sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Por outro lado, 2011...

... será sempre um ano determinante para o resto da minha vida e a da minha família. É o ano da definição do nosso futuro, o ano do sonho! Mas isso será determinado lá mais para a frente, para o meio do ano. Por agora acabo 2010 a trabalhar e a trabalhar recebo 2011. e que isso seja o augúrio que trabalho não me faltará em 2011!

Correndo através de 2010!

Mais do que resoluções, prefiro rever o ano que acaba e relevar coisas importantes. E 2010 foi um ano de viragem no meu estilo de vida: cumpri 1335,91 km em corridas por essas estradas fora!
Nada mau para um tipo com dois empregos!

2010 fina-se a passos largos.

Tenho cá para mim que esta Festa do Revelhão é um bocado exagerada. Pois sim, que festa é festa e é sempre bom beber uns copos e passar a noite a dançar com os amigos mas detenhamo-nos nas razões pelas quais festejamos: o fim do ano no calendário.
Na verdade, para a maioria dos mortais que vibra com a passagem do ano, a única coisa que vai mudar é mesmo o calendário e, no meu caso, também a agenda. No dia 1 está tudo igual. Ok, haverá uma ressaca mas no essencial está tudo na mesma. A nossa conta bancária não aumentou (excepto se ganharam o Euromilhões), não estamos nem mais novos nem mais bonitos, continuaremos a trabalhar no mesmo sítio, o ordenado não aumentou. O Governo continua a ser um grupo de sacanas, a economia arrasta-se, e o desemprego aumenta. Mas, por incrível que pareça, até vai haver grandes mudanças no da 1 de Janeiro de 2011! Os impostos vão aumentar assim como os transportes e as portagens, só para citar alguns, e os ordenados vão diminuir e os subsídios vão desaparecer.
Por isso maltinha, festejem! Festejem a bom festejar e saúdem 2011 com todas as vossas forças. Afinal, 2011 vai trazer-nos a todos muito sexo... porque em 2011 vamos ser fodidos de todas as maneiras e feitios!
5, 4, 3, 2, 1...
VIVA 2011!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Olha, olha, esta agora...

Já se percebeu que, na maioria dos casos, quem comenta nos blogs sob o cognome "Anónimo" é gente estúpida. Estúpida no sentido intelectual da coisa, gente que não estava presente quando Deus-nosso-senhor-todo-poderoso distribuiu a inteligência. Depois, claro, só escrevem é merda.

Portanto, houve um/uma anónimo que comentou o texto imediatamente anterior a este e que afirmou que era ele/ela que me pagava o ordenado por eu ser funcionário público. Quanto a isto só tenho uma coisa a dizer: não seja estúpido senhor/senhora! Se os anónimos deste país pagam impostos, não é menos verdade que eu e todos os outros funcionários públicos também pagamos os nossos, e bem! Se há classe que não foge ao fisco, esses somos nós. O que eu pago de impostos é o equivalente ao orçamento mensal de uma grande percentagem de famílias portuguesas. Por isso, se aqui há alguém que paga alguma coisa a uma outra pessoa, esse alguém serei eu e os outros funcionários públicos que trabalham comigo (já para não falar dos outros!) que pagamos aos anónimos deste país. Pagamos, com os nossos impostos, quando eles estão doentes e não trabalham, pagamos os abonos dos seus filhos (os dos nossos foram cortados), pagamos os seus subsídios de desemprego quando as empresas onde eles trabalham vão à falência, pagamos o seu crédito malparado, etc, etc, etc.

Por isso não me venham dizer que pagam o meu ordenado, argumento que ouço diariamente aliás, o que se só prova que este país está cheio de gente estúpida! E, no caso em particular que dá origem a esta reflexão, o seu comentário está escrito em "linguagem SMS" o que também não abona nada em favor da inteligência de quem escreve.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Rabujice Pós-Natal.

