Sexta foi dia de noitada! Daquelas à séria, all night long como antigamente. Uma noitada como já não fazia há... bom, há anos! Por acaso coincidiu com o primeiro aniversário aqui do estáminé mas já estava combinada há muito tempo. E, desde o dia em que combinámos tudo que eu sabia que havia de terminar a noite numa qualquer discoteca do sub-mundo gay. Mas já lá vamos...
Bairro Alto. Terminámos o jantar perto da 1 da matina e saímos para as ruelas calcetadas do famoso bairro lisboeta. A tradição ainda é o que era, mistura de tribos em cada rua, em cada esquina, em cada bar. Se há coisa que gosto no Bairro é esse despretenciosismo, esse bem receber quer os betos, quer os dreads, quer os afro, os anarcas, os hippies, os bêbados e os drogados. Bom, estes últimos espalhados pela calçada propriamente dita! Seguimos até encontrar um grupo de amigos do nosso cicerone. Um grupo só de homens que se cumprimentaram com beijinhos ternurentos na face e um afecto especial... Não é que tenha ficado chocado, longe disso! E depois já estava avisado ou não fosse o nosso guia um gay assumido!
Primeira paragem: Salto Alto. Um barzinho design com música no máximo. E esta é uma das grandes contradições que encontro na noite: se o propósito é estar com os amigos, porque raio acabamos por nos enfiar em locais onde o diálogo é impossível? Mas pronto, as pernas lá cederam ao ritmo das batidas e a noite estava lançada! E estávamos nós a dançar no nosso canto quando se nos afigura uma verdadeira personagem do passado, anos 80...
Não muito alto, cabelo grisalho até ao fundo do pescoço, penteado por trás das orelhas. Olho azul penetrante, anéis em quase todos os dedos e um casaco preto comprido que lhe chegava aos tornozelos. Logo o baptizei como "Mestre Gay"! Cumprimentou (beijinho, beijinho) um dos rapazes que se tinham juntado a nós entretanto e logo depois o meu colega. Uma breve conferência e logo foi apresentado ao resto do grupo. Pelos vistos é uma figura ilustre e conhecida da noite do Bairro, proprietário de um restaurante lá do sítio. Quando fomos apresentados eu estiquei o braço para um másculo aperto de mão enquanto ele inclinou a face para mais um beijinho... 1 a 0 para o aperto de mão! "Fechámos" o bar eram quase 3 da madrugada e, surpresa, surpresa (NOT) lá me informaram que afinal já não íamos para o Lux, que tínhamos sido convidados pelo Mestre para o acompanharmos a um outro sítio onde entraríamos sem qualquer tipo de dificuldade e sem pagar. Porreiro pá! Vamos a isso!
Subimos o Bairro, passámos o Príncipe Real e eis que chegámos ao nosso destino: Trumps (ou simplesmente T)! Concentração de homens por m2: cerca de 95%! Caramba, nunca tinha visto uma discoteca com tantos gajos! A verdadeira, a genuína "Festa da Mangueira"!!! Segundo uma amiga (hetero) que nos acompanhava:
"Nunca vi tantos gajos bons juntos!!"
Ao que respondi: "´Pois, só é pena que gostem de comer o mesmo que tu!". Ou seja, não tinha concorrência! Mas também, as (poucas) miúdas que lá estavam também gostavam do mesmo que eu... E por falar em miúdas, reparei logo numa mulata que dançava (muito sensualmente) em cima de um pequeno palco mas logo fui informado que se tratava, na verdade de um transexual... daí para a frente tentei estar mais atento mas, na verdade, já não sabia quem era quem!!! Foi giro ver todo o jogo de sensualidade que se vê nestes tipo de ambientes: olhos nos olhos, a dança dirigida sensualmente para quem se pretende conquistar, o jogo de sedução "agora aproximo-me, agora não" e, finalmente, a decisão de agarrar o outro e beijá-lo apaixonadamente... ele a ele! Mas o mais giro da noite aconteceu cerca das 4h. A porta da pista abre, um ENORME homem, todo musculado, careca e vestido de preto com a agressividade estampada na face irrompe pela pista. "Vai haver merda..." pensei, enquanto ele se dirigia a um rapaz que dançava no meio da pista. O gorila avança para ele e... prega-lhe um french kiss à séria, enquanto se "encaixam" numa sensual dança corpo-a-corpo!!!
Mas, muito sinceramente, foi muito giro!! Uma noite bem passada na companhia de gente engraçada e, acima de tudo, muito gentil. Todos foram excepcionais em receberem-nos bem num local que sabiam que nos era estranho mas que, no fim de contas, é apenas mais uma discoteca onde as pessoas expressam a sua liberdade e se divertem como em qualquer outra. Contudo, não posso deixar de manifestar uma pequena frustração pessoal. Nas cerca de 2 horas e 30 minutos em que estive na pista, nem uma abordagem, nem um pedido para dançar, nem sequer um simples olhar mais fixo. Ora! Ninguém me ligou nenhuma... e isso é coisa para frustrar um homem!