segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fundamentalistas.

Jurei a mim mesmo que não voltaria a este assunto. Mas caramba, assisto a discussões noutros blogs, nas caixas de comentários e continua a haver imbecis (assim mesmo, imbecis!) a lançar ataques e veneno mas, pior de tudo, a continuar o discurso de "se fosse eu...". Não vou aqui tentar justificar a minha (nossa) decisão, não vou aqui inciar o debate. Nem sequer publicarei qualquer comentário ofensivo. O que tenho a dizer é isto, e só isto: de todos (e foram muitos!) os comentários ofensivos, moralistas, paternalistas, especuladores, baixos, desonestos, intransigentes, canalhas que têm parado nesta e na outra caixa de comentários, todos de "protectores-de-animais-amo-os-bichinhos-mais-que-tudo" não houve UM, UMZINHO SEQUER que se tenha prontificado a ajudar efectivamente o desgraçado do cão e a resgatá-lo das garras desta família de facínoras abandonadores de cães desprotegidos.
E é assim. Conheço montes de gente desta que apregoa "quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais", de voluntários dos canis e gatis desse Portugal. Gente que, embora goste de animais, não tem a racionalidade suficiente para perceber quando é melhor para esse animal seguir um rumo diferente. Conheço-as porque, nos últimos anos recebi cães e gatos na minha casa, alimentei-os, cuidei deles, arranjei os estragos que fizeram no meu sótão, limpei a merda e a urina que fizeram no meu soalho. Animais abandonados, maltratados, esfomeados. E ouvi montes de histórias de pessoas malvadas que não quiseram ficar com o bichinho e que, vendo bem as coisas, não tinham a mínima hipótese de os mantes. Gente que tem 7, 8, 10 cães ou gatos em casa. Gente que, sob a capa do altruísmo, é de um egoísmo atroz porque se aproveitam dos bichinhos para despejar as suas frustrações emocionais. Gente que não sabe amar e que finge amar os gatinhos e os cãezinhos. A mesma gente que, tendo os contactos para me poder ajudar, a mesma gente que recorreu a mim para dar guarida a este e áquele cão ou gato, a gente que teve a minha ajuda incondicional, foi a mesma gente que me condenou e fechou a porta no momento em que lhes pedi ajuda. E senti o mesmo que a I. tão bem explica neste texto (obrigado a ela pelo apoio, mesmo que me cheire que ela não deve ser fã da nossa decisão mas tem a decência de não condenar!), aquele sentimento de que somos uns sacanas sem-moral. Já tive um outro cão, chama-se Kenai, um enorme Serra-da-Estrela que cresceu e se tornou agressivo para o meu filho. Que fazer? Abandonar e viver com a consciência pesada? Colocar num canil, um cão que só socializava comigo? Abater? Pois hoje o Kenai está com uma família que tem muito mais espaço que eu, muito mais disponibilidade que eu. Um novo dono que o escova todos os dias, que conversa com ele, que brinca com ele. A última vez que fui visitar essa família, o Kenai não se aproximou de mim. Preferiu deitar-se aos pés do seu novo dono, numa posição de afecto e protecção. E eu estou muito feliz por ele.
Porque, por vezes, demasiadas vezes, o Amor, o verdadeiro Amor exige sacrifícios pessoais para que aquele que amamos possa ser feliz. E quem não percebe isto não sabe Amar. Nem as pessoas e muito menos os animais.

13 comentários:

Ana C. disse...

Miguel, eu ainda hoje fico meio vesga, de cada vez que esbarro com um fundamentalista-dog-psico-maniac. Como se estares à procura de uma família que cuide bem do teu cão fosse o equivalente a emigrares e dares o teu filho para adopção. Juro-te que não entendo como se pode comparar um cão a um filho. Lamento, posso ser bruta como as casas, mas ainda distingo as pessoas dos animais, respeitando ambos, mas dando prioridade aos seres humanos.
Além disso, não estás a deixar o Gastão na beira da estrada, mas a procurar com afinco uma família que o queira acolher.
Se esses tarados dedicassem um cagajésimo do seu esforço na luta contra os maus tratos a crianças, tenho a certeza de que teriamos um mundo melhor.
CAGA NISSO.

Fernanda disse...

Oi!
Concordo que vocês devem ir e o cão ficar. Torço para que vocês consigam deixá-lo com família que cuide bem dele.

Sílvia disse...

Acho que não deves ligar a essas coisas porque sei e muita gente que te lê e te conhece minimamente que não estás a abandonar um amigo,quem gosta realmente de animais nunca faz isso. Cá em cada habitavam uma gata e uma cadela até chegar a Dunga uma bola de pelo simaesa linda que levou um pontapé de um otário e ficou cega de um dos olhos. Teria nem um mês quando isso aconteceu, agora esta ca em casa só que a gata mais velha ainda não se habituou a ela, nada que não se resolva espero. Ficaria com o gastão de tivesse espaço suficiente pra ele a sério que ficava, só que também sinto que não tenho tempo suficiente para dar atenção aos meus o que é triste. De certeza que vais arranjar uma optima familia para ele e as pessoas podem convencer-se de que quem tem um animal tem um amigo para a vida, do mais leal e sincero que existe :)

Não ligues as pessoas maldosas que por aí andam, é perda de tempo :)

Sal disse...

ola...gostaria de saber em que zona do paìs se encontra o gastao,e quando è que estao a pensar em viajar.

Obrigado

Bluebluesky disse...

É isso miguel, é exactamente isso que eu tentava explicar numa dessas caixas de comentários por aí também...

Anónimo disse...

os cães ladram e a caravama passa, é o que me apetece dizer. Em frente com a tua vida. Agarra o momento, e segue.Força.

Nuvem disse...

