Todos no serviço o conhecem. Os das ambulâncias também. Afinal Maryusz é um dos nossos clientes mais frequentes. Alto e magro, olhos de um azul profundo embaciado pelo àlcool que lhe dilui o sangue. Acho que nunca ninguém o viu sóbrio, só menos alcoolizado. Mas Maryusz não é agressivo. Normalmente é trazido pela ambulância porque alguém o encontrou inconsciente numa esquina qualquer de Lausanne. Faça frio ou faça sol, Maryusz bebe até perder a consciência. E bebe tudo, inclusivé o àlcool que utilizamos para desinfectar as mãos no hospital. Já tentámos de tudo para ajudar este homem, mas parece que beber até morrer é a sua missão na vida.
De vez em quando, no frio do inverno, Maryusz aparece na nossa sala de espera. Bêbado mas correcto, procura apenas um lugar para se aquecer. Traz consigo toda a sua vida: uma mochila com bebida e a sua gaita de beiços. Senta-se num canto e começa a tocar. A melodia sai perfeita e envolve todos na sala e toca-nos bem no fundo de nós. As notas são carregadas de sentimento, a melodia é bela e límpida mas carregada de tristeza e de nostalgia, de sofrimento e angústia. De saudade. Ao observar Maryusz tocando a sua gaita num canto da sala, olhos fechados em esforço e, enrolado sobre si mesmo como só os doentes com muita dor o fazem, percebo que há mais acerca deste homem do que aquilo que temos á vista.
Certo dia Maryusz chega como em tantas outras vezes, numa maçã de ambulância inconsciente e frio. Nesta como em tantas outras vezes Maryusz lá fica a curar a sua bebedeira num canto das urgências. Quando acorda Maryuz chora. Foi a única vez que o vi sóbrio e a única vez que ouvi a sua história.
O meu nome é Maryusz e sou polaco. Nos ultimos anos tenho vagueado pela Europa para esquecer. Bebo para não me lembrar, bebo para dormir. Quando estou sóbrio não suporto a dor e por isso nunca mais o quis estar, pois sóbrio lembro-me deles, da minha família. Vivíamos em Varsóvia onde eu era professor de música no conservatório nacional. Eramos felizes os quatro, eu a minha bela mulher e os nossos dois meninos de 4 e 7 anos. A vida sorría-nos. Até que num normal dia de inverno, ao regressarmos a nossa casa nos subúrbios da cidade tivemos um acidente. Eu saí do carro ileso mas só eu. Abracei os meus meninos, tão frios e pálidos que estavam. Tentei aquecê-los com o meu calor mas eles nunca regressaram para mim, Beijei a minha mulher e abracei os meus filhos mas as minhas lágrimas congelaram. E o meu coração também.
Há poucas semanas Maryusz foi encontrado também ele gelado e pálido mas, segundo os tripulantes da ambulância no local, foi a única vez que viram um sorriso na cara de Maryusz.
O meu nome é Maryusz e sou polaco. Nos ultimos anos tenho vagueado pela Europa para esquecer. Bebo para não me lembrar, bebo para dormir. Quando estou sóbrio não suporto a dor e por isso nunca mais o quis estar, pois sóbrio lembro-me deles, da minha família. Vivíamos em Varsóvia onde eu era professor de música no conservatório nacional. Eramos felizes os quatro, eu a minha bela mulher e os nossos dois meninos de 4 e 7 anos. A vida sorría-nos. Até que num normal dia de inverno, ao regressarmos a nossa casa nos subúrbios da cidade tivemos um acidente. Eu saí do carro ileso mas só eu. Abracei os meus meninos, tão frios e pálidos que estavam. Tentei aquecê-los com o meu calor mas eles nunca regressaram para mim, Beijei a minha mulher e abracei os meus filhos mas as minhas lágrimas congelaram. E o meu coração também.
Há poucas semanas Maryusz foi encontrado também ele gelado e pálido mas, segundo os tripulantes da ambulância no local, foi a única vez que viram um sorriso na cara de Maryusz.