quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Assim, do nada, a velhice à espreita.

Ontem tive a acompanhar-me no trabalho uma aluna do 3° ano de enfermagem. Nascida em... 1991.
Porra! Desde quando é que a malta nascida em 1991 já saiu da primária?!
Em 1991 eu era um jovem teen com a mania que era poeta. Vestia essencialmente preto, cinzento e toda a palete de cores entre estas duas e preocupava-me em memorizar e dar sentido as palavras cantadas (ou gritadas) de Kurt Cobain.
Sabem que álbuns foram editados em 1991? Eu digo, eu digo...

Nevermind dos Nirvana
Ten, Pearl Jam
Gish, Smashing Pumpkins
Trompe le Monde, Pixies
Black Album, Metallica
Achtung Baby, U2
Leisure, Blur
Blood Sugar Sex Magik, Red Hot Chilli Peppers
Use Your Illusion I, Guns n'Roses

Chega? Se alguém desse lado não foi marcado por pelo menos um destes discos é porque provavelmente também nasceu nos anos 90.

Estou velho pá.

domingo, 28 de setembro de 2014

A história do rapaz com o olhar perdido.

A ambulância chega como sempre, na fila com as outras ambulâncias que trazem dores e lamentos no banco de trás. Na maca um rapaz magro, com ar frágil e olhar perdido. Chagando a sua vez na triagem o paramédico conta à enfermeira de serviço como o rapaz fora encontrado à porta do hospital sentado no passeio, confuso e perdido. É um conhecido esquizofrénico, deve estar numa crise ou preso nas suas alucinações. Ok, envia-se o rapaz para as Urgências, o sector dos doentes agudos, há testes a fazer, exames a realizar. 
Recebo o rapaz numa das boxes da urgência. O rapaz está confuso, discurso incoerente, olhar perdido, expressão severa. O meu primeiro reflexo, como com a maioria dos doentes, é retirar-lhes a roupa e vestir-lhes a blusa do hospital. Serve para que o doente esteja mais acessível ao exame clínico e aos exames que devemos fazer. Ao tirar os sapatos percebo que o rapaz tem um esgar de dor. Ao ver as meias há algo que não percebo bem. Há uma clara deformação daqueles pés. Retiro as meias, os pés estão num ângulo estranho, as tibias saem por onde os calcanhares deveriam estar.
Corremos para a reanimação, chegam os anestesistas, os ortopedistas e o chefe do bloco. O seu coração bate rápido, a sua tensão arterial está baixa, mau sinal. O chefe do bloco berra, não é possível que este doente tenha esperado tanto tempo para ser visto. Picamos veias, tiramos sangue, damos soro, o rapaz parte para o bloco operatório tão depressa como chegou a mim. 
A história é estranha, os paramédicos falharam a avaliação, na tiragem ninguém se apercebeu e eu, sinceramente, não teria dado conta se no o tivesse despido, como a todos os pacientes. O que se passou?
Abrimos o seu dossier informático e vemos que está internado em dermatologia. Ligamos e ficamos surpreendidos quando percebemos que a enfermeira de serviço não tinha dado pela sua falta. A linha fica aberta enquanto ela vai ao seu quarto, o silencio do telefone em alta-voz a encher a sala. Regressa, a janela está escancarada, ele saltou! O resto só podemos imaginar: ele saltou e caiu de pé, a dor dos ossos a perfurarem-lhe a pele o os músculos deixou-o confuso e perdido, o diagnóstico de esquizofrenia enganou-nos a todos.
Encontrei-o ontem, de novo nas urgências. As lesões foram um pouco além do que as pernas partidas mas vá lá, consegue andar. Teve sorte, tivemos todos sorte.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Não sei se inche, não sei se fuja!

(bem sei que o blog nunca foi do tipo "querido diário" mas com tanta coisa a acontecer profissionalmente neste momento a minha cabeça não processa realmente potenciais situações que poderiam ser matéria para historieta aqui no estaminé... além disso preciso de exorcizar isto para que não me suba à cabeça!)

Tem sido um inchar de ego estes dias que qualquer dia vou precisar de uma alma emprestada para lá colocar o que já não couber cá dentro.
Na última avaliação clínica (prática), que acontece uma vez por mês, o meu formador diz-me: "Sinceramente já não vejo o sentido de fazermos isto. Neste momento és um Especialista em Urgência, sabes onde pões os pés e onde tens o coração!" Devo dizer que ainda tenho 2 avaliações até ao final do curso.

Hoje, em reunião com a minha chefe: "Quais são os teus projectos para depois do fim da formação?"
"Sinceramente, não muitos. Quero primeiro encontrar o meu poiso enquanto especialista e lá para o final do ano penso propor-me para fazer parte da equipa de Enfermeiros Responsáveis (são enfermeiros mais antigos, especialistas, que assumem a liderança da equipa. Um por cada turno)."
"Lá para o fim do ano?! Era para falar contigo depois mas já que falamos no assunto: quero que faças a formação de responsável em Dezembro."
"Em dezembro?! Mas ainda tenho muito trabalho para fazer até ao final do ano..."
"OK, Em janeiro então."
"Mas eu ainda nem fiz três anos de serviço..."
"Ouve: tens muita experiência antes da Suíça, assumes as tuas responsabilidades, sabes tomar decisões fundamentadas e sabes liderar uma equipa. Estás preparado."
"OK, se tu dizes que estou preparado..."

