quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Asas para voar!

Eis que chega o momento de revelar algo que trago preso na garganta há dois anos...

A vida dá voltas e voltas e, por vezes damos por nós em lugares que nunca julgámos possíveis. Uns lugares bons, outros maus. Nunca julguei possível que a Mariana, fisioterapeuta, nunca encontrasse um emprego digno desse nome. Nunca julguei possível que fosse capaz de trabalhar em dois empregos para suportar as despesas familiares. Nunca julguei possível olhar para o futuro dos meus filhos e não ver luz, só negro. Mas é aqui que me encontro hoje. E será que vejo um futuro onde a minha mulher possa trabalhar, ganhar o seu próprio dinheiro e a realização profissional? Será que vejo um futuro onde eu possa trabalhar em apenas um sítio sem perder a estabilidade económica? Será que vejo um futuro onde os meus filhos possam estudar, viver a juventude e encontrar um emprego digno? Não neste país!
Em 2008 surgiu a oportunidade de uma vida, a de trabalhar no estrangeiro. Neste caso em Lausanne, na Suíça. Nem era só um trabalho, era um projecto a longo prazo que envolvia trabalho, formação, progressão na carreira. Por obrigações contratuais com um dos meus empregadores não me foi possível aceitar. Mas a porta ficou entreaberta e eis que chega a altura de partir. Não é já... é daqui por um ano. 365 dias em que temos de resolver a nossa vida em Portugal, vender os nossos pertences, organizar a logística que uma mudança destas acarreta, e preparar o início da nossa vida lá, encontrar casa, escolas para os miúdos, aprender a língua (no meu caso, só melhorar!) e todas as pequenas coisas que, acumuladas dão um trabalhão do caraças! E 365 dias, um ano, não é assim tanto tempo como parece. E algumas coisas só avançam quando outras estiverem resolvidas.
Mas há coisas que podemos ir adiantando para que seja mais fácil o momento da partida. E é aqui que vocês entram. É preciso cortar amarras, largar lastro para que este balão voe mais alto. Vamos tentar vender (quase) todos os nossos pertences, desde a casa até à loiça de cozinha para que possamos partir apenas com o essencial para o novo recomeço. É um projecto enorme e não vai ser fácil mas, conto com todos os meus amigos: os reais e os virtuais. Criei um blog onde colocarei os artigos que serão postos à venda, por uma verdadeira pechincha, e que poderão ser empregues nas vossas casas, em casas de férias, casas para alugar, quintas, quintais, cozinhas rústicas. Não peço que comprem mas peço que passem a palavra!
Não queremos ir para Brugges mas queremos Asas Para Voar!

(É engraçado que eu revele isto logo após o anúncio de novas medidas de austeridade pelo Governo mas isto já estava pleneado há muito. Esse anúncio só me motiva mais ainda a ir embora...)

Da Realização Pessoal.

A vida é feita destas coisas. Nunca gostei de correr, não percebia o objectivo. Todo o desporto que não envolvesse uma bola não era para mim. Mas depois, os 30 anos mudaram tudo! E no último domingo, 26 de Setembro, cumpri a minha primeira meia-maratona! São 21 km de prazer e sofrimento, muitas vezes em simultâneo! A esmagadora maioria das pessoas não tem a noção real do que são 21 km, até porque de carro se demora 15 minutos a percorrer essa distância. 21 km parece "já ali", mas não é! É partir do tabuleiro da Vasco da Gama, correr até Sta. Apolónia e regressar parando em frente ao Centro Comercial Vasco da Gama no Parque das Nações! Correu tudo bem até ao km 14. Depois "quebrei" um bocado e arrastei-me até ao km 18. Fui ultrapassado por imensos atletas e estava a "ferver"!! Sentia-me lento e pesado e só queria que acabasse! Se estivesse na mesma situação à 10 anos atrás teria arrancado em fúria atrás de quem me ultrapassasse e teria acabado por "rebentar". Mas não, aguentei-me e só pensava "Mais á frente vou ultrapassar esta malta toda! Eles vão rebentar no último km!".
Ao km 18, não sei se foi da energia de uma banana que entretanto enfiara pela goela ou da vontade de acabar com a corrida, recebi uma garrafa de água que despejei na mona e arrisquei! Aumentei a passada o mais que consegui, ultrapassei um e outro concorrente e depois outro! E de cada um que ficava para trás mais eu corria! Sentia o coração a rebentar no peito, as pernas a pedirem clemência, os joelhos deixaram de existir, mas eu corri. E nos últimos metros gritava "FORÇA! VAI! ESTÁ QUASE! CORAGEM!" a todos os que deixava para trás! Mas isso era mais para mim próprio do que para os outros. A meta apareceu, elevei os braços e cheguei! E como me senti realizado! A equação é simples: são 21 km a percorrer no mínimo de tempo possível e, mesmo assim, já não me sentia assim tão contente comigo mesmo há muito tempo! E assim, ao final de cerca de 1 h e 43 min, bem colocado no primeiro 1/4 da tabela classificativa, cumpri um dos meus objectivos para este ano! Em Dezembro há mais!!

