sábado, 6 de dezembro de 2008

As aparências iludem...

Certo dia (já não me lembro, foi há umas semanas) recebi na minha sala de tratamentos um rapazinho romeno com cerca de 5 aninhos. Lembro-me dele porque a sua imagem transportou-me imediatamente para as imagens que todos já vimos das crianças nos campos de concentração nazis, como Auschwitz: magro, pele branquinha o cabelo mal cortado (parecia que tinha "peladas") mas com um brilho nos olhos e bem disposto.
A minha primeira constatação foi que ele estava, obviamente, mal cuidado e que a mãe (que o acompanhava) tinha de ser chamada à atenção.
O rapaz vinha ao serviço porque, na sequência de uma varicela, uma das bolhinhas típicas desta doença tinha infectado e ele tinha uma enorme ferida na zona inferior de uma das nádegas que se estendia até aos testículos. Era claramente muito doloroso para ele...
A mãe mostrava-se preocupadíssima com ele, o que não batia certo com o minha ideia inicial dela. Preconceitos...
Ela foi muito atenciosa com ele durante a realização do penso e muito atenta aos ensinos que lhe fiz, acerca de como tratar aquela ferida. Nesta altura arrisquei e disse: Quem é que te fez esse corte? A mãe respondeu, envergonhada, que tinha sido ela para expor as feridas da cabeça para melhor as poder tratar, mas que de facto dava a sensação de estarmos perante um menino de Auschwitz!! Aí compreendi que eu me tinha enganado acerca daquela mulher. Falámos mais um pouco e ela mostrou-se muito arrependida de não ter vindo à urgência mais cedo, pois teria resolvido com uma simples pomada um problema que se tinha agravado por ela ter seguido os conselhos de uma vizinha. A dita vizinha recomendou-lhe uma pomada de uma marca de cosmética francesa, e a farmácia conseguiu impingir-lhe toda a linha, com a garantia de rápidas e espectaculares melhoras. Gastou quase 50 €. Por isso, ele teria de esperar mais um tempo por uns ténis novos...
A senhora, romena, era de uma humildade, sinceridade e simpatia desarmantes, assim como o miúdo. Antes de deixar a senhora ir embora ofereci-lhe a pomada indicada para o tratamento do filho, bem como as compressas que me pareceram necessárias para o completar. A senhora ficou emocionada, eu fiquei genuinamente feliz e vocês (os contribuintes, que no fundo contribuíram para todo aquele material que lhe ofereci!) também contribuíram para ajudar esta família tão simpática.

2 comentários:

Banita disse...

E é tão bom quando fazemos uma boa acção! Sentimo-nos bem!
Ah, eu também fiquei contente por "contribuir" para o tratamento do menino romeno! Sabe tão bem dar o nosso contributo para ajudar o próximo!
(Vamos ver se acerto nas palavras parvas onduladas à 1ª! LOL)

magali disse...

Deve ter imensas histórias bonitas para contar, esta é uma delas. Deve ser uma profissão bastante gratificante a sua. Ajudar quem mais precisa!

Cumprimentos,
Magali