Por um lado é de um gajo dar saltinhos de alegria com tanto elogio vindo de fontes diferentes mas por outro....

MEDOOOO!   

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Pedala Miguel, pedala.

Dia 4 de Novembro de 2014, data para a entrega do trabalho de investigação no âmbito da Especialidade em Enfermagem de Urgência.
 Neste momento falta-me:

 - organizar uma entrevista com um especialista no domínio do meu estudo
 - transcrever essa mesma entrevista
 - escrever o capítulo referente à discussão dos resultados e a sua ligação com a opinião do tal      especialista
 - escrever o capítulo com as propostas para melhorar as práticas actuais no serviço no que diz  respeito ao domínio do meu estudo
 - concluir o trabalho, escrever a introdução, a conclusão e o resumo do trabalho
 - ler, reler e pedir a alguém para ler e corrigir o texto.
 - mandar encadernar e entregar o dito cujo.

Uns meros 45 dias. O meu tutor diz que tenho tempo. Escolho acreditar nele... (não é que tenha escolha.)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Segura-te senão cais!


Vem isto a propósito do facto de eu ter comprado uma bicicleta nova (quadro em carbono, equipada em topo de gama e lindíssima que só vendo!) e de ter imediatamente pensado: tenho que fazer um seguro para a menina. Vai daí, uma lista dos seguros que já subscrevi por aqui:
Seguro de saúde (obrigatório): o mais caro! Uma apólice para os cuidados de base e 54000 variantes de pequenos complementos a pagar à parte. Sistema de franquias, reembolsos e coberturas demasiado complicado ( só este dava um texto inteiro aqui no blog!).
Seguro de Responsabilidade Civil (obrigatório): cobre despesas relacionadas com acidentes dos quais somos responsáveis, sobre pessoas e bens.
Seguro sobre catástrofes naturais (obrigatório): cobre danos na casa em caso de catástrofe natural
Seguro Jurídico: assegura todas as despesas em caso de conflito jurídico de todos os tipos. Não é obrigatório mas considerando que a tarifa horária de um advogado é cerca de 400 francos/hora...
Seguro Recheio Casa: cobre valor do recheio da casa em caso de roubo ou acidente (incêndio, por exemplo)
Seguro de Responsabilidade Profissional: o hospital cobre despesas de processo caso eu seja "inocente" de um acidente qualquer mas se eu for dado como responsável... desemerda-te! Cobre despesas de defesa em processo por negligência profissional
Seguro Automóvel
Seguro Bicicleta.

Agora que faço a lista, o meu coração chora todo o dinheiro que voa para estes abutres! E nem vale a pena começar a fazer contas...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Em português é que a gente se entende.

Dia de caca hoje.
8h: fulano podre de bêbedo decida saltar da sua varanda do 2° andar "porque sim" (resposta do tipo ipsis verbis). Imobilização práqui, colar cervical práli, o gajo c'os copos não fica quieto para as radiografias e a TAC e o catano. 4h, uma tibia e um perónio bué partidos e uma vértebra lombar estilhaçada depois lá vamos nós por uma tracção naquela fractura de perna. Tracção? perguntam os que não têm a extrema sorte e o extasiaste prazer (ironia ok?) de trabalhar na saúde. Eu explico: é enfiar um ferro a atravessar o calcanhar e atar a isso uns nagalhos com uns pesos lá atados para manter a perna (e a fractura) bem direitinha. Como devem calcular, atravessar o calcanhar d'um gajo com um ferro é experiência desagradável e, normalmente, enfiava-mos umas drogas ao gajo para o por a dormir mas, adivinhem... o gajo tá bêbedo pelo que já pode receber mais droga no corpinho sob risco que ir desta pra melhor. Portanto, o processo de enfiar o tal ferro e as consequências deixo à vossa imaginação.
15h: Madame tem um coração a bater a 160 mas na boa, sem sintomas, fresquinha que nem uma alface. Não fosse o pormenor de ter a doença daquele senhor alemão, o Alzheimer ou lá como é e estar sempre a arrancar os fios do monitor pelo que aquela merda apita todos os 5 minutos. Chega os doutores, aperta daqui, ausculta dali, vamos a enfiar drogas na senhora pra ver se o músculo cardíaco não rebenta com tanta contracção por minuto mas nada. Durante quase 3h, droga, ECG, droga, EGC, droga, ECG, droga, ECG. Foda-se! E o bêbado com a perna toda quinada e o ferro na pata e a vértebra toda fodida aos berros porque quer ir fumar e dar uma mija. 
18h30: o bêbado lá foi para a ortopedia e eu vou levar a velha à  cardiologia.