(Depois da chegada, conversando com alguns companheiros de viagem!)



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Há sempre duas faces (ou mais) em todas as histórias.

Naquela altura eu era um jovem enfermeiro com apenas alguns meses de experiência. Trabalhava numa grande Urgência de um hospital de Lisboa, daquelas com 6 e 7 horas de espera. Estava destacado para a Equipa de Reanimação, um grupo de 3 enfermeiros nomeado para acorrer às situações de morte eminente do doente. O "besouro", uma campainha de som rouco, tocou. Era a hora de correr para a sala de reanimação. Os bombeiros tinham trazido uma senhora, vítima de acidente de mota. Surpreendentemente não apresentava ferimentos graves visíveis. Alguns hematomas e escoriações. Mas estava pálida, o olhar vazio. Os médicos chegaram logo depois de nós. A doente sangrava profusamente pelo nariz e pela boca. Mau sinal, muito mau sinal... fractura da base do crânio, lesão cerebral grave e potencialmente fatal. Os monitores mostravam tensões arteriais baixas, pulsos fracos, a linha do electrocardiograma era frágil e prenunciava uma paragem. A minha função consistiu unicamente em tentar parar aquela hemorragia nasal. Apenas isso e não fui capaz. Coloquei compressas atrás de compressas, e esses compressas logo ficavam ensopadas de sangue. Colocava mais compressas e essas ficavam púrpuras em segundos. Era tanto sangue... mas a senhora não tinha ferimentos.
Os monitores apitaram todos, estridentes, histéricos. Os médicos e os enfermeiros mais experientes iniciaram as manobras de suporte de vida, básico e avançado. E eu continuava a colocar compressas que logo se ensopavam em sangue. Eles comprimiam o peito dela, introduziam soros e fármacos para ajudar o coração. Nada resultou. A linha do monitor cardíaco ficou plana. E o alarme contínuo. Alguém desligou o aparelho. Os médicos saíram.
O silêncio tomou conta da sala até que um bombeiro explicou o que se passara. A senhora tinha 41 anos e era de uma família rica. Festejava naquele dia o aniversário de casamento na sua quinta. Oferecera uma mota ao marido e foram dar uma volta. Num cruzamento, um ligeiro toque com um carro desequilibrara o marido e ela caiu e bateu com a cabeça. Foi o suficiente. Tinha três filhos. Dezassete, treze e sete anos. Estavam todos na sala de espera. O chefe da equipa de enfermagem ordenou: "Limpem a senhora. Levem-na para a sala de exames. Deixei-na sem tubos, sem soros, sem monitores. E vistam-na com uma bata. Depois mandem entrar a família..."
Limpei o corpo, retirei tubos e agulhas, vesti-a. Continuava a sangrar pelo nariz por isso tive de deixar compressas nas narinas. Fiz o melhor que pude. Depois entrou o marido, sozinho. Sentou-se junto à senhora e chorou. Abraçou-a e chorou. Beijou-a e chorou. Por esta altura as minhas colegas choravam também, a um canto. e eu sentia-me claustrofóbico, o ar parecia demasiado pesado para respirar e queria sair dali. Mas nenhum de nós, enfermeiros, abandonou a sala. O homem recompôs-se e mandou entrar os filhos. Os dois mais velhos choravam serenamente. A pequena, 7 anos, perguntou: "Mamã? Estás a dormir mamã...". Saímos todos, os enfermeiros, era demasiado. Deixámos a família a sós.
Naquele turno e nos próximos, uma sombra de tristeza escureceu o ambiente, as conversas, os humores. Mas outros doentes entram e morrem a toda a hora. Nós estamos lá para eles, prontos, preparados, motivados. Aquela senhora foi especial para todos nós e ainda hoje falamos dela.
A enfermagem não é uma profissão romântica.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Dura Realidade.