F****-se! São agora 14:30 e já vou com 22h e 30 min de trabalho consecutivo! E o Natal que correu tão bem...
A Urgência, pasme-se, está cheia. E já começaram as reclamações e os insultos, os desabafos de "Só neste País...". Pois bem, porquê só neste país é que as pessoas enchem as urgências? Por duas razões muito simples: em primeiro lugar porque não têm alternativa e, em segundo lugar, porque não querem tomar responsabilidade pela saúde dos seus filhos!
Que merda! Devia haver um Exame de Admissão à Paternidade onde os futuros papás estudassem e debatessem as questões complexas que estão associadas a um filho. Entre elas seriam abordadas as questões relacionadas com a saúde dos putos. Deviam aprender que não se vem ao Hospital assim que o bebé se apresenta com febre e, se o fizerem, ao menos que lhe dêm uma colherada de Ben-u-ron! Deviam aprender que as dosagens dos fármacos aumentam com a idade (ou melhor, o peso) dos meninos. Deviam saber que o melhor remédio para os vómitos é a paciencia (a deles! não a da criança). Deviam saber as medidas iniciais de combate à febre, a dieta para as diarreias. Deviam saber lidar com os "galos" que os miúdos fazem quando caem e batem com a cabeça. Enfim, deviam saber tantas e tantas coisas...
E o que me faz sorrir é que, o mesmo Pai que me bombardeia com os Direitos que lhe assistem e com as complicações que podem ocorrer ao seu filho (informação essa que recolheu, orgulhosamente, na Internet) não aplicou um segundo sequer da sua aturada investigação a aprender como deve um pai lidar com a febre antes de recorrer aos serviços de saúde.
Que eu me lembre, a minha Mãe sempre cuidou destes problemas comuns das crianças nesta altura do ano, as febres, os vómitos, as diarreias, o ranho em barda, em casa. Com muita dedicação e paciência. E Ben-u-rons com fartura aliados ás mezinhas típicas para estas coisas. Mas também, a minha mãe tinha que percorrer muitos quilómetros para ir ao médico, não havia carro e os transportes públicos também não abundavam... creio que a civilização tem o condão de estupidificar as pessoas.
Enfim, é isto. Na minha opinião, a Maternidade/Paternidade não devia ser democrática. Não no sentido em que devia ser possível regular quem e em que altura esse "quem" tem as condições mínimas para ser Pai. Primeiro frequentava um curso, depois propunha-se a exame e finalmente lá tinha o Diploma que lhe dava acesso ao feto, num processo muito académico! Para muitos esta opinião é uma estupidez, uma parvoíce, uma ofensa, admito! Mas, julgando pela amostra de Pais que me é oportunisticamente oferecida dia após dias, ano após ano durante os últimos cinco anos, é uma opinião bem fundamentada.
PS: continuação de boas festas.
ADENDA das 15.15: Uma mulher acaba de me berrar aos ouvidos que "isto tá tudo mal, é uma vergonha!!" ao que eu respondi que sim senhora, isto é uma vergonha e a senhora tem ao seu dispor meios de reclamação que chegarão ás entidades competentes. Resposta: "isso não resolve nada!". E eu pergunto: e berrar aos ouvidos de um desgraçado que está a fazer o seu trabalho o melhor que sabe e pode, resolve alguma coisa? Principalmente porque esse desgraçado não tem poder decisor algum? Vão mas é....

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Isso é tão... 2009!

Para aqueles que não concordaram comigo neste texto, penso que a minha opinião não ficou suficientemente vincada. Depois vi este anuncio e pensei: "É mesmo isto!". Trata-se de Alma, meus caros, trata-se de Classe, Elegância, Maturidade...


sábado, 18 de dezembro de 2010

A Última Folha.

