segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De como os momentos sublimes surgem quando menos esperamos.

O local são as Docas, em Lisboa, 6 e 30 da manhã. Ao chegar ainda lá estavam algumas centenas deles, espalhados pelas pedras da calçada, pelos passeios, ainda a abanar-se freneticamente dentro de pequenos covis semi-iluminados. E era só um de mim, de calções, t-shirt, sapatilhas de corrida. E eis o encontro de duas espécies que raramente se cruzam.
Se eu já estava à espera de os encontrar, já eles olharam-me com estranheza, surpresa e algum gozo pelo meio, através dos seus olhares esgazeados. Um fulano a correr, às 6 e 30 da matina pelo meio de uma pequena multidão numa das zonas mais movimentadas da noite de Lisboa é algo demasiado inédito para aqueles cérebrozinhos cansados processarem, lá me deixaram passar no território deles (era noite ainda, logo era deles).
Ultrapassada a multidão, o rio Tejo tornou-se meu companheiro, ouvia o seu murmúrio nos silêncios que o meu iPod me oferecia entre canções demasiado barulhentas e agressivas para aquela hora da manhã (e daí, talvez a multidão que deixara para trás discordasse de mim!) mas absolutamente necessárias para manter a motivação. Disse olá ao Padrão dos Descobrimentos e adeus à Torre de Belém, passei pela Estação de Comboio de Algés e os poucos e sonolentos passageiros que aguardavam olharam-me com desprezo. Como se a minha corrida matinal fosse uma ofensa ao cansaço que ostentavam nas suas faces. Voltei para trás, reencontrei o Rio e, com ele o Sol que nascia. Se há momentos sublimes então aquele foi um deles. Só eu, o Rio, o Sol e a Ponte que nos guardava. E assim ficámos, os quatro, a correr sem pensar em mais nada. Cheguei às Docas, os "nocturnos" tinham sido espantados pelo Sol. Respirei o ar ainda fresco. Olhei o Rio, o Sol, a Ponte uma vez mais e fui trabalhar. São agora 8 da matina.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Boys and their toys...

Alguém me explica o demente apelo sentido pelos homens por tudo o que é brinquedos tecnológicos? Aquelas coisas com touchscreens, gigabites, apps, wi-fi, dolby-surroud, panorama mode, sweep mode, twilight shot, android, super amoled, megapixeis, etc, etc, etc (sim, acabei de escrever montes de expressões típicas dos gadgets masculinos e juro que não inventei nenhum!)? Alguém? Um psicólogo, psiquiatra, vidente?
Sinceramente. É estúpido que alguém como eu, razoável nos seus gastos, que privilegia a utilidade e versatilidade das coisas que compra e minimamente inteligente para perceber que não vale a pena comprar um telemóvel com 58379 aplicações quando, na verdade só vou fazer e receber chamadas, ande agora embeiçado por um desses novos touchscreens com acesso à internet e câmara fotográfica de 5 Mpixeis, com GPS integrado, função de ultra-realidade (não sei o que é mas parece tãããão fixe!!!) e identificação por imagem (espectáculo! Imaginem-me quando descobrir o que isso é...), agenda electrónica, microsoft office móvel e mais umas quantas funções perfeitamente irrelevantes. Mas é tãããããão lindo. E tem tantas coisinhas giras e botõeszinhos no ecrã e luzinhas que piscam...
ALGUÉM ME DÁ UMA BOFETADA????
É provavelmente o que vou receber assim que a Mariana ler este texto.

Por vezes sinto que trabalho numa Estação de Serviço.