O texto anterior ficou a "marinar" propositadamente. Sabia que a sua crueza iria chocar muitas pessoas, como chocou. Na caixa dos comentários, como em opiniões de colegas que lêem este blog foram comuns os sentimentos de indignação, de ofensa, de falta de sentimento ético (seja lá o que isso for!). Mas a verdade é que eu sabia disso, dos sentimentos menos nobres que esse relato iria causar nos leitores. Mas, lamento desiludir, ele reflecte a mais pura das realidades. Alguns comentários faziam o paralelo entre tratar de papéis e tratar de doentes. Que não é a mesma coisa, que os papéis podem esperar e os doentes não. Sim, é verdade. Mas não é menos verdade que a morte, o sofrimento, a dor são o nosso objecto de trabalho e, logo estão banalizados. O primeiro morto que eu cuidei, que toquei, que lavei, a quem tirei os tubos, que identifiquei, que coloquei no saco ficou cá gravado. Ainda hoje recordo a face, o corpo marcado pela doença e pelo calvário que passou na cama. E recordo ainda hoje, como um murro no estômago, a maneira como esse homem foi colocado na "maca-fúnebre". O que me passou pela cabeça, há mais de 10 anos atrás foi que tratavam aquela pessoa como se uma caraça de um porco abatido se tratasse!
A morte é banal, na nossa linha de trabalho. Ao contrário da maioria dos "empurra-papéis", nós temos que lidar diariamente com a nossa mortalidade e com a sua fealdade. Eu, de cada vez que recebo um novo doente,velho, acamado, esburacado, deparo-me com uma possibilidade do meu futuro. Lamento informar, mas a morte não é bonita nem agradável nem tão pouco romântica como no cinema. E sim, para nós é apenas mais um dia de trabalho, mais uma tarefa no turno, mais papéis para preencher, mais cuidados fora da rotina. Agora, o facto de ser uma situação triste não implica que nós estejamos tristes, sensibilizados, sintonizados com esse sentimento. Há mortes que nós sentimos, outras nem por isso. Mas uma coisa é certa: quem ousar pensar em encarar estas situações com a atitude pesarosa típica dos velórios bem pode desistir de ser enfermeiro.
Porque a Enfermagem está longe de ser uma profissão romântica...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

-Oh merda! Já está com aquela respiração de peixe!
-Foda-se... pode ser que se aguente até de manhã. Não queria nada ter de andar a lavar e ensacar o morto ás tantas da madrugada.
-Achas o quê? Quatro da manhã?
-Não pá! Ou morre agora ou então que se aguente aí até às 7. Preciso mesmo de ter uma noite descansada.
-Podíamos lavá-lo já e -lo no saco agora! Era só fechar depois!
(risos)
-Ehhh pá, que mau! Muito mau!!
-Coitado do homem...
-Coitado mesmo. Ao que um gajo chega...

Esta conversa aconteceu. Aliás, acabou de acontecer. E ainda fico impressionado com a dureza das palavras que, por vezes, saem da minha boca. Na verdade, julgo que nenhum de nós, que as proferimos as sentimos verdadeiramente. Serão talvez um escape perante o inevitável, o sofrimento de um Homem, a morte de alguém e o caminho de sofrimento que esse alguém tem de percorrer. É a impotência, a pequenez, a nossa insignificância, o apodrecer dos corpos outrora jovens. É enfrentar o nosso futuro mais negro todos os dias, uma e outra vez. É projectar-mo-nos naquela cama, com aquela dificuldade, com aquele corpo esburacado pela pressão dos nossos próprios ossos já despidos de qualquer músculo. Foda-se! Eu não quero morrer assim! E se algum dia me encontrarem assim, naquela decrepitude, a chafurdar na própria merda, a cheirar a podre, a lutar para meter ar nos pulmões peço-vos: acabem com o meu sofrimento! Não me importa de que maneira, mas sejam rápidos e eficazes. Chama-se misericórdia e há poucos que a pratiquem.

Por exemplo, as muletas verbais.

