terça-feira, 31 de março de 2009

Fim de ciclo.

A vida é cíclica. Penso que concordarão comigo. Neste momento sinto-me a chegar ao fim de um ciclo, a nível profissional. Noto-o pela dificuldade com que venho trabalhar, na falta de vontade de render o colega, na não-memorização do horário a cumprir, na saturação em ver sempre as mesmas cara, ouvir as mesmas perguntas, escutar as mesmas intrigas. Sinto-o quando o tempo demora mais a passas, quando não tenho nada de especialmente gentil ou engraçado a dizer aos doentes, quando associo o nome do doente na ficha à sua face e sei, de cor, a sua história clínica. Quando preparo as terapêuticas sem olhar para as etiquetas nas gavetas e quando não me lembro de ter picado aquela doente, quando penso noutras coisas enquanto administro um soro ou faço um penso. Quando me sinto um autómato. Quando me sinto cansado, apesar do turno estar leve e quando não tenho a mínima vontade em escutar os problemas do colega de turno, quando me estou nas tintas para as conversas de corredor e quando forço um sorriso enquanto observo a foto dos netos das administrativas. Quando não tenho pachorra para aturar as conversas banais do segurança, quando vou ao bar e tomo o meu café numa mesa isolada quando há gente conhecida noutras mesas. Quando desvalorizo as queixas de uma auxiliar que sei estar depressiva porque lhe encontraram um nódulo na mama. Quando saio do serviço com um "Até amanhã" seco e despersonalizado.
O problema é que este não sou eu. Trabalho nesta instituição há cerca de 4 anos (pouco tempo, pensarão muitos!) e as pessoas habituaram-se a ver-me sempre contente, riso fácil, piada pronta, beijinhos na face, dá cá aquele abraço! Porque eu sou assim. Conhecem a minha mulher e o meu filho, perguntam por eles, dão prendas nos aniversários e no natal. Preocupam-se, ficam contentes quando partilhamos um turno. Sabem que, comigo não haverá problemas, que o serviço fluirá sem sobressaltos, sabem que tento controlar a ansiedade dos utentes com o bom-humor e não com agressividade. Sabem que podem contar comigo para os ajudar nas suas situações com os utentes.
Mas estou cansado. A rotina de sempre, os médicos de todos os dias, os doentes de sempre, o mesmo espaço, o mesmo material, os mesmos colegas, os mesmos problemas, as mesmas situações clínicas, as mesmas prescrições, os mesmos tratamentos. Preciso de mudar. Nesta altura muitos de vocês pensarão: "Então muda!!", mas as coisas não são assim tão simples. Não há vagas de emprego, principalmente para quem já tem dois, e existe uma boquinha para alimentar lá em casa. Nas últimas duas instituições onde trabalhei saí ao final de 4 anos. O que me assusta não é o fim de um ciclo. É ficar preso num ciclo que já terminou.

O que ando a ler por estes dias...

Respondendo a um desafio da Tasha vou aqui revelar uma passagem do meu actual livro de cabeceira. Eu sei que o desafio consiste em transcrever uma determinada frase de uma determinada página desse livro mas, caramba! O que é que isso revela?? Nada. Assim, lá fui á página 161 do livro em causa e deixo-vos aqui o 1º parágrafo:
"-Se quiseres fazer este trabalho, Barack, tens de deixar de perguntar se as pessoas gostam de ti. Não gostam.
Troca de favores, política, susceptibilidades feridas, queixas de racismo - eram todas farinha do mesmo saco para Marty, coisas que o desviavam do seu objectivo mais amplo, corrupções de uma causa nobre. Continuava a tentar fazer com que os sindicatos se unissem a nós, convencido que engrossariam as nossas fileiras, conduzindo o nosso barco a bom porto. Um dia, no final de Setembro, pediu a Angela e a mim que fôssemos com ele a uma reunião com delegados sindicais da LTV Steel, uma das poucas siderurgias que restavam na cidade. Marty levara mais de um mês a organizar a reunião e, nesse dia, estava cheio de energia, falando a alta velocidade sobre a empresa, o sindicato e as novas fases da campanha de organização."
Sim, o Barack da primeira frase é esse que estão a pensar! Trata-se do livro "A Minha Herança" de Barack Obama. Foi escrito em 1995 quando Obama ainda era um estudante de Direito e tinha sido eleito o primeiro presidente afro-americano da Harvard Law Review. Foi-me oferecido pela M como metáfora para a mudança que procuramos para a nossa vida, um pouco à semelhança da esperança de mudança que este homem carrega não só para os EUA mas para todo o mundo. Trata-se da sua própria história, das suas dificuldades em se encaixar, sendo ele filho de um negro do Quénia e de uma americana branca, e é também uma reflexão sobre as causas das fissuras raciais que existem na sociedade americana. Hoje sabemos bem quem ele é, o Homem mais Poderoso do Mundo, e é bom saber de onde vem esse homem, quais são as suas bases, as suas esperanças e angustias num livro escrito há mais de uma década quando, estou em crer, esse homem nunca teria pensado em ser o que é hoje.
Um livro interessante mais que não seja para saber alguns "podres" do Presidente!!!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Obrigado!!

Antes de tudo, quero agradecer a todos os votos de felicidade que deixaram nos comentários ao post anterior.

Para mim, e ao contrário da maioria das pessoas que conheço, chegar aos 30 foi uma passagem importante. Apesar de não ter nada a provar a ninguém, de ser completamente independente, de ser já marido e pai, sempre concebi que os 30 seriam os melhores anos da nossa vida! Porquê? Simples, somos ainda novos (com tudo ainda no sítio, mais ou menos resistente à gravidade!) mas estamos já livres do estigma dos 20! Qualquer pessoa cuja idade ainda comece por dois (seja 28 ou 29) ainda tem de ouvir parvoíces como "Ainda és um puto!!", por muito que tenha já alcançado na vida. Por isso digo: VIVAM OS TRINTÕES!

Quanto ao dia propriamente dito. Começou com um delicioso "B'dia" e um beijinho do Gabi, além de um caloroso acordar por parte da M. Depois de cantarmos os "Parabéns" aí umas quatro ou cinco vezes, porque o Gabriel dizia sempre "Mais, mais!!" e de termos acordado os vizinhos com as nossas percussões feitas na caixa dos ténis que a Mariana me ofereceu (e como baquetas usamos os lápis de cor do Ikea que são muito jeitosas!!), estivemos a fazer desenhos durante a manhã (e só por isso já me dava por contente!)!!

Depois do almoço, uma sesta do filhote e um passeio (curto porque o vento não dava para mais) e voltamos para o conforto do lar. A M pediu-me entretanto para ir comprar um geladinho de Doce de Leite Haagen-Daz (ela sabe perfeitamente que a única coisa que me tira de casa num dia frio e ventoso como aquele é este gelado!). Quando regressei a casa senti um cheiro estranho a queimado e... SURPRESA!! Um bolo de chocolate com 30 velas acesas e alguns dos amigos mais próximos que tinham sido cúmplices para esta surpresa!!

O ambiente estava animado! Os miúdos a brincar pela casa ou a correr pelo jardim, enquanto eu (o fulaninho com o casaco às riscas) e o meu compincha Tubarão (devidamente caracterizado na foto!) preparávamos uma verdadeira "orgia de picanha na brasa"!!!

Foi uma bela surpresa preparada (mais uma vez!) pela minha bela e querida M, com a conivência dos meus amigos mais próximos!!

Obrigado...

VENHAM MAIS TRINTA!!!

domingo, 29 de março de 2009

A maturidade...

... chega hoje.

30!

Obrigado.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Quem tem cú...

Aqui há uns anos, numa enfermaria de cirurgia, um colega aproxima-se de uma doente e pergunta: "Está pronta para ir lá para cima, minha senhora?"
"Ai credo! Vou morrer sr. enfermeiro??!! Não estou pronta... disseram-me que era uma cirurgia simples!! Já não quero! Vou embora!"
"Calma, calma!! Lá em cima é o bloco operatório!!"
Claro que foi o cabo dos trabalhos para a acalmar. Já não queria ser operada, fartou-se de chamar o marido. Tivemos de o deixar entrar para acalmar a mulher... enfim, um desatino! A sorte é que a medicação pré-anestésica é ansiolítica!!
O ser humano é um animal beeeem complicado, não é?
Pois é!

Meninas.

No caminho que faço para ir e regressar do trabalho passo por uma estrada pejada de prostitutas nas bermas. Não é por acaso que esta é conhecida como a "estrada das meninas". Mas enfim, independentemente dos juízos morais que sempre rodeiam a prostituição, há sempre dois aspectos que me incomodam na passividade com que as autoridades abordam este problema (principalmente quando é possível observar os elementos do carro-patrulha da GNR em amena cavaqueira com as meninas).
O primeiro aspecto prende-se com a questão da saúde pública. Quantas daquelas mulheres fazem análises regularmente? E, se fazem, quantas delas tomam as necessárias medidas de protecção para prevenir a infecção dos seus clientes? Quantas destas mulheres infectadas se dará ao trabalho de comprar preservativos? Enfim, uma série de questões. Por outro lado, dos homens que recorrem aos serviços destas mulheres, quantos utilizam preservativo? Quantos têm uma preocupação efectiva em se proteger? Quantos, após uma relação desprotegida com estas profissionais, utiliza preservativo com a sua companheira. E, estando eles infectados, quantos utilizam preservativo para não infectar a prostituta ou a companheira? É um problema tipo "pescadinha de rabo na boca".
O segundo aspecto está relacionado com a fiscalidade. Porque não podem estas mulheres ser profissionais reconhecidas e devidamente enquadradas pelo fisco? Porque não podem elas pagar os seus impostos e, assim, assegurar protecção social na doença e na velhice? Por outro lado, quanto dinheiro é movimentado por este negócio, dinheiro esse que, se tributado, poderia ser uma receita importante para o estado? Porque não haverão estas profissionais de contribuir para os cofres do estado como o resto de nós?
Sempre me pareceu que existe ainda muito preconceito que rodeia a prostituição. Porque não legalizar esta actividade? Assim como há empresas de prestação de serviços médicos, de enfermagem, catering, actividades de lazer, porque não empresas devidamente enquadradas legalmente, cujo o serviço prestado é o sexo e onde as profissionais envolvidas estariam sujeitas a controlo médico regular e periódico para garantir a sua saúde e dos seus clientes (não seria caso único nem excepcional)?
Mas isto sou só eu a pensar...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Coisas em que nunca tinha pensado...

