Ouço dizer muitas vezes que Portugal tem dos melhores legisladores do Mundo. Que as nossas leis são muito bem construídas, bem pensadas, melhor escritas. Então porque nos encontramos nesta situação, nesta Torre de Babel onde ninguém se entende? Muito simplesmente porque as leis são dobradas, torcidas, quebradas e ignoradas por quem tem o dever de as fazer cumprir. É por isso que quando vamos à Segurança Social ou às Finanças podemos obter várias respostas diferentes, tantas quantas o número de funcionários a quem coloquemos a questão. Porque as interpretações são dúbias, porque houve uma revisão da lei, porque sim, porque não estou para me incomodar com isso. E mesmo quando mostramos a lei e declamamos ipsis verbis o artigo ou alínea que nos interessa, mesmo assim recebemos como resposta "isso está errado". Temos a suprema arrogância de achar que as leis estão mal feitas, que não se adequam à realidade e, então fazemos como achamos melhor.
É assim com os pedidos de subsídio, na entrega de requerimentos, com as baixas médicas e com as licenças de maternidade. E é assim porque ninguém é verdadeiramente punido. E assim andam os papéis, empurrados de secretária em secretária, devolvidos à proveniência porque a linguagem está mal, porque o artigo está errado porque o papel é do Pingo Doce e o chefe exige que o documento venha impresso em papel Navigator topo de gama. E no final alguém decidiu negar o pedido porque sim. Contra a lei e os direitos de quem pede. Mas que se lixe o que está escrito, quem sabe disto sou eu e se não estiverem satisfeitos queixem-se.
E é por tudo isto que ando ansioso, frustrado, acagaçado. Porque entreguei o requerimento para sair da função pública no dia 6 de Abril e ainda não tenho resposta, porque sei por experiência própria que "eles" passam muitas vezes por cima dos nossos direitos levando-nos a batalhar por um direito que está descrito na lei e a perder tempo e dinheiro. E porque disso depende muita coisa, demasiadas coisas.
E assim peço-vos: desejem-me sorte!