Um grupo de cidadãos portugueses reclamam à Assembleia a suspensão da Lei do Aborto. Parece que foram 4500 assinaturas de portugueses que se opõem à nova lei do aborto. Ora bem... 4500 assinaturas para suprimir uma lei que foi sufragada por alguns milhões de portugueses parece-me manifestamente pouco. Por muito que eles digam que o referendo não foi vinculativo. O facto é que, de todos os portugueses que foram votar a maioria aprovou a lei.
Afirmam os ditos senhores que a situação actual é "uma tragédia" e que se passam coisas impossíveis como "O aborto recorrente, o aborto que se torna um método contraceptivo, o eugenismo (eh pá, vão ao dicionário!) liberal". Permitam-me que insulte estes senhores: então mas esta cambada de idiotas e imbecis, além de anormais, que não existem agentes reguladores destas situações? O que serão os profissionais de saúde que lidam com estas mulheres? Um bando de assassinos em série certificados pelo estado? Uns psicopatas da pior espéciem, que sentem orgasmos enquanto interrompem uma gravidez? Pensarão eles, por ventura que não existe um acompanhamento e aconselhamento das mulheres que fazem esta opção? Acham que deixámos de distribuir pílulas e preservativos e já não há consultas de planeamento familiar? Enfim...
Os argumentos utilizados para legitimar estas afirmações são, logo à partida, um aumento no número de abortos: "No primeiro ano foram feitos seis mil, daria 12 mil ao ano multiplicando por dois. Depois, no segundo ano, já foram 16 mil. Estamos a assistir ao contrário que era defendido, que era legalizar o aborto para o tornar menos frequente." Estamos perante especulação da pior espécie!! Que dados têm para extrapolar que, num semestre aumentaria o número de abortos no dobro? Posso afirmar que poderiam ter sido o triplo, ou 10 vezas mais, ou apenas a metade ou um terço. E que dizer da afirmação que os 16 mil do 2º ano reflectem um aumento significativo que vai contra os propósitos da Lei? Concerteza que as palas que estes senhores usam ao nível dos olhos os impedem de ver que esse número resulta provavelmente dos abortos que deixaram de ser clandestinos. Terão eles acesso aos números dos abortos clandestinos? Será que esse número não diminuiu? E analisaram eles a diminuição da mortalidade das mulheres sujeitas a interrupção da gravidez? Pois não...
Claro que aqui não interessa nada o direito à escolha por parte da mulher, o direito a tomar as rédas da sua vida e do seu corpo, as consequências para o bebé de uma gravidez indesejada, a falta de condições minímas para receber o bebé, a falta de soluções para os bebés abandonados, a vida que é proporcionada aos bebés abandonados nas instituições (que fazem o melhor que podem com as condições miseráveis que têm...).
E sabem o que é mais engraçado? É que eles propõem a revisão da lei "no sentido de se tornar menos permissiva". Decidam-se: então querem o fim da lei ou concordam com a liberalização? E o que significa a expressão "menos permissiva"? Será diminuir o limite de tempo de evolução da gravidez? Será fazer só meio aborto? Ou mulher sim/mulher não?
Resumindo, estamos perante idiotas moralistas que pura e simplesmente não evoluiram e continuam agarrados a ideais de tom medieval e retrógrado e que, provavelmente votaram em António Oliveira Salazar como o "Melhor Português de Sempre". O que se conclui desta acção? Que existem, pelo menos, 4500 portugueses perfeitamente parvos.
(Não se nota muito a minha posição face ao aborto, pois não? Ah, e repararam como fugi ao tema do dia, as declarações oportuníssimas do Exmo. Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa? Será que ele faz parte dos tais 4500?...)
5 comentários:
Isto está poderoso. Vê-se que acreditas mesmo naquilo que escreves. Acho que ninguém pode dizer que é a favor do aborto. Nenhuma mulher o faz de ânimo leve, nem o faz porque é militante da coisa. Fá-lo porque não vê mesmo outra alternativa e vou-te dizer sinceramente, pô-los no mundo para os fazer sofrer cá fora, para os sujeitar às provações de tantas crianças que vemos na maior das amarguras psicológicas e físicas...
O que é que é pior?
Os abortos vão sempre existir com, ou sem condições de segurança é a questão.
Punir uma mulher por fazê-lo, ou não. Esta é a única pergunta que devia ter sido feita.
Votei sim e subscrevo inteiramente as palavras da Ana C. Felizmente nunca precisei de recorrer a tão difícil decisão, mas acompanhei duas amigas que o tiveram de fazer e hoje, apesar de mães extremosas, não se conseguem livrar do trauma, nem do sentimento de culpa.
eu espero bem que seja só uma nhanhice sebácea..eh eh...
Concordo inteiramente com tudo que escreveste. Os argumentos dos contra o aborto são sempre completamente descabidos e sem fundamento. É o que eu acho. Não me vou alongar sobre o assunto porque se começo a escrever nunca mais paro, e não convém.
Como mulher dona do meu próprio corpo, é impossível discordar. Tenho medo das filhas dessas mães que votaram contra o aborto... que infelicidade se ficaram grávidas fora do tempo que desejam...
Eu sou a fazer do aborto, claro, pois quero dar opções às mulheres que não têm opção.
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