quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Contra a Imigração em Massa.

O referendo de domingo tem dado pano para mangas por estes lados e vejo que também tem tido alguns ecos por aí. Enfim, há coisas que são efectivamente correctas mas outras nem por isso. O resultado de domingo mostra que a democracia directa também não é perfeita. Neste caso deve salientar-se que a abstenção cifrou-se em 47% e que a proposta foi aprovada com 50,3% dos votos. Ou seja, apenas metade da população votou e o "sim" ganhou com apenas cerca de 19000 votos a mais. Depois, quando se analisa os resultados compreende-se que as cidades mais importantes do país, ou seja Genebra, Zurique, Lausanne e Berna votaram contra. O Governo manifestou-se contra, assim como todas as associações de patrões e trabalhadores, sindicatos e ordens profissionais. Foram as zonas rurais, mais conservadoras e onde há menos imigração e logo onde o imigrante é um bicho-papão, que aprovaram esta lei. Por isso choca-me que digam que os suíços são xenófobos. Há efectivamente uma grande parte de suíços que o são mas a maioria não o é de todo. Depois, a campanha do partido de direita que fez a proposta baseou-se sobre pressupostos que não são verdadeiros (os imigrantes prejudicam o país, consomem recursos e não contribuem para a economia logo a culpa da crise é deles!) e que em conjunto com o medo de uma recessão económica que aqui é quase patológico mesmo se a economia não pare de crescer e com a constante presença na comunicação social de histórias de crime praticados por estrangeiros, dá estes resultados. Mas não é de hoje. Quando aqui cheguei há mais de 2 anos, a primeira imagem que tive ao sair da Gare de Lausanne com as malas ás costas e os meus filhos pela mão foi a de um enorme placard com imagem de soldados e chaimites onde estava escrito com letras garrafais: "STOP À IMIGRAçÃO MASSIVA". E nestes dois anos a Suíça foi efectivamente invadida por estrangeiros de todo o lado. Dois anos de campanha desonesta de direita dá nisto. Contudo e apesar destes factos, a atitude de quem perdeu é de salientar. O Governo apressou-se a dizer que o povo é soberano e que apesar da decisão ir colocar o país em dificuldades face á UE, é a sua função de encontrar soluções. Os outros partidos não condenaram os povo, apenas chamaram o partido impulsionador de iniciativa ao seu dever, o de ser parte principal na proposta de medidas concretas. Os suíços comuns com quem trabalho e que encontro na rua que votaram contra dizem simplesmente que apesar de não estarem de acordo, o povo é soberano e cabe ao governo negociar com a UE, acrescentando ainda que a Suíça não pertence á UE e que cabe também aos europeus vir ao encontro do povo suíço. É o orgulho helvético. Por isso e apesar de ser desconfortável para nós imigrantes um resultado como o de domingo, sabemos que as consequências desta votação serão sentidas principalmente pelas empresas e pelos estrangeiros que queiram vir trabalhar para a Suíça. Mas os suíços também sabem que o país que é deles nã funciona sem nós. Em todos os sectores da economia suíça como a restauração, o turismo, a saúde, a construção, os serviços a percentagem de trabalhadores estrangeiros ultrapassa largamente a dos suíços. Aqui no meu serviço os suíços são menos de 30% do total de enfermeiros e no hospital em geral eles encontram-se sobretudo na administração. É pena o resultado desta votação porque dá argumentos aos partidários de direita mas há 10 anos atrás as fronteiras suíças estavam fechadas e sempre houve estrangeiros neste país e, sobretudo, estrangeiros contentes com a sua situação neste país.

2 comentários:

Naná disse...

Sou um bocado obrigada a concordar com o que disse um eurodeputado francês... que a Suíça não pode querer ter os benefícios de fazer parte do espaço Shenghen, e recusar a parte do acordo que não lhe interessa...

Foi bom ler esta visão de quem está mais próximo dos acontecimentos.

Miguel disse...

Efectivamente Naná, estou completamemte de acordo contigo. Aliás, quando confrontado com a surpresa por parte de alguns colegas pela reacção dura da UE é isso que lhes respondo!