Miguel, sei que custa teres de ouvir/ler essas pessoas
custa conviver com esses falsos moralismos
mas infelizmente é a realidade em que vivemos
eu não tenho animais por opção, porque acho que num apartamento pequeno onda mal cabemos 3 era maltratar os bichos
e conheço pessoas que vivem para os animais e não tem vida
ou outras, como a minha irmã, que fazem criação mas não vendem nem oferecem sem saber as condições em que vão viver.
Pode não ser a decisão mais fácil e acredito que sofram muito com isso, mas sei que seria complicado levar o gastão agora.
Espero que encontrem uma boa família com quem ele seja feliz como merece
e se tiver amor supera tudo!

Anónimo disse...

Miguel pena tenho eu de não ficar com o seu cão compreendo o que custa ter de o deixar mas o Miguel não o deixa porque quer é por não poder levar consigo mesmo assim estava disposto a contribuir com todas as despesas mas não se preocupe ainda tem um ano até encontrar o dono que realmente mereça o seu cão contudo tenho uma coisa a pedir como leitora habitual deste blog mesmo estando longe não deixe de nos por a par de todas as suas aventuras enquanto enfermeiro

I. disse...

Não sou fã nem deixo de ser, pá! Eu até me torço toda por dentro só de pensar que me teria que separar da nossa bichana, mas não posso mandar bocas a quem toma uma decisão que eu não tomaria. Porque não tenho esse direito, simplesmente. Se vocês o fossem deixar na rua ou num canil, a conversa seria outra. Mas eu percebo que num apartamento e com dois miúdos pequeninos a coisa é muuuuuito complicada.

Ontem falei deste assunto a me mate, e ele reagiu como estava à espera: com pena pelo Gastão, mas também disse logo "as pessoas são muito apressadas a julgar". E é isso que me encanita. Espero que nunca se vejam perante um dilema moral, é o que lhes desejo. Não é fácil, e não gostava de estar na vossa pele, é só isso. E só posso desejar muita sortinha a encontrar uma família nova para ele.

Sílvia disse...

às vezes, amar é deixar partir. Não condeno a sua atitude, muito pelo contrário, até a louvo. É da natureza humana apontar o dedo e julgar e é também das coisas mais feias. Não estão a abandonar o vosso animal. Estão a criar condições para que ele fique bem. Uma mudança causa tremendas perturbações numa família ou pensará a maioria que é de ânimo leve que se tomam decisões como deixar o país natal e um animal a quem se deu e por quem se tem tanto amor? Na vida, poucas coisas são como queremos que sejam. Aqui, trata-se de tentar fazer o melhor com o que se tem, minimizando os efeitos das decisões de uma familia num animal que amam. Porque está para mim claro que amam. Força e boa sorte.

Miguel disse...

@Sal: para mais informações acerca do Gastão agradeço que contacte o email: cheirinhoaeter@gmail.com.
Obrigado.

A.Luísa Magalhães disse...

Não condeno de forma alguma a tua decisão,como é evidente,porque estás à procura,de facto,daquilo que é melhor para o Gastão e não dói tanto a alguém como a ti(vocês).
Still,e não querendo esgotar a tua paciência,não queres experimentar,tentar?Ou tens mesmo a certeza absoluta que ele não se dá mesmo bem em apartamentos e nem com o tempo se habituará?

Ok,pronto,não te melgo mais,não me leves a mal por estar a insistir neste assunto,se calhar já falaste disso...

Força,Boa Sorte e manda-os dar uma volta -.-'

Anónimo disse...

A opinião da Ana C tem tudo a ver com o que eu penso. O título do seu post, também.
E sem querer, porque ainda hoje me incomoda, fez-me lembrar da antiga vizinha que tinha no quintal a conviver saudavelmente entre si, 4 gatos e 3 cadelitas. Nada faltava aos mesmos, boa racção, mimos, pelo escovado, tudo aquilo de direito a quem se preze ter um animal. A sra. vizinha tinha um neto a quem berrava a cada traquinice da criança e a quem negava mimos. A mesma que rejeitou ajuda a um vizinho honesto e bom que passou por momentos muito complicados. Caso único no prédio, em que todos, conforme podemos nos solidarizamos.
Neste momento, na casa onde vivo, com um espaço digno para eles, tenho 3 cães, melhor 2 cães(zarrões) e 1 cadelita que são uma das minhas paixões. Não comprei nenhum, recuso-me a dar dinheiro por um animal. Andavam na rua abandonados, um coxeava, todos com feridas e subnitridos. Não têm raça, são rafeiros, mas são lindos e são meus. Adoro-os.
Mas jamais deixarei de dar um prato de sopa a uma criança, ou um agasalho a um idoso.E isto, porque me continuo a lembrar do título do seu post e arrepio-me. Não tenho blog, mas tenho alguns nos meus favoritos que gosto de ler,mas a forma como se aponta o dedo, se maltrata, condena, julgando-se donos de uma verdade absoluta, choca-me e já pensei em desistir, mas ainda há alguns que vale a pena ler.Desejo sinceramente que aos que são tão intransigentes a vida não lhes pregue partidas em que tenham de fazer opções que nos deixam de coração apertado.
Miguel, ficaria com muito gosto com o seu Gastão, espaço não lhe falta, mas já tenho os meus 'caninos' que me dão muito trabalho.
E ainda mais importante: 4 filhos, marido, trabalho e casa.
O Gastão vai com certeza ter um espaço para ele e ser mimado como foi pela sua família.Para vós, não vai ser fácil, como leitora assídua do seu cantinho, embora sem comentar, ainda me lembro bem dos posts que dedicou ao Gastão e que poucos fariam por ele o vocês fizeram.
Muita sorte, de coração.
Carla

PS- Peço desculpa pelo testamento, mas embalei-me...