sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quem se lixou foi o gato. Coitado...

Isto de se ser um país rico e cheio de recursos não tem só coisas boas. Os drogados por exemplo: todos são considerados "inimputáveis" no sentido em que o Estado considera que não apresentam competências para serem livres de tomar as suas próprias decisões e, vai daí, são considerados "inválidos". Consequência: recebem todos os meses uma pensão de sobrevivência que lhes alimenta o vício. Comem e dormem em instituições de abrigo aos necessitados e passam o dia nas ruas. Com dinheiro que recebem no dia 1 de cada mês (é vê-los na fila dos correios às 6 da matina!), comida e caminha feita, qual é o incentivo para largar o vício? Nenhum, pois claro! A mesma merda com os bêbedos.
Pois eis que numa noite me aparece uma senhora de uns 50 anos podre, mas podre de bêbeda. Ok, noite a roncar, acorda de manhã e deixamo-la partir, isto por volta das 9. Volto nesse mesmo dia para trabalhar a noite e eis que reencontro a personagem ainda no hospital. Pelos vistos a senhora tinha mesmo saído nessa manhã às 9 mas voltou às 10h30 ainda mais bêbeda do que na noite anterior. Ora foda-se.
Às 20h a fulaninha ainda toda queimadinha do álcool, tremendo, a andar aos "ss" e com um hálito de adormecer um touro desses que fugiram em Viana do Castelo insistia em querer partir. Mas, sem ninguém para a vir buscar e habitando a mais de duas horas de viagem do hospital, sair estava fora de questão. Eis que a senhora saca da seguinte história: tenho de voltar para casa porque tenho o meu gato que está doente e se não lhe der a medicação ele morre. Para não variar, não tem ninguém que possa ir ver do gato e os vizinhos não o podem fazer porque a porta está fechada. Claro que o médico não alinha na história e assim a senhora é obrigada a ficar hospitalizada. Segue-se a chantagem: eu processo esta merda toda se o meu gato morrer e, se isso acontecer a culpa é toda vossa.
Ora que porra! Então agora a culpa da estupidez dela é nossa? Depois de uma hora a ouvir impropérios e acusações salta-me a tampa:
-"Ouça lá! Que culpa é que nós temos que tenhas apanhado o pifo ontem à noite? Fomos nós que a obrigamos? E depois de ter passado a noite no hospital ainda foi emborcar uma garrafa de vodka às 9 da matina?! (a resposta: foi um amigo que a convidou para festejar a saída dela do hospital e ela não o quis deixar ficar mal...) Então nesse caso culpe o seu amigo! Mas na verdade a única culpada nesta história és tu e se o desgraçado do gato morrer então a culpa é só tua.".
O certo é que, por se sentir culpada ou por ter percebido que daqui não levava nada, a fulana roncou toda a noite e não disse nem mais uma palavra!

(não sei se havia gato ou não mas este tipo de "doentes", tenho um bocado de dificuldade em os classificar como tal, é muito manipulador e mentiroso. De qualquer das formas, no estado em que ela estava duvido que se lembrasse da existência do dito gato, quanto mais de lhe dar um comprimido.)  

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Cá vamos nós...

(aviso: eventuais colegas que trabalhem em Cuidados Intensivos ou pessoas interessadas nesse domínio da saúde, o texto que se segue pode irritar-vos ou destruir as vossas ilusões, dependendo do grupo onde se encontram. Ficam avisados.)

Ora bem. Já aqui escrevi sobre a velha "disputa" entre as Urgências e os Cuidados Intensivos. Acontece que acabo de sair de um estágio de 3 semanas nos Intensivos e devo dizer-vos uma coisa: mas que grande seca! Irra que nunca mais acabava o raio do estágio...
Comecemos então a destruir mitos. Em Cuidados intensivos um enfermeiro dedica vá, uns 70% do seu tempo a carragar em botões de máquinas, 25% a esvaziar sacos e drenos e 5% a tratar do pacinete. e estou a ser simpático! Ah e tal porque são pacientes altamente instáveis e não sei quê, dir-me-ão vocês. Eu explico: apesar desse facto que reconheço, um doente em Cuidados Intensivos está 24/24h monitorizado com valores biológicos em tempo real, tem canos enfiados em veias centrais e arteriais, algália, um tubo na garganta e uma máquina que respira por ele. Ou seja, ainda o doente não sabe que vai descompensar, já as máquinas estão a apitar! Como o médico quase que dorme ao pé do doente...
Ah e tal e as máquinas todas e os tubos enfiados em tudo o que é orifício natural ou artificial? Ok, as máquinas e tal... vejamos: o ventilador são 3 ou 4 modos de ventilação. Aquilo é um bocado como um iPhone, tem milhares de aplicações mas só usamos aquilo para chamadas, mensagens e ir ao Facebook.
Uma circulação extra-corporal (uma máquina que suga o sangue do corpo e substitui os coraçáo e/ou os pulmões) é impressionante principalmente quando sabemos que está um tubo do diâmetro do meu indicador ás portas do coração do doente e que é uma máquina que faz de coração e/ou de pulmões mas, do ponto de vista do enfermeiro as acções limitam-se a vigiar e se aquilo apitar a chamar o Dr. especialista da coisa. Ou seja, é não mexer para não estragar. O famoso (entre os profisionais de saúde claro) Swann-Ganz é (mais um) tudo enfiado na jugular que atravessa todo o coração até quase ao pulmão mas que, mais uma vez, do ponto de vista do enfermeiro se treaduz apenas por anotar os valores que aquilo dá notificar se eles saírem da norma prevista. E podia continuar...
Resumindo, o enfermeiro em Cuidados Intensivos vigia, anota valores, despeja sacos e drenos, anota mais valores e entretêm-se a desentralaçar tubos e fios que aquilo entre os tubos enfiados nos buracos, os tubos dos trinta medicamentos que correm ao mesmo tempo e os fios das máquinas todas á volta, é um matagal que quase não se encontra o doente!
Ou seja, imaginem um lindo e reluzente Ferrari (um modelo qualquer que eu não sou esquisito!), topo de gama, tecnologia de ponta, aparelhagem sofisticadíssima e complicada e a vossa função é verificar a pressão dos pneus, o nível do óleo e assegurar que não aparece por ali nenhum vandalozinho que vá riscar a pintura daquilo.


(Eu avisei.)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

3 meses é capaz de ser muito tempo...

... mas no ritmo actual da minha vida é um instante!
Vejamos: 41 horas de trabalho semanal repartidos entre turnos de 12 horas e as aulas da especialidade. Em casa, os putos que não param de crescer transformando-se em piratas que saqueam o que resta do meu tempo (e da minha energia) deixando apenas um pouco de espaço de vida conjugal depois das 21h. O problema é que, a essa hora, estou completamente exausto para tudo o que implique vida conjugal (nas suas mais variadas vertentes). As minhas corridinhas que tanto estimo e adoro ficam para segundo plano. Resultado: 4 quilos a mais (foda-se) e muito menos energia da boa. 
Maio tem sido o mês do Diabo: 3 semanas em estágio nos Cuidados Intensivos (quem segue este blog desde o início sabe que a minha relação com os intensivos não é a melhor!), uma semana de 
formação para subir mais uma escadinha no serviço (qualquer dia sou um gajo importante), o exame do primeiro semestre no dia 27 (ai, só falta uma semana!).
Resumindo, meus caros leitores, os poucos que ainda restam e suportam esta ausência de actualizações, meus caros amigos blogosféricos vocês estão sempre (quer dizer, muitas vezes) no meu pensamento mas a minha agenda não dá para tudo!
Até breve.

Miguel