terça-feira, 31 de maio de 2011

Desejem-me sorte, ok?

Ouço dizer muitas vezes que Portugal tem dos melhores legisladores do Mundo. Que as nossas leis são muito bem construídas, bem pensadas, melhor escritas. Então porque nos encontramos nesta situação, nesta Torre de Babel onde ninguém se entende? Muito simplesmente porque as leis são dobradas, torcidas, quebradas e ignoradas por quem tem o dever de as fazer cumprir. É por isso que quando vamos à Segurança Social ou às Finanças podemos obter várias respostas diferentes, tantas quantas o número de funcionários a quem coloquemos a questão. Porque as interpretações são dúbias, porque houve uma revisão da lei, porque sim, porque não estou para me incomodar com isso. E mesmo quando mostramos a lei e declamamos ipsis verbis o artigo ou alínea que nos interessa, mesmo assim recebemos como resposta "isso está errado". Temos a suprema arrogância de achar que as leis estão mal feitas, que não se adequam à realidade e, então fazemos como achamos melhor.

É assim com os pedidos de subsídio, na entrega de requerimentos, com as baixas médicas e com as licenças de maternidade. E é assim porque ninguém é verdadeiramente punido. E assim andam os papéis, empurrados de secretária em secretária, devolvidos à proveniência porque a linguagem está mal, porque o artigo está errado porque o papel é do Pingo Doce e o chefe exige que o documento venha impresso em papel Navigator topo de gama. E no final alguém decidiu negar o pedido porque sim. Contra a lei e os direitos de quem pede. Mas que se lixe o que está escrito, quem sabe disto sou eu e se não estiverem satisfeitos queixem-se.

E é por tudo isto que ando ansioso, frustrado, acagaçado. Porque entreguei o requerimento para sair da função pública no dia 6 de Abril e ainda não tenho resposta, porque sei por experiência própria que "eles" passam muitas vezes por cima dos nossos direitos levando-nos a batalhar por um direito que está descrito na lei e a perder tempo e dinheiro. E porque disso depende muita coisa, demasiadas coisas.

E assim peço-vos: desejem-me sorte!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Loucos, deveras!

"Esses Loucos que Correm" por Marciano Durán

Eu conheço-os.
Tenho-os visto muitas vezes.
São especiais.
Alguns saem de madrugada e empenham-se em ganhar ao sol.
Outros apanham o sol ao meio-dia, cansam-se à tarde ou tentam não ser atropelados por um camião à noite.
Estão loucos.
No verão correm, trotam, transpiram, desidratam-se e finalmente cansam-se... só para desfrutar do descanso
No inverno tapam-se, abrigam-se, reclamam, arrefecem, constipam-se e deixam que a chuva lhes molhe a cara

Eu vi-os
Passam rápido ao longo da alameda, devagar entre as árvores, serpenteiam caminhos de terra, trepam calçadas, fazem jogging na curva de uma estrada perdida, fogem das ondas da praia, atravessam pontes de madeira, pisam folhas secas, sobem montes, saltam charcos, atravessam parques, chateiam-se com os carros que não travam, fogem de um cão e correm, correm e correm.
Ouvem música que acompanha o ritmo dos seus pés, ouvem os padeiros e as gaivotas, ouvem os seus batimentos e a sua própria respiração, olham em frente, olham para os seus pés, sentem o cheiro do vento que passou por entre os eucaliptos, a brisa que saiu do laranjal, respiram o ar que vem dos pinheiros e abrandam ao passar em frente ao jasmim.

Eu já os vi.
Não estão bons da cabeça.
Eles usam ténis com ar e sapatilhas de marca, correm descalços ou gastam sapatos
Transpiram t-shirts, usam gorros e medem o seu próprio tempo.
Eles estão a tentar ganhar a alguém.
Trotam com o corpo solto, passam perto do cão branco, aceleram a seguir à coluna, procuram uma torneira para se refrescarem... e seguem.
Inscrevem-se em todas as corridas... mas não ganham nenhuma.
Começam a corrida na véspera, sonham que correm e levantam-se como as crianças no dia de Natal.
Preparam a roupa que descansa sobre uma cadeira, como fizeram na sua infância na véspera das férias.
No dia anterior à corrida comem massa e não bebem álcool, mas são recompensados com ousadia mal a competição termina.
Nunca consegui calcular-lhes a idade mas provavelmente têm entre 15 e 85 anos.
São homens e mulheres.
Não estão bem.

