domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ainda o post do quadro branco (1 post abaixo deste).
Não. A nossa vida não é escrita pelo nosso punho. Pelo menos a minha não foi. Hoje, à beira dos 30 anos, tenho feito uma aturada retrospectiva da minha vida e chego a uma triste conclusão: praticamente tudo na minha vida foi forçado por alguém ou por um conjunto de circunstâncias. Isto foi, em parte causado por mim. Sempre fui um rapaz sossegado, educado, bom aluno, trabalhador e consciente das dificuldades que havia em casa. Em suma, o exemplo acabado do "bom filho", do "bom menino". E isso, em si mesmo não é mau. Não o seria se por um lado não me fizessem sentir o peso da responsabilidade e se, por outro eu não tivesse aceite essa responsabilidade. Ao longo de anos, desde muito cedo, abdiquei de muitas coisas em função de outros, e com elas sempre uma parte de mim. Sempre me fizeram acreditar que eu era maduro, adulto, responsável e que estava preparado para assumir responsabilidades condizentes com esse estatuto. E eu acreditei que estava e aceitei. Hoje sei que não estava. A minha adolescência foi baseada numa falsa maturidade e eu senti esse peso. Hoje vejo que não vivi a minha adolescência. Adoro música e nunca fui a um festival, nunca arrisquei nada, nunca fui espontâneo. Sempre achei que outros valores se sobrepunham, que tinha uma reputação a manter. Eu era o irmão mais velho, o primogénito, o orgulho dos pais, o aluno aplicado, o bom desportista, o capitão da equipa de futebol da terra, o promissor. Sinto falta da adolescência que não vivi, das experiências que não tive, de tudo o que não experimentei e hoje, com 30 anos, sinto que isso é uma lacuna na minha formação e que não vou poder transmitir essas experiências ao meu filho, como um bom pai deve fazer.
E profissionalmente? Bom, sou enfermeiro porque sim. Nunca tinha pensado nisso, não era profissão na qual tivesse pensado. As circunstância forçaram-me nesse caminho. Se gosto do que faço? Sim, tem dias (hoje não é um deles) mas consigo imaginar-me a fazer dezenas de outras coisas bem diferentes. Sinto que estou sempre a ajudar alguém, a amparar alguém, a escutar alguém. E tristemente, algo em mim me força a ser assim, mesmo quando já não tenho mais nada a oferecer. "Sempre apanhados na curva" como diz a M. Quero ser egoísta, não quero mais saber dos problemas dos outros, da vida dos outros. Estou farto de pessoas doentes e negativas, farto de dores e infecções, farto.
A minha força contudo está nas únicas coisas que são da minha inteira responsabilidade, aquelas que escolhi conscientemente e que foram por mim construídas: M. e G., minha mulher, companheira e amiga de muitos anos, que me equilibra, me ilumina em tempos de trevas, que me amacia as mágoas, a quem eu devo muito do que sou hoje e o meu filhote, a Luz. E talvez isto queira dizer algo. Construí este blog com base numa ideia principal: tinha de ser um espaço de ondas positivas, de bom humor, leve e de fácil digestão. Mas ele tornou-se em algo mais, num espaço onde eu despejo algumas das minhas frustrações. Esta foi uma delas. E há algo de libertador em publicar isto na blogosfera, como se libertasse ao vento as cinzas de um velho corpo cremado, sem rumo nem destinatário.
Volto quando tiver algo de positivo para dizer.

11 comentários:

JS disse...

McSleepy, como sempre leio os teus posts com muita atenção. Como sempre admiro o teu bom humor e acredito que com aquilo que vês todos os dias, não deve ser fácil. Como sempre adoro "ouvir-te" falar da tua mulher e do teu filho. E é por tudo isso que cá venho, pela tua humanidade, pela tua generosidade e acima de tudo pela tua franqueza.

Há coisas que não são fáceis de confessar, mesmo na blogosfera.

Eu também não fiz muita coisa que gostaria, mas aquilo que realmente importa fomos nós que escolhemos!!!

Um abraço*

Miguel disse...

Obrigado JS. Há coisas que são boas de "ouvir". Mesmo na blogosfera.
Um beijo.

Ana C. disse...

http://avontaderegresso.blogspot.com/2008/11/pablo-neruda.html

Antes de falar gostava que lesses este texto que postei há algum tempo no meu blog. Faz-me o favor de o ires espreitar.
Depois tenho a dizer-te que me comovi quando te li, porque falaste com o coração e eu sou uma pessoa muito emocional.
Nenhum de nós tem uma vida perfeita, mas temos coisas que fizémos bem, aquelas em que acertámos no jackpot e muitos não se podem gabar de ter uma companheira, uma amiga e uma luz como tu tens:)

R disse...

Desculpa, entrar assim, mas li o teu post e não posso deixar de te dizer, que todos temos momentos de desalento. Há dias que não estamos contentes com o nosso trabalho, com a vida que levamos, enfim estamos saturados. Mas a família é o nosso grande apoio, é o mais importante de tudo.Então pensamento positivo, bola para a frente. Ter filhos com saúde,viver com quem se gosta, há bem maior? Um bj e desculpa-me.

S* disse...

É sempre bom desabafar. E é ainda melhor quando ninguem que conheçamos na vida realm conhece o nosso blog. Liberta-nos ainda mais. :)

Rodopia... disse...

Já leio este blog há algum tempo, mas hoje senti necessidade de comentar porque subscrevo totalmente algumas das tuas frases, embora eu apenas tenha 23 anos e apenas 1 de profissão... No entanto, a adolescência não vivida e imaginar-me a fazer dezenas de outras coisas sem ser enfermeira (embora goste daquilo que faço) são pontos em que estou totalmente de acordo contigo...

Mas sabes, acho que melhores dias virão, embora o tempo não volte atrás...

Ana Pessoa disse...

ei, míudo, well done!

xxx

A

rosemary disse...

A blogoesfera é um lugar psicoterapeutico por excelência! Desabafa, fazes bem e poupas em consultas! Também já o fiz no meu blog e o apoio que senti foi totalmente inesperado mas muito positivo. Take your time! Aqui não há pressas nem pressões, eu pelo menos considero o meu blog um escape e não uma obrigação. Depois, quando te apetecer, já sabes, estamos cá para ouvir mais histórias do McSleepy!
Bjs*

R disse...

McSleepy, sabes que espreito o teu blog. E por isso estás nomeado no meu para responderes a um desafio. Vai ver. Tudo de bom!

Banita disse...

Sei o que sentes. Eu também em momentos de desalento me senti assim...
Ainda mais sem ocupação, é preciso ser de (quase) de ferro para não vergar às patetices que uma pessoa pensa quando não tem nada para fazer... Agradeço ao Banito que tem sempre o condão de me por os pés na terra quando eu já estou a disparatar. LOL
Diz o que te apetecer no teu blog e disparata quando quiseres! Ah e volta quando quiseres também! Cá estaremos para comentar ;)
Beijos e sopros para afastar a neura!

Anónimo disse...

Apenas a dizer que adorei. Já está nos meus favoritos, claramente!