(Os seguintes diálogos deram-se em francês mas eu escrevo em tuga porque é mais gráfico além de que eram as respostas que eu gostaria de ter dado, assim mesmo, vernáculo e tudo)

Chego lá cima: 
- Venho com a doente das urgências.
- Ah e tal, quem é que autorizou
- Ai o meu caralho! Então eu acabei de falar com o vosso responsável!
- Ai e tal não sabemos, se calhar a doente tem de voltar para vós...
-Volta é prá coninha da mãe! Telefonem para onde quiserem mas daqui não saio enquanto a velha não estiver instalada! Mas andam a mangar c'a tropa ou quê pá?
- Ah e tal pronto diz lá o que se passa...

....

- Pronto colegas, bom trabalho e boa noite.
- Ah e tal com a doente toda confusa e a querer levantar-se da cama deve ser deve!
- Oh filha, temos pena.

Obrigado e boa noite.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Onde se vê daqui a 5 anos Sr. Miguel?

Ando cá numa melancolia profissional...
A 4 meses de acabar a especialidade, a minha mente vagueia em hipotéticos cenários profissionais. O que fazer daqui por 3 ou 4 ou 5 anos? Se por um lado adoro o que faço actualmente, urgência, reanimação, o stress e a imprevisibilidade do ambiente, por outro lado não tenho vontade de continuar a trabalhar noites e fins-de-semana quando tiver 40 anos. Deixar a Urgência? Também não me estou a ver a trabalhar num outro serviço de um qualquer internamento, a dar comprimidos e urinóis aos velhos. Nã, a sair da urgência só para um serviço de ambulatório ou então um lugar na gestão ou formação. Mas isso implica trabalhar de segunda a sexta, das 8 às 17. E as minhas folgas em dias da semana, onde posso desfrutar de tempo para mim já que a esposa trabalha e os putos estão na escola? E com esse tipo de horário teria de deixar de dar as minhas formações às empresas. Podia trabalhar a tempo inteiro a dar essas formações! Nã... tornar-se-ia chato muito rapidamente. Ou seja, o que eu procuro é um lugar ligado às urgências mas sem fazer noites nem fins-de-semana e, ao mesmo tempo trabalhar só tipo 3 dias por semana! Dream on Miguel.... 
Bom, de qualquer das formas quando vim para a Suíça estabeleci um prazo de 5 anos para me estabelecer profissionalmente. Ao fim de 3 tenho ainda dois para ver o que dá...



 (Mas, se posso ser honesto, o que eu REALMENTE gostava de fazer: tirar um curso ligado ao desporto como treinador ou personal trainer ou sei lá, e dedicar-me à saúde numa outra perspectiva, mais positiva! Assim poderia eu também fazer algo que gosto todos os dias: correr, nadar, bicicletar, ir ao ginásio. Mas isso implica tempo e dinheiro para o curso sem qualquer garantia no final... ahhhhhh vida madrasta!)

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Gostava mesmo de voltar a escrever regularmente aqui no blog...

Então como vão as coisas? Vão bem pois claro!
Já ando um bocado farto desta coisa da especialidade sobretudo porque agora as coisas agora resumem-se ao trabalho escrito e ás avaliações práticas mensais. Sinceramente começo a ficar cansado de ter alguém a observar-me durante um dia de trabalho inteiro e a ter de justificar até o mais pequeno gesto que faça. De resto sinto-me bem na minha pele! Como profissional evoluí imenso nestes dois últimos anos, o meus chefes estão atentos à minha evolução e, mais importante que tido sinto que o resto de equipa me valoriza. Tenho chão para andar e projetos a concretizar.
Continuo a correr, menos agora que me dedico ao triatlo. Faço mais natação e bicicleta, coisa que nunca pude fazer em Portugal. Mas aqui é mais fácil com piscinas cobertas e descobertas em cada esquina e com faixas para ciclistas um pouco por todo o lado. Estou em forma, sinto-me em forma, emagreci depois das férias no Algarve e no Norte me terem acrescentado uns quilos! Mas valeu a pena, o tempo não chegou para ver todos os amigos que gostaria, para saber deles, dos filhos, da vida.
Os meus putos estão fantásticos! O Gabriel, 7 anos, adora a escola, trabalha bem, boas notas. Responsável, ás vezes até demais para a idade que tem. É um dos melhores da turma, sobretudo a Francês muito embora em casa só fale Português e isso deixa-me orgulhoso. Nem uma palavra em francês durante as férias, quem não sabia que vivemos em Lausanne ficou surpreendido, não se dá por ela! Já o David, 4 anos, é muito mais descontraído. Começou a escola este ano (aqui começam com 4 anos) e lá foi todo contente. Gosta de jogar à bola e adora o irmão. São uns cúmplices que tanto se unem para me pregar partidas como andam à porrada um com o outro.  
E é isto, muito resumido!
São duas da matina e cá estou no hospital, hoje na triagem. Não há ninguém na sala de espera.