E ontem foi um desses dias! Sinceramente, já não me lembrava de passar tanto tempo (praticamente toda a manhã, até à hora do almoço!) a dar banhos aos doentes. A hora dos banhos, ou "higienes" como os enfermeiros gostam de lhes chamar, é sempre um momento muito agitado na vida de qualquer enfermaria. Na enfermaria onde eu trabalho, sendo que a maioria dos doentes são velhinhos acamados ou com muitas dificuldades de mobilização. E surdos que nem portas, a maioria deles. Em primeiro lugar, os banhos na cama ou "higienes no leito"...
-Dª FRANCISCA VAMOS COMEÇAR. FECHE OS OLHOS!
-HÃÃÃÃ?
-FECHE OS OLHINHOS!
(agarro numa esponja cheia de água e esfrego a face, braços e peito do doentes. A minha auxiliar seca tudo, do outro lado da cama. Passamos para as pernas e pés.)
-Dª FRANCISCA, AGORA VAMOS LAVAR A PATARECA*. TEM A FRALDA SUJA?
-HÃÃÃÃ?
-FEZ CHICHI E COCÓ?
(a velhota encolhe os ombros. abrimos a fralda e espremo a esponja em cima do pitó* da senhora. esfrego. A auxiliar limpa.)
-AGORA VAI VIRAR-SE DE LADO ALI PARA A CARLINHA (a auxiliar). NÃO TENHA MEDO.
(digo sempre isto porque o doente fica de lado, bem à beirinha da cama e, invariavelmente, têm uma medo terrível de cair. Esfrego as costas, limpo-as e aplico o creme hidratante. No final afasto os lençóis molhados e empurro-os para baixo do doente. Coloco um lençol seco na metade da cama que está livre)
-PRONTO. VIRE-SE PARA MIM...
-AII, QUE EU CAIO!
-NÃO CAI NADA MULHER, QUE EU NÃO DEIXO!
(a auxiliar retira os lençóis molhados, limpa a outra metade da cama e puxa o novo lençol seco. Está pronto!) Agora multipliquem estes discursos berrados por mais dois ou três enfermeiro e juntem-lhes os gritos de medo ou de dor de muitos doentes e talvez percebam a animação que é este momento!
Quando os doentes conseguem ir à casa-de-banho prefiro dar-lhes uma boa chuveirada...
-SR. MANEL! A ÁGUA ESTÁ BOA ASSIM?
-TÁ QUENTE!
-E AGORA?
-TÁ FRIA! NÃO... ASSIM TÁ BOA!
(afastado do doente, aponto-lhe o chuveiro assim tipo mangueirada! Se lhe der o chuveiro para a mão é certinho que vou tomar banho também.)
-VÁ! ESFREGUE BEM A CARA. E O PEITO. LAVE-SE BEM "POR BAIXO". TOCA A LAVAR OS TINTINS*...
-HÃÃÃÃ?
-OS TINTINS HOMEM!
-HÃÃÃ?
-OS TOMATES!!!!
-AHHHH.
-AGORA SEGURE AQUI NO CHUVEIRO ENQUANTO EU ESFREGO AS COSTAS E OS PÉS.
(erro crasso, de principiante. A água salta para as paredes e tectos e espelhos. já estou todo encharcado quando emendo a minha falha!!)
-PRONTO, PRONTO, JÁ ACABÁMOS....
Uma animação a hora dos banhos.
Uffffff.
*termos largamente utilizados para definir "vagina" e "testículos" (consoante o caso) que, admitamos, são uns termos muito sérios. Já "tomates", enfim quando se está já com os pés todos molhados dizemos qualquer coisa para despachar o serviço!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lucilinha.

Por vezes recebemos uns velhinhos patuscos lá no serviço. Vão e voltam mas, nos últimos meses temos tido o privilégio de partilhar alguns momentos com a Dª Lucília, ou como nós lhe chamamos, a Lucilinha.
A Lucilinha é uma velhota de oitenta-e-muitos-anos que veio ao hospital para uma intervenção simples. Sem filhos, rapidamente se percebeu que ninguém a voltaria a levar para casa. O processo de assistência social demora a ter um fim e, entretanto, a Lucilinha vai ficando connosco. Alta, deixa adivinhar um porte altivo de juventude com o seu rosto fino de nariz comprido e queixo proeminente onde agora crescem uns tufos de pelos rijos que vamos cortando de vez em quando. No início falava connosco. Em mim via o seu falecido Alfredo, companheiro de sempre, e dava-me beijinhos (que picavam, com aqueles pêlos no queixo!) ou, à falta de melhor na foto do meu cartão de identificação! Falava, é certo, mas completamente fora da realidade! Mas era giro porque ela era uma espécie de cupido lá do sítio: se dois enfermeiros de sexo diferente faziam o turno juntos, eram automaticamente, marido e mulher! Depois foi-se apagando a memória e, hoje, a Lucilinha já não fala. Mas não pensem que ela está mal...
A Lucilinha já não fala, quando a colocamos na cama fica sossegadinha, abre a boca para comer e não se coíbe de sujar as fraldas as vezes que forem necessárias! Mas o seu ohar é distante. Distante, mas não vazio. É como se estivesse a viver na sua própria realidade com pequenos fios apenas que a prendem a esta realidade. Mas a Lucilinha, que já não pode com o rabo, gosta de passear. Pela manhã, depois do banho, prendêmo-la (sim, literalmente, prendêmo-la com um colete especial para não cair) a uma cadeira de rodas e... lá vai a Lucilinha! Gostava de colocar aqui um vídeo mas, enfim... privacidade e essas coisas... mas talvez consiga desenhar uma imagem nas vossas cabeças com as minhas palavras!
Imaginem uma velhota, magra e alta, sentada numa cadeira de rodas. O olhar vago, perdido algures na parede mais distante do corredor, as mão entrelaçadas ao peito. E lá vai ela! Dando aos pézinhos, puxando a cadeira com os seus pés, a Lucilinha vai para onde quer! Para o seu quarto, para o corredor, para a nossa sala de trabalho, para o quarto de outros doentes. Até já se prendeu numa arrecadação! A Licilinha não é exigente e vai para onde a dirigirmos. Quando está num quarto alheio, admirando a paisagem pela janela (faz isso muitas vezes) enquanto os ocupantes daquele quarto resmungam pela intrusão, é só empurrá-la para fora do quarto e, uma vez no corredor, dar-lhe impulso. A velhota levanta os pés e aproveita a velocidade!
Mas o mais engraçado acerca destas deambulações da Lucinha ocorre quando ela encontra um obstáculo. Imaginem aqueles carrinhos de brincar de corda. Depois de dar corda, dirigimo-lo para uma parede e deixamo-lo e, o carrinho ali fica, a lançar-se contra a parede até se lhe acabar a corda! Com a Lucilinha é a mesma coisa! Ela avança e torna a avançar contra a parede, porta, armário ou qualquer outra coisa até o obstáculo ceder (nunca aconteceu) ou até um de nós a ir ajudar a mudar de rumo! A corda nunca acaba à Lucilinha.
A Lucilinha não fala, não sorri, não esbraceja mas talvez, só talvez ela não esteja assim tão infeliz como a sua face parece denunciar...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vejo defeitos nas virtudes dos outros.