Se eu fosse...

um mês: Maio, suficientemente quente mas sem as enchentes dos meses da "época alta"!

um dia da semana seria: um qualquer em que esteja de folga nos dois empregos!!!

um numero seria: 1. Sempre gostei e me esforcei para ser o primeiro!

um planeta seria: Terra. De todos o mais equilibrado.

uma cidade seria: Lisboa. Não deixo de pensar que ela tem uma luz mais brilhante do que todas as outras

um movél seria: sofá, 2,80 m de comprimento e uma chaise-longue se 1,60 m!!!

um liquido seria: água. Não consigo funcionar sem beber água.

um pecado seria: gula. Adoooro comer!

um pedra seria: granito. Simples, prático e duro!

um metal seria: alumínio, resistente e duradouro.

árvore seria uma: eucalipto, simples, recto e... bem cheiroso!

uma fruta seria: maçã, bem dura e sumarenta. Versátil e porque há todo o ano!

uma flor seria uma: margarida porque um pé dá muitas flores.

um clima seria: Mediterrânico. Nem muito frio nem muito quente

um instrumento musical seria: guitarra, vibrante!

um elemento seria: Fogo!! Em muitos aspectos...

uma cor seria: Azul, pelas suas características serenas que me acalmam e por razões clubísticas!!

um animal seria: Touro. Não me rendo sem uma boa (e leal) luta e não desisto mesmo em desvantagem (um touro numa arena)

um som seria: o ritmo de um relógio despertador daqueles antigos...

uma canção seria: tantas... Lullaby dos Cure, Fake Plastic Trees dos Radiohead, Smells Like Teen Spirit dos Nirvana, Hey dos Pixies, Trouble dos Coldplay, How many miles must we march de Ben Harper, Jeremy dos Pearl Jam... e podia continuar por aí fora!

um estilo de musica seria: pelo que está antes disso é fácil: Pop/Rock!!

um sentimento seria: curiosidade.

um livro seria: "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" do Saramago. Deu-me outra perspectiva de uma história bem conhecida!

uma comida seria: Picanha mal-passada, a sangrar!!

um defeito seria: Sobranceria ou a mania que sou mais esperto que os outros (em remodelação!)

uma qualidade seria: trabalhador

um sabor seria: caramelo.

um cheiro seria: Éter (óbvio não??)

uma palavra seria: Pá (tipo: "Tás bom pá?") utilizo-a demasiadas vezes!!!

um verbo seria: Viver.

um objecto seria: computador, já não posso viver sem ele!

uma roupa seria: t-shirt e calças de ganga! Prático.

uma parte do corpo seria: olhos. Dizem que os meus não são feios...

uma expressão seria: Não há almoços gratis. Ou há...?

um filme seria: Matrix. Mas só o primeiro!

uma estação seria: Primavera!! Sem dúvida.

uma frase seria: "Eles pagam mal, mas também são muito mal servidos!!!"

Desafio da Joaníssima que me deu muuuuito que pensar!! Mas foi bom arranjar metáforas para alguns aspectos da minha personalidade. Obrigado Joaníssima!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Já cá canta (ou deverei dizer: "Il chante ici"??)



Está aberto o caminho à internacionalização!!!!

Merci et bonjour!

terça-feira, 24 de março de 2009

My little panda!!!

É ou não é um panda querido?? Pois é!!

Boas companhias!!

Em 4 dias de existência, o blog partilhado por mim e pela Ana C., "As blogonovelas", angariou mais seguidores que este humilde estaminé, desde o seu nascimento em Novembro!!!
É caso para dizer: "Junta-te aos bons e serás como eles."!

domingo, 22 de março de 2009

Jade

Morreu a Jade.
Não conhecia a rapariga antes da avalanche de capas de revista com a sua foto. Aquele aspecto que conheço tão bem, que já não me choca. Não pude deixar de pensar que, afinal, não tem assim tão mau aspecto para quem está em cuidados paliativos. Mas depois ocorreu-me de todas as operações cosméticas que sempre são feitas a quem é figura pública. Porque, mesmo às portas da morte, uma figura pública tem o dever de estar sempre bem para os seus fãs. E quantos fãs eu não ouvi a comentar a vida (morte, neste caso) como se dum familiar ou amigo se tratasse. É curiosa esta dicotomia entre familiaridade e distância que temos com as figuras públicas.
Mas enfim, como dizia, nunca tinha ouvido falar desta senhora até ela me entrar pelos olhos dentro em todas as capas de revista. Muito se falou sobre o caso. Desde a abordagem dramática, populista e sensacionalista, tipo-TVI (aposto que se fará um especial Jade no próximo programa do Goucha!) até à abordagem mais moral e ética do mediatismo dado à morte de ser humano. Houve quem se indignasse com o facto de um canal de televisão ter comprado os direitos de transmissão da morte da rapariga, Quem condenasse a própria por se aproveitar do seu estado para lucrar uns milhões. Ouvi num programa de rádio uma pequena rubrica onde um tipo qualquer e uma outra fulana falavam deste caso como o "elogio da inutilidade", de como uma tipa que tinha sido perfeitamente inútil durante a vida, conquistando a fama sem ter feito nada de registo a não ser ter participado em reality-shows, era agora publicitada pelo simples facto de estar a morrer e, ainda por cima, ganhar dinheiro com isso. O que me chocou foi o tom jocoso e ligeiro como destroçaram o sofrimento daquela mulher. Quase como se deixassem implícito que a sua doença tinha sido uma sorte para ela, mais um argumento para ter as luzes da ribalta. Por momentos achei que iam afirmar que tinha sido ela própria a causar a doença em si mesmo.
Costumo ser bastante crítico com todo o circo voiyeurista à volta das celebridades bem como com programas na senda do Big Brother (já agora, leiam o livro. É excelente e a única coisa de positivo que retirei do programa foi o facto de me ter feito descobrir essa obra!) mas neste caso abro uma excepção.
Alguém que faça tudo para assegurar o bem estar dos seus filhos, sem prejudicar terceiros, mesmo que para isso tenha que se sujeitar ao sofrimento e ao desconforto até no seu leito de morte tem a minha admiração. Qual de nós, pais e mães, não o faria se assim o pudesse?
Ouvi algures que, o que define uma pessoa não é a maneira como se vive, mas sim a maneira como se morre.

Amor à primeira leitura!!!

"Pais demissionários, filhos caprichosos."
"Desde sempre e em todas as civilizações, era o filho que fazia tudo para agradar aos pais e ganhar-lhes o respeito. Mas, desde que passou a ter atenção em demasia, a criança deduziu que estava numa posição em que não precisava de dominar os seus impulsos. E com a demissão dos pais, ela multiplica os seus caprichos."
"Hoje, muitas instituições (escolas) comportam-se como se não tivessem alunos mas clientes. E uma criança que consegue tudo sem sequer pedir,vai continuar à espera de receber o que quer, sem qualquer esforço."
(Sobre a dificuldade dos pais em dizer "não") "Prende-se com o facto de terem adoptado uma atitude completamente diferente da que tinham para com eles, quando eram crianças. A sua sensibilidade aos direitos que ganharam com a democracia fizeram-nos rejeitar o modelo baseado na autoridade e acreditar que a criança precisa apenas de amor para crescer. Chegam a pensar que dizer "não" é um resquício do autoritarismo que antes condenaram. Só que, com isso, deixaram o seu filho entregue à tirania das suas pulsões, sem saber como combatê-las. Fará o seu caminho com atitudes cada vez mais provocatórias. E, afinal, os pais podem, e devem, dizer "não", sem ter de explicar tudo e mais alguma coisa."
(Afastando qualquer regresso aos castigos corporais) "O castigo é o meio pelo qual a criança aprende a reprimir os seus impulsos e permite-lhe comparar a falta de prazer resultante de fazer algo que não está certo com o prazer que decorre de fazer algo bom. É um indicador do limite até onde pode ir."
Não consigo deixar de pensar que a genialidade está em exprimir por palavras aquilo que todos sabemos empiricamente. São trechos de uma entrevista a Aldo Naouri, pediatra e investigador francês, publicada na Visão nº 837, de 19 a 25 de Março. E vou a correr comprar o último livro deste senhor de 71 anos, "Educar os Filhos" (Livros d'Hoje).

sábado, 21 de março de 2009

O Melhor Dia do Pai de todos os tempos...

... de entre os dois a que já tive direito!!

Nem eu nem a M. somos muito de ligar a essas coisas de Dia do Pai, da Mãe, dos Namorados, da Criança etc, etc, etc. E como eu gosto de estar com o meu filho todos os dias, este até nem parecia ser um dia muito diferente dos outros. Mas M. pensou deforma diferente e quando ela se põe a pensar....
Enfim, na véspera disse-me que iríamos jantar com um casal amigo para tornar o dia diferente e para os filhos dos dois casais pudessem brincar juntos. Tudo bem, nada de estranho. Fazemos um arroz de pato porque eles saem tarde do trabalho e assim poupamos tempo, e encontramos-nos no parque das Nações por volta das 6 da tarde. Fantástico.
Fui buscar o Gabriel à escolinha e lá estive na tradicional festinha com actividades pai-filho, como se fosse preciso um dia específico para brincarmos com os putos. Atrasei-me. Saímos de casa a correr, ligamos aos amigos e combinamos encontrar-nos junto à Torre Vasco da Gama. "Mas que raio!" pensei "São quase 7 da tarde e ainda querem passear junto ao rio. Depois os putos ficam super-rabugentos!" mas ok, siga para a Torre.
Brincámos um pouco com o Gabriel num jardim ali ao pé do estacionamento e eis que chegam os amigos. Beijinho, beijinho, abraço... e então, vamos jantar? Ahh, não, vamos ali tomar um cafézinho (sorrisos cúmplices entre as fêmeas do grupo). E dirigimo-nos para um cafézito mas, no último momento..... SpazioRelax!?!?!???!!!! Estou dentro de um espaço de relaxamento com massagens e essas coisas. SURPRESA!!! Foram contemplados com uma massagem de relaxamento de corpo inteiro por serem tão bons papás!!!!
Ena pá!! Que bom! Beijinhos às queridas esposas por serem tão atenciosas. Entramos na sala. Duas macas preparadas para nos receber, ambiente calmo e relaxante como esperado. Um duchezito para limpar o corpinho suado das brincadeiras com o filhote. As instruções eram para vestir a cuequinha descartável que se encontrava junto da toalha. Desembrulhei-a e vi: uma parte mas larga e a oposta mais fininha... não quis perceber a orientação daquilo e vesti a parte fininha para a frente... não deu. Caramba, e eu que jurei que nunca iria usar cueca de fio dental!!!!! Eu e o meu amigo, colega de curso, companheiro de quarto durante quatro anos olhámos para as nossas figurinhas e decidimos, sem dizer sequer uma palavra, que o melhor era cobrirmo-nos com uma toalha!!! Entretanto íamos fazendo previsões acerca de qual de nós iria ser atendido pelo massagista-macho. Foi ele!!
Massagem muito boa, relaxante. A minha parte favorita foi quando a minha massagista aplicou as suas técnicas nas minhas salientes orelhinhas!! Tive de me esforçar para não desatar a abanar a perninha, como os cães. O meu bom amigo não relaxou muito porque está convencido que o massagista é gay...

