Em todos os locais, principalmente nessas aldeias do Portugal remoto, aquele onde um blogue é uma palavra estranha, mesmo para os mais jovens... mas dizia eu, em todos os locais existe sempre "o maluco". É normalmente alguém com patologia do foro psiquiátrico mais ou menos grave e que é a "mascote" da aldeia.
Na aldeia onde cresci, tinhamos o "Zé da Estrada". Era assim chamado porque a vida dele consistia em percorrer quilómetros na estrada nacional que atravessava a aldeia, em ambos os sentidos, e parando nas aldeias vizinhas onde dava autênticos festivais musicais onde ele, só com a boca, reproduzia (tentava!) os instrumentos de uma determinada música que lhe pediam, a troco de um copito de tinto e, talvez, uma côdea de pão. Como é bom de ver , o Zé morreu... atropelado!!!
Lembrei-me do velho "Zé da Estrada" por causa do Tó (nome fictício). O Tó é o nosso louco "de estimação". Esquizofrénico, ex-toxicodependente, o Tó visita-nos quase todos os dias. É um tipo muito educado, mesmo quando descompensa, com gestos largos e expressivos, algo exagerados, muito temente de Deus (aliás, Deus fala com ele e diz-lhe as mais variadas coisas como: "Não tomes os medicamentos..."!!!), acredita que foi contaminado com o HIV por um irmão que lhe deitou uma gota de sangue na sopa e anda pela cidade perdido na sua mente.
Mas não é parvo, o Tó! De cada vez que cá vem consegue sempre cravar uma sandes ou um pacote de leite ou sumo a alguém que esteja na sala de espera, uns trocos e está sempre com pressa "para ir ver se arranja uns trocos" nas feiras e mercados. Mas ontem o Tó teve o seu mais brilhante momento de "cravanço"!!
Quando cheguei estava o Tó sentado junto da sala dos enfermeiros, à espera da habitual pica. Assim que me vê exclama: "Olha o Sr. Enfermeiro!! Tá bom?" no seu jeito exagerado e com aquele ar submisso, sempre curvado á nossa frente, com as mãos unidas junto ao peito. Cumprimentei-o e dei-lhe um aperto de mão, que pareceu deixa-lo um pouco mais à vontade. Enquanto conversava com a colega, o Tó diz, subitamente: "Que grande perna!! Nunca tinha reparado que você era assim tão grande Sr. Enfermeiro!! E que grandes pés!!! Quanto é que calça?", ao que eu respondo: "Oh Tó não exageres. Não é assim tanto. Afinal só calço o 42." E o Tó, em tom quase suplicante "Oh Sr. Enfermeiro, é o número que eu calço... e com esta chuva só tenho isto para calçar... este ténis todos rotos... Não tem nada lá em casa pra mim?"
Hoje trouxe-lhe alguns pares de botas e ténis que tinha lá em casa e que já não uso. Trouxe-lhe também algumas camisolas e um casaco para o Outono e Inverno.
Pode ser louco... mas de parvo não tem nada!!!
2 comentários:
Ah pois não! Nadinha mesmo! Mas de facto se temos coisas que não usamos, em casa a encher, não custa nada dá-las a quem precisa.
Na cidade onde cresci também havia um senhor de barba até ao peito muito fedorento chamado Zé Maluco (será que os doidos se chamam todos Zé?). Sabia (sabe, pois acho que ainda é vivo) montes de truques com cartas e mil e uma magias com que deliciava as crianças. Hoje parece que continua a levar a vida errante de sempre e a sua grande companhia é um grupo de dezenas que gatos que vai coleccionando e alimentando estoicamente e, por isso, já é tão conhecido como Zé dos Gatos como pelo Zé Maluco ao ponto de há uns anos, um canal de TV fazer uma reportagem sobre característica figura.
Tinha um comentário fixe quase publicado... mas à última da hora fiz ok para mudar de pág. e lá se foi o comentário... Enfim
Ainda bem que fizeste essa Boa Acção e aposto em como te sentiste bem ao fazê-la! Acertei?
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