É cíclico. Todos os anos o meu ano acaba no final de Dezembro. O meu ano acaba no momento em que é publicada a escala de Janeiro do ano seguinte. E é nessa altura que eu revisto o ano que acaba. Desfolho a agenda, velha, dobrada, riscada e rabiscada e relembro o que de bom e de mau se passou no ano que se prepara para findar. O que salta à vista em primeiro lugar é o padrão sequencial de cinco letras maiúsculas: M T D N F. Todos os dias da agenda têm uma destas letras escrita. Manhã, Tarde, Descanso, Noite, Folga. Muitos M e T, menos N e ainda menos D e F! Depois uma cruz em cima da letra originalmente escrita e, ao lado, uma nova letra registada. A guerra das trocas dá nisto. No mesmo dia duas letras, em muitos dias, demasiados dias. As combinações são MT, TN, MN. Turnos duplos, foi-se a folga! Reparo que me fartei de trabalhar no ano que termina agora! Enfim, já nem me apercebo disso, a rotina é traiçoeira mas a Agenda não engana.
Depois, entremeando esta alfabeto com cinco letras, os compromissos fora do trabalho. Maioritariamente "consulta Gabriel", "vacinas David", "exame Mariana" e menos, muito menos "almoço com X", "jantar com amigos", "festa de aniversário do Z". Este ano apareceu um outro evento bastante recorrente na agenda "meia-maratona da ponte", "corrida do tejo", "meia de Lisboa", com o inevitável assinalar dos dias antes da prova para receber o dorsal.
Por isso, a minha agenda é uma extensão de mim, da minha vida. Trata-se de um instrumento indispensável para organizar o meu dia, a minha semana, o meu mês. É uma espécie de Tetris em papel onde o objectivo é encaixar todos os eventos por forma a que não haja sobreposições. A diferença é que, aqui, as peças não desaparecem e acumulam-se. Por esta altura, é raro lembrar-me de algum compromisso que não esteja devidamente assinalado na agenda. Se não está escrito é porque não existe! E também não combino nada sem consultar a agenda que se torna, assim, numa espécie de oráculo que orienta a minha vida. Sou um escravo da minha agenda!
Por isso, a cada ano que acaba uma nova Agenda toma o lugar da velha, na mesma medida em que um novo ano toma o lugar do antigo. Como o novo ano, a nova agenda é mais bonita que a antiga, mais limpa, mais leve, mais apetecível enquanto a velha agenda está gasta, riscada, cansada, pesada, acabada assim como o novo ano. Mas todos os anos a nova agenda se torna na velha agenda...
Gosto de desfolhar as folhas da velha agenda e recordar as coisas boas. As férias, os feriados, os fim-de-semana fora de casa, as corridas, a praia. Mas também olho com atenção para o desfilar de turnos trabalhados consecutivamente, os duplos turnos, os fim-de-semana enfiados no hospital, os turnos "extra" trabalhados para além das horas contratadas. E todos os anos sonho com uma agenda que tivesse mas D e mais F, uma agenda mais leve, menos rabiscada, menos preenchida com trabalho e mais com festa dos miúdos, jogos dos miúdos, fim-de-semana no campo, semana de praia, almoço com os amigos, jantar-cinema-discoteca, corrida, meia maratona, maratona, concerto, teatro, viagem para Nova York, etc, etc, etc. Será assim o próximo ano?
Amanhã entro na última folha da minha velha agenda e a nova já tem o primeiro mês preenchido: M T D N F...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Isso fica "buéda" mal...

Se há coisa que me irrita actualmente é a "adolescencialização" (que belo vocábulo!) de muitos dos trintões que conheço, fenómeno esse que parece alastrar a uma determinada franja da malta nascida nos 70's. É malta trintona que já tinha idade para ter juízo mas que opta por se aproximar da geração que está agora nos 20 anos.
Isso traduz-se nos mais variados comportamentos mas o que me irrita mais são essencialmente estes:
-escrever SMS constantemente, produzir conversas inteiras através de SMS. Não me venham com a conversa que "sai mais barato". Um trintão que se preze liga, combina um café e conversa o que tem a conversar.
-pior que isso, escrever SMS com "axo", bjx", "kero", "cudos" e todos esses neologismos típicos de uma geração que não é a nossa.
-ainda pior que isso, falar no mesmo registo dos putos e utilizar incessantemente vocábulos como "bué" (o horror!), "buéda" (a catástrofe!), "", "LOL", "men", "props" e por aí a fora.
- andar feito "pitinha aos saltos" a vibrar com este ou aquele grupo musical. Além se ser completamente fora de tempo, fica mal. E, convenhamos "30 Seconds to Mars"? P'amordedeus!
- Tentar aproximar-se dos filhos tentando ser "o melhor amigo", entrando no contexto e registo deles. Esta é a piorzinha de todas. Não é suposto sermos o "melhor amigo" dos nossos filhos. Somos pais e isso implica um fosso geracional que ser quer saudável.
Mas isto sou só eu a pensar...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Meias Palavras.

Tenho problemas com as "meias palavras". Aliás, nunca concordei com o velho ditado popular "para bom entendedor meia palavra basta". Sou mais de acordo com uma outra velha expressão: "Chamar os bois pelos nomes" (é engraçado como há velhos ditados populares que se contradizem mutuamente!). E sou assim porque gosto das coisas clarinhas como água. Gosto de saber exactamente o que é esperado de mim, da mesma maneira que gosto de dizer exactamente o que pretendo ou como me sinto. Afinal, a nossa Língua é tão rica em vocábulos que não faz muito sentido que haja "zonas cinzentas". Mas, suprema ironia, apesar de tão enorme riqueza de vocabulário, o Português é exímio em construir um discurso cheio de subterfúgios, de expressões de interpretação dúbia, de entoações subtis que podem ser entendidas de muitas formas pelo destinatário e de "meias palavras".