Um dia faço uma visita fotográfica às instalações!!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Analfabeto.

Olá olá malta! Isto ao ritmo de um texto a cada 3 meses não vai lá mas... 
Vem esta (rara) aparição bloguístiqua a propósito disso mesmo, de escrever ou da dificuldade em o fazer. Como o sabem talvez, tenho andado ocupado com a Especialidade em Urgência e estou neste momento a meros 6 meses (isto o tempo é lixado, ainda ontem estava a penar em Lisboa e já faz mais de dois anos e meio que vim para cá!) do fim. Asseguro-vos que esta formação fez de mim um novo e melhor enfermeiro, mais eficiente, mais atento, mais responsável, mais capaz de cuidar dos meus doentes. Mas também me ensinou a melhor me posicionar face aos meus colegas, aos meus chefes e aos médicos. Na verdade, do ponto de vista meramente teórico, esta especialidade não me falou de nada que eu já não conhecesse mas o trabalho de revisão que ela me obrigou a fazer ajudou-me a evoluir, a revisitar conhecimentos que eu já possuía mas com um novo ponto de vista, mais maduro com 10 anos de experiência nos ombros. Foi como reler aos 35 um livro que já tivesse lido na adolescência. Enfim, o responsável da formação disse no primeiro dia: "Para ter sucesso nesta formação vai ser preciso que te desconstruas para te reconstruires", frase que eu retive na memória por ser bastante ilustrativa. Renascer das cinzas como a Fénix.
Tudo isto para chegar ao meu tema de hoje: a escrita. Escrever, para mim, sempre foi algo de muito natural. Um terreno de brincadeira onde as palavras são como peças que podemos juntar das mais variadas formas, onde a imaginação pode levar-nos longe, carregados de imagens, ambientes, emoções. Mas isso é em Português... 
Em Francês escrever é trabalho arqueológico, onde é preciso escavar para encontrar as palavras. É trabalho de detective onde se torna primordial descobrir as ligações entre as palavras, as frases, os capítulos. É trabalho de um investigador que reflecte, desfaz e refaz teorias e hipóteses. É duro e frustrante. Porque nada me sai naturalmente, porque sinto que utilizo frequentemente as mesmas palavras. Porque leio o que escrevi e não me parece bem. E isso é exasperante para alguém que até escreve mais ou menos! A primeira versão do primeiro capítulo que entreguei ao tutor do trabalho teve a seguinte apreciação: "as palavras estão aqui, mas não entendo o que queres dizer. Talvez isto faça sentido em Português mas em Francês não é claro.". E apesar de eu saber que sou Português, que por muito bem que eu  me exprima em Francês (e atenção que o faço muito bem) nunca o dominarei como a minha língua materna, aquilo feriu-me o orgulho, garanto! Caramba, é outro código de escrita, um conjunto de regras completamente novo e no entanto detestei ouvir aquilo. Acho que senti um pouco da frustração dos incontáveis colegas de todos os níveis de escola que tive que não sabiam escrever. E não gostei. 
Finalmente, como é impossível dominar uma língua estrangeira a um nível académico em poucos meses, envio os meus textos a um amigo suíço, jornalista que se encarrega de os rever, de os corrigir e de os embelezar. E depois de tratadas, aquelas palavras continuam a ser minhas mas impressiona-me como o texto soa muito mais belo, fluído e... bom! 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Contra a Imigração em Massa.