Stayin' Alive!!!

Aqui há uns tempos atrás ouvi uma notícia (quer dizer, é mais uma curiosidade...) que revelava que um grupo de estudiosos (certamente com muito tempo nas mãos...) concluiu que o ritmo ideal a que se deve realizar as compressões cardíacas, em caso de paragem cardio-respiratória é o mesmo encontrado nesta música...


Já estou a imaginar....

"PARAGEM!!!!"

"Rápido, põe música a tocar!"

Os Médicos e Enfermeiros caminham ao ritmo da música em direcção ao quarto do doente. Bamboleando os ombros e a cintura pélvica, vão apontando o braço direito em direcção ao chão e ao tecto, alternadamente, acompanhando o seu passo enérgico. Atrás deles, um auxiliar carrega no ombro um "tijolo", um rádio dos anos 70 que grita a música em altos berros. Todos eles trazem óculos de sol e vestem calças de lycra brancas.

A música termina... o doente continua inanimado....

"E agora?!?!? O que fazemos agora???"

"Eh pá... sem música, nada feito.... que chatice pá!! Bom... hora do óbito: 09:17."

PS: já repararam que até o título da cantiga é apropriado?!! Fantástico!

Olha, olha!!! Temos blog novo na praça!!!

Depois da experiência com a blogonovela "O silêncio do Amor" a Ana C. lembrou-se de criar um espaço onde podemos dar largas à nossa criatividade, sem sobrecarregar os nossos blogues individuais. Chama-se "As Blogonovelas" e já tem uma pequena história da Ana. Visitem, adicionem à vossa lista e vão seguindo!!!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Fim

A blogonovela "Silêncio do Amor", co-escrita por mim pela Ana C. conheceu o seu final. Para mim foi divertido e gratificante tomar parte nesta experiência, atrevo-me a dizer única uma vez que nunca li nada remotamente semelhante na blogosfera.
Obrigado à Ana C. pelo convite, obrigado a todos os que seguiram e de alguma forma contribuíram para o desenrolar da história!!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Que caminho seguir?

O meu último post gerou uma pequena troca de ideias entre mim e a JS que me fez pensar que devo esclarecer aqui qual a minha opinião relativamente à comunidade cigana e a sua interacção com o resto da sociedade portuguesa.
Não sou, de todo um gipsy-hater. A minha intolerância prende-se com experiências profissionais negativas, algumas aqui descritas. O problema com a comunidade cigana prende-se essencialmente com a falta de respeito que essa comunidade revela perante o resto da sociedade. E essa falta de respeito é visível tanto em situações perfeitamente quotidianas, como tentarem passar à frente de todos numa sala de espera como nos roubos, tráfico de droga e armas, contrafacção, fuga ao fisco e abuso dos subsídios estatais.
Na generalidade, os ciganos são cínicos, desordeiros, desonestos, com tendência para a violência. E essa imagem, aliada à cobardia que é atacarem em matilha pela calada da noite e sem aviso, intimida. O que dizer do tiroteio na Quinta da Fonte? Se eu não soubesse diria que se passou em algum país da América Latina! Alguém foi identificado? Alguém foi preso? Quem pagou os estragos nos bens atingidos? E depois ainda preparam tenda para alojar a comunidade cigana que clama por realojamento noutro bairro?!?!? Pelo amor da santa!!! Tanta gente que não tem um tecto! O que foi feito??? Nada, o assunto morreu porque, politicamente não interessava, porque ninguém fez nada, porque os autarcas foram ameaçados.
Quanto ao tão propalado caso da separação dos alunos. Se esses alunos (os ciganos) tem necessidades diferentes, qual é o problema de lhe oferecer um projecto diferente? Caramba, um marmanjo com 18 anos ainda na primária? Sabemos perfeitamente que esta comunidade não dá grande importância à educação. Se as crianças ciganas estão muito mais atrasadas que as outras, estar no mesmo patamar educativo só as vai prejudicar! Onde é que aqui existe a segregação? Mas hoje, o ministério da educação veio classificar esta escola como "território educativo de intervenção prioritária"!!! Deixem-se de merdas.
É uma cultura secular, dir-me-ão alguns de vocês. Pois sim. se querem ser nómadas, tudo bem, se querem viver em comunidade fechada, tudo bem. Se querem flamenco, tudo bem. Agora, ir deliberadamente contra a Lei ao casar e permitir relações sexuais entre meninas com 10, 11, 12 anos e adultos? E, ainda por cima afrontar o poder fazendo-o mesmo depois de avisados? E andamos nós aqui a conversar com elementos dessa comunidade para os sensibilizar a não quebrar a Lei??? O que dirão o Carlos Cruz e o Bibi.
A integração desta comunidade passa, infelizmente, por uma vontade dela própria em se integrar e, depois por mecanismos de controle muito apertados por parte das autoridades. Não se pode permitir que se ande aos tiros nas ruas. Já aconteceu isso aqui, numa rua contígua ao hospital. Depois a urgência foi invadida por dezenas de ciganos, uns feridos e outros aos berros. Foi o caos. Não nos deixavam trabalhar e depois, típico, faziam ameaças do tipo: Se o meu filho morre, morres tu a seguir! Que atitude é esta? Quem consegue trabalhar assim? Onde estava a polícia? Quem se insurgiu contra eles? Um cigano, quando só é inofensivo, nem sequer fala mas, assim que chegam alguns dos seus pares tranforma-se numa autêntica besta. Reclama e ameaça. A nossa culpa está em não nos unirmos em situações como a seguinte: estavam 5 ciganos a reclamar e a ameaçar a recepcionista do serviço. Claro que ela os passou à frente. Chegados à minha sala exigiram, sob ameaças, serem atendidos imediatamente. O que fiz? Atendi-os. Depois de saírem um fulano reclamava, alto e bom som, que era sempre a mesma coisa, que os ciganos passavam sempre à frente. Confrontei-o e perguntei-lhe porque não manifestou a sua indignação na presença dos ciganos e porque, sendo eles 5 e estando cerca de 20 homens na sala de espera, ninguém reprimiu aquele comportamento. A nossa culpa está em não controlar as suas explosões.
O que eu tento dizer com todo este texto é o seguinte: somos nós que segregamos ou eles é que criam incompatibilidades com o resto da sociedade? Eles comportam-se, sempre se comportaram, como um corpo estranho ao organismo que é toda a sociedade. Em medicina, um corpo estranho remove-se cirurgicamente.

Coitadinhos...

Depois queixam-se que são colocados em contentores, afastados das outras crianças. Ai coitadinhos de nós que somos segregados!! Pudera... com atitudes destas!

O Silêncio do Amor, reencontro

O dia estava esplendoroso. O sol impunha a sua presença em todos os recantos e a pequena livraria de Artur não era excepção. Até que ela entrou e parecia envolvida num luz só dela. "Alice? És mesmo tu?" pensou Artur e percebeu que estava mudo de excitação. Deu um passo na sua direcção e Alice voltou-se. A expressão na face de Alice era um misto de surpresa e felicidade e Artur conteve a sua vontade de a abraçar. "Artur? Mas... que fazes aqui?" Maria sorria abertamente, não sendo agora capaz de esconder a sua felicidade em rever Artur. A sua luz parecia ainda mais brilhante! "Eu trabalho aqui Alice! Aliás, esta loja é minha, já não trabalho no hospital!"
"Não te reconheço Artur!! Não te imaginava a mudar assim a tua vida!! Estás diferente, mais leve, mais jovem, pareces mais feliz." A voz de Alice esmoreceu um pouco ao continuar "O regresso de Maria fez nascer em ti um novo folêgo, isso é claro." Artur sorriu. "Estava preocupado contigo sabes? Pensei em ti todos os dias desde o nosso último encontro, há mais de dois anos. Desapareceste e eu não soube como te encontrar."
"A minha vida precisava de uma mudança Artur. Depois de te deixar, naquele dia, resolvi que não iria mais esconder-me da vida. Mudei-me para perto da faculdade, comecei a trabalhar numa pequena loja e inscrevi-me no curso de Medicina. Era um velho sonho meu e eu precisava de sonhar novamente! Estou agora no 2º ano, com alguma dificuldade pois tenho a Maria e o emprego mas nem imaginas como, apesar de muito cansada, estou feliz!"
"Isso vê-se ao longe Alice... estás deslumbrante!" Alice corou. Nunca tinha visto um Artur tão confiante e sereno e pensou como ele estava agora ainda mais atraente de que aquilo que ela se lembrava. Artur aproximou-se, pegou-lhe em ambas as mãos e sentiu-as, quentes e macias. Aquele toque desencadeou-lhe um arrepio de prazer nas costas que rapidamente lhe envolveu toda a cintura pélvica. Sentiu o seu corpo a desejar aquela mulher como nunca antes. Aproximou-se mais um pouco. Alice sentia o seu coração a galopar. As pernas tremiam levemente, uma sensação que rapidamente se espalhou por todo o corpo. O roçar do vestido causava-lhe agora uma sensação estranha de prazer nos seios, uma ansiedade física concentrava-se junto ao seu umbigo e sentiu por aquele homem algo que já não sentia há muito tempo: o seu corpo desejava o dele, ardentemente.
"Na verdade tens toda a razão Alice. O regresso de Maria transformou-me. Fez-me ver que após tantos anos de sofrimento e culpa precisava de um novo começo. Fez-me ver que o sentimento que eu nutro por Maria já não é o mesmo. Fez-me ver que não posso mais trabalhar no meio da doença e do sofrimento. Fez-me ver que não podia mais viver sem amor."
"Tu e a Maria..." Artur pousou-lhe um dedo levemente nos lábios. Alice fechou os olhos.
"Eu e Maria somos amigos. Ela é a mãe do meu filho, é uma grande amiga, conheço-a como a palma das minhas mãos. Quatro anos é muito tempo... ela sente que eu sou alguém importante para ela mas que já não me ama. A sua experiência do coma fê-la pensar e mudar. Não é mais a Maria que amei um dia. Nem eu o Artur de há 10 anos." O silêncio tomou conta daquele espaço, os livros olhavam para os dois em crescente expectativa. Alice olhou Artur bem fundo nos olhos. A sua respiração acelerada acertava bem no pescoço de Artur que disse: "Procurei por ti em toda a parte e foste tu que me encontraste! Não acredito no destino mas algo maior te trouxe aqui, hoje. Amo-te Alice!"
Aquela palavras pareceram despertar Alice do transe em que se encontrava. Lançou-se nos braços de Artur e beijou-o. As suas bocas uniram-se, as línguas confundiram-se. Artur sentia o desejo daquela mulher através dos seios que ela comprimia no seu peito. Alice sentiu a força dos braços daquele homem, cujas mãos a agarravam firmemente as nádegas e a puxavam para si. Alice percebeu que ele estava pronto para ela quando ela própria ardia já de desejo dele. Num impulso, afastou-o, ofegante e a tremer: "Não podemos... pode entrar alguém a qualquer momento!!" Artur sorriu e dirigiu-se à porta: "Esqueces que sou eu o dono!" disse enquanto a fechava, voltava o letreiro para a palavra "Fechado" e corria as cortinas.
Ufa!! Este foi, realmente o episódio que mais me custou a descrever!! Sentia que, por ser um reencontro tão esperado tinha de ser intenso e emocional. Tinha a cena toda imaginada... acho que ficou um pouco... fraquinho!! Ana, espero que o episódio final seja um estrondo!!!!

