sábado, 24 de março de 2012

Se Camões fosse vivo arrancava o outro olho.

Os estereotipos vêm, todos, de algum lado, de alguma origem. Quando ouço piadas acerca dos Portugueses revejo naqueles relatos anedóticos exagerados muito daquilo que é "ser tuga". Não "ser Português" mas sim "tuga" com tudo aquilo que é brejeiro, foleiro, tascoso, pimba. Entrar num "centro português" aqui na Suíça é imergir numa tasca do interior profundo com todos os clichés que possam imaginar desde o Zé Povinha até ás bandeiras dos principais clubes de futebol. O que só acentuado pelo facto que, apesar de ser proibido, ainda se fuma (muito) lá dentro enquanto se batem umas cartas ou se pousam uns dominós. E apelidar isso de "cultura Portuguesa" enerva-me porque não me revejo nessa cultura. Mas enfim, gostos não se discutem (não mesmo?).
Contudo, há uma coisinha. coisa pouca aliás que poderíamos conservar, cuidar. acarinhar e manter orgulhosamente imaculado e que só a nós nos pertence: a Língua Portuguesa.  Dizia-me uma portuguesa, empregada da limpeza, no outro dia muito admirada "ahhh nem se percebe que é português quando fala francês e quando fala português ainda não se nota que é imigrante". Ainda, ainda? Portuguêsmente falando: não me fodam. Que sim, que falamos francês durante o dia todo, é verdade. Que possamos num raciocínio imediato não encontrar a palavra portuguesa para este ou aquele objecto que até nem usamos todos os dias, tudo bem. Agora que se fale constantemente em françuguês é negligência linguística! E depois, outra coisa para a qual não encontro qualquer explicação nem tem pouco desculpa e que já considero crime, é o facto de muitos dos filhos dos nossos compatriotas NEM SEQUER FALAM PORTUGUÊS!!! A sério, um amiguinho do meu filho, tuga, não fala português e percebe muito pouco. Numa casa onde ambos os progenitores são portugueses? Alguém me explica isto?
Faço aqui um juramento solene perante todos os meus leitores: juro continuar a cultivar a a acarinhar a Língua Portuguesa e a escrever e ler em Português. Juro que farei tudo o que estiver ao meu alcance para que os meus filhos falem português o mais correctamente possível. E juro que tento defender e mudar um pouco a imagem que os Suíços têm do nosso povo. 
No último texto publicado a DeepGirl (que também está por terras helvéticas) escreveu o comentário seguinte: Teria ficado melhor se tivesses escrito "C'est oú, c'est oú, putain?!". Lol. Provavelmente até disse algo muito semelhante mas faço questão de descrever os diálogos em português. Para quem chega de novo ao blog pode até parecer que ainda estou em Portugal mas, na verdade, estar aqui ou em Lisboa é a mesmíssima coisa no que diz respeito ao "Cheirinho a Éter...", ao seu objectivo.
Obrigado e bom dia.

7 comentários:

Sílvia disse...

E acho muito bem que cultives isso mesmo junto dos teus filhos, porque se há coisinha que me enerva é ver os emigrantes que quando estão em Portugal de férias falam em francês, como se falar português fosse motivo de vergonha.

Ana C. disse...

Não sou apologista dos comentários que se limitam a aplaudir e elogiar e bajular e assinar por baixo, mas, caralhinhus me fecundem in vitro, concordo com cada linha.
Agora tira a verificação de palavras, que isto não é português, nem é nada.

Naná disse...

Miguel, a perplexidade que tu escreves sobre o amigo do teu filho é coisa que sempre me pôs os nervos em franja.
E eu se algum emigrar, juro solenemente que os meus filhos hão-de saber falar português como deve ser!
Não há justificação nenhuma para não manter a língua portuguesa viva, só porque estamos noutro país com outra língua!

Cláudia disse...

Concordo plenamente, ainda que me pareça um fenómeno quase exclusivo da emigração para França e Suiça. Ainda ontem comentava a propósito de uma reportagem Da SIC com um emigrante português na Alemanha, como o português dele ainda era fluente e como toda a família falava português. Observei o mesmo na comunidade portuguesa no Canadá e EUA. Será um problema da língua francesa que aniquila todas as outras lol?

LIKAS disse...

Podes sempre continuar a escrever aqui no blog...
Quem te segue agradece e sempre te ajuda a manter a língua viva!!

ego23 disse...

Boas Miguel,

É a primeira vez que te escrevo, apesar de ja acompanhar o teu blog à muito tempo.

Tal como tu, sou emigrante, mas desta feita em França, e não me querendo alargar ao facto de a nossa identidade linguistica ser altamente "massacrada" por estes lados, pelos "tugas" que tão "carinhosamente" tratas (e bem) neste teu texto, o que mais me choca é sem dúvida a famosa "cultura de tasco" que tantos querem fazer querer que é o que mais fielmente retrata Portugal.

Desculpa escrever desta forma, mas enoja-me profundamente este retrato do nosso tão belo País.

Ia ainda deixar aqui alguns exemplos, mas acho não ser preciso, pois já deves ter uma ideia muito bem estruturada daquilo que muitos emigrantes sem cultura, tentam, transmitir aos povos da europa a "verdadeira" cultura Portuguesa.

P.S: a toda a gente que diz que em Portugal nada funciona bem a nivel de serviços vocacionados para o consumidor/cidadão, posso-vos garantir que aqui (em França), estamos muito pior servidos, a diferença para Portugal é simples, aqui existe muito mais €€€€€€€€'s, e se calhar muito menos "pessoas que sem intenção acabam com coisas nos bolsos que, como por magia, não lhes pertence".

Silvina disse...

Houve uma altura em que andava propositadamente a dar-lhe na misturada linguística como se não houvesse amanhã. Depois acalmei-me quando percebi que às vezes as barbaridades já me saiam sem eu querer...
Agora a única coisa que continuo a dizer por piada é "a minha casa está um bordel "; ou a variante "a minha vida está um bordel desgraçado neste momento"...