Eu cresci num ambiente rural. Numa pequena aldeia, aliás, num "lugar" pequeno de apenas 4 ou 5 casas no meio de quintas. Por isso desde cedo me habituei a brincar fora de casa. Aliás, as minhas brincadeiras mais marcantes ocorreram no meio dos campos! Pelo menos até aparecer a Rua Sésamo. Por isso lembro com alguma saudade quando eu e o meu vizinho amigo, filho do dono da quinta mesmo ao nosso lado, íamos com o pai dele, em cima da carroça puxada por uma junta de bois, de como fugíamos no verão para ir mergulhar nos maiores e mais fundos tanques de rega das quintas, de como gostávamos de apanhar rãs nos lagos e poças que abundavam. Lembro-me de "roubar" fruta, de procurar nas vinhas as uvas mais brilhantes, de comer cerejas em cima da árvore, de fugir dos trabalhadores do campo quando nos viam a trepar pelas suas preciosas árvores a a comer o fruto do seu trabalho! Gostava também de subir para o cimo dos enormes montes de feno que acumulavam no meio das "eiras", de andar de enxada na mão a conduzir a água para os campos, de escorregar pelas encostas cheias de erva fresca! Era muito comum afastar-me um, dois ou três quilómetros de casa e só voltava quando a minha mãe gritava o meu nome, o que era coisa para se ouvir na aldeia vizinha!
Por tudo isto cedo aprendi a identificar as plantas, as árvores, os arbustos e a fugir dos mais perigosos como as silvas e principalmente, as urtigas! Os meus filhos não vão saber nada disto, obviamente. Brincam sempre comigo ou sob a minha supervisão, em parques mais ou menos bem pensados para as crianças. Por isso, o Gabriel simplesmente adorou quando o levei a passear e brincar a uma mata praticamente selvagem! Adorou as árvores, as bolotas pelo chão, os paus que se tornaram em espadas, o espaço para correr e a liberdade de se poder afastar de nós sem que o pai estivesse constantemente a berrar "Não vás para tão longe!". Afinal, eu podia vê-lo por muitos metros de distância no caminho da floresta. Mas o mais divertido da floresta é ter tantos e tão diversos esconderijos. Claro que jogámos Às escondidas sendo que a minha única função era procurar. O Gabriel estava a adorar esconder-se atrás das árvores, em pequenos desníveis, por baixo de arbustos! Claro que eu via onde ele se escondia entrededos. E eis que reparo que ele se vai esconcer nuns arbustos onde nenhuma criança da minha geração ousaria... "GABRIEL NÃO TE ESCONDAS AÍ! PÁRA!!"... Só ouvi "AUUUU" e depois um apelo desesperado para que o ajudasse a sair dali.
E foi assim que o Gabriel descobriu o que são as silvas!
6 comentários:
oh coitadinho :p
dói de caraças :s
ahah adorei este post =)
ainda "fui a tempo" de brincar na rua.A casa onde passei a infância era numa rua sem trânsito e ainda tinha um pátio enorme,palco de milhares de partidas de futebol.
Ah,e ainda tinha um outro pátio mais pequeno nas traseiras da minha casa.
Era raro divertir-me em casa,mas também conseguia e,muitas vezes,sem precisar de ligar a TV.
antes é que era divertido agora é uma chatice. Vejo pelo meu sobrinho que não goza nem metade do que eu gozei quando era miúda...revi-me em tantas coisas que escreveste aqui.
há os que descobrem depois de adulto quando caiem pelas silvas dentro com uma grande bebedeira!!!
ihhihi
ki s:=):=)
Essa foi uma das razões que levou a deixar um grande centro e e ir viver para uma pequena vila, a liberdade com que a minha filha vai crescendo. Juntamente com os horários de uns maravilhosos avós aposentados..;)
Ana
Curioso, ainda ontem estive a recordar os desnheos animados do meu tempo... era a Rua Sésamo, o Bocas, o Dartacão, as Navegantes da Lua, a Ana dos Cabelos Ruivos... que saudades!!!
Dee ter doído, coitadito! Este teu texto faz pensar em como tanta criança hoje em dia não sabe nem conhece nada do meio rural, da vida no campo. E não deixa de ser curioso ver que quando colocados nesse meio gosta bastante. É a sensação de libedade e um novo mundo por descobrir. O filhote de uma amiga minha tem 2 anos e quando vai à casa de fim de semana da avó no Alentejo é uma alegria. A vida entre as paredes de casa e do infantário não tem assim tanta graça...
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