios e clientes que sorriem, cantam e até se lhes antevê a vontade de dançar, enquanto escolhem as suas compras e pagam!
E a letra da música é impagável! Podia ser mais pirosa? Não! Mas fica no ouvido? Fica! Adoro o pormenor do gesto que os "clientes" fazem com a mãozinha, quando convidam o resto de nós a irem divertir-se escolhendo azeite, massas e cubos de caldos para cozinhar! E eu adoro esta publicidade por tudo isto! É popularucha, muito pirosa, e excessivamente teatralizada, que é, mas crava-se como uma lapa no nosso cérebro! Toda a gente diz mal (até criaram um grupo no facebook) mas a má publicidade também é publicidade. É mais um daqueles casos que é tão mau, mas tão mau que acaba por ser bom!!
E se ainda não estão fartos...

Quem fala assim não é (Sara)gago!

"A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana."

Para quem, como eu, ficou fã do Saramago através do "Evangelho Segundo Jesus Cristo" (que grande chapada no Vaticano!) este "Caim" vai ser um petisco!

domingo, 18 de outubro de 2009

The night is so pretty and so young...

No início da minha adolescência, em plena ebulição musical e na procura do meu estilo e do meu gosto, o meu pai instalou uma antena parabólica (lembram-se?) lá em casa. O meu canal preferido foi, obviamente a MTV Europa! Era também a era do VHS (que post mais revivalista!) onde eu gravava os vídeos das minhas músicas preferidas. No meio de grupos como os Nirvana, Pearl Jam, Metallica, Cure, Pixies, The Breeders, Frank Black e de um vídeo de uma música cujo vocalista berrava no refrão "Burn the bridges, smash their heads!" e que envolvia um anão disfarçado de Satanás (não perguntem...) gravei, porque me ausentei por uns minutos do quarto, um videoclip que rodava até à náusea na altura!! O grupo não me dizia nada, não estava na minha esfera musical mas a música lá passava, no meio das outras, enquanto eu estudava. E deve ter ficado bem gravado na minha mente pois quando numa conversa, uma amiga refere esse grupo musical como um dos seus favoritos, eu comecei a cantar o refrão dessa música sem falhar uma linha!!
Eu sou um fã acidental dos Roxette! A música?


E, desde esse dia que esta música assalta a minha mente nas mais variadas situações e dou por mim a assobiar a melodia enquanto espero pelo elevador...

sábado, 17 de outubro de 2009

Mas quem é que não gosta da Britney?!?

Bom fim-de-semana...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Colchão Vazio.

"Não era suposto o homem morrer..." disse-me a Dra. Dulce enquanto se sentava numa cadeira junto a mim. "Enfº Miguel, não era suposto o senhor morrer..." repetiu, com o desânimo estampado na face. A Dra. Dulce é uma médica atenta e atenciosa, próxima dos seus doentes, preocupada com as suas maleitas. "Mas Drª... por muito que façamos não podemos ainda evitar a morte. Ainda não somos deuses...". A resposta não pareceu aliviá-la e o silêncio instalou-se.
Eu próprio fiquei surpreendido quando, hoje de manhã ao chegar ao serviço, vi o colchão sem lençóis, dobrado para cima da cabeceira. É sempre um sinal da Morte. Não soubesse eu que são as auxiliares que o fazem para desinfectar a cama e diria que a Morte leva com ela os lençóis e dobra o colchão vazio.
"Não era suposto o homem morrer...". A frase ficou a ecoar-me na mente o resto do dia. Qual é afinal a nossa função? Fizemos tudo bem com este doente (o que nem sempre acontece), medicámos na altura certa, pedimos os exames em tempo útil, discutimos as melhores opções. E ela melhorou. Passou de fraco e sem apetite para um corredor de meio-fundo que calcorreava o corredor para trás e para a frente, cumprimentando todos à sua passagem. Ele estava bem. Ontem, à hora do almoço, tocou a campainha e encontrei-o pálido, suado, com dor no peito. A tensão um pouco alta, monitorização aparentemente normal. Foi para o Serviço de Observação apenas por precaução. Desceu a barafustar que queria levar o robe e disse-me um "até já" antes de entrar no elevador. "Não era suposto este homem morrer..." disse ela.
Porque há mortes que custam a engolir. Uns encaram-nas como um grande sapo divino que somos forçados a engolir por uma força que nos transcende, outros encaram-nas como um sinal da nossa humanidade, da nossa humildade perante o jogo da Vida contra a Morte. Os primeiros são arrogantes, recebem essa morte como um ataque pessoal de Deus (ou de Alá, ou de Maomé, ou de Buda, seja qual deles for.) e encaram o próximo desafio como uma final que não podem perder. Só que, numa final, a única coisa que sai maltratada é a relva do campo. E, neste caso, o campo é o doente. Os segundos, nos quais humildemente me incluo, sentem essa morte como um momento para reflectir, para respirar e para partir para o doente seguinte.
"Não era suposto este homem morrer...". Obrigado, Dra. Dulce por exprimir o que eu estava a sentir e por me demonstrar que há profissionais que sentem as perdas dessa forma.

