Ele era ansioso, histérico, hipocondríaco. Cismava que ia morrer a toda a hora porque o coração palpitava, porque sentia uma pontada no estômago, uma dor no flanco, uma dor de cabeça. Enfarte, AVC, trobose, apendicite. Se estava cansado ao final do dia logo se diagnosticava uma fibromialgia. Lia exaustivamente todas as bulas dos medicamentos até as decorar para testar os diversos médicos. Tinha vários porque gostava sempre de uma 2ª opinião. E, como era avisado, pedia também uma 3ª, uma 4ª e uma 5ª até que algum deles concordasse com o seu autodiagnóstico, pesquisado do Google ou na Wikipédia.
Comia tudo, de tudo e bebia. Por vezes mais do que a conta. A culpa consumia-o e temia morrer de um ataque fulminante de colesterol ou de diabetes ou de tensão alta. "O colesterol alto não é letal, ninguém morre de repente porque o colesterol está alto!" disse o médico. "Você está muito ansioso." Não o descansou "Ouvi dizer que se pode morrer de ansiedade..." respondeu e do médico só obteve um abanar de cabeça condescendente e uma receita passada enquanto pensava de si para si "Tu és é psiquiátrico... nunca mais acabam a merda das consultas..."
Tomava os ansiolíticos e os antidepressivos religiosamente, por vezes duplicava a dose porque sentia que o seu corpo estava a contrair uma nova doença a cada minuto. Cancro, flebite, arterosclerose, tuberculose, próstata, gota, anemia, insuficiência renal, disfunção eréctil. No trabalho comia sempre sozinho, numa arrecadação. Por um lado tinha medo de apanhar a tuberculose, dizem que está a voltar em força e que se apanha em locais com muita gente, mas por outro lado nunca ninguém se sentava com ele. Não percebia porquê.
Um rapaz do armazém encontrou o seu corpo numa arrecadação escondida. A face negra, o corpo pálido. Os bombeiros dizem que se engasgou com um bocado de pão integral.
Comia tudo, de tudo e bebia. Por vezes mais do que a conta. A culpa consumia-o e temia morrer de um ataque fulminante de colesterol ou de diabetes ou de tensão alta. "O colesterol alto não é letal, ninguém morre de repente porque o colesterol está alto!" disse o médico. "Você está muito ansioso." Não o descansou "Ouvi dizer que se pode morrer de ansiedade..." respondeu e do médico só obteve um abanar de cabeça condescendente e uma receita passada enquanto pensava de si para si "Tu és é psiquiátrico... nunca mais acabam a merda das consultas..."
Tomava os ansiolíticos e os antidepressivos religiosamente, por vezes duplicava a dose porque sentia que o seu corpo estava a contrair uma nova doença a cada minuto. Cancro, flebite, arterosclerose, tuberculose, próstata, gota, anemia, insuficiência renal, disfunção eréctil. No trabalho comia sempre sozinho, numa arrecadação. Por um lado tinha medo de apanhar a tuberculose, dizem que está a voltar em força e que se apanha em locais com muita gente, mas por outro lado nunca ninguém se sentava com ele. Não percebia porquê.
Um rapaz do armazém encontrou o seu corpo numa arrecadação escondida. A face negra, o corpo pálido. Os bombeiros dizem que se engasgou com um bocado de pão integral.
Escrito noutro tempo, noutras andanças. Escrito no início desta aventura dos blogs.
6 comentários:
Muito bom.
Adoro este tipo de escrita com final irónico, inesperado!
;)
Coitado, era hipocondríaco tinha tudo e mais alguma coisa e acabou de morrer de solidão, sim porque se não tivesse sozinho naquela arrecadação poderiam tê-lo socorrido, paz à sua alma .......
Ahaha, adorei!!
Macabro,mas bom!!!
Estou com alguns arrepios...LOL
Beijos grandes,
Márcia
Muito bom, mesmo. Gostei 'pa caramba.
Este texto recorda-me o do homem que levou com um móvel na cabeça, quando passava ao lado de uma mudança. Nada de especial, se não tivesse deixado de fumar um dia antes -porque os amigos e o médico insistiram que "ia morrer mais cedo se o não fizesse".
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