sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pérolas Linguísticas.

Que há muitos portugueses na Suíça já se sabe. Agora que eram TANTOS não fazia ideia! A primeira vez que vim a Lausanne tive a impressão de estar em Lisboa: enquanto passeava nas ruas ouvia algumas línguas estrangeiras que interrompiam o Português! Ele há portugueses por todo o lado: nas ruas, nas obras, nos supermercados, no hospital, nos correios, nos transportes. E isso é fácil de perceber se se souber que vivem cerca de 15 mil portugueses em Lausanne, uma cidade com cerca de 100 mil habitantes.  Sinceramente, quem não trabalhar directamente com o público não precisa de saber falar francês. E isso explica a razão pela qual há tantos emigrantes que falam muito mal a língua do país que os acolhe. E esse sempre foi um tema pelo qual muito me interessei, a Linguagem dos emigras tugas, uma linguagem que só eles conhecem: o Françuguês
Ora eu, tendo crescido numa pequena aldeia onde uma grande parte da população está emigrada e tendo uma grande parte da família em Paris, desde muito cedo que conheço este dialecto dos emigras. O Françuguês é uma mistura de Francês e de Português, onde se utilizam indiferentemente palavras dos dois idiomas numa mesma frase, na mesma conversa e até onde se inventam novas palavras que não existem em nenhum dos dois idiomas. O Françuguês é então um dialecto que dá espaço à criatividade do lucotor e este é alguém que domina na perfeição os dois idiomas (ou isso ou não domina nenhum dos dois, mas esta é uma teoria controversa que não discutiremos). Ainda por esclarecer está a razão pela qual os Portugueses emigrados em países francófonos utilizam este dialecto entre eles, estejam eles em Portugal ou Lausanne, Paris, Genebra ou Limoges. Uma teoria recente atribui este facto a alterações profundas no campo cerebral destas pessoas, que evolui de tal forma que já não é capaz de falar apenas uma língua falando assim dois idiomas ao mesmo tempo.
Exemplos (permito-me a esta liberdade sublinhando o facto que não domino as regras de tão complexa linguagem) que tenho ouvido um pouco por toda a cidade:

- Sr. enfermeiro tenho um pouco de mal à lá téte.
-Venho de passar um fogo rouge.
-Vais ali nettoyer as etageiras que venho de suite.
-Já viste mon chef m'a dit que je não pode ser, je ne peut pas faltar mais vezes, o cabrão. (true story)
- Tu est oú? Espera que j'arrive.

Estes são apenas pequenos exemplos descritos por um leigo na matéria. Mas fiquei deveras siderado, impressionado, rendido com uma conversa que, inadvertidamente, ouvi no refeitório do hospital entre duas empregadas portuguesas. O discurso saltava livremente entre o Português e o Francês começando uma frase num dos idiomas e terminando no outro, palavras eram criadas e utilizadas numa liberdade criativa de fazer corar o maior dos poetas. Aquele discurso foi música para os meus ouvidos e o principal motor deste texto. A minha inspiração! A agilidade mental daquelas senhoras, cujo raciocínio saltitava entre o Português e o Francês tal como abelhinhas esvoaçam de flor em flor buscando o mel, não está ao alcance de todos. Exige prática, investimento, anos de estudo. Actualmente não sou capaz de tamanha proeza, ou falo um idioma ou o outro à vez, mas permito-me sonhar que um dia, talvez um dia. também seja capaz de dominar um dos Símbolos Sagrados dos emigras portugueses: o Françuguês.  

3 comentários:

Agnes disse...

Ahahahaah, gostei tanto deste texto :P O meu francês é quase inexistente, mas já reparei nesse fenómeno durante umas férias na Suíça, no mínimo merecedor de um estudo sociológico!

joao disse...

ça va venir. tu verra;)

Anónimo disse...

Ahahahah!!! Muito bom! Tb estou na Suiça... e trabalho em lausanne... e concordo a 100% com o que tens dito! O que eu me ri com aquele episódio do português bebado nas urgências! às vezes dá para rir... outras vezes até tenho vergonha de falar a mesma lingua... a maior parte das vezes os nossos compatriotas não são motivo de orgulho, mto pelo contrário!E infelizmente são eles que fazem e dão a imagem do português emigrante... somos vistos como os bimbos, com um sotaque mto próprio, sempre a dizer sim senhor e aceitar as ordens do chefe,e que não fazem nada por se integrar pois ao domingo fecham-se todos no centro português a dançar o bailarico! Bem tinha muito que escrever... fico-me por aqui! Boa sorte para ti e para a tua familia! Ah quanto à teoria que com chefes suiços e empregados portugueses eramos o pais mais desenvlvido do mundo, não tenho duvidas nenhumas! Nisso tenho mto orgulho...eles não sabem trabalhar como nós! Para acabar... aguarda mais uns mesinhos, vais ver que o françuguês quando menos esperares vai sair que é uma beleza... até aposto que já dizes o ah no final das frases! ah?