Dahhhh-ahh!!!

Mas qual é o objectivo dos dentistas quando, apesar de nós termos 1 aspirador, 2 rolos de algodão, 1 espelho de dentista e 1 pinça, 1 luz para secar o compósito aplicado e 4 mãos (dentista e auxiliar) dentro da boca, eles iniciam uma conversa que presupõe uma resposta nossa?! Quanto significado estará contido num "Ahhhhh" ou num "Uhhhh"? Mistério....

sábado, 14 de março de 2009

Detesto os fins-de-semana.

Não há actualizações dos blogues, não tenho visitas, não tenho comentários... mas que raio é que andam vocês a fazer?!?!?!???

BAH!!

Sou Carneiro!

Não sou supersticioso, nem esotérico. Pelo contrário, sou céptico e racional, um homem cuja fé está na ciência. Contudo, de vez em quando lá surge a conversa dos signos. Eu sou Carneiro. Hoje a conversa do almoço rondou este tema e serviu para eu reflectir um pouco na minha própria personalidade. Com a certeza que haverá outros mais bem colocados para me definir, eis algumas da minhas características:
- Sou teimoso. Não é que não aceite que estou errado, não aceito é argumentos sem fundamento! Tenho alguma dificuldade em aceitar a derrota e não vou pela opinião de outros. Para acreditar tenho de vivenciar.
- Tenho alguma dificuldade em trabalhar em ritmos menos acelerados do que o meu. Algumas pessoas sentem-se pressionadas ou até intimidadas em trabalhar comigo por esta razão.
- Sou muito (demasiado?) confiante. Algumas pessoas dizem que sou arrogante.
- Não convivo muito bem com a displicência. Gosto de fazer as coisas bem feitas e ponho tudo de mim numa tarefa. Contudo, não sou picuinhas nem gosto de perfeccionistas obstinados!
- Sou extremamente leal com quem gosto e ponho a família acima de tudo o resto. Considero que amigos são apenas 1 ou 2, o resto são conhecidos.
- Consigo manter a calma e o sangue frio em situações de stress. Raramente perco a calma, não confronto ninguém em situação de briga mas defendo-me e aos meus se me atacarem. No entanto, se me "salta a tampa" (o que é muuuito raro!) é sair da frente!!
- Sou impaciente. Tenho imensa dificuldade em lidar com a espera (detesto esperar) e também não tenho muita paciência para coisas e pessoas que me entediem.
- Sou competitivo. Adoro uma boa competição, mas com alguém que eu considere superior. Não gosto de "bater em mortos". Não gosto de perder mas não em custa aceitar a derrota se reconhecer superioridade do adversário.
- Gosto de comunicar. Adoro falar com as pessoas, conhecidas ou desconhecidas. Sou naturalmente desinibido e "boca de trapo"!!
- Detesto que privilegiem o acessório face ao essencial. Ou seja, gosto que as pessoas vão directas ao assunto e que se deixem de floreados. Contudo aprecio as pessoas que se dão ao trabalho de explicar os fundamentos essenciais para explicar determinada situação. Eu faço tento fazer isso com os meus doente explicando-lhes o mecanismo de acção deste ou daquele medicamento. Acho que ajuda as pessoas.
- Sou um pouco vaidoso, admito. Tenho um ego muito grande que aumenta com os elogios. Mas tenho a noção exacta disso mesmo e tento não "enbandeirar em arco" para não em tornar num parvalhão convencido.
-Sou divertido e rio-me bastante! Sou assim no trabalho mas não confundam essa boa disposição com um "deixa andar". Levo o trabalho muito a sério.
-Em situação de chefia tento ter uma atitude democrática com a minha equipa mas cada vez mais acho que as pessoas preferem ser mandadas em vez de organizarem o seu próprio trabalho.
- Não me deixo abater com facilidade. Raramente me vão ver mal-humorado e recupero muito bem após alguma situação menos boa.
E pronto! É apenas mais um "cheirinho" aqui do vosso Miguel a.k.a. McSleepy!!
(Aos 2 ou 3 leitores que me conhecem pessoalmente: comentem e desmintam-me, se for caso disso!!!)

O Silêncio do Amor, seis meses depois.

Maria deambulava lentamente pela casa olhando as fotos de família nas férias, nos fins-de-semana na praia, das festas e tocava levemente nas faces impressas do seu filho e de Artur, na esperança de poder absorver as emoções que marcavam aqueles momentos. Ficava muitas vezes durante horas a ouvir a colecção de música de Artur enquanto folheava os livros das estantes, na tentativa de melhor compreender aquele homem que ela tinha amado em tempos. Esse facto era indismentivelmente real nas fotos, tal era a alegria e o amor que delas emanava. Artur tinha sido inexcedível nos últimos 6 meses. Dedicou-se totalmente a ela e à sua recuperação, regressava directamente do trabalho para casa, contratou um fisioterapeuta seu conhecido para ser responsável pela reabilitação física de Maria e ela estava agora quase recuperada. Ao ponto de já encontrar muitas semelhanças entre a Maria das fotos e aquela que via ao espelho.
Aquele homem ternurento e dedicado, sério e honesto, tinha sido a sua pedra basilar ao sair do hospital. O mundo estava diferente e ela não conhecia ninguém. Os seus pais, os seus amigos, a sua família, todos desconhecidos. Menos Daniel, claro! Lembrava-se de tudo o que assistira na vida do seu filho e sorria, emocionando-se até ao ver as fotos que lhe traziam tantas e tão boas memórias. Mas Artur foi o único que a compreendeu, a necessidade de tempo e espaço para poder reorganizar a sua mente. Uma certeza ela tinha: Artur conhecia-a muito bem! Parecia adivinhar os seus pensamentos através da sua expressão facial. Acarinhava-a nas alturas certas, afastava-se sem ela pedir. Nunca lhe propôs que regressassem ao seu antigo quarto em comum, optando pela cama das visitas. Maria sentia-se grata, por isso e pelo resto, e pensava que não devia ser difícil uma mulher apaixonar-se por um homem assim.
Artur estava sentado no café onde Alice trabalhava. Olhava pela janela, como se esperasse alguém. Os primeiros dias após o despertar de Maria tinham sido de tal maneira intensos, principalmente com a euforia de Daniel, que Artur não tinha sido capaz de contactar Alice. O turbilhão de emoções que o fustigava também não tinha sido bom conselheiro. Quando finalmente procurou Alice para conversar, pedir desculpa e explicar a ausência prolongada, ela tinha desaparecido. No café disseram-lhe que se tinha despedido. No prédio, o seu apartamento estava agora ocupado por um jovem casal e a senhoria dissera-lhe que Alice se tinha ido embora sem dar grandes explicações. Ninguém sabia onde encontrar Alice. Naquele momento Artur tentava acreditar naquele sentimento que o fustigava dia após dia: amava Alice mas todo o seu consciente racional o queria ver junto a Maria. Mas a consciência da ausência de Alice era tão dolorosa que ele sabia que não iria suporta-la por muito mais tempo. Não depois de tanto conflito interior durante mais de dois anos. Não depois daquele passeio, daquele abraço e da sensação de segurança e plenitude. Não mais! E, ali mesmo, Artur fez a sua escolha.
Quando regressou a casa encontrou Maria calmamente sentada no sofá, lendo os seus velhos diários que ele mesmo resgatou da poeira do sótão. Ouvia um velho CD dos U2 e Bono cantava agora: "We're one, but we are not the same, we got to carry each other.." e toda a sua postura transmitia calma, segurança e Artur sentiu pela primeira vez uma subtil sensação de familiaridade com aquela mulher. Parecia a Maria de antes do acidente. Beijou-a ternamente na face "Como te sentes?"
"Bem Artur, muito bem! Tens sido um querido comigo desde que voltei."
"Ora essa Maria, sou o teu marido. É por isso que os maridos servem sabias?"
"Artur, sei que estou um pouco esquecida mas ainda sei que os maridos não servem só para isso..."
"O que queres dizer com isso?" Artur estava petrificado.
"Esquece. Como vai a Alice?" Maria disse aquelas palavras de forma tão leve, tão natural como se perguntasse "Já tomaste o pequeno-almoço?". Artur não conseguiu articular duas palavras. Aliás, nem sequer um pensamento...
"Mas... como..."
"Artur... eu menti quando disse que só me lembrava do Daniel. Na verdade, além dele, lembro-me da conversa que tiveste comigo na manhã antes de acordar. Aquela em que abriste o teu coração, onde me falaste de Alice com tanto amor. Onde choraste por sentires que esse amor era uma traição a mim. Além de Daniel, a única pessoa que conheço bem é Alice, através do teu relato. Ela está bem?"
Ana, deixo-te a história num ponto de definição!! O que acontece daqui para a frente depende da resposta do Artur a esta pergunta!!! O caminho que eu escolheria está implícito algures neste texto mas... está nas tuas mãos!!! Temos de começar a pensar em quem é que vai acabar a história por isso diz de tua justiça acerca desse tema.
Não percam o próximo episódio das vidas de Artur, Maria e Alice aqui!!!

quinta-feira, 12 de março de 2009

O Pequeno Poder.