Começam em corridas de 8 ou 10 quilómetros e antes de começar sabem que não podem vencer, mesmo que faltem todos os outros.
Sentem a ansiedade antes de cada partida e alguns minutos antes do início eles precisam ir à casa de banho.
Ajustam o cronómetro e tentam localizar os quatro ou cinco a quem é preciso ganhar
São as suas referências da corrida: "Cinco que correm como eu."
Basta chegar à frente de um deles e será suficiente para dormir à noite como um sorriso.
Usufruem enquanto ultrapassam outro corredor... mas encorajam-no, dizendo-lhe que falta pouco e pedem-lhe para não abrandar.

Perguntam pelo abastecimento de água e ficam irritados porque não aparece.
Eles são loucos, sabem que têm nas suas casas a água que precisam, sem esperar pela entrega de uma criança que levanta um copo à medida que passam.
Queixam-se do sol que os mata ou da chuva que não os deixa ver.
Eles estão mal, eles sabem que há perto a sombra de um salgueiro ou o resguardo de um beiral.
Não as preparam... mas eles têm todas as desculpas para o momento em que atingem a meta.
Não as preparam... são parte deles.
O vento estava contra, não corria uma ponta de vento, as sapatilhas eram novas, o circuito estava mal medido, os que entraram à frente não deixaram passar, o aniversário de ontem à noite, a costura na meia sobre o pé direito, o joelho a trair-me outra vez, arranquei muito rápido, não deram água, no fim ia acelerar mas não quis.
Gostam de começar a correr e quando chegam levantam os braços , porque dizem que conseguiram.
Ganharam mais uma vez!
Eles não percebem que perderam para cem ou mil pessoas... mas insistem que voltaram a ganhar.
São invulgares.
Inventam uma meta em cada estrada.
Ganham a eles próprios, aos que insistem em olhar para eles desde a calçada, aos que os vêem na TV e aos que nem sequer sabem que existem loucos que correm.
Tremem-lhes as mãos enquanto furam a roupa para colocar os dorsais, simplesmente porque não estão bem.

Eu já os vi passar.
Doe-lhes as pernas, sentem cólicas, custa-lhes a respirar, sentem pontadas nas costas... mas seguem.
À medida que avançam na corrida sofrem cada vez mais desfigurando o rosto, o suor escorre pelas suas caras, as pontadas começam a repetir-se e, dois quilómetros antes da meta começam a perguntar o que estão ali a fazer.
Não seria melhor serem um dos sábios que batem palmas da calçada?
Estão loucos.
Eu conheço-os bem.

Quando chegam abraçam-se à sua mulher ou ao seu marido para esconder o puro amor à transpiração do seu rosto e do seu corpo.
Esperam-nos os seus filhos e atá algum neto ou mesmo o carinho de um avô que grita solidário quando eles passam a linha da meta.
Trazem uma placa à frente que pisca e diz: "Cheguei, missão cumprida!"
Apenas bebem água e molham a cabeça, quase se atiram para a relva para recuperar. mas depois param porque são saudados por aqueles que chegaram antes. Tentam atirar-se de novo mas param porque têm de saudar os que chegam depois deles.
Tentam empurrar uma parede com as duas mãos, levantam a perna desde o tornozelo e abraçam outro louco que chega mais suado que eles.
Tenho visto muitas vezes.
Estão mal da cabeça.
Eles olham com carinho e sem lástima o que chega dez minutos depois, respeitam o último e o penúltimo porque dizem que são respeitados pelo primeiro e pelo segundo.
Aproveitam os aplausos mesmo que venham no fim ganhando apenas à ambulância e ao tipo da moto.
Juntam-se em equipas e viajam 200 quilómetros para correr 10.
Compram todas as fotos que lhes tiram e não percebem que são iguais às da corrida anterior.
Penduram as medalhas pela casa para que quem os visite as veja e pergunte.

Estão mal.
"Esta é do último mês" dizem tentando usar o seu tom mais humilde.
"Esta é a primeira que ganhei" dizem eles, omitindo que as distribuíam a todos, incluindo o último a chegar e o polícia de trânsito.
Dois dias depois da corrida muito cedo já saltam por cima das poças, escalam as cordas, movem os braços ritmicamente, acenam aos ciclistas, batem as palmas das mãos com os colegas com quem se cruzam.
Dizem que poucas pessoas, hoje em dia, são capazes de ficar sozinhos - consigo mesmo - uma hora por dia.
Dizem que só mesmo os pescadores, nadadores e alguns mais.
Dizem que as pessoas não estão usufruindo tanto do silêncio.
Eles dizem que gostam dele.
Eles dizem que projectam e fazem balanços, que se arrependem e congratulam, que se questionam, preparam os seus dias enquanto correm e conversam sem medos com eles próprios.
Eles dizem que os outros inventam desculpas para lhes fazer companhia.

