quinta-feira, 31 de março de 2011

A inevitável comparação.

Correndo o risco de parecer estar a "cuspir no prato" a verdade é que as condições que encontrei no hospital onde irei trabalhar, em Lausanne, estão a anos-luz da realidade portuguesa de qualquer hospital, público ou privado. Em infra-estruturas, equipamento e quantidade de pessoal. Se já estava motivado antes de conhecer o sítio, hoje estou ainda mais motivado e ansioso por começar a trabalhar nessa nova realidade. De maneira que, de uma forma que me parece legítima até porque já se vê a porta aberta par um novo futuro, não foi propriamente com a maior das vontades que regressei ao trabalho em Portugal, nas condições e com os meios que são conhecidos.

E eis que hoje, logo no meu primeiro dia de regresso ao trabalho nas urgências recebo a visita de uma "auditoria" por parte de alguns membros da "Comissão de Controlo de Infecção e Gestão de Riscos". Não haveria nada de estranho não fosse o facto de me ter encontrado perante 3 senhoras (enfermeira, técnica "qualquer-coisa" ambiental, e uma engenheira qualquer) que me massacraram a molécula cerebral com a distribuição dos sacos do lixo por cores: preto para lixo urbano, branco para produtos contaminados e vermelho para resíduos orgânicos contaminados. As senhoras passaram o tempo a vasculhar o lixo! Literalmente! "Aqui neste saco branco está um (UM!!) papel de limpar as mãos que devia estar no preto. Neste contentor de agulhar está uma lanceta para glicémia que devia estar no saco branco. Este caixote branco ao pé da torneira devia estar perto" numa atitude mais punitiva que pedagógica. Estes "técnicos do lixo" como eu lhes chamo estão preocupados com pormenores, com um aspecto que todos os técnicos estão carecas de saber. Afinal não é nada mais nada menos que separação de lixo! Mas as críticas surgem sem ter em conta o ambiente em que são feitas, com a inadequação do espaço de trabalho, com a falta de material, recursos ultrapassados e falta de pessoal.

Na verdade, esta atitude sempre me incomodou mas sempre a encarei com um encolher de ombros. Neste momento, depois de ter tido um vislumbre de uma outra galáxia de trabalho, estas coisas vão custar a engolir. Afinal, quem é que quer comer delícias-de-mar quando já se provou lagosta da boa? Vão ser longos dias de trabalho a partir de agora...

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