As "muletas verbais" são aqueles auxiliares de discurso muito usados por pessoas cujo vocabulário é tão pobre que se agarram à única palavra que dominam para colorir aquilo que dizem. Já todos ouvimos o uso excessivo e nem sempre adequado de "portantos" e "nomeadamentes" que poluem qualquer tentativa de produção de um discurso fluido. Eu também tenho as minhas "muletas" mas não tanto ao nível da repetição de vocábulos. Como vim a descobrir durante uma filmagem de uma aula que dei, no âmbito do Curso de Formação de Formadores, eu é mais "pausas sonoras", breves (e não tão breves!) "ahhhh" ou "hmmmm" que preenchem os momentos em que organizo o meu raciocínio, construo o meu discurso. Não é bonito, não é bonito...
Mas, ultimamente tenho detectado que uma nova "muleta" ganha cada vez mais espaço nas minhas conversas. E isso é irritante, tão mais irritante como a consciência que ganho da sua existência e da minha incapacidade para a evitar. Por exemplo, cada vez que inicio o meu discurso advirto-me para não a usar. Ainda ontem , por exemplo, estava a falar com um colega e contei pelo menos umas três ocasiões em que a usei. Olha, por exemplo a falar com a família de uma doente estava capaz de me bater, de tantas vezes que a usei! Mas, por exemplo, se a conversa tiver lugar num ambiente mais profissional e for mais técnica já não uso a muleta! É estranho. Por exemplo, nas passagens de turno ou em debates profissionais não ocorre. Mas mesmo, mesmo mau é quando, por exemplo, eu vou, por exemplo, dar um exemplo qualquer para ilustrar o discurso! Por exemplo, imaginemos que estou a falar das corridas, por exemplo, e descrevo o treino, as distâncias, a dieta a seguir. Por exemplo, isto é tudo por exemplo!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Abraço no Masculino!

Num outro dia enquanto passeava com a família encontrei um colega de outras paragens profissionais que já não via algum tempo.
-Grande Tiago! Como é que isso vai?
-Miguel, ganda maluco! Já não te via há uns tempos!
Aperto de mão, abraço, algumas palavras e adeus, adeus qualquer dia temos de combinar um cafézinho! E, no final de tudo a Mariana exclama: "Mas que raio de maneira de abraçar tão estranha que vocês usam para se cumprimentar...". Passo então a explicar.
Abraços desses directos, braços entrelaçados no pescoço, peito com peito, beijinho no rosto não se usam entre homens. Estão reservados para mulher com mulher ou homem com mulher ou ainda pai com filho! Homem com homem não funciona assim. O primeiro passo é o cumprimento de mão, o vulgarmente designado "bacalhau"! Pode ser na forma clássica mas, normalmente ocorre na forma modificada, a mão elevada à altura do peito com o polegar a apontar para nós que é atirada contra a mão, igualmente colocada, do nosso companheiro! Depois de bem encaixadas, as mão puxam o nosso compincha em direcção a nós sendo que o contacto físico se dá braço com braço e o nosso ombro contra o ombro contrário do outro. Este movimento impede contacto físico excessivo, contacto esse que poria em causa toda a "coolness" do movimento além de que, demasiado contacto de dois peitos masculinos pode ser um bocado rabeta! Posto isso, a mão livre serve para dar fortes palmadas na omoplata do companheiro. Atenção que é na omoplata! Mais uma vez, esta localização impede que o braço envolva as costas do outro eliminando o factor "rebetice" e permite que as palmadas sejam vigorosas e sonoras. Sim, porque um abraço entre dois machos quer-se sonoro e viril. Terminadas as palmadas, que serão tão fortes como forem as do outro, desfaz-se rapidamente a posição de contacto para que não haja mal-entendidos. Ficar a conversar com as mãos dadas também faz disparar o "alerta rabeta". E pronto, não estou à espera que as mulheres que lêem este blog entendam este ritual tão importante nas relações macho-macho, mas pelo menos ficam esclarecidas!
Não precisam de agradecer.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Porque quem não se sente não é filho de boa gente.