O problema das "meias palavras" é esse mesmo: não são objectivas! Na verdade "para bom entendedor meia palavra basta" é uma mentira. Isto só é verdade quando quer o emissor quer o receptor estão no mesmo contexto. É um pouco como as private jokes, só aquelas pessoas que estão dentro do contexto sabem exactamente o seu significado. No mundo real, laboral, o zé portuga utiliza as meias palavras como um meio de defesa. Mais tarde, quando confrontado com um "você disse isto", o portuga rapidamente responde "nãããão, eu nunca diria uma coisa dessas! o que eu disse foi aquilo. Você deve ter percebido mal." E pronto, acaba-se ali o argumento. E eu, que gosto de argumentar fundamentado, nas minhas discussões, não suporto bate-bocas em que se discute o que se disse ou que se disse que se disse.

Por isso, normalmente, eu não compro guerras pequenas e acessórias (ou seja, a maioria das discussões que surgem no trabalho!), não discuto assuntos que sejam de alguma forma acessórios, não entro em debates sobre se aquilo que foi dito significou aquilo que foi realmente dito ou se, pelo contrário, alguém percebeu o que foi dito pelo que não foi dito. Fiz-me entender? Cá está "fiz-me entender", uma expressão que utilizo muito. Porque nas discussões que se arrastam, é muito comum um dos intervenientes usar a frase "você não me está a entender". Isto é sintomático: parte-se do princípio que o problema reside no outro.

Tudo isto para explicar algo que algumas (muitas) pessoas identificam como algo que me define: raramente entro em discussões mas quando entro sou muito... apaixonado, digamos! Já me chamaram desde "violento", "agressivo" passando por "anormal" ou "estúpido". O que se passa na verdade é que eu gosto de usar as palavras certas para definir as coisas. Por exemplo "incompetente" em vez de "distraído", "mal educado" em vez de "tem um feitio especial" ou "mau feitio", "arrogante" em vez de "superior", só para citar alguns exemplos. E já tive alguns problemas com isso...

Resumindo, acho que estas meias palavras devem ser guardadas para as relações pessoais, deixando as relações profissionais apenas com o discurso directo e objectivo. E como, cada vez mais, o nosso dia-a-dia laboral está cheio de "políticos" com um discurso cheio de rendilhados mas objectivamente vazio, cada vez menos entro em debates. Porque não gasto nem o meu tempo nem o meu latim em discussões do peido.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mas, para ser justo...

... Portugal também tem alguns aspecto muito positivos. Aliás, dou-vos já três muito bons argumentos a favor de Portugal, de resto espalhados pelas estradas deste país deprimido e soturno:




Sou ou não sou um gajo justo? Pois sou.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Desencantamento.