Isto não é um baby-blog.

Mas o meu filhote, agora que quase domina a fala atira-me com frases que, sendo de uma doçura extrema, cortam-me o coração!
Ontem, ao telefone, estando eu no trabalho:
"Olá filhote! Estas bem, como foi a escolinha?"
"Oláááá! Binquei com as motas!! Tás a tabalhaie?"
"Sim meu amor, estou no trabalho.."
"O Gabi vai buscar a ti, xim??"
Hoje, ao despedir-me dele, de manhã:
"Até amanhã filho. O papá vai trabalhar..."
"NÃO!"
"Não?... mas tem que ser piolhinho..."
"Não vais. Brinca comigo na caminha do Gabi..."
E assim eu vou, com um frio no coração.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Toda a gente tem um chefe...

... e eu não sou excepção! Acontece que o meu chefe é um lambe-botas cobarde interesseiro conflituoso maníaco depressivo esquizóide mal educado e porco (pronto, já disse!! Estou mais aliviado...)! que está mais interessado em "brilhar" para a Direcção do que salvaguardar os interesses do serviço e dos funcionários e, acima de tudo, dos doentes.
No meio de uma guerra que envolveu até o Director e de onde ninguém saiu beneficiado, o merdas do meu chefe quebrou todas as regras éticas e deontológicas, além do bom-senso e do respeito ao ponto de eu estar a fazer um esforço consciente para não lhe berrar enquanto lhe agarrava os colarinhos!! Vi-me a abandonar o meu corpo e a dirigir-me a ele, pregando-lhe um sopapo que o deixava inconsciente no chão, após o que toda a gente na sala se levantava e batia palmas enquanto eu colocava um pé em cima do seu rabo, numa pose vitoriosa. E foi o meu "momento Ally McBeal"...
Depois de tanta porcaria junta ainda tive um doente que descompensou e acabei a almoçar sozinho! E como eu detesto almoçar sozinho...
F*****-se.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Letra de Enfermeiro.


Escondido à vista de todos!

Numa festa encontro uma conhecida após algum tempo de afastamento...
-Olá!! Há quanto tempo! Faz o quê... 2 anos que não nos encontrávamos?
-Sim! Ainda não tinha nascido o teu filho!
-Os teus estão uns homenzinhos!! Lembro-me deles bem pequeninos... Mas estás bem, estás com óptimo aspecto!! Há algo de diferente em ti...
-Ah.... sim, aumentei os seios!!
...
...
...
(a minha mente travou a minha língua e, em milissegundos, procurou uma resposta)

a) Ficam-te bem!
b) São muito giras!
c) Posso ver melhor?
d) Posso tocar-lhes?
e) AH! Então é por isso que não consigo parar de olhar para o teu decote!
f) São lindas de morrer!
g) Realçam os teus olhos!