Ainda na linha da desilusão, do desencanto, do divórcio com a profissão...
É engraçado como por vezes o Universo parece convergir. Ambas as instituições onde trabalho estão a passar por uma fase de "convulsão administrativa" que vai deixar marcas profundas em todos os seus funcionários menos nos administradores que causam as referidas convulsões. Se, num dos Hospitais o meu lugar está assegurado, no outro nem por isso. Mas, na verdade o que me faz reflectir e me entristece é a forma como esses cortes, reorganizações, remodelações são pensadas e conduzidas: sem nenhum tipo de escrúpulo para o trabalhador!
Nos últimos dias tenho-me sentido como apenas uma fracção de um algarismo qualquer presente num qualquer papel, gráfico, apresentação. Nem sequer um número. Nada. Porque é isso que nós somos, quando vistos da perspectiva do Administrador sentado na sua poltrona reclinável de pele! Não peço sequer que saibam o meu nome, ou o dos meus colegas mas que reflictam que todos nós (enfermeiros, auxiliares, empregadas da limpeza) contribuímos para o sucesso daquela instituição. Que nós SOMOS a instituição. E que merecíamos mais do que uma carta registada com aviso de recepção a dizer: "Dentro do estipulado legalmente, informamos que a sua colaboração com a nossa instituição cessa no próximo dia..."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Facebook Status

Miguel foi correr de madrugada. Perdeu a chave do carro. Encontrou-a. Miguel tem uma sorte do cara****!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A culpa é de quem lhes dá audiências!

Não gosto da TVI. Por princípio, é um canal que não vejo. Porque os programas são populistas, fracos, pouco inteligentes. Porque aposta na promoção da mediocridade e do voyeurismo. Porque não educa, não ensina. Tem uma abordagem pela negativa, pelo sensacionalismo, pelo "diz-que-disse". A melhor maneira que encontro para a descrever é esta: sinto que estou constantemente a ver as velhas de uma aldeia qualquer do Portugal profundo a falar da vida deste e daquele! E o Jornal Nacional é pouco mais que sofrível, os filmes são de série Z ou pior e as novelas, bem, as novelas...
Mas esta notícia é deprimente. Até para os padrões da TVI! O que não vem descrito na versão on-line do jornal faz toda a diferença: falta dizer que a TVI passou a entrevista ao criminoso dando a perceber que ele estaria no estrangeiro quando, na verdade ele estava nos estúdios em Oeiras! Ou seja, a TVI protegeu e escondeu um criminoso! Já é mau permitir o tipo de visibilidade típico de uma TV líder de audiências mas, ainda pior é ser cúmplice no crime de proteger e dar guarida a um criminoso! Não tenhamos dúvidas, foi este o caso! E, logo aqui encontro duas grandes razões para o atraso de vida que se verifica em Portugal: em primeiro lugar, o facto de uma TV nacional (ainda que privada) tenha sido cúmplice num crime e que ninguém ache isso estranho e, em segundo lugar que a TVI seja líder de audiências em Portugal. E isso explica muito acerca do povo português.

Direito de resposta!

Podem parar de armar o "sexo superior" porque 90% das meninas também têm que ir ler umas coisinhas!!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Musicas de Arrepiar a Espinha!

E hoje, na rubrica "Músicas de Arrepiar a Espinha!", apresento uma canção lindíssima de um grupo australiano cujo álbum "Conditions" é algo de maravilhoso. Chama-se "Soldier On", dos Temper Trap. A parte mesmo arrepiante, mas arrepiante mesmo, chega cerca do minuto 3:50. Ouçam uns dos mais belos 6 minutos que já foram feitos. É garantido!

"Keep your heart close to the ground..."



E toda esta emoção e arrepios na espinha logo ao km 2!! Fantástico!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Suas malucas!

Descobri este vídeo através da Pólo Norte e dele retiro algumas conclusões:
-Afinal quando elas nos pedem flores estão a desejar que nós colhamos uma e apenas uma flor. A delas.
-Constato neste filme que elas são capazes dos piores fingimentos orgásmicos! É impressionante! Por momentos acreditei que estavam realmente a... ehhh, será que já alguma vez fui enganado?
- Meus amigos, quando elas falam em romantismo e espontaniedade... é treta! Pelos vistos, os melhores são os que investigam e estudam a maneira de as melhor satisfazer. Eu, pela minha parte, vou já rever os meus conhecimentos da anatomo-fisiologia da mulher!