"Viver em Portugal, porquê?
Um amigo prestes a deixar o país, fez-me este pergunta, deixando.me quase sem resposta: para alguém desprovido de meios de fortuna familiares mas que ambiciona uma vida digna e apetrechada dom os confortos normais do mundo contemporâneo, que ainda acredita na antiga lógica que trabalhar, muito e bem, constitui o meio mais idóneo para melhorar a existência da sua família, que motivos podem ser suficientes para o convencer a viver em Portugal? Se descontarmos as razões indefiníveis que alicerçam o amor pelo lugar a que chamamos pátria, valerá a pena viver aqui?
Em Portugal, segundo a arenga do futuro emigrante, tudo o que temos por indispensável é geralmente mais caro: a electricidade, o gás, os combustíveis, as casas, os automóveis, os produtos financeiros, a internet e as comunicações móveis são dos mias dispendiosos da Europa. Há dias, surgiu na imprensa um estudo que assegurava que um cabaz composto pelos bens essenciais adquiridos nos hipermercados era mais barato cerca de 11 por cento em Espanha apesar de a diferença nos salários nos dois países andar próximo desse valor-só que em nosso prejuízo. A nossa taxa de esforça fiscal (impostos directos e indirectos) é das mais elevadas mas não tem retorno visível por parte do Estado. A nossa adminstração mantém-se como uma das mais ineficientes, lentas e é aquela cujos resultados menos agradam aos cidadãos. Portugal subsiste numa centralização obsessivamente tacanha, a mais aguda de todos os países civilizados que se conhecem - mais ou menos a par da... Grécia.
Os portugueses são o povo menos informado da Europa, com os níveis residuais de participação política e social. Os governos são deixados à vontade por uma opinião pública imbecilizada, apática, predisposta a consentir qualquer patranha verticalmente engendrada. Os argumentos que sustentam o respeito pelo mérito ou que apelam à honestidade pública são escarnecidos na prática quotidiana e foram tacitamente irradiados dos valores educacionais comuns. tudo indica que as novas gerações serão ainda piores nos mesmos defeitos daquelas que já por cá marinam.
Vi-me forçado a concordar. Sobretudo quanto à indiferença ruminante com que acolhemos a maldição dos maus governos. Ainda ripostei com os nossos poetas mas não fui atendido: "Pessoa, Sena e Torga, já soam melhor longe daqui."
Um a um vejo a irem-se embora muitos dos melhores. Sempre fomos assim, procuramos noutros lugares aquilo que a pátria nos recusou. Só que aqueles que agora se vão contrariam a tradição e partem sem saudades e sem gosto de voltarem um dia."
Carlos Abreu Amorim in Revista NS' de 23 de Outubro 2010.
Ando com pouca vontade de escrever. Aliás, carrego nos ombros o peso do desencantamento. Sim, há muito que me quero ir embora mas hoje, fruto da negra realidade com que me deparo diariamente no meu novo serviço, não vejo a hora de virar costas a este país. Na verdade há dias que ando a construir mentalmente um texto acerca de como o que se passa no serviço onde agora trabalho reflecte tudo o que está mal no Sistema Nacional de Saúde. Desde a gritante incompetência do chefe e a sua perigosa parcialidade, passando pelo desinteresse, falta de profissionalismo e leviandade com que a maioria dos profissionais (enfermeiros, auxiliares, médicos) desenvolvem as suas funções e acabando na óbvia falta de qualidade nos cuidados prestados aos doentes, este micro-ambiente que é um serviço de medicina num hospital é o espelho de tudo o que não deve ser a Saúde e a Enfermagem em Portugal. E sinto-me assim, desencantado e triste porque não estava habituado a tamanha hipocrisia. Havia dificuldades sim, falta de material por vezes mas, no serviço onde trabalhava antes existia uma comunhão na ideologia dos cuidados: o doente primeiro. Desde que houvesse condições tudo se fazia para melhorar a condição do doente, a sua qualidade de vida e de morte. Os cuidados eram pensados e planificados dessa forma. Actualmente vejo-me a ter discussões com colegas que trabalham tendo como regra a "lei do menor esforço". Hoje, mais que nunca, estou desencantado com tudo isto. E eis que encontro este texto numa velha revista na mesa de um café. Eu não sou o amigo do autor que se prepara para emigrar mas o seu discurso é o meu também.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ruca: a dura realidade.

A Banita fez-me um apelo. E é um apelo bem nobre. Sobre esse assunto escrevi este texto há quase 2 anos, que recupero agora. Ajudem, se puderem...
Todos conhecemos o Ruca. Estrela de TV, ídolo dos petizes dos 2 aos 6 anos faz o delírio da pequenada juntamente com o Noddy e com o Bob, O Construtor. Mas o Ruca é diferente. Sempre bem comportado, este menino não faz uma birra. Como ele próprio canta: "Eu sou um rapazinho, embora pequenino tenho muito tino, sou o Ruca.". E bem. Este menino está sempre disposto a ouvir os pais, é sempre compreensivo, amigo dos seus amigos, altruísta e sempre meigo com a sua irmã mais nova, Rosita.

Tenho acompanhado a carreira desta jovem estrela, tendo começado há cerca de 7 anos quando o Ruca ainda era um pequeno quase desconhecido e, após algum tempo de afastamento, retomei a minha relação com este jovem. Qual o meu espanto quando me apercebo de algumas coisas: a Rosita cresceu, mas o Ruca não. Os seus amiguinhos também estão diferentes mas não o bom velho Ruca. O Ruca continua a vestir as mesmas roupas de há 7 anos, assim como os seus pais. Reparei que o Ruca, além de continuar careca, mantém aquela cabeça desproporcionalmente grande em relação ao resto do corpo. E continua no Jardim de Infância. E continua a chamar pela mãe e pelo pai à mínima dificuldade, como seja trepar a uma árvore ou subir para cima de uma pedra.