Não sou nacionalista, longe disso. Não me orgulho de ser português, estou mais perto de me sentir envergonhado do que orgulhoso. Somos um povo fraco, interesseiro, arrogante, desunido, desonesto, prepotente. Temos o síndrome do novo-riquismo, do consumismo, de viver atrás das aparências, acima das nossas possibilidades. Se o nosso vizinho tem, nós temos de ter melhor. e exemplos desses vêm directamente de cima, com investimentos e obras públicas apenas para inglês ver. Tomemos como exemplo a construção de 10 (!!) estádios de futebol, em que a maior parte deles serviram apenas para 1 ou 2 jogos do Euro. Será mesmo necessário um TGV onde se demoram cerca de 8 horas a percorrer o país de Norte a Sul, de automóvel?
Enfim. Mas o que mais observo nas pessoas é a embriaguez pelo Poder. Exemplo máximo: José Sócrates. O homem está enamorado dele próprio e governa o país em função disso. Contudo, como nem todos conseguimos atingir patamares de influência tão elevados, vamos exercendo o nosso pequeno poder ao nosso nível. Em qualquer repartição pública, quantos de nós já não foram atendidos de forma sobranceira? Quantos de nós não fomos forçados a voltar lá por uma qualquer ausência de algum documento que nem fomos informados que existia. Eu já paguei juros na Seg. Social porque a funcionária que me cobrou as prestações se enganou nas contas!!! Os seguranças nos hospitais, exercendo a sua função de forma perfeitamente aleatória, deixando entrar apenas quem entende, sem critério. As funcionárias das recepções, que tratam de organizar as entradas dos doentes conforme a sua vontade e que, intencionalmente, não usam o cartão de identificação. As auxiliares de acção médica a serem mal-educadas para os visitantes só porque podem. Tudo isto são situações a que já assisti e poderia enumerar muitas mais. Como paradigma desta situação posso deixar aqui uma atitude que é típica do tuga: ver alguém em apuros e não a ajudar ou dificultar-lhe ainda mais a situação. No trabalho sempre a tentar inferiorizar o colega, no trânsito a tentar entalar os motards, nos locais públicos a dificultar o acesso das pessoas à informação ou intencionalmente dizer-lhe apenas o que é conveniente. A atitude punitiva, sobranceira e inflexível dos agentes da polícia face a pequenas infracções, muitas vezes involuntárias e que se torna até agressiva quando questionamos aquela atitude é outro exemplo.
Concordem ou não, este abuso do pequeno poder atrasa o desenvolvimento de um país e define-nos enquanto povo.

Gostam, gostam???

E que tal o novo look aqui do sítio???
No cabeçalho está agora a minha tira preferida do "Calvin&Hobbes" (tão simples e genial ao mesmo tempo!!!) e que encerra, num tão curto diálogo, tantos significados!!

São estes os dias que importam!

Ontem foi um dia de sol, quente e brilhante! Levei o Gabriel à praia! Ele já conhece a praia do ano anterior, mas agora está muito mais independente e podemos aproveitar mais! Fomos molhar os pézinhos mas a água estava fria e ele ficou um pouco assustado com as ondas!!

"Tem medo, papá..", e assim ficámos mais pela areia a andar, a correr, a escavar. As praias da Costa da Caparica estão em obras e ele adorou ficar a ver a azáfama das máquinas.
E eu adorei tê-lo sentado nas minhas pernas, bem encostado ao meu peito com as suas mãozinhas a brincarem com os meus dedos...


Amanhã a mamã M. também vai e será ainda mais divertido!!!

terça-feira, 10 de março de 2009

(A verdadeira) Conversa de Bosta.

(Desculpa Ana C. parece que ultimamente sigo sempre as tuas deixas!!)

A vida profissional de um enfermeiro mete sempre muita bosta. Eu diria até que é um trabalho de merda, mas alguns colegas poderiam ficar ofendidos. Agora que penso nisso, é impressionante a quantidade de colegas que perguntam, ao receber o turno: "E quem é que evacuou?" como se a manutenção da vida do paciente dependesse disso. Mas enfim, anda um gajo 4 anos a marrar para depois passar a maior parte da sua vida adulta a mudar fraldas a outros adultos. Ossos do ofício.
Numa das milhares de ocasiões em que fui "dar a volta" aos doentes, e esclarecendo que esta expressão significa mudar os doentes acamados de posição verificando o estado das fraldas de cada um, eis que me deparo com um "Alerta Vermelho do Cocó"!! Uma doentinha (consciente e perfeitamente orientada, devo dizer) estava toda cagada. Dentro e fora da fralda! Aquilo era merda nas mãos, debaixo das unhas (o que me afectou, logo a mim que sou bastante resistente a coisas nojentas!!), espalhada pelas pernas, nos lençóis de cima, de baixo, nas grades da cama e nas mesa de cabeceira!!! Saliento, mais uma vez, que a senhora estava na posse de todas as suas faculdades mentais e sensoriais.
"Mas que mer..... mas que raio é que se passou para aqui?!!?!?"
"Ó Sr. Enfermeiro... cocei o rabo e como estava sujo olhe, deu nisto!"
"Então e para que servem as campainhas??? Olhe para isto tudo sujo!!!"
"Desculpe, desculpe sr. Enfermeiro..." enquanto esticava as mãos todas cagadas na minha direcção.
"Ó minha senhora!! Ponha lá as mãos para baixo!! Não vê que estão todas sujas!!! Coloque-as junto ás pernas, que também já não se safam."
E ela continuava "Desculpe, desculpe..." tentando novamente agarrar-me as mãos.
Aqui, confesso, estava já um pouco exaltado "Mas a senhora não vê que tem as mãos todas cagadas?!?!? Já viu em que estado está esta cama?". A doente amuou e eu começo a tirar-lhe a fralda, preparando as coisas para um banho e eis que...
O raio da velha faz-me uma festa na face. NA FACE COM A MÃO CHEIA DE MERDA!!!!
"Desculpe, desculpe, o senhor é sempre tããão simpático!"
Acho que não preciso descrever a minha fúria nesse momento. Limitei-me a sair do quarto, fui lavar (esfregar com scotch-britt) a minha adorada trombinha enfurecida e pedi a um colega que tratasse da higiene à doente. Acho que ele ainda demorou um bocado a recompor-se do ataque de riso que o acometeu nesse momento. Pergunto-me a que terá ele achado tanta piada?

O Silêncio do Amor: o despertar inesperado.

(Estava um bocadinho farto das "partes 1, 2, 3, etc...")

Artur não sentia nada. Tinha a sensação de estar submerso, suspenso, fora de órbita. Os sons chegavam-lhe difusos e o olhar desfocado. " Artur? Artur... vai... vai... ARTUR VAI!!!!" Alice resgatara-o daquele transe com um empurrão e um grito. As lágrimas inundavam-lhe a face mas ela não chorava. Maria assustou-se com o berro da mãe e estava agora abraçada ao seu pescoço. "Alice... eu... não estava à espera..." balbuciou Artur. "Vai ver a tua mulher." Alice correu para dentro do prédio e desapareceu na penumbra.
"Como foi isto possível? Todos os exames apontavam para uma ausência de actividade cerebral... nunca tive esperança e agora isto? Porquê agora? Logo agora... E depois, tantos anos de imobilização corporal deixaram sequelas. Será que poderá andar? Será minimamente independente? E a função neurológica? Falará, expressar-se-á, comunicará? Oh, Maria, Maria...só espero que estejas bem... E o Daniel... preciso avisá-lo. Como foi isto possível..." Artur estava já no elevador e a sua mente continuava a construir e desconstruir cenários acerca daquele reencontro com Maria. A porta abre, ele estremece, entra e dirige-se ao quarto ignorando as expressões ansiosas, expectantes, alegres, desiludidas, surpreendidas dos seus colegas, que tinham cuidado de Maria todo aquele tempo e que esperavam agora assistir ao reencontro. Parou em frente à porta, respirou fundo, tentou recompor-se e entrou.
A luz fria e laranja do final de dia entrava pela janela, criando no quarto um ambiente de luz e sombras que fez Artur reparar que havia uma janela! Nunca tinha percebido isso! O negrume que o invadia sempre que ali entrava impedia-o de ver que havia luz por ali. Artur percebeu que estava aliviado. Aliviado da culpa da morte de Maria. Sim, Artur sempre a considerou morta. Morta porque a Maria, a sua Maria nunca poderia viver dentro daquele corpo. Agora que ela estava acordada as coisas mudavam e ele sentia-se mais leve. Levantou os olhos que teimavam em observar o chão do quarto e olhou para Maria. Estava sentada numa cadeira de rodas. Os olhos molhados postos no horizonte. Era, de alguma forma estranho, para Artur observá-la naquela posição. Os anos em que a viu deitada remodelaram a imagem que guardava dela e parecia-lhe agora impossível que ela estivesse assim. Estava muito magra, a face baça sem o brilho de outrora, o que era acentuado pelas sombras criadas pela luz que fugia do horizonte. O cabelo rapado acentuava aquelas orelhinhas pequenas e saídas que ela tanto detestava "Um dia faço uma plástica a estes abanicos que chamam orelhas!!" repetia sempre que tinha que apanhar o cabelo, mas Artur adorava aquele aspecto nela, pois dava sempre azo a uma boa gargalhada! A bata hospitalar permitia que se vissem as costas outrora firmes, definidas com pele brilhante e terminando numa covinha que sempre causava a Artur um arrepio e uma compulsão para a beijar exactamente naquele local, causando cócegas a Maria. Eram a parte do seu corpo que ele mais gostava, o que causava sempre alguma surpresa a Maria. Estas estavam agora marcadas pelos anos de imobilização no leito, com os ossos da coluna bem salientes e definidos e terminavam agora não na sensual covinha mas numa espécie de fina bainha de pele aparentemente esticada entre os ossos da bacia. As mãos eram o culminar de uns braços finos e cadavéricos, também elas envelhecidas e secas tremendo subtilmente. Artur não foi capaz de definir se aquele tremor seria uma sequela ou simplesmente a ansiedade que tomava conta dela.
Artur sentia-se genuinamente agradecido pela dádiva que representava este regresso de Maria mas receava que aquela mulher estivesse tão marcada pelos anos de sofrimento e solidão que enfrentara que não pudesse nunca voltar a ser a mesma Maria que o completava.
Avançou. Prostrou-se em frente a ela e encarou-a nos olhos. Os olhos fundos e molhados não revelavam nada. Nem alegria nem tristeza, nem calma nem revolta, estavam simplesmente vazios. Maria olhou-o e ele assustou-se. Aquela não era Maria... aproximou-se dela e afagou-lhe a face com as duas mãos, um gesto que ele sabia condicionar uma reacção por parte dela. Ela inclinava sempre a cabeça para se aninhar nas suas mãos. Nada. Artur aproximou-se lentamente e rodeou-a com os braços, puxou-a para si e abraçou-a sentindo aquele corpo magro tenso, contraído, como se lutasse contra uma vontade interior de se libertar. "Maria minha querida, estás bem? Por favor, fala comigo... eu sei que provavelmente não te reconheces mas... tu sabes, vais recuperar! Porque não me abraças Maria?" Artur sentia-se agora esmagado com a hipótese de Maria não lhe perdoar pelo acidente.
Até que Maria falou. Uma voz débil e alterada, sem sentimento, sem emoção, sem comoção "Quem és? Meu marido, meu irmão? Não sei quem és... não sei quem sou."
Esta agora! Maria consciente mas perfeitamente amnésica. Cada vez que escrevo mais uma parte deste verdadeiro drama, menos sei acerca do que poderá ser o futuro desta malta. Ana, diverte-te!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Cultura com vista para o Tejo

Sempre gostei de bibliotecas. O cheiro dos livros, o silêncio, a curiosidade na descoberta de novos livros, os bibliotecários mal-encarados, as estantes em madeira trabalhada. Depois gosto (muito) de ler. Infelizmente menos do que quereria, o tempo, a vontade, o cansaço não dão para mais. Neste momento tenho uns 5 livros em lista de espera enquanto vou lendo um de cada vez. Não sou daquelas pessoas que lê mais do que um livro de cada vez. Preciso de entrar incondicionalmente dentro da história, sem confusões, sem distracções. Neste momento estou a acabar um de uma autora bem nossa conhecida. A história do encontro ocasional entre duas mulheres e como a história de vida de uma ajuda no casamento de outra. Alguém conhece? Acho que pelo menos um de vós conhece muito bem a história.
Mas dizia eu que gosto de bibliotecas. Ao fim de alguns anos de ausência (não contando com as visitas durante o curso, que essas eram por obrigação e pouco prazer!) a M. desenterrou esse nosso velho prazer através do nosso filhote! Porque queremos que a formação cultural dele seja (muito) melhor do que foi a nossa, porque acreditamos que o saber lá contido pode ajudá-lo a ser um Homem melhor, porque a leitura deve ser um prazer cultivado desde cedo. Assim, além dos muitos livrinhos que andam espalhados lá por casa, os dele e os nossos, tentamos sempre que possível levar o Gabriel (sim, G. de Gabriel) à biblioteca, às actividades, às brincadeiras.
Gosto de lá ir por tudo isso mas também pela magnífica vista que vêem na foto!