Eu já vi.
Alguns apenas caminham... mas um dia... quando ninguém está a olhar, animam-se e correm um bocadinho.
Em poucos meses começam a transformar-se e ficam tão loucos como eles.
Esticam-se, olham, rodam, respiram, suspiram e atiram-se.
Aceleram, abrandam e voltam a acelerar.
Eu acho que eles querem vencer a morte.
Eles dizem que querem vencer na vida.
Estão completamente loucos.

Uma bela e tocante homenagem a todos os que correm!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Matilha.

Anda tudo muito escandalizado com o vídeo da miúda a ser agredida enquanto alguém filmava. Obviamente que condeno todo e qualquer tipo de violência mas parece-me que se está a dar demasiada importância ao assunto. Afinal, segundo tudo o que tenho lido tratou-se de um "ajuste de contas" após a agredida ter insultado ou agredido o autor do vídeo, situação essa que indignou as suas amigas e que as levou a fazer justiça pelas próprias mãos.

Eu nunca andei à porrada com ninguém, não reajo a provocações e nunca senti necessidade de me defender fisicamente. Não gosto de violência, acho-a uma demonstração de inferioridade intelectual. Lembro-me perfeitamente de, num Verão durante as férias aparecer um "forasteiro" na terra, um desconhecido que logo conseguiu "sacar" uma das miúdas mais giras da terra. Isso foi muito mal aceite por um dos nossos, claramente cheio de ciúmes. E ele logo tratou de "mobilizar as tropas" para fazer a folha ao desconhecido. Os dias passaram e as sementes de maldizer logo floresceram para ódio e para sede de vingança. Ninguém sabia ao certo qual o motivo de vingança mas a vontade de andar ao soco era muita. Claro que nós seríamos talvez uns 10 contra um desconhecido...

Até que finalmente, numa noite já com algumas cervejas bebidas, o fulano apareceu no "nosso" café para namorar com a "nossa" miúda. E a tensão estalou quando um dos nossos provocou claramente o desconhecido que reagiu, legitimando assim o ataque da nossa matilha. Felizmente eu não sou de beber e, como já disse não gosto de violência. E coloquei-me ao lado do desconhecido e da sua miúda. Claro que me sujeitei a levar nas trombas juntamente com o outro mas o que aconteceu foi que a matilha desmobilizou. Rosnaram e ladraram mas foram-se embora. Fui ignorado durante uns dias mas depois aceitaram-me de volta. E quem não se lembra de ter assistido a uma "espera" à saída da escola onde um grupo se organizava para bater em alguém que tinha agredido ou insultado um dos seus elementos?

Acho que no caso do vídeo se passou algo semelhante: hormonas aos saltos, sentido de matilha (reparem que são duas contra uma) mas, acima de tudo, uma tremenda falta de educação! Aqueles miúdos não têm certamente um bom modelo em casa, não são "meninos de coro", nem os que bateram nem a que foi agredida. O facto de terem premeditado a situação, de terem incentivado a agressão e, ainda por cima a terem documentado e divulgado só demonstra que se tratam de miúdos estúpidos e muito mal educados. Reparem que os pais da agredida não apresentaram queixa e isso é sintomático. Enfim, é um mau exemplo mas acaba por ocorrer entre uma cambada de bestas acéfalas. O problema que se põe agora é: e se o nosso filho se vê numa destas situações? Sublinho que este exemplo não se tratou de bullying, uma vez que se tratou de uma resposta a uma agressão e como acredito que os bons pais não ensinam os seus filhos a insultar colegas de escola esse problema acaba por não se colocar, não nestas circunstâncias.

Se estivessemos num país decente e uma vez que a PSP já conseguiu identificar todos os envolvidos, a Justiça trataria de punir os agressores e reprimir este tipo de comportamento mas os bandidos que por aí andam (cada vez mais novos pelos vistos) já perceberam que isso é nos EUA.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

É uma Casinha portuguesa, concerteza!

Por incrível que pareça há por aí muita gente que precisa de fazer pela vida. Tudo bem, não se trata de um sonho tão nobre e tão atractivo como ir estudar para Bruges, para o prestigiado College of Europe, para tirar um Master of Arts in EU International Relations and Diplomacy Studies (com este nome até eu quero ir, que raio!) e levar o gatinho, mas por outro lado a maior parte das pessoas tem sonhos menos elaborados, menos sonantes e que não ficam tão bem em reportagens televisivas como, sei lá, encontrar uma fonte de rendimento porque se ficou sem emprego,não anda aí a aproveitar-se da boa vondade das pessoas, leiloando artigos que lhe são oferecidos e colocando o botãozinho "DONATE" na lista de links.

Então, resolvi sair da apatia criativa que sobre mim se abateu nos últimos meses para mostrar solidariedade para com uma amiga e para vos falar do blog dela. Um blog que vive do trabalho e da criatividade da autora, colorido, divertido e com propostas diferentes. Falo da Casinha da Matilde, visitem!