Após alguns contactos com pessoas conhecidas deste meio em que trabalho, chegou-me a triste notícia: o Ruca está gravemente doente! Pensa-se que poderá ser... leucemia. O pesar toma conta de todos os fãs.

Mas este facto explica muito do comportamento deste miúdo: o amadurecimento precoce, a compreensão e a meiguice. Tudo estratégias para aproveitar a vida o melhor possível. Por outro lado, é também esse o objectivo dos pais com aquele comportamento delicodoce e sempre pedagógico de disponibilidade total. O facto de todos usarem a mesma roupa há anos prende-se com as enormes dificuldades financeiras por que passa toda a família, decorrentes dos tratamentos do rapaz. Enfim, mais um exemplo de que as figuras públicas também são seres humanos.

Gostava de aproveitar esta situação que nos afecta a todos, para apelar a toda a gente que por aqui passar os olhos: inscreva-se na lista de dadores de medula óssea. Pode salvar uma vida e não custa nada! Implica apenas uma colheita de sangue no início e, caso seja compatível com algum doente que necessite, uma pequena intervenção com anestesia local para colheita de células de medula. Não seja medricas como estes!

Ajude o Ruca, ajude quem precisa.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um Dia Diferente.

No Domingo corri mais uma Meia Maratona, em Lisboa! Cada vez mais gosto destes dias, dias de prova, de corrida com mais uma centenas (milhares, por vezes) de pessoas completamente desconhecidas mas unidas pelo mesmo propósito! E lá estão os atletas profissionais misturados com os corredores aplicados, os corredores de domingo, os que só correm nas provas. Lá estão os atletas do estilo com as marcas da moda, os acessórios todos, as sapatilhas XPTO, as lycras justas a revelarem os corpos definidos pelos treinos, misturados com os homens de pele escurecida pelo sol da faina ou das obras, sem noção de estilo e com as barriguinhas definidas pelos petiscos! Vai-se a ver, estes últimos correm sempre mais que os primeiros. Lá estão as famílias inteiras, pai, mãe, dois filhos e um carrinho de bebé (normalmente os cabelos loiros e olhos claros denunciam que não são portugueses) para participar nas mini-provas de confraternização. Vêm-se pais e filhos, avós e netos, marido e mulher, amigos, colegas de trabalho. Todos juntos para uma corridinha!
Mas o que eu gosto mesmo é da corrida. Neste caso, 21 km pelas ruas de Lisboa, da 24 de Julho até Algés e daí até ao Terreiro do Paço e depois a difícil subida até ao Estádio do Inatel passando pela Rua da Prata, Martim Moniz, Av. Almirante Reis, Av. Roma e Av. dos EUA. Cada dia que faço, cada treino que acabo, cada prova que termino reforçam este prazer, este vício que parece ter encontrado um lugar definitivo na minha vida. Naquela 1 hora e 40 minutos de corrida, ao lado de mais cerca de 1200 atletas não existe mais nada. Somos nós em profundo contacto com o nosso corpo, com os batimentos do nosso coração, com a nossa respiração controlada, com as dores dos nossos músculos. Mas também somos nós em comunhão com a Corrida, com a Prova. Cada Corrida é diferente, tem um ritmo diferente, uma emoção diferente, uma vida diferente. E nós somos influenciados por ela da mesma maneira que somos nós que a construímos.
Mas a minha parte preferida da Corrida é mesmo a Chegada! A emoção de ver o Arco da Meta, a agitação dos espectadores que incitam e batem palmas à nossa passagem, a entrada no "funil" da chegada onde familiares e amigos gritam os nomes dos atletas que foram apoiar. E depois o momento quando cortamos a meta e paramos o nosso cronómetro. Mais uma, está feito! Mesmo que o tempo de prova tenha ficado acima daquilo que tínhamos planeado. Afinal, há sempre a próxima corrida para melhorar!
Não me importo de ir correr sozinho, aliás é isso que faço treino após treino. Mas correr acompanhado, em prova, em competição tem outro sabor!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um dia normal de trabalho.

A bateria do meu carro anda marada. Cada vez que o ligo, pela manhã, o relógio reinicia e marca "0:00". Acabo de chegar a casa e o relógio do carro marcava, quando o desliguei, "17:43". QUASE DEZOITO HORAS DESDE QUE SAÍ DE CASA?!?!
Apraz-me dizer: porra.
Agora vou ali dormir cinco horitas, que amanhã é dia de trabalho.