...
- Ehhhh... então parabéns! Vemo-nos por aí!!

O que é que se diz numa situação destas, por deus??
Para Outubro, isto está um frio um bocado esquisito, não acham?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Wild, Wild West

As funções de chefe têm destas coisas. Um doente queixou-se de uma enfermeira afirmando que esta tinha sido incorrecta com ele. Depois de ouvir a versão do doente, ouvi a da dita enfermeira. As versões coincidiram em quase tudo excepto num ponto: cada um dizia que o outro é que tinha sido mal-educado!
Não tendo estado lá para ver não podia tomar um ou outro partido mas (há sempre um "mas" quando se vai ao gabinete do chefe!) vi-me obrigado a ter uma conversa com a enfermeira. Ela admitiu que a determinada altura perdeu o controlo da situação porque "antes de ser enfermeira sou uma pessoa". Nós, enquanto enfermeiros, temos todo o direito à indignação e a sentirmo-nos ofendidos. Eu, que desde sempre trabalho em Urgência, já fui insultado, mal-tratado, ofendido e agredido. Não há serviço nenhum onde os nervos estejam tão "á flor da pele", tanto do lado dos doentes como dos profissionais. A diferença é que nós somos pagos para fazer esse trabalho e não podemos encarar esses insultos como algo pessoal, algo dirigido a nós enquanto indivíduos. E, além do mais, existem técnicas que nos ensinam a lidar com estas situações. Podemos ser firmes e claros sem sermos incorrectos, podemos colocar um doente no seu lugar sem ser agressivos, devemos sempre manter a calma numa situação de agressividade por parte do doente ou familiares. Ao longo destes anos aprendi uma lição valiosíssima para lidar com essas situações: o segredo está em prevenir. Como é que isso se faz? Manter o doente informado, explicar o que se vai passar, apresentar-se o mais calmo possível e, acima de tudo, tentar acalmar o doente falando com ele.
Uma simples conversa que pode começar de várias maneiras. Perguntar que tipo de trabalho faz, como ficou doente, explicar o procedimento, etc, etc, etc. Podemos e devemos encontrar um tema de conversa e conversar com o doente. Claro que isto está intimamente ligado com a personalidade de cada um mas facilita o trabalho e obtém-se melhores resultados! Quando isto não resulta e se chega a uma situação em que o doente se altera existem várias técnicas que se podem usar. Um exemplo: quanto mais o doente grita, mais nós devemos baixar o nosso tom de voz! Simples e bastante eficaz! Não dizer "Tenha calma!", erro crasso! Se nada resultar o melhor é, pura e simplesmente, retirar-se do local e esperar que o paciente se acalme!! No fundo, trata-se de retirar de cena o elemento causador do stress.
Porque a relação que temos com o doente é a nossa melhor ferramenta, temos que saber trabalhá-la. É uma técnica como uma algaliação, uma entubação, uma injecção ou um banho no leito que devemos saber dominar. Ao não saber dominar esta técnica, a enfermeira deixou o doente ansioso, agitado e sem dormir. Não soube prestar um bom cuidado de enfermagem. Criou um conflito latente que vai condicionar todas as suas abordagens futuras a este doente. A diferença entre um conflito bem resolvido e um outro, mal resolvido, é que no primeiro caso o chefe não fica sequer a saber que houve um conflito!
Obviamente que não sou nenhum santo! Já tive a minha dose de conflitos mal resolvidos, já gritei com doentes e respondi com o mesmo vernáculo com que me brindaram! Mas, uma Urgência de um hospital central da zona de Lisboa é pouco menos que o wild west! Num ambiente controlado como é uma enfermaria não há razão para que um profissional perca a sua postura.
PS: o poder é uma coisa enebriante...
;)

Irra!