Devia haver mais cabeleireiros homens que não fossem nem gay, nem caros!

Detesto esperar! Seja pelo que for. Se houver fila só fico se não puder adiar ou fazer noutro lado qualquer. E é por isso que eu ADORO a internet! Ir ao banco? Pagar contas e impostos? Fazer as compras do mês? Comprar viagens? Pedir assistência a um qualquer aparelho doméstico? São cada vez mais as coisas que se podem realizar através da internet e eu dou alvíssaras por isso!!
Infelizmente, há coisas que (ainda) não se podem fazer no conforto do lar. Um exemplo disso é cortar o cabelo. Coisa que tive de fazer há alguns dias. Para minimizar o eventual tempo de espera tenho uma técnica: nunca corto o cabelo sempre no mesmo sítio! Tenho 3 ou 4 locais de referência e, assim, se num as coisas estiverem demoradas posso sempre ir ao outro e assim, sucessivamente. Para mim o ideal é chegar, sentar, lavar, cortar, pagar e sair!
Contudo, existe sempre aquela variável estranha que estraga toda esta matemática. Eu tento cortar o cabelo durante a manhã (ao abrir do cabeleireiro) num dia de semana pois, o sábado é dia de todas as mamãs, tias, avós e netas irem arranjar o cabelinho. A variável neste caso são... as reformadas! Desta última vez ainda tive de esperar uns bons 20 (!!!) minutos até ser atendido porque uma velha gaiteira estava a pentear o seu ralo cabelo!! E se matraqueava a mulher!! "Ah a Soraia Chaves isto, a Rita Pereira e o Angélico aquilo, a Bárbara e a Catarina estão cada vez melhores, ai as novas mamas da Maia (ou Maya?), e a outra que teve um AVC é para não fumar tanto, porque as mulheres que fumam são umas porcas e no meu tempo levavam um tabefe do marido e nunca mais saiam de casa..." Ufffff. Santa pachorra...
Ah! Um pequeno pormenor ás senhoras cabeleireiras que lêem isto: os homens NÃO GOSTAM de percorrer o caminho entre onde lavam a cabeça e a cadeira com a toalhinha enrolada na cabeça, tipo turbante, OK?? Obrigado!

Disclaimer

Eu NÃO leio Nicholas Sparks. Um homem não lê essas coisas!
Eu NÃO sou um incorrigível sentimentalão disfarçado! Sou um homem frio de sentimentos, que não chora!
Eu NÃO escreveria NUNCA uma história romântica a não ser que fosse desafiado! Um homem nunca recusa um desafio!
Eventuais textos LAMECHAS envolvendo casais apaixonados que possam ter lido neste blog são pensados racional e maquinalmente e não reflectem em nada a minha experiência pessoal! Um homem só diz "amo-te filha" depois do sexo! Isto se não adormecer antes.

(Esta blogonovela está a dar cabo da minha reputação...)

O Silêncio do Amor, parte 9

Caminhavam lentamente pela cidade, sem rumo, sem objectivo. Um estranho, cheio de pressa e com ar atarefado, como sempre estão os habitantes das cidades, barafustou em surdina "Malditos pombinhos, sempre de mãos dadas a ocuparem o passeio...", pois era esta a imagem que aqueles dois recém-conhecidos davam, a de um casal apaixonado. Vaguearam em silêncio por algum tempo até pararem junto ao rio que banha a cidade. Apesar do frio estava um sol particularmente radioso. Artur olhou para Alice e reparou naqueles olhos verdes, profundos mas tristes e sentiu que já não fazia sentido, não ali, naquele momento, toda a insegurança que sempre sentiu em relação a Alice. "Quem és tu Alice? A minha mão teima em não largar a tua mas não sei nada de ti. De mim já sabes tudo o que há para saber...". Alice não olhou para ele. Mergulhou antes o seu olhar nas águas do rio e parecia falar para ele. "Não sei quem sou... Sei que sou mãe, é isso que tenho sido desde que Maria nasceu. Refugiei-me nesse papel quando me vi abandonada por um homem que julguei conhecer e encerrei o meu coração a outros para além da minha filha. E as coisas andavam bem. Trabalho num local onde poucos me vêem para além da empregada com o avental preto. Ali as pessoas olham-me mas não me vêem, sou... ninguém." Dirigiu o olhar a Artur e continuou "Até tu apareceres. Incomodava-me o teu olhar que tentava penetrar em mim. Tu sempre me viste. Só tu me viste... tentei afastar-te mas tu vinhas sempre, uma e outra vez. E eu fugia mais para dentro de mim. Até que te encontrei no hospital. Senti a ternura no teu olhar e, ao mesmo tempo como foste sério no tratamento que nos deste. Nunca tinha sentido o arrepio que senti quando toquei na tua mão e adormeci nessa noite contigo no pensamento. Foi por isso que hoje te procurei..." Quando terminou, Alice sentia-se a tremer, o estômago parecia contrair-se, o coração batia-lhe nos ouvidos, não sentia as mãos, as pernas não lhe obedeciam. Não compreendia o sentimento que tomava conta dela e que a levou a desvendar-se para aquele homem, um desconhecido. Que convulsão emocional fora aquela? Virou-se para Artur aguardando pela sua reacção e temendo que ele fugisse, achando-a louca.
Artur suspirou e sorriu. Pegou-lhe nas mãos e ficaram assim, frente a frente por uns minutos, cada um perscrutando o outro na tentativa de lhe adivinhar os pensamentos, desvendar emoções. "Esse arrepio de que falas... ainda hoje o sinto!", disse finalmente Artur, quebrando aquele silêncio ruidoso que se instalara entre os dois. Aproximaram-se. Olhos nos olhos. Artur podia agora sentir a respiração acelerada de Alice e ela cheirava já o perfume que Artur tinha colocado naquela manhã. Ela deu um pequeno passo em frente, até que os seus pés encontraram os dele e fechou os olhos. Ele puxou as mãos de ambos de encontro ao seu peito e beijou-a. Alice estremeceu ao sentir o calor dos seus lábios na sua testa. Sentia o corpo de Artur, o desejo que dele emanava, mas a respiração dele era lenta, profunda e controlada. Alice sentiu-se segura e respeitada junto daquele homem cujo corpo tremia de expectativa mas que ele optara por contrariar.
"Sinto que não serei capaz de te largar nunca Alice."
"Eu sei Artur... vamos?"
"Para onde?"
"Lembras-te que deixei a Maria com uma vizinha?"
"Sim..."
"Vens comigo?"
"Sim."

Uffff. Este foi o que mais me custou a escrever!!! Sem o contexto do hospital torna-se mais difícil, os diálogos não fluem como deviam, as cenas tornam-se mais desfocadas na minha mente. Ok, Ana, não se beijaram apaixonadamente, achei que seria um pouco precoce, uma vez que são ainda desconhecidos apenas com sentimentos indefinidos um pelo outro e perece-me que são ambos demasiado sérios e com demasiadas amarras emocionais para se lançarem numa aventura dessas!!! De qualquer forma agora é que não sei o que lhes vais acontecer mas tenho a certeza que já tens alguma na manga!!! Trata bem dos nossos pombinhos!!!