Vejam! Vejam e retirem as vossas próprias conclusões...

domingo, 12 de setembro de 2010

Cenas Medievais no Séc. XXI

Acabo de ver na TV uma cena no mínimo medieval, até porque se passava dentro das muralhas de um castelo. Tratava-se de uma espécie de matilha de animais selvagens que urravam, gritavam, exultavam enquanto assassinavam um outro ser vivo que não representava qualquer tipo de ameaça ou perigo. Esta cena tinha centenas de espectadores que aplaudiam e incluía crianças. E voltou-se a matar um touro, desta vez em Monsaraz.
Será que esta gente não vê a violência que se passa em frente aos seus olhos? Será que são estúpidos ou apenas absolutamente insensíveis? Será que os que mataram o touro amarrado e incapaz de se defender, ainda por cima a coberto de uma lona, o que só torna esse crime apenas mais cobarde, serão apenas uns sacaninhas com sede de sangue ou violentos psicopatas? Que pais são aqueles que levam os seus filhos, crianças, a um lugar onde centenas de pessoas vibram, aplaudem , incitam à violência, ao sangue, à cobardia que culmina com um assassínio cobarde de um animal majestoso que nunca se rende? Como explicam eles às crianças que aquilo é nobre, é lindo, é tradição? Tradição? Num país que se pretende civilizado?
Também me choca que se entupa os tribunais com processos de legalização, de excepção, que protejam e permitam estes crimes, que se ocupe a polícia com a deslocação ao local da morte para a identificação dos mentecaptos que assassinaram o touro cobardemente e com a burocracia exigida para apenas se arquivar mais um crime. Mas aqui os culpados estão identificados: todos os presentes no recinto. Que eu saiba, tanto é culpado quem prime o gatilho como quem protege, ajuda e de alguma forma contribui para o facto. Não me venham dizer que é uma tradição com 100 anos porque há 100 anos as mulheres não podiam votar, 90% (estou a ser optimista) da população não sabia ler e Portugal foi uma monarquia quase até ao final do ano!
É um crime, não uma tradição. É a banalização da morte e da violência, ao vivo e a cores. É a desculpabilização de comportamentos psicopatas a coberto de uma norma social perfeitamente desactualizada. E Espanha, terra dos touros e toureiros, já começou a acabar com isso.
Além de tudo isto, como é possível aplaudir-se um homem que entra numa arena com collants e jaqueta apertadinhos e com brilhantes e pom-pons dependurados. É um bocado rabeta, digo eu!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Divórcio.

Ontem um colega teve esta observação: "Estás divorciado da profissão, não estás?". E isso fez-me pensar: na realidade, estou.
Contextualizando, o que se passa é que o meu nível de investimento académico na enfermagem é zero, nenhum, vazio. Entenda-se por "investimento académico" a frequência de cursos, pós-graduações, mestrados, especialidades. Que, na minha opinião são, na área da enfermagem, absolutamente cosméticos. Ou seja, ficam muito lindos no currículo mas não servem para nada! Do ponto de vista da progressão e diferenciação na carreira não servem de nada. Acabando-se os "hospitais do estado" que dão lugar aos "hospitais-empresa", os enfermeiros ficam todos ao mesmo nível, sendo que são nivelados por baixo. Não interessa se sou especialista porque a administração do hospital não escolhe por competências mas sim por compadrio, cor política, ou, na maioria dos casos, escolhe para Enfermeiro-Chefe, ou Supervisor ou Coordenador, aquele profissional que garanta não por em causa a política economicista do Administrador e engendre esquemas que permitam produzir mais com menos enfermeiros. Isso significa mais trabalho para menos enfermeiros. Neste contexto, de que vale investir na formação académica?
A realização pessoal, dirão provavelmente muitos de vós. A questão aqui é a seguinte: eu não ando a trabalhar para aquecer, nem porque gosto de trabalhar e muito menos porque sou apaixonado pela prestação de cuidados de enfermagem! Não. Eu trabalho porque tenho responsabilidades familiares e considero uma parvoíce prejudicar a família (em tempo e em economias) em prol de uma formação que, na prática não me dará retorno nenhum! Para que tenham um exemplo do que falo: um colega meu, mais novo, encontra-se actualmente a fazer uma especialidade em enfermagem para que aumente as suas probabilidades de entrar como contratado num hospital (ele é "recibo verde") mas a trabalhar como enfermeiro de nível 1. Ou seja, um generalista em início de carreira! Isto é a promoção do "currículo a metro" e o enriquecimento das escolas de enfermagem que, cada vez mais, abrem cursos de especialidade que depois vendem a preço de ouro a enfermeiros desempregados ou em situação precária, acenando-lhes com a hipótese (sublinho, a hipótese) de poderem ser contratados (a termo certo, claro) por um hospital qualquer que lhes vai pagar o base do início de carreira. E eu não trabalho para sustentar pançudos.
Num outro nível, o dos cursos de pequena duração ou "workshops" temos outro grande embuste. Existe por aí uma instituição que ministra curso tais como enfermagem forense e enfermagem podológica! Mesmo para os leigos penso que isto deve soar ridículo! Na prática, há pessoas que pagam (e bem!) e despendem o seu tempo a tornarem-se nos CSI Nurse (atenção que não há enfermeiros envolvidos em investigações forenses nem se prevê que algum dia haja!) ou então a aprender a limar as unhas dos pés! Ridículo. A Enfermagem actual em Portugal é ridícula.
Mas este divórcio da profissão e dos seus representantes não significa o divórcio dos meus parceiros de trabalho do dia-a-dia. Há excelentes enfermeiros em Portugal. Profissionais de excelência que a Profissão não valoriza e que a opinião pública não reconhece. E, este divórcio, não significa também o divórcio dos doentes. E é aqui que reside o meu investimento (ainda que indirecto) na profissão. Ao nível dos cuidados directos aos doentes através da revisão bibliográfica de conhecimentos já apagados, da pesquisa de novas técnicas de tratamento e abordagem aos doentes, através da discussão com os colegas e com outros profissionais (sim, os médicos) que têm muito para nos ensinar. Mas isso não entra no currículo, não é valorizado. Mas enfim, considerando que o currículo vale zero e, zero x zero = zero, acho que vou manter a minha linha de evolução académica!
Agora vou trabalhar que não me pagam para estar a escrever divagações desiludidas e sem piada para um público que até se está nas tintas para o enfermeiros!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Músicas de arrepiar a espinha!