Pequeno enquadramento pré-texto: como devem calcular, ninguém que corra 1000 km em menos de um ano (e nem é assim uma marca tããão especial, diga-se!), que o faça regularmente pelo menos 3 vezes por semana e que alie a isso algum trabalho de musculação mantém a sua fisionomia intacta. Posto isto...
Facto: perdi cerca de 10 quilos nos últimos meses. Quem trabalha ou convive comigo não se cansa de se admirar com a minha nova silhueta. Mas, convenhamos, pago tudo em suor e mialgias! Além disso abdiquei de minha antiga alimentação rica em açúcar, gorduras e molhangas carregadas de colesterol! Admito: tornei-me numa daquelas pessoas saudáveiszinhas e aborrecidas que consultam a tabela nutricional dos produtos antes de os comprar e que deixou de comer bolos de pastelaria. Aquelas pessoas que retiram todas as gordurinhas da carne que consome, que agora é maioritariamente branca, que não coloca açúcar no café, que come sempre saladinhas e sopas ás refeições, que come fruta e iogurtes magros a meio da manhã e da tarde, que aboliu completamente a manteiga dos Açores do frigorífico lá de casa, que bebe leite simples sem açucar, que anda sempre com barras de cereais light na mala, que come pão uma única vez ao dia e esse pão é integral ou de sementes. Além disso levanto-me cedo nas folgas e vou correr pelos caminhos de Portugal, faço abdominais, flexões, barras, pranchas, alongamentos. Sou detestável, eu sei.
Mas, por outro lado, eu sou a prova viva de uma teoria que venho defendendo ao longos dos anos. E a premissa é a seguinte: "Emagrecer? Fechem a boca e mexam o !". Simples, profético acho eu! Constato então, com alguma surpresa, que os meus visíveis resultados não servem de motivação para os meus pares que se queixam da gordurinha acumulada, da falta de stamina, do cansaço crónico, da lassidão dos seus tecidos. A julgar pelas observações de alguns colegas "Isso da corrida está a tornar-se patológico.", "Q'horror! Mas agora só comes fruta e iogurtes magros?", "Ai! Está muito magro. Gostava mais quando tinhas barriguinha!", dizem eles, o problema sou eu! Eu é que sou louco por me levantar ás 7 da manhã, num dia de folga, e sair para correr! Eu é que sou louco por renegar ao culto do açúcar refinado, eu é que não vejo que na verdade, os 10 quilos que queimei sem piedade e sem saudade eram afinal o que me dava charme e fazia de mim uma pessoa interessante! Assim com a barriguinha, que era amorosa.
Quando os tento fazer ver que se eu, com dois empregos e dois filhos pequenos, consigo então melhor o fará quem apesar dos dois empregos, não tem filhos. Quando digo que é uma questão de vontade e que, na maioria das vezes não tenho vontade nenhuma e que preferia estar a escrever no blog, a resposta é "não consigo". Quando explico que a dieta equilibrada (porque é disso que se trata, de uma dieta equilibrada que todos devíamos ter em atenção e não uma louca dieta restritiva) é cumprida porque, convenhamos, não vou "mandar ao ar" o esforço de correr 10, 13, 16, 18 km (que custa!) só porque me apetece comer um Big Mac, a reacção é "não consigo", então só posso concluir que eu é que sou um anormal! E as pessoas sentem-se mal na minha companhia... sou execrável, de facto!
Que as pessoas queiram a saúde e a beleza comprimidas numa pequena cápsula fornecida em blísteres de 20 cada, eu percebo. Que as pessoas acreditem nisso e que arranjem pretextos para minimizar o feito de quem, de facto conseguiu melhorar a sua saúde e a sua aparência já me custa a aceitar...
PS: tudo bem que agora ando com um ego sobredimensionado mas, caramba!, como gosto de me ver ao espelho!