sábado, 7 de março de 2009

Parte 7, O Silêncio do Amor

Artur acordou ao som de "Pictures of You" dos The Cure. Estranha coincidência, pois tudo aquilo que restava da Maria que ele conhecera existia agora apenas nas fotos espalhadas pela casa. A noite tinha sido boa conselheira, precisava de falar com Maria. Preparou-se o melhor que pode e vestiu a roupa que Maria mais gostava de lhe ver: uma camisola de algodão cor-de-rosa (que ela insistia que era "salmão") com umas calças de bombazine azul claras com um corte bem moderno, tipo jeans Levi's 501.
Optou por ir de autocarro, precisava de estar concentrado e organizar todo o seu discurso. No entanto, os seus pensamentos fugiram para as lembranças de Maria. Maria era fisioterapeuta. Conheceram-se logo após a conclusão dos cursos. Artur tinha feito uma entorse no pé, num daqueles jogos de futebol com os amigos e ela fora a sua terapeuta. Fascinou-o a sua energia, uma luz invisível que a rodeava e que fazia com que se tornasse impossível não reparar nela. Talvez fossem aqueles olhos verdes brilhantes, como se o mar ondulasse encurralado neles. Mas ele era demasiado tímido e havia uma corte enorme de homens, doentes e colegas, de volta dela. Contudo, algo nele a prendeu. O mistério que os olhos dele continham, confessou ela mais tarde, que faziam adivinhar que havia muitas coisas escondidas atrás daquela aparência vulgar, apesarde ele não ser um homem feio. Fora ela que o descobrira, aos poucos e tinha derrubado todas aquelas defesas das quais ele se rodeara. Quando Artur se apercebeu do que se estava a passar, já ela o beijava em pleno refeitório do hospital, sem apelo nem agravo! Na primeira vez que se amaram conceberam Daniel e sabiam que nunca se iriam separar. Até que aconteceu...
Quando terminou a espiral de memória e sentmentos, o elevador abria-se no 8º andar, da neurocirurgia. As suas colegas elogiaram-lhe o aspecto, ele que aparecia sempre por ali com a farda ou então com os olhos cansados e a roupa desalinhada, após mais uma noite de serviço. Entrou no quarto de Maria e observou-a demoradamente antes de se sentar. "Será que as pessoas acreditam mesmo no aspecto de Bela Adormecida que têm as personagens dos filmes, quando estão em coma?" Maria apresentava-se pálida, os lábios quase sem cor. O cabelo, outrora brilhante e farto, estava rapado por causa do monitor da pressão cerebral que lhe perfurava o crânio e estava suturado ao couro cabeludo. Uma cânula de traqueostomia entrava-lhe pela base do pescoço e estava conectado aos tubos do ventilador que trabalhava ritmadamente e com um sopro demasiado parecido com um gemido. Um tubo de plástico flexivel saía-lhe do abdómen e estava ligado a um sistema de alimentação artificial. Um balão de soro estava ligado ao catéter venoso central que lhe perfurava a virilha até à artéria femoral. Um saco de recolha de urina denunciava uma algália. O limites do seu corpo confundiam-se já com os limites do colchão. Os monitores mantinham-se placidamente a desenhar as linhas que demonstravam que Maria não tinha dor. Física, pelo menos.
Sentou-se. "Maria, temos de falar." Subitamente o alarme do monitor dispara e Artur constata que o coração de Maria tinha acelerado! Ele continuou calmamente: "Foste o meu primeiro Amor. Contigo descobri-me e descobri-te, descobri o prazer, a paixão, a vertigem, a calma, a segurança, a paternidade. Mas também provei a dor. Ainda a provo hoje, a todas as horas. Eu amo-te Maria, mas não este corpo que não és tu! Eu jurei cuidar do teu corpo até ao final dos teus dias até porque fui um cobarde! Perdoa-me, não consegui desligar-me de ti e desligar estas máquinas. Sei que não querias isto... esta não és tu, é apenas o teu corpo." O monitor mostrava agora frequências cardíacas irregulares. "Venho hoje aqui falar-te de Alice. Sinto com ela hoje o que sentimos juntos à 16 anos. Estou morto sem ti, Maria. É o Daniel que me impele a continuar mas Alice... Alice ilumina o negro que me envolve, alivia a dor que me fustiga, alimenta o meu ser definhado. Eu... eu... amo-a. Perdoa-me, nunca te abandonarei, serás sempre a dona de parte do meu coração... Perdoa-me." O silêncio tomou conta do quarto, Artur olhou o monitor... um batimento fora do compasso e todas as linhas mostravam agora frequências baixas, típicas de quem dorme um sono profundo e descansado. O peito de Maria subiu, contrariando a tirania do ventilador, revelando um suspiro e Artur gela ao perceber um subtilíssimo esgar facial de Maria. Um sorriso. Artur verte uma lágrima, beija a face imóvel de maria e diz: "Obrigado... não esperava outra coisa de ti."
Saiu do quarto e pensou que lhe apetecia mesmo um café.
Já está!! Um pouco longo, desculpem, mas precisava de esclarecer a relação entre Artur e Maria já que alguns comentários o acusavam, injustamente de ser um prevaricador, de estar de alguma forma a trair Maria. Começo a gostar deste tipo... Agora amiga Ana, sempre quero ver como ele se safa no café!! Ah, e não ponhas a Alice de folga!!!!

O Silêncio do Amor, parte 5

O frio da noite que rodeia Artur parece estar agora dentro dele. O seu estômago, pulmões, garganta ficaram gélidos com a visão de Alice correndo para dentro das Urgências. As suas Urgências. O coração bate agora descompassado e as pernas tremem quando inicia a marcha. Ao entrar no hospital é bafejado pelo calor do ar condicionado e pelo ruído das vozes misturadas com as máquinas e os intercomunicadores, roucos e imperceptíveis. Ali sentia-se bem, era como um espectro que vagueia sem ser visto, estava no seu território e isso deu-lhe a coragem que iria precisar para encarar Alice.
Dirigiu-se ao guichet das incrições, "Aquela menina ali, que acabou de se inscrever? Como se chama?" -"Olá Enfº Artur... Olha, chama-se Maria como..." a voz da secretária hesitou e esmoreceu antes de terminar "... como a sua esposa." Maria. Maria estava em coma há mais de 4 anos. Artur sentiu-se vergado por um sentimento de culpa e desonestidade. Ver Alice no café era uma coisa, sentir-se entusiasmado por a ver ali, debaixo do mesmo tecto que protegia também a Maria era outra. Quase pecaminoso. "Mande entrar a menina, por favor."
Alice estava desesperada. Bem diferente da mulher altiva e orgulhosa que conhecia do café. O cabelo desalinhado, pálida, segurava no colo uma menina de cerca de 5 anos. Maria estava lívida, os lábios negros e respirava ruidosamente. "Olá Ali... errgg... minha senhora. O que se passa com a menina? perguntou Artur, sentindo que a língua seca não lhe queria obedecer. "Por favor Enfº. A minha filha está com imensa dificuldade em respirar... já anda doente há uns dias mas hoje..." Artur encaminhou-as para a sala de tratamentos, preparou os aerossóis e administrou tudo mesmo antes de falar com os médicos. Perguntava-se porque aquela auto-confiança que o dirigia naquele ambiente, tão adverso para muitos, não se manifestava noutros aspectos da sua personalidade.
Maria melhorou rapidamente. Artur acompanhou a evolução da menina à distância, fingindo-se ocupado com outros doentes mas sempre atento. Subitamente, Alice surpreende-o quando se dirige a ele, sorrindo "Obrigado, foi muito atencioso da sua parte ter tratado da Maria tão depressa!", Artur tinha as mão frias e suadas e o tempo que demorou a responder pareceu-lhe uma eternidade "ahh... ora essa... não foi nada. As melhoras!" assim que terminou de falar todo o seu corpo lhe gritou: Estúpido!!! Que melhor oportunidade do que aquela para se aproximar de Alice? Merda, merda, merda.... "Não costuma frequentar o café, aqui perto? Sim, agora reconheço-o! Obrigada, da próxima vez que lá for tem o cafezinho pago!" Artur sentiu todas as entranhas a fever! Ela lembrava-se dele, reconhecia-o!!! Alice agarrou-lhe gentilmente a mão, agradeceu e saiu. Artur olhou para a sua mão e, inconscientemente, acariciou a face.
Chegou a casa depois do turno. Daniel, o filho, preparava-se para sair para a escola. "Bom dia pai! Como está a mãe?" Artur estremeceu, não tinha visitado Maria naquela noite. Mudou rapidamente de assunto "Outra vez com essa camisola!! Mas não tens mais nada para vestir???". Daniel revira os olhos e responde "Por favor pai... estás farto de saber que os Nirvana são a minha banda favorita."
Então? Safei-me??? Bom, agora já está, já está!! Está do teu lado agora Ana!!!

sexta-feira, 6 de março de 2009

Que grande desafio!!

Acabei de ser desafiado pela Ana C. para continuar a história que ela vinha a desenvolver!! Chiça... que grande responsabilidade!!
Aceito!!!
Agora só resta saber se consigo manter o nível, eh, eh!!
O que se passará com a filha de Alice? Qual será a reacção de Artur? Não percam o desnrolar da história aqui... brevemente!

quinta-feira, 5 de março de 2009

E o Prémio: "Na próxima não te queixes..." vai para....

Rhianna!! Pela sua acertadíssima decisão de voltar para os punhos... perdão, braços do seu namorado Chris Brown!!!!
(Rhianna, se colaborares estás a salvo.)

Uso produtos de higiene de mulher. Serei gay? (título inspirado nessa mítica revista para senhoras que é a Maria)

Nunca me preocupei muito com os produtos de higiene lá de casa. Excepto os produtos para a barba, uso o shampoo, gel de banho, creme de corpo, roll-on e afins que a M. comprar. Hoje depois do banho reparei (com olhos de ver) no deo roll-on que estava a usar: "Glittering Rexona Deo Girl". Girl. Mais uma vista de olhos... Rexona Glittering Girl Gel. Haverá limites nos produtos de higiene que um homem pode usar sem ser gozado em locais públicos, como os balneários lá da piscina? Eu até gosto do cheiro daquilo.


(Será melhor mudar para o Axe Cabedal?)

Prepara-se uma longa noite...

Primeiro a senhora do quarto 3 descompensou, vomitou, entrou em falência respiratória e agora está prostrada e pouco reactiva. Depois a doente do 1 entrou em dificuldade respiratória, com os fármacos para isso ficou hipotensa e agora está em dispneia e hipotensão. A do 2 tosse a cada 5 minutos chama-me a cada meia hora.



Vai ser uma noite loooooooonga....



(Espero não vir a precisar das etiquetas)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Quem desdenha... (parte 1)

Ele andava naquela escola desde sempre. Estava já no 10º ano e era relativamente conhecido por uma franja da população da escola, aquela um pouco mais marginal, gótica ou com um certo gosto pelo alternativo e cujo ponto de convergência era a música. Tinha a vantagem de receber cassetes com gravações dos últimos álbuns dos grupos mais conhecidos e de ser o primeiro a conhecer novos grupos que eram já sensações no estrangeiro. Era um primo, residente em Paris e um verdadeiro amante de música que lhe enviava esses tesouros.
A sua popularidade aumentou quando, no auge da popularidade dos Nirvana, logo após a edição de "Smells Like Teen Spirit", ele tinha já na sua posse não só o álbum mas também uma t-shirt oficial do grupo. Rapidamente começou a ser reconhecido por isso e, aqueles que não conheciam o seu nome, o referiam como o Nirvana. O nome até nem era descabido, pois ele era talvez quem mais conhecia o grupo e a sua música, bem como factos acerca dos elementos do grupo. Além da t-shirt, os seus cadernos de capa negra estavam forrados com fotos da banda e, entre os apontamentos das aulas era frequente encontrarem-se excertos das letras depressivas de Kurt Cobain.
Mas ele não era, de todo, um marginal. Movia-se bem entre as várias tribos do liceu, era reconhecido pelos professores porque era um bom aluno, participativo e dinamizador das aulas. Não era o típico adolescente calado e metido em si mesmo, era confiante, alegre, comunicativo, fazia desporto, jogava à bola na equipa de futebol da cidade e isso garantia-lhe o contacto com muitos grupos diferentes e o acesso a diversos grupos com interesses bem diferentes uns dos outros.
Até que um dia chegou Ela...