Não sou muito de criar "rubricas" ou temas fixos no blog até porque depois não as cumpro! Mas acredito neste "Músicas de arrepiar a espinha!". De cada vez que vou treinar levo o iPod e ouço música. Não presto atenção à maioria das canções que se vão sucedendo mas, em todos os treinos lá aparece "aquela" canção que me faz arrepiar. Primeiro a "espinha", depois os braços. O ritmo da passada aumenta e a frequência cardíaca também! E a primeira "Música de arrepiar a espinha!" do blog é esta...

Disfrutem!


Outra Dimensão.

Às 7:30h de hoje já levava cerca de uma hora de corrida. Se no início da corrida era ainda noite junto à Baía do Seixal (óptimo spot para correr!) e esporádicos os carros e pessoas que se viam na rua, perto do final do treino já a zona fervilhava de movimento. E digo fervilhava porque foi essa a sensação que tive, enquanto corria ligeiro e fresco junto ao rio e observava o movimento à minha volta. E, facto curioso, embora fosse eu que corresse não era eu o mais acelerado! Enquanto corria mais rápido do que todos naquele largo passeio e ia ultrapassando mulheres de salto alto e fato "executivo", homens de fato e gravata, mulheres arrastando os seus filhos, pessoas a escreverem furiosamente SMS ou berrando já ao telemóvel não pude deixar de sentir que, na verdade era eu que ia mais lento.
Nas paragens do autocarro só via semblantes fechados, zangados, vazios. Pessoas andando para trás e para a frente, abanando uma perna, olhando de esguelha para o companheiro do lado, denunciando assim a sua pressa, a sua impaciência. E olhavam para mim, com o olhar carregado de um sentimento de quase ofensa pela minha passagem. E eu seguia, leve e feliz, com o cheiro do rio comigo, com a mistura entre o fresco da brisa da manhã e o quente dos primeiros raios de sol que despontavam, com a música nos ouvidos que me isolava quase hermeticamente do resto do mundo. Quase numa outra dimensão.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

The Land of the Free and the Home of the... idiots.

Falam eles de fundamentalismo.

Isto é serviço público meus amigos, serviço público!