domingo, 22 de agosto de 2010

Exultem comigo!!

Chamo a vossa atenção para o "virtual runner me" ali à direita do ecrã...



1000 km já perCORRIDOS!!!!



Obrigado, obrigado!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mulheres-Ferrari.

Apareceu uma dessas mulheres lá na piscina do hotel onde passámos as nossas humildes férias familiares. Podia gastar aqui vários parágrafos a descrevê-la com os mais variados adjectivos e com longas e indecentemente gráficas passagens acerca dos seus atributos físicos mas, enfim, a Mariana lê isto de quando em vês e convenhamos, era capaz de não ser agradável! Digamos então que era uma mulher apelativa. Apelativa no sentido em que não passava despercebida a ninguém que estivesse naquela mesma piscina, fossem homens ou mulheres. Uma daquelas mulheres que, por diferentes razões tanto é assunto para os atarantados machos como para as invejosas femêas!
Na piscina estava sempre só ou com uma amiga, não mais, e não havia sinais de homem a rondar o território. Considerando que ela tinha a sua toalha a não mais de 3 metros da minha, pude escutar (acidentalmente, claro!) que estava só, que não tinha relação nenhuma de momento e que não estava preocupada com isso. À primeira vista isto pode parecer estranho. Afinal, uma mulher daquelas não pode estar sem companheiro! Mas, por incrível que pareça, isso não me soou nada estranho. Passo a explicar...
Através da simples observação ( e apenas de soslaio sublinho, já que estava apenas concentrado em vigiar os putos!) pude facilmente constatar que aquele corpo era trabalhado. Confirmei isso mesmo quando a vi a sair do ginásio dois dias consecutivos. Depois, estava rodeada de cremes, sprays, bálsamos, gel que aplicava no corpo, nas mãos, nos pés, no cabelo a cada 5 minutos e depois de sair da banho. Entretanto, cruzando-me com ela no restaurante, foi impossível de não reparar nas roupas inversamente proporcionais aos tamanho dos enormes saltos altos! Era absolutamente impossível para qualquer pessoa não reparar nela. E daí vem o título deste texto.
Quais os sentimentos dos homens face a este tipo de mulher? Logo à partida aquela sensação de "esta-mulher-é-areia-demais-para-a-minha-camioneta" e depois, aqueles com mais confiança "olha!-o-não-está-garantido!". Este é o tipo de mulher que é perseguida como troféu para exibir aos amigos, para esfregar na cara dos outros machos, tipo "olha que gaja tão boa que ando a papar!". É um bocado como os Ferraris: todos os homens gostariam de, um dia, dar uma voltinha num enorme, potente e vistoso Ferrari, toda a gente pára na estrada para o ver passar e todos o rodeiam quando está estacionado! Mas, a esmagadora maioria não quer (nem pode!) ter um na garagem! É que, se uma voltinha num Ferrari deve ser uma adrenalina do caraças e até nem nos importaríamos de gastar algum dinheiro em gasolina, a manutenção de um desses cavalinhos italianos a longo prazo é muito, muito cara! E nem todos têm disponibilidad€€€€€ para uma máquina dessas.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ainda reflectindo...

... acerca do que é ser rico constato que, entre estar com os miúdos, passar as tardes na piscina com o Gabriel, embalar o David, aproveitar as manhãs para passear, continuar a correr e ainda namorar aos bocadinhos com a Mariana, não sobra muita oportunidade para escrever! Portanto, talvez o facto de ser rico não fosse muito bom para a saúde deste blog uma vez que 99% da minha escrita é produzida em pequenas pausas do meu trabalho. Logo, sem trabalho...

Enfim, na próxima semana vou tentar (tentar, não prometo, ok?) escrever qualquer coisinha a partir daqui...