O referendo de domingo tem dado pano para mangas por estes lados e vejo que também tem tido alguns ecos por aí. Enfim, há coisas que são efectivamente correctas mas outras nem por isso. O resultado de domingo mostra que a democracia directa também não é perfeita. Neste caso deve salientar-se que a abstenção cifrou-se em 47% e que a proposta foi aprovada com 50,3% dos votos. Ou seja, apenas metade da população votou e o "sim" ganhou com apenas cerca de 19000 votos a mais. Depois, quando se analisa os resultados compreende-se que as cidades mais importantes do país, ou seja Genebra, Zurique, Lausanne e Berna votaram contra. O Governo manifestou-se contra, assim como todas as associações de patrões e trabalhadores, sindicatos e ordens profissionais. Foram as zonas rurais, mais conservadoras e onde há menos imigração e logo onde o imigrante é um bicho-papão, que aprovaram esta lei. Por isso choca-me que digam que os suíços são xenófobos. Há efectivamente uma grande parte de suíços que o são mas a maioria não o é de todo. Depois, a campanha do partido de direita que fez a proposta baseou-se sobre pressupostos que não são verdadeiros (os imigrantes prejudicam o país, consomem recursos e não contribuem para a economia logo a culpa da crise é deles!) e que em conjunto com o medo de uma recessão económica que aqui é quase patológico mesmo se a economia não pare de crescer e com a constante presença na comunicação social de histórias de crime praticados por estrangeiros, dá estes resultados. Mas não é de hoje. Quando aqui cheguei há mais de 2 anos, a primeira imagem que tive ao sair da Gare de Lausanne com as malas ás costas e os meus filhos pela mão foi a de um enorme placard com imagem de soldados e chaimites onde estava escrito com letras garrafais: "STOP À IMIGRAçÃO MASSIVA". E nestes dois anos a Suíça foi efectivamente invadida por estrangeiros de todo o lado. Dois anos de campanha desonesta de direita dá nisto. Contudo e apesar destes factos, a atitude de quem perdeu é de salientar. O Governo apressou-se a dizer que o povo é soberano e que apesar da decisão ir colocar o país em dificuldades face á UE, é a sua função de encontrar soluções. Os outros partidos não condenaram os povo, apenas chamaram o partido impulsionador de iniciativa ao seu dever, o de ser parte principal na proposta de medidas concretas. Os suíços comuns com quem trabalho e que encontro na rua que votaram contra dizem simplesmente que apesar de não estarem de acordo, o povo é soberano e cabe ao governo negociar com a UE, acrescentando ainda que a Suíça não pertence á UE e que cabe também aos europeus vir ao encontro do povo suíço. É o orgulho helvético. Por isso e apesar de ser desconfortável para nós imigrantes um resultado como o de domingo, sabemos que as consequências desta votação serão sentidas principalmente pelas empresas e pelos estrangeiros que queiram vir trabalhar para a Suíça. Mas os suíços também sabem que o país que é deles nã funciona sem nós. Em todos os sectores da economia suíça como a restauração, o turismo, a saúde, a construção, os serviços a percentagem de trabalhadores estrangeiros ultrapassa largamente a dos suíços. Aqui no meu serviço os suíços são menos de 30% do total de enfermeiros e no hospital em geral eles encontram-se sobretudo na administração. É pena o resultado desta votação porque dá argumentos aos partidários de direita mas há 10 anos atrás as fronteiras suíças estavam fechadas e sempre houve estrangeiros neste país e, sobretudo, estrangeiros contentes com a sua situação neste país.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Ainda a cena da velhice

E depois, na Blitz deste mês entrevistas a Jimmy Page, Keith Richards (70 anos!) e Bruce Springsteen (62 anos!) todos em plena forma e cheios de projectos e a minha fé renova-se. Se hei-de morrer que seja a espernear!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Isto é capaz de ser o Alzheimer a falar.

Tenho sentido a crescer dentro de mim algo inquietante. Já aqui tenho falado de como na minha profissão dou de caras com o futuro "eu" todos os dias. A velhice. Mas nunca tinha sentido uma real inquietude relativamente ao meu próprio envelhecimento. Até agora.
A cada vez que recebo um velho confuso, lentificado, abandonado, emagrecido, desidratado, sinto-me incomodado, verdadeiramente. E depois pergunto-me: é para aqui que caminho? E não sei de onde isto vem, qual a razão do meu receio. Afinal tenho apenas 34 (35 em Março) anos. Ou se calhar porque já tenho 34 anos e ainda me lembro dos 24 como se tivesse sido ontem.  Que raios! 
E agora percebo: a minha preferência cada vez maior por roupas de cor, outra que o preto ou o cinzento, sobretudo no verão, o prazer de ir fazer ski mesmo que esteja um dia de merda ou snowboard apesar de cair como um doido, as corridas, o fitness e agora o judo (comecei há 2 semanas). Será tudo isto para me agarrar à minha juventude, para me preparar para a minha velhice? Ok, ok, também é para fazer boa figura no verão mas apercebo-me cada vez mais que as minhas motivações vão mais além. 
Merda, envelhecer é uma chatice e morrer também não vem nada a calhar. Principalmente com tanto mundo para conhecer. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

(Grandes) Momentos que nos fazem acreditar no que fazemos.

