domingo, 18 de março de 2012

A noite ia calma.

O bom de trabalhar na Urgências é que nem sempre estamos no rodopio dos doentes que chegam. Há sempre um recanto mais sossegado que funciona um bocado como um serviço de internamento normal, o SO (Serviço de Observação). Aqui guardamos os pacientes estáveis que esperam vaga para ser internados num serviço "a sério" ou aqueles que precisam de umas horas de vigilância antes de regressarem a casa. A noite hoje esteve calma. Os meus doentes sem queixas, as linhas nos monitores bem rítmicas e constantes, como se pretende, o serviço à meia-luz, um alarme aqui e ali nos doentes da box ao lado mas nada de alarmante. O ambiente foi bom, os colegas bem animados. Encomendámos comida tailandesa que comemos era quase meia-noite e um dos colegas ficou com cólicas e tivemos que o "internar" numas das camas livres! As horas passaram indolentes, com pausas para preencher os gráficos da evolução dos pacientes que lá iam interrompendo as conversas sobre tudo o que vai bem e não tão bem aqui no serviço e no mundo em geral.
Toca o alarme de reanimação, saltamos das cadeiras como se tivéssemos sido ejectados do cockpit. "É onde, é onde?" pergunto apesar de o local estar bem identificado com uma luz encarnada. Contornamos a esquina e lá está a colega a fazer massagem cardíaca... Tomo o seu lugar, uma outra colega chega com a prancha de massagem cardíaca, e logo um outro colega com o carro de reanimação. Segundos depois o quarto foi invadido por outros enfermeiros e os médicos da urgência. É que o alarme soa em toda a urgência... A azáfama do costume mas desta vez bem organizada, tudo bem sincronizado. Colocamos o desfibrilhador... choque... nada. Retomar massagem. Material de intubação preparado, o médico falha a intubação uma, duas, três vezes. A coisa está feia. Adrenalina administrada. 20 minutos de massagem cardíaca. "Se todos estiverem de acordo paramos as manobras...". Todos estamos de acordo.
Doem-me os braços de tanto massajar e um colega diz-me: "massajas bem pá!".

3 comentários:

Brisa disse...

Como em qualquer ocasião, um bocadinho de humor relaxa qualquer stress.

DeepGirl disse...

Teria ficado melhor se tivesses escrito "C'est oú, c'est oú, putain?!". Lol.

Carla Santos Alves disse...

pois..esse acabou menos bem...olha uma pergunta:e como é o vosso depois???depois de perceberem que acabou?