(aviso: eventuais colegas que trabalhem em Cuidados Intensivos ou pessoas interessadas nesse domínio da saúde, o texto que se segue pode irritar-vos ou destruir as vossas ilusões, dependendo do grupo onde se encontram. Ficam avisados.)
Ora bem. Já aqui escrevi sobre a velha "disputa" entre as Urgências e os Cuidados Intensivos. Acontece que acabo de sair de um estágio de 3 semanas nos Intensivos e devo dizer-vos uma coisa: mas que grande seca! Irra que nunca mais acabava o raio do estágio...
Comecemos então a destruir mitos. Em Cuidados intensivos um enfermeiro dedica vá, uns 70% do seu tempo a carragar em botões de máquinas, 25% a esvaziar sacos e drenos e 5% a tratar do pacinete. e estou a ser simpático! Ah e tal porque são pacientes altamente instáveis e não sei quê, dir-me-ão vocês. Eu explico: apesar desse facto que reconheço, um doente em Cuidados Intensivos está 24/24h monitorizado com valores biológicos em tempo real, tem canos enfiados em veias centrais e arteriais, algália, um tubo na garganta e uma máquina que respira por ele. Ou seja, ainda o doente não sabe que vai descompensar, já as máquinas estão a apitar! Como o médico quase que dorme ao pé do doente...
Ah e tal e as máquinas todas e os tubos enfiados em tudo o que é orifício natural ou artificial? Ok, as máquinas e tal... vejamos: o ventilador são 3 ou 4 modos de ventilação. Aquilo é um bocado como um iPhone, tem milhares de aplicações mas só usamos aquilo para chamadas, mensagens e ir ao Facebook.
Uma circulação extra-corporal (uma máquina que suga o sangue do corpo e substitui os coraçáo e/ou os pulmões) é impressionante principalmente quando sabemos que está um tubo do diâmetro do meu indicador ás portas do coração do doente e que é uma máquina que faz de coração e/ou de pulmões mas, do ponto de vista do enfermeiro as acções limitam-se a vigiar e se aquilo apitar a chamar o Dr. especialista da coisa. Ou seja, é não mexer para não estragar. O famoso (entre os profisionais de saúde claro) Swann-Ganz é (mais um) tudo enfiado na jugular que atravessa todo o coração até quase ao pulmão mas que, mais uma vez, do ponto de vista do enfermeiro se treaduz apenas por anotar os valores que aquilo dá notificar se eles saírem da norma prevista. E podia continuar...
Resumindo, o enfermeiro em Cuidados Intensivos vigia, anota valores, despeja sacos e drenos, anota mais valores e entretêm-se a desentralaçar tubos e fios que aquilo entre os tubos enfiados nos buracos, os tubos dos trinta medicamentos que correm ao mesmo tempo e os fios das máquinas todas á volta, é um matagal que quase não se encontra o doente!
Ou seja, imaginem um lindo e reluzente Ferrari (um modelo qualquer que eu não sou esquisito!), topo de gama, tecnologia de ponta, aparelhagem sofisticadíssima e complicada e a vossa função é verificar a pressão dos pneus, o nível do óleo e assegurar que não aparece por ali nenhum vandalozinho que vá riscar a pintura daquilo.
(Eu avisei.)
2 comentários:
Fiz um estágio em Cuidados Itensivos e fiquei igualmente desiludida!
Sempre achei que ia gostar de Cuidados intensivos. Depois do texto parece-me que não vou ficar assim tão apaixonada se alguma vez passar por lá...
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