Lá no hospital, para além das reanimações que chegam de fora, também somos nós que temos que responder às reanimações que acontecem nos diversos serviços do hospital. Cada dia há um enfermeiro e um médico des urgências que são portadores do bip de reanimação interna e, se algo acontece somos chamados a intervir. Hoje aconteceu.
O telefone toca para uma reanimação no serviço de medicina no 17° andar. Pego na minha mala de emergência (porque tanto podemos ir a um serviço de internamentos como ao restaurante!) e subo acompanhado da médica de escala nesse dia, por sinal, uma jovem assistente super ansiosa por não saber o que fazer. Siga, quando lá chegarmos logo se vê, digo-lhe. Chegamos, três médicos e três enfermeiros do serviço de volta da senhora (velhota, 86 anos) com ar de ter a cena controlada mas com aquele olhar "tirem-me daqui". Por cortesia pergunto se posso ajudar e ponho-me à disposição pois em casa alheia não te armes aos cágados, um lema para a vida. Ok, pedem-me para ver se consigo canalizar uma veia com um catéter decente pois os que eles colocaram são demasiado pequenos. Entretanto chega o médico dos Cuidados Intensivos (que completa a equipa de reanimação interna) e começa a dar ordens, quero sangue, preparem os soros, preparem os medicamentos para entubar, chamem os anestesistas. Foi o caos. Os meus colegas do serviço (os tais 3 que já lá estavam) começam a correr de um lado para o outro sem que nenhum fizesses as coisas completamente e chamam ainda mais pessoas para ajudar. De repente tinha aí uns seis ou sete a ocupar espaço e a gastar oxigénio mais a produzir muito pouco. Casa alheia ou não, era a minha reanimação... 
Dirigi-me a uma das minhas colegas, qual é o teu nome? Mélanie. OK, eu sou o Miguel, ouve: a partir de agora a tua única função é preparar os medicamentos que o médico pedir OK? OK. Yann, tu vais tratar de tudo o que é soros: sempre que um saco acabar quero outro a ser pendurado. Certo. Anna, a tua única função é ventilar a doente, mais nada ok? OK. O resto do pessoal que não tem nada para fazer: pirem-se! A partir daqui, sempre a rolar! Doente sedada e intubada, partimos para os cuidados intensivos.
Na volta, a médica novinha (que acabou por ficar num canto) que me acompanhava estava de queixo caído, fónix, foi impressionante como lideraste a equipa sem sequer os conheceres! E sem nunca perderes o que se estava a passar com a doente (acho que se apaixonou a miúda)! Mas a pérola do meu dia foi quando apanhámos o elevador para regressar ao nosso serviço encontrarmos um dos chefes dos cuidados intensivos que tinha estado lá a observar a cena e que me diz simplesmente: trabalho fantástico que fizeste ali dentro. E faz-me um high five!

domingo, 26 de janeiro de 2014

Vergonha.

O miudo de quem falei um ou dois textos atrás, o que morreu vitima de agressão, lembram-se? A história tem tanto de simples como de dramática: o miudo, 18 anos mal acabados, regressava a casa depois de um dia na escola de cozinheiros quando foi agredido por dois outros putos de 15 e 16 anos (!) pela simples razão que o casaco que ele usava nesse dia era de uma marca associada aos neo-nazis. E assim, do nada, um puto de 15 anos ,instigado por um segundo de 16, agride um outro de 18 com um murro. Esse murro que acredito não tinha intenção de matar, é causador de um traumatismo craneano com paragem respiratória e consequente sofrimento cerebral e, por fim, a morte. 
Quanto à história das praxes, nunca me deixei praxar, tenho demasiado ego e amor-próprio para embarcar nisso mas percebo as fragilidades e inseguranças de quem se submete a isso. Pessoalmente nunca percebi o que andar a correr nu no Jardim da Estrela numa sexta à noite tem a ver com integração académica mas desde logo vi o gosto pelo poder e, sobretudo pela humilhação que muitos "praxadores" demonstravam com indesfarçável brilho nos olhos. Como já decerto calcularam vou falar do caso dos putos que morreram no Meco. 
Revejo-me no sentimento de revolta, quase nojo que se sente no texto que referi acima. Então um anormal qualquer, carreirista da universidade com certeza, um daqueles cujo objectivo deve ser chegar a Ministro sem acabar qualquer formação académica (objectivo legítimo pois acabo de descrever boa parte dos nossos políticos), está envolvido directa ou indirectamente, em maior ou menor grau no desaparecimento de seis pessoas, SEIS! e esconde-se atrás de "amnésia selectiva"? Mas não é a sua atitude pequenina, cobarde, de rato de porão que me enoja, a sua atitude enquanto "dux" (seja lá isso o que for) não deixa dúvidas quanto ao seu valor enquanto Homem. Não, o que mete nojo, o que envergonha, é a atitude conivente de todos os que estão ligados à Lusófona. Todos, os alunos que provavelmente sabem ou suspeitam o que se passou, os directores que protegem o único sobrevivente de uma tragédia sem precedentes na comunidade universitária e os responsáveis das leis em Portugal que não tem colhões para dar um murro na mesa e levar esse "menino" a contar o que raio se passou naquela noite. Isto, para um Português que vê o país de fora é vergonhoso. Tenho vergonha de meu país no que a este assunto diz respeito.
O paralelismo entre estas duas história, o puto que morreu por ter sido agredido gratuitamente e o dos putos que se afogaram no Meco é este: tratam-se de duas tragédias que acontecem por razões estúpidas e mesquinhas, acredito que em nenhum dos casos houve intenção de matar. Agora a diferença é que, no dia seguinte ao puto ter sido agredido, ainda antes de ser comunicada publlicamente a sua morte, a Polícia Suíça já tinha prendido preventivamente os dois jovens (saliento de 15 e 16 anos) e dois dias depois esses dois meninos foram ouvidos por um Juiz de Menores que os constituiu arguidos e os colocou em prisão preventiva numa prisão para menores (sim, isso existe aqui).    

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Não há cá cantigas!