Às senhoras (sim, que são as mulheres que mais sofrem deste "mal") que "tentam suicidar-se" através da ingestão de medicamentos prescritos por um qualquer médico: não resulta, ok? Tomar uma caixa de comprimidos para dormir o sono eterno não resulta, normalmente por duas grandes razões:
1º. A maioria dos fármacos prescritos para tomar no domicílio não são suficientemente fortes para provocar a morte.
2º. Mesmo que o sejam, o processo é lento o suficiente para permitir a intervenção médica e impedir males maiores.
Dito isto, sugiro alguns métodos mais eficazes, embora mais sujos e menos agradáveis à vista, mas que não dão trabalho nenhum para além da inevitável recolha e limpeza. A saber:
-Tiro no céu da boca.
-Salto da Ponte 25 de Abril ou similar.
-Enforcamento (em local isolado e sem assistência).
-"Pega de caras" a um comboio em andamento.
-Trapézio em cabo de alta tensão.
-Salto de paraquedas sem o respectivo paraquedas.
-Bungee-jumping sem elástico.
...
Enfim, sejam criativos!
PS: Já tinha aqui descrito a pachorra que tenho para estes "doentes" com "depressões", não tinha?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Processo Kafka-Pia.

Foram condenados TODOS os arguidos no processo Casa-Pia. No entanto é normal ouvir no trabalho, no café, na rua opiniões de pessoas que muito simplesmente acreditam que Carlos Cruz é inocente. E só Carlos Cruz tem este benefício da dúvida, fruto de anos e anos de simpatia distribuída através da televisão. Mas, o que deve ser alvo de reflexão não é o facto de se acreditar na culpa ou inocência de Carlos Cruz. Não, o que deve ser alvo de reflexão é o facto de que essa dúvida surge apenas porque os portugueses não acreditam na Justiça. Eu, pelo menos, não acredito.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Os Convivas da Távola Redonda.

Que a comida (o "cumer" como se diz na minha terra natal) ocupe um lugar central na vida dos portugueses, tudo bem. Que os portugueses consigam centrar toda uma celebração em torno de uma mesa farta, também tudo bem. Que os portugueses acordem a pensar no almoço e discutam acerca de qual a ementa do jantar durante esse mesmo almoço, menos mal. Que os portugueses vão de férias com a cozinha às costas e que passem essas mesmas férias a cozinhar, nada a opor. Que a expressão "Come-se muito bem nesse restaurante." signifique realmente "As travessas estão a transbordar comida em quantidades que ninguém normal é capaz de deglutir." e que "Fui a um casamento em que fomos muito mal servidos." queira dizer "Só havia dois pratos, um de carne e um de peixe, para além das entradas, enchidos, carnes frias, sopa e sobremesas.", ok. Mas, o que não me entra é que se façam quilómetros só para se comer num determinado restaurante! A sério, a ideia de me deslocar a um determinado sítio tendo como único móbil um determinado restaurante soa-me ridícula. É como dizer "Olha, vou a Paris almoçar num restaurantezinho onde servem uns "escargots" divinais e muito bem servidos. Diz que fica ali ao lado de um mamarracho de metal gigante, uma torre qualquer, mas diz que aquilo é grande, mesmo junto ao rio. O restaurante é mesmo ao lado, não tem nada que saber!". Mas, ò ignorância a minha... "escargots"? Ainda se fossem uns caracóis do Barbas... Nada disso, o portuga não se desloca a um qualquer restaurantezeco da moda que sirva um prato diferente, uma iguaria ou algo exótico. Vegetariano? Chinês? Indiano? Era só o que faltava! Nada disso, tem que ser um restaurante que sirva carrrrrne sangrante e em doses industriais. Cozido, ensopado, na chapa, na tábua, na pedra. Tudo bem servido e, claro, bem regado!
Nas minhas últimas férias conheci duas famílias. E, garanto-vos, que o tema principal das conversas não fugia muito dos tópicos: comida, restaurantes, roteiros gastronómicos, o inqualificavelmente magnífico naco na pedra mirandês, os secretos de porco preto divinais daquele restaurante em Estremoz, o leitão da bairrada que, afinal, é ainda melhor ali prós lados de Lamego, os queijinhos, o presunto, as azeitonas. Quando souberam que eu já conhecia Évora a primeira coisa que perguntaram foi: "E um sítio bom para comer?". Não há pachorra.
Não é que eu não goste de comer e beber, bem e muito. O que me intriga é o facto de esse ser o principal motivo de uma viagem, o tema central de um programa. Porque, em não tendo referências gastronómicas na zona escolhemos o restaurante ou a ementa que nos parecer melhor e comemos. Porque comida é comida e, em último caso, come-se qualquer coisa em qualquer sítio.