Cada vez que uma doente me pede para "ser meiguinho" antes de uma injecção, uma única resposta ecoa na minha mente: "Mas, minha senhora, eu vou apenas dar-lhe uma injecção, não a vou sodomizar!"
O que quererão elas com isso? Que lhes dê beijinhos fofos enquanto introduzo a agulha no glúteo?

sábado, 10 de outubro de 2009

Mate Poaching...

ou "Roubo-de-Homem", foi um conceito introduzido por um estudo de duas investigadoras da Universidade Estadual de Oklahoma que demonstraram que cerca de 90% (!!) de alguns grupos de mulheres heterosexuais acham um homem sexualmente mais atraente quando sabem que ele tem parceira fixa!! É a prova científica do conhecimento empírico detido pelos homens segundo o qual, o uso de aliança é um intenso íman de gajas! Para as investigadoras, as mulheres querem homens já "formatados" para seguirem uma relação duradoura, acabando assim com o mito do "solteirão" que não se compromete nunca: ele está sozinho não por escolha própria mas sim porque o mulherio não lhe dá credibilidade nenhuma!
Penso que a conclusão deste estudo pode ser resumida numa frase lapidar que ouvi, há uns anos, da boca de uma mulher experiente e que me tem servido de âncora em muitas situações: "os homens são como as casas-de-banho: ou estão ocupados, ou são uma merda."
Sendo eu um homem casado e com responsabilidades familiares tenho, como devem calcular, de afastar as mulheres assediadoras com um pau. É muito chato.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mata Hari.

Tenho um informador no serviço. Alguém que me dá conta das actividades que ocorrem depois de eu sair. Alguém que controla os enfermeiros e depois me vem reproduzir as conversas que ouviu ou que tiveram com ele. É um doente!!
Cada vez que chego, pela manhã, lá está o senhor de sentinela à porta do seu quarto. Homem vivido e viajado, andou 14 anos pelas Índias coloniais onde "experimentei todas as drogas que havia por lá" e depois por África. Vaidoso, o senhor gosta de de se perfumar exageradamente, emprestando a sua fragrância a todo o corredor do serviço, e (pasmem-se) depila-se "em baixo" e nas axilas! "Que eu sou um homem asseado. Mas não pense coisas, Sr. Enfermeiro, que eu gosto muito de mulheres!!" E falo de um senhor com cerca de 80 anos. Adorna-se com pesados fios de ouro e medalhas de santos e com anéis tipo caxuxo, também eles de ouro e com diamantes incrustados! Extremamente educado, o senhor gosta de conversar. E de "codrilhar"...
-"Sabe, senhor chefe, isto é um hotel de 7 estrelas! Os enfermeiros são simpáticos e as auxiliares também, mas deixe-me dizer-lhe que nem todos são bons, sabe..."
-"Então diga lá..." (saco nabos da púcara!)
-"Sabe, aquela enfermeira mais antiga, aquela goooorda, sabe?"
-"Sim, claro, a enfª fulana-de-tal..."
-"Sim, sim, essa, essa! Dorme toda a noite enquanto a colega mais nova se farta de trabalhar, coitada... E há ainda aquela mais novinha, muito mal encarada!! Que besta de mulher... sabia que me tratou mal?"
-"Não me diga" (ponho o meu ar mais indignado!!)
-"Mas, pelo amor de deus!! Não lhe diga nada... sabe, quero sair de bem com todos..."
-"Mas isso que me conta é gravíssimo!! Tenho de lhe chamar a atenção..."
-"Ora Sr. Enfermeiro, não faça isso... é feitio dela sabe" (foge com o rabo à seringa!)
-"Pronto, esta passa. Mas avise-me se a situação se repetir!"
-"Claro, claro!! Olhe, mudando de assunto. Mandei o meu motorista ir comprar umas santolas na marisqueira de um amigo... com uma vinhasca à maneira para o nosso almoço!!"
-"Mas o senhor não pode comer isso!! E ainda por cima aqui no serviço... ai o senhor...."
-"Bom, suponho que tem razão... olhe, coma-as você e depois diga-me se estão boas!!"
Nesse dia toda a gente que estava no serviço provou um bocadinho de santola e um copo de bom vinho!!!
Naturalmente que não valorizo este tipo de queixas nem, tão pouco tomo decisões com base nelas, mas confesso que o senhor já me transmitiu algumas informações que serviram por um lado, para reforçar a minha opinião acerca de algumas pessoas e, por outro, para subir a minha guarda com outras! E isso é sempre útil.