Esclareçamos já uma coisa: para mim a música é um assunto muito sério. Isso de "gostar de tudo o que passa na rádio" é coisa que me encanita. Isso e "ah, adoro esta música mas não sei quem canta". Pois eu, se gosto, se mexe comigo, se me atrai, se me faz abanar o corpinho vou procurar quem canta, quem escreveu, quando e onde. Gosto de saber o que diz o artista, o autor, conhecer as letras e saber em que contexto em que a música foi escrita, o ano, o enquadramento social, em que momento da vida do autor. Gosto de ouvir a música varias vezes e descobrir as suas variadas camadas: a letra e os riffs de guitarra primeiro e depois dar mais atenção á bateria e ao baixo, escutar com atenção aquela teclas bem lá ao fundo e sentir tudo isso cá dentro: a guitarra a enfiar-se na pele, a voz a entrar pelos olhos dentro e o baixo mais a bateria (oh, a bateria!) bem nas visceras! Oiço e tento compreender os Mestres, os clássicos: The Beatles cuja obra é tão mais vasta e interessante que simplesmente o "Yesterday", Led Zeppelin que são tão mais que "Stairway to Heaven", The Ramones, tão técnicamente básicos mas simplesmente geniais, os Queen, que praticamente criaram o pop-rock. Toda esta gente escreveu a história, a nossa história, o que ouvimos hoje aparece por causa destes senhores! Mais recentemente os Nirvana que mudaram a indústria músical nos anos 90, os Pixies pioneiros do indie-rock, os The Cure com a sua melancolia romântica e até os Guns n'Roses com um primeiro album fabuloso. Por isso não deixo de sentir pena quando olho para o vazio que se vende hoje, artistas todos iguais, mensagens sem conteúdo, sexualização gratuita mas inócua, o endeusamento dos cretinos. Enfim... 
Lá em casa a educação musical é uma prioridade, os meus filhos ouvem os clássicos e (o pouco) que se faz de genuíno hoje em dia. Mostro-lhes quem são as pessoas por detrás dos instrumentos e tento que eles sintam a música como eu a sinto. Se eles vão crescer e ouvir a mesma música que eu? Talvez não mas se a sentirem, a música, como eu a sinto já ficarei feliz! 

 PS: era para aqui falar dos 3 grupos que mais abomino no panorama musical actual mas tratam-se de bandas que enchem estádios por onde passam e há pelo menos uma amiga que segue este blog que é fã de duas dessas bandas... fica para a próxima!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Formar é fixe.

Quando penso no meu futuro profissional gosto de imaginar que vou conseguir dividir o meu tempo entre os cuidados directos ao paciente e algo mais leve para o corpinho, do tipo administrativo. Enfim, enquanto esse tempo não chega (se é que chega!) vou-me dedicando a uma área que gosto bastante: a formação. Um ano depois de ter chegado aqui (um gajo não sabe estar quieto) meti-me a trabalhar como formador de suporte básico de vida (massagem cardíaca e essas cenas) numa empresa que forma "socorristas" em várias empresas aqui na Suíça onde, legalmente, todas as empresas são obrigadas a ter alguns dos seus empregados formados nos primeiros socorros. E gosto bastante porque consigo juntar vários aspectos positivos como fazer algo que gosto e ser pago para isso, conhecer novas pessoas e realidades que não estão ligadas com o meio hospitalar e vou a sítios onde nunca iria numa situação normal. Mas gosto sobretudo do contacto com as pessoas. Um ano depois de ter começado nessa vida começo a aperceber-me que, independentemente do grupo, há personagens tipo que estão sempre presentes. A saber: 
 1. O SOCORRISTA PROFISSIONAL: é o gajo mais antigo dos socorristas da empresa, o fulano que faz todas as formações. Os outros olham-no com admiração pois é alguem de muito experiente na área dos primeiros socorros muito embora em 10 anos de experiência não tenha tido nenhuma situação a sério. É normalmente o líder do grupo e temos de ter alguma atenção para com ele, ou seja, ouvir o gajo discursar acerca dos algoritmos de socorro como se fosse ele o formador e não nós. Depois, só para o por no seu lugar elevo o nível da discussão um degrau acima pronto. 
 2. O BOMBEIRO: há sempre um em todos os grupos, o bombeiro voluntário que já fez a formação e só está ali porque o chefe mandou. Mostra enfado e brinca com o telemóvel o tempo todo dando claros sinais que se está a cagar para o meu discurso. Quando passamos aos exercícios práticos com o manequim de treino avança com aquele ar de Rambo dos primeiros socorros achando-se mais eficaz que toda a gente. É fácilmente posto em ordem ao apontar-mos as suas falhas (que não são dificeis de encontrar) e ao fazê-los repetir os exercícios mais vezes que os outros. 
 3. O LERDO: é o fulano que não percebe nada á primeira, que confunde os conceitos e consegue confundir o resto do grupo. É o gajo que não percebe que se não respiras é porque estás morto ou quase. Não há nada a fazer a não ser explicar tudo como se ele fosse muito burro. 
 4. O INTELECTUAL: é o gajo que vai googlar tudo sobre medicina e depois põem-se com perguntas teóricas sobre fisiologia cardíaca porque "leu na internet". Faz-se uma explicação bem elaborada usando termos como pré-carga, pós-carga, nódulo sinusal, resistência vascular, fibrilação ventricular e taquicárdia supra ventrticular e ele fica satisfeito. 
 5. A GAJA BOA: é a fulaninha que vai para a formação vestidinha de saia curta e saltos altos e unha bem arranjadas e que quando se apercebe que tem que se por de joelhos no chão para efectuar manobras de reanimação fica toda corada. Mas pronto, os homens do grupo toleram-lhe sempre tudo. 
 Depois temos os formadores e aqui há basicamente dois tipos: 
1. O MAIOR: é o gajo que sabe tudo sobre reanimação, nessa área não há pai para o filho do pai dele. Conhece toda a gente mais conceituada na área, trata por tu os responsáveis nacionais da reanimação. Vai de férias aos sítio mais exóticos e, azar do caraças, cada vez que está de férias há sempre acidentes e ele salva sempre meia-dúzia deles. Os acidentes mais mediáticos, ele esteve lá e foi o salvador da pátria. Resumindo, é o maior da rua dele. 
 2. O FORMADOR COM "F" GRANDE: é aquele que consegue deixar espaço ao socorrista profissional, que consegue cativar o bombeiro, que faz com que o lerdo perceba a mecânica da coisa, que ensina umas cenas novas ao intelectual e que no fim do dia de formação ainda saca o número de telefone da gaja boa!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Anjos?

