(AVISO: texto altamente tendencioso e parcial)
Desde os primórdios dos tempos hospitalares que existe uma rivalidade, uma certa animosidade subreptícia, um ascozinho mal escondido entre dois grupos: os das Urgências e os dos Cuidados Intensivos. Digo já que a culpa não é nossa, é antes dos emproadinhos dos Intensivos.
Vejamos, essa malta tem a mania que "Oh, nós é que somos bons com os nossos monitores topo de gama e os nossos ventiladores digitais." Ai e tal que eles trabalham com material com tecnologia de ponta e com fármacos super-potentes e o camandro. E então? Ora, com os doentes monitorizados até aos tomates, ventilados, sedados, ali controladinhos e sempre com os srs. doutores sentadinhos á cabeceira, ora assim também eu era enfermeiro! Eu queria era vè-los ali, no campo de batalha onde os doentes chegam vindos sei lá de onde, sabe-se lá com que doenças atrás deles e com queixas que não lembram ao Diabo!
Os meninos, quando vêm buscar um doente lá vèm eles com os seus monitores e as suas bombas e tal e coisa e depois olham de lado para nós e dizem logo "Ahhh, esta diluição não é a que utilizamos no nosso serviço..." E eu só tenho vontade de dizer " Oh senhor ministro dos doentinhos, então ensine-me lá qual é a diluição perfeita que eu, entre salvar a vida do doente e responder às 32489 solicitações dos médicos não tive tempo de reflectir qual a diluição que melhor vos serviria ó sapientíssimo." "Então estes acessos venosos estão funcionais?", "Funcionais? Qué lá isso? Eu quando pico um doente faço-o por forma a falhar a veia e depois, não contente com a minha incompetência espeto-lhe um soro a correr fora da veia qué para doer o máximo possível. Funcionais... pfff, que ofensa!"
Pelo contrário, quando somos nós a ir ao serviço deles lá estão á nossa espera, batas descartáveis, máscara e luvas enfiadas. Só falta o cartaz a dizer "Aviso: pulguentos a caminho", os sacanas. Ai porque nós lidamos com acessos arteriais. Coitadinhos... um acesso arterial é só um cateter normal mas enfiado numa artéria pá!
Ninguém os atura...
Obviamente que estou no gozo mas existe mesmo uma certa animosidade entre quem trabalha na Urgência e quem trabalha nos Cuidados Intensivos. Por outro lado, não é menos verdade que existem certas características que definem ambas as equipas: os Intensivos mais fechados, muito ligados à técnica e menos ao doente e os das Urgências mais abertos, mais receptivos à mudança e ao desconhecido. Mas, se virem bem, isso só reflecte o ambiente em que cada equipa trabalha...