terça-feira, 3 de março de 2009

"Se é mal educado ou não, não sei, mas pelo post dá para ter uma ideia. Pelo que explica da situação que motivou a queixa, sem dúvida que o queixoso não tem a mínima razão. A estupidez é uma característica gritante da espécie humana, e esse senhor tem, com certeza, a sua quota parte. Não querendo falar do facto do queixoso ser cigano, a verdade é que sim, regra geral estes não sabem respeitar os outros e manifestam a sua falta de respeito das formas mais estúpidas possíveis. Mas não posso deixar de considerar que o sr. enfermeiro deveria ter um mínimo de boa formação para saber lidar com as críticas, mesmo que infundadas como neste caso, duma forma mais adulta e, sobretudo, profissional. Ao fotografar a queixa e gozar com o quase analfabetismo do utente tornou-se tão ou mais estúpido do que ele."
Existe uma ideia mais ou menos disseminada que, de uma forma geral, os enfermeiros que trabalham em urgência são umas bestas. Compreende-se porque não há situação em que a percepção das coisas esteja mais adulterada do que em situações de stress, seja ele qual for. Também acontece que, de facto, alguns de nós são uns imbecis.
Mas adiante. Não querendo aqui justificar o que quer que seja, nem tão pouco desculpar-me a mim ou a algum dos meus colegas, gostava de apresentar alguns factos à autora deste comentário. Não sei (e para o caso também não é importante) qual é a sua actividade profissional, mas presumo que será alguma coisa longe do atendimento ao público, das realidades e das necessidades reais da população em geral. Isto a julgar pelo tom moralista subjacente ás críticas.
Sou, dia-sim/dia-sim, insultado ou agredido verbalmente. Raro é o turno onde não é posta em causa a minha integridade pessoal e profissional. Já fui agredido fisicamente apenas porque tive o azar de ser a primeira "bata branca" a aparecer por ali. Ossos do ofício, risco profissional? Não. Ninguém cuja missão seja tratar e salvar vidas deve trabalhar sob este tipo de coacção.
Na situação em causa, devo dizer que o doente e os seus 5 (!!) acompanhantes não se retiraram sem antes armarem a "tourada" do costume, com ameaças de porrada, tiros e facadas a mim e aos meus colegas. No tempo que demorou até serem atendidos, entraram e foram postos na rua por diversas vezes, sempre com atitudes agressivas e provocatórias. Não satisfeitos, ainda esperaram pelo fim do turno para me rodearem e ameaçarem, á porta da urgência. Eu tenho que trabalhar aqui mais uns anos (espero), sou reconhecido na rua pelas minhas funções, pelas coisas boas e más que faço, frequento o café da esquina que é dominado por eles.
Achará justo a autora que, estando ela 3 ou mais horas á espera para ser atendida, haja pessoas que tenham via verde no acesso aos cuidados, pelo simples facto de serem agressivos? Não me parece. Ficou melindrada por eu ter publicado a reclamação aqui no blog (não identificada), acha que lido mal com as críticas, sou, na sua opinião, estúpido por gozar com o coitadinho do senhor? Pois bem, deixe-me que lhe diga, gozar não foi propriamente o que me apeteceu fazer quando me vi rodeado por 5 pessoas histéricas a seguirem-me até ao carro, num bairro conotado com o crime e ao qual tenho de voltar quase todos os dias, para exercer a minha função o mais adulta e profissionalmente que sei.
Obrigado.

A minha 1ª vez.

As primeiras vezes nunca são boas. São sempre rodeadas de algum mistério, curiosidade, receio e desejo, tudo misturado numa sopa emocional agridoce. Tenho já alguma experiência, alguns anos de vivências no ambiente hospitalar e em Urgências. O ambiente é sempre adverso, de alguma forma somos o rosto de tudo o que está mal com o SNS, as pessoas estão doentes, maçadas, irritadas, revoltadas e, como eu já escrevi por aqui, até têm alguma razão.

Ontem, contudo, tive a minha primeira reclamação escrita de sempre!!! Ei-la!!!


"Venho por este meio reclamar que enfermeiro Miguel C. é o mal educado deve pensar que vimos cá por gosto e não com dor. Peço que tomem uma iniciativa como eu á mais doentes a queixarem-se dele. é o ignorante obrigado.

Entrei com dores e ele mandou-me embora"


Claro que fiquei extremamente afectado por este texto, que fere de morte todo o meu orgulho e amor-próprio e toda a imagem que tinha de mim próprio. Nem dormi na noite passada, ruminando mentalmente nas razões de tanta indignação, tão eloquentemente descrita acima.

Já repararam no texto, a inspiração saramaguiana visível na quase ausência de pontuação? E a rudeza no discurso, directo e sem floreados estilísticos, espelhando a mágoa e revolta do queixoso? A última frase é devastadoramente simples revelando a tragédia da situação: "mandou-me embora." A ênfase dada em "é O mal-educado", "é O ignorante" remete para algo maior que eu próprio. Eu não sou um mal-educado ignorante. Não, eu sou O mal-educado ignorante, o exemplo máximo destas duas características.

Hoje, após aturada reflexão nocturna devo dizer que o queixoso teve razão. Afinal foi acometido de um torcicolo fulminante com perigo imediato para a sua vida. Chegando ao serviço que o devia atender primorosamente (uma vez que tudo o que lhe está associado, incluindo o meu ordenado,é pago com o dinheiro dos impostos e com a taxa moderadora que acabou de pagar) depara-se com um cretino que o remete para a sala de espera, onde se encontram cerca de 30 pessoas que não se encontram em tão emergente situação, dizendo-lhe que espere pela sua vez??!! Mas que país é este, onde situações emergentes e eminentemente mortais como um torcicolo fulminante, são remetidas para a sala de espera? Não há direito. Puno-me, arrependido por ter sido levado pelo laxismo e pela preguiça. Afinal só tinha cerca de 10 pessoas a aguardar os respectivos tratamentos, poderia bem ter largado tudo para fazer a minha função principal: salvar uma vida das garras do malfadado torcicolo. Por isso eu peço... perdão.

Como pequena oferenda de paz ao queixoso, eu deixo aqui um pequeno vídeo que será, concerteza do agrado do doente e toda a sua família (peço perdão se, pelo facto de lhes ter causado ansiedade, eles estiverem roucos pelos gritos que deram aos meus ouvidos) pois este é um grupo musical representante dessa comunidade.

Aqui fica então:



Mais uma vez, peço desculpa pelo incómodo causado.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Guerra dos Sexos.

(Mais) um óptimo texto da Ana C. colocou-me a reflectir sobre esta história da transexualidade. Afinal, quem são estas pessoas, o que se passa com elas? Do ponto de vista puramente clínico, são pessoas que objectivamente não se encaixam no género que o seu código genético lhes definiu. Porque, basicamente, existem mecanismos fisiológicos (normalmente hormonais) que não batem certo com o sexo com o qual nasceram. Estas pessoas são, por norma, emocionalmente frágeis. Basta imaginar (se é que isso é possível) o que é sentir-se preso num corpo que não queremos, sujeitos a regras sociais baseadas no género, onde homem e mulher têm um certo papel a cumprir e ter a constante vontade de passar para "o outro lado".
Quero eu dizer com isto que as pessoas nestas condições não vêm, certamente, a vida com os mesmos olhos que o resto de nós. As regras não se aplicam a eles, não são compreendidos e são marginalizados, vivem como espectros deles mesmos. E, por isso, devem ser acompanhadas por profissionais capazes de reorganizar a sua constituição psíquica e emocional. E é precisamente aqui que está a grande falha em todo o processo.
A razão de a transexualidade (aliás, como a homossexualidade) ter tantos problemas em ser aceite socialmente tem a sua raiz, sem dúvida, numa formação moral baseada em valores religiosos deturpados. Contudo, existe um certo "freak show", uma espécie de circo moderno mas, em vez da Mulher com Barba, do Homem Elefante, do Gigante ou dos Anões (todas situações relacionadas com desequilíbrios fisiológicos), temos homens com vagina e mulheres com pénis e toda uma série de sub-espécies daqui resultantes. Ainda por cima associados ao mundo da pornografia. Quem de nós já não viu vídeos porno com algumas destas personagens. Existe aliás um certo sentimento de chacota ao enviar a um amigo um vídeo de uma voluptuosa mulher em poses sensuais que, apenas no final do vídeo revela que possui um vigoroso e erecto falo em vez de uma vulva.
Há algum tempo, numa revista de um jornal "sério" (DN, penso) o tema de capa era a entrevista a um homem (mulher?), estrela e multi-milionário da pornografia norte-americana, cujo sucesso residia num único facto: a convivência de um aspecto 100% masculino (careca, uma "pêra" bem aparada, abdominais e peitorais atléticos, roupa e botas de "motard") com uma vulva/vagina muito bem definida. Afirmava o Sr. (Sra.?) que era tão ou mais homem do que qualquer outra pessoa do sexo masculino e que, o facto de não ter um pénis não alterava isso em nenhum aspecto. Por outro lado, conheci um homem que mudou de sexo. Tudo nele apontava para "mulher" excepto um pequeno pormenor: nunca abdicou do pénis. Compreende-se que, após anos de identificação com um género, de formatação social a um papel de homem/mulher exista algum último receio de abandonar aquele aspecto em particular, aquele pormenor que o liga a uma vida, ao conhecido, em abandonar aquela persona e assumir frontalmente um outro corpo, uma outra identidade. Obviamente que há imensos casos em que tudo corre bem e a pessoa anseia por cortar com a sua velha vida e abraçar uma outra, completamente nova, mas os casos em que tudo corre bem não nos colocam problemas.
Face a isto, a esta indefinição, esta incerteza, estará nas nossas competências impedir que a pessoa fique numa "zona cinzenta", onde possui caracteres masculinos e femininos simultaneamente? Será um atentado à liberdade pessoal de cada um obrigar a pessoa a realizar uma mudança a 100%. Do ponto de vista médico, será ético deixar o doente decidir o que fica e que vai? Poder-se-á reger esta mudança e chegar a uma conclusão de "tudo ou nada"? No caso descrito no texto da Ana, não se poderia ter deixado todo o aparelho reprodutor feminino numa pessoa que se afirma homem e, simultâneamente, tomar medidas para impedir a fertilidade dessa pessoa? Onde cabem estas pessoas que, objectivamente podem ser homens ou mulheres dependendo do ponto de vista? Não está em causa aquilo que cada um faz com o seu corpo, mas sim a definição clara do género e da capacidade ou não de carregar e fazer nascer uma criança e isso, por definição, só é possível por uma Mulher! E uma mulher que decide que quer ser homem mas que mantém o aparelho reprodutor não é uma Mulher.
Em resumo colocam-se duas grandes questões: não deveriam estas pessoas ser (bem) acompanhadas do posto de vista psicológico e emocional antes, durante e depois do processo de mudança? Poderão estabelecer-se mecanismos de controle, ao dispor dos profissionais, que permitam evitar situações consideradas "anormais"?.
Apesar de tanta consideração, sinto que há muito mais a dizer acerca do tema. Mas uma certeza eu tenho: não sei nada, não tenho nenhuma certeza, as repostas ás minhas perguntas podem ser simultaneamente "sim" e "não".