O anúncio chega como sempre, inesperado. Homem, 17 anos (como se pudessemos chamar "homem" a um puto com 17 anos), paragem cardio-respiratória após trauma craneo-encefálico, intubado, instável. O ambiente adensa-se na sala de reanimação à medida que chegam novas informações "O médico do INEM diz que foi uma agressão", diz o anestesista ao chegar. Preparamo-nos, os enfermeiros, os médicos, o ambiente é de cortar à faca e quase se consegue ouvir os pensamentos de todos "Temos que salvar este puto". O helicóptero aterra no tecto e faz estremecer as paredes quase fazendo com que esqueçamos o nosso próprio estremecimento. O puto chega, "agredido na rua, em coma à chegada do INEM, qundo o tentaram intubar havia sangue por todo o lado e ao tentarem aspirar entrou em paragem. Sete minutos de reanimação, 2 mg de adrenalina, recuperou o pulso mais o coma continua. A sala explode em actividade, ordens do líder da reanimação, pedidos do enfermeiro responsável. O puto não está bem, quero-o no TAC dentro de 10 min, se estiver a sangrar no céerebro quero-o no bloco o mais rapidamente possível, dispara o líder. As coisas encaixaram-se bem. Olho para o miúdo, franzino, mas com os sinais de uma rebeldia própria da idade, o cabelinho rapado com entalhes desenhados, a t-shirt de um grupo de rap qualquer, os ténis nike vintage com atacadores de várias cores, no bolso das calças cigarros e haxixe. Sinto-me genuinamente triste por este puto, provavelmente envolveu-se numa luta de galos por uma merdice qualquer e agora... Vamos para a sala do TAC, a maca rodeada de pessoas vestidas de branco... é estranha esta imagem, alguém numa maca, adormecido, ligado a máquinas que passa no corredor rodeado de seres vestidos de branco. Anjos para o protegerem ou anjos para o guiarem para o destino final? Nunca sei. O TAC não é bom, tanto tempo sem oxigénio... Outra imagem que me marca a cada vez: alguém completamente só de um lado do vidro e do outro os tais anjos de vida ou da morte que olham. Todos focados no vidro ou num écran de computador, enquanto um puto entra e sai de uma máquina em forma de túnel. É quase premonitório agora que penso nisso, ficará do lado de cá ou do lado de cá? Não, o cérebro foi-se, vai para os cuidados intensivos, estabiliza-mo-lo para dador de órgãos, é pena era um puto. Entretanto um polícia obscuro atrás de uma linha telefónica liga á mão do puto: "Aqui é a polícia minha senhora, o seu filho está no hospital..."

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Uma ajudinha minha gente?

Eu estou um bocado como o Paulo Portas e a sua decisão "irrevogável" de deixar o Governo. Também eu estava irrevogavelmente  convencido que iria fechar a tasca. Mas finalmente...
Eis o meu problema: as historietas que sempre alimentaram este Cheirinho passavam-se numa realidade dura e selvagem, com situações tão dramáticas ou parvas que só acontecem num país anedótico como o nosso. Neste momento ganho mais, trabalho menos mas passa-se tudo tão bem e de forma tão limpinha (o modo suíço) que acabo por não ter material para escrever. Ou seja, uma mudança de rumo impõe-se ou então isto evapora-se de vez!
E então? Para onde vamos? Aceitam-se sugestões.