O resto é plebe!

Sou, oficialmente, um erudito!!! Agora ouço música clássica...
(mas um erudito fraquinho já que se trata apenas de um CD gravado com algumas obras criteriosamente seleccionadas por uma verdadeira erudita que me tenta iniciar nas lides da intelectualidade... terá sucesso?)

Patrão fora...

O meu Chefe é um tipo porreiro e tal mas é um pouco sério. Profissional que não gosta de misturar brincadeiras com o serviço. Mas, na sua ausência, o chefe "c'est moi" e as coisas tornam-se um pouco diferentes...
Depois de eu próprio ter sido enganado através de um conluio silencioso que incluiu alguns colegas, dois médicos e a secretária e depois de ter levado uma colaboradora ao quase-divórcio, a uma crise hipertensiva e de ter escapado a uma agressão após uma brincadeira que durou 3 dias (claro que com a colaboração de outras pessoas mas que acabou bem, com abraços e beijinhos com a "enganada" lavada em lágrimas e a desculpar-se pelos títulos com que me abonou durante aqueles dias!) eis que recebo na minha secretária dois pedidos de transferência de serviço por parte de duas auxiliares. Estranhei e fui falar-lhes. Durante a nossa conversa percebi: É treta!! Como uma delas se despediu durante esta semana, querem assustar-me com um êxodo de auxiliares que acabaria com o serviço!!!
Aliei-me ao Director Clínico do serviço, que tem uma palavra a dizer nestas situações e resolvemos inverter a situação: de praxados para praxadores!! Assim, exarei o seguinte despacho numa delas:
"Profissional extremamente baldas que não interessa nem ao menino Jesus. Um pontapé no cu é o que merece." Ao que o Director responde: "Concordo". E na outra:
"Se não serve para este serviço, não serve para mais nenhum. Deve ser corrida à pedrada deste hospital". Director: "Concordo". Liguei para a secção de pessoal e eles alinharam comigo... Através do correio oficial, fiz seguir as declarações e informei-as!! As expressões de pânico nas suas faces foi impagável!!! E quando lhes virei as costas no momento em que tentavam explicar que não passou de uma brincadeira tive de me esforçar para não me desmanchar à gargalhada!
Cheira-me que alguém não vai dormir muito bem este fim-de-semana.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fábula.

Um homem navegava com seu balão, por um lugar desconhecido. Ele estava completamente perdido, e qual foi sua surpresa quando encontrou uma pessoa! Ao reduzir um pouco a altitude do balão, a cerca de 10m aproximadamente, ele gritou para o jovem:
- Desculpe, sabe dizer-me onde estou?
Ao que o jovem respondeu: -Sim, está num balão, a cerca 10 m de altura!
Então o homem fez outra pergunta: -Você é enfermeiro, não é?
O rapaz respondeu: - Sim... Como é que o senhor adivinhou?
E o homem: -É simples, a sua resposta é tecnicamente correcta mas não me serve para nada...
Então o enfermeiro pergunta: -O senhor é um médico, não é?
E o homem: - Sou...Como é que adivinhou???
E o rapaz: - Simples: o senhor está completamente perdido, não sabe fazer nada e ainda quer colocar a culpa no enfermeiro.
E nada resume melhor o relação entre médicos e enfermeiros.