segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os Corredores da Vida.

"Porque são nos hospitais tão importantes os corredores?. Existem as salas de espera, as enfermarias, os elevadores, os quartos, as salas de operações, etc...mas os 'corredores' enquanto espaço (de caminho para o desconhecido) ganham um protagonismo nos relatos dos doentes (e também na literatura de ficção). A fotografia deste blogue tem também um corredor...". Este é um comentário da ex Ana que me fez reflectir. Na verdade, porque é que os corredores dos hospitais são tão presentes e têm um papel tão dramático na ficção. Veja-se a "Anatomia de Grey" por exemplo. As grandes questões dramáticas e muito do desenrolar da história acontece nos corredores!

Os corredores hospitalares têm uma grande importância no dia-a-dia de um hospital não por aquilo que valem como um factor que contribua para o desenrolar da "acção" mas mais como um espaço de encontro entre os profissionais. As máquinas de café estão nos corredores, as pessoas encontram-se e falam dos seus problemas (e dos problemas dos outros!) nesses corredores. Eu, por exemplo, utilizo o corredor quando preciso de "escapar" por momentos a tudo aquilo que se desenrola nos quartos e salas de tratamento ou exames. É o espaço que eu utilizo para me sentar e repousar um bocado, tendo a certeza que não vou ser interrompido por algum doente ou familiar. O corredor é território neutro no confronto entres doentes, famílias e profissionanis! Depois, todas as situações mais emocionais que envolvam dois profissionais acontecem no corredor! Arrufos de namorados, discussões, beijos, conversas alegres ou tristes, revelações e desabafos, confrontos e resolução de conflitos, finais de relações e "rapidinhas"! Tudo isto acontece nos corredores.

Calculo que, para os doentes, o corredor tenha algum tipo de valor simbólico. Para aqueles que vão ser submetidos a grandes cirurgias o corredor deve ser encarado como a última etapa de um caminho que deixará de ser conhecido a partir das portas do Bloco Operatório. Para os que estão internados será uma espécie de Limbo onde aqueles corpos se encontram presos. O mundo que existe para lá dos quartos, o único sítio onde podem dar mais de 5 passos seguidos sem encontrar uma parede.

Mas os corredores pertencem aos profissionais. Aos enfermeiros e médicos, auxiliares e técnicos e aos empregados da limpeza. É nos corredores que a vida pessoal desta gente se desenrola e é neles que, muitas vezes se decide da vida dos doentes e do próprio hospital. E por isso eu lhes chamo os "corredores da vida".

5 comentários:

Patrícia disse...

Olá, Enf. Miguel! Antes demais gostaria de me apresentar sou estagiária de Enfermagem (4.º ano)e desde alguns meses para cá tenho seguido assiduamente o seu blog! Que gosto muito e que, por vezes faz-me pensar, como este seu último post, mas como também muitas vezes me faz rir e por isso muito obrigado!
Desejo-lhe as maiores felicidades para 2010 (para si e sua família)!

PS: Biba ao nosso FêCêPê!!

esqueci a ana (ex-ana) disse...

Obrigada enfermeiro Miguel. Ficámos a conhecer melhor os corredores destes nossos hospitais. Iliás, cheirinho a éter é um titulo perfeito. Para blogue, série televisiva, livro, programa de rádio, ...
"Corredores da vida" boa!
Também nós somos "corredores da/pela vida", nem sempre com o mesmo ritmo, mas lá vamos correndo por ela (um pouco diferente do infatigável personagem aqui do lado direito que salta alegremente todos os obtáculos...).Com umas metas volantes e uma final (será?).
Parabéns pelos retratos 'desse lado' que muitos tememos...mas quando lá estamos gostamos de nos cruzar (quem sabe num corredor) com os 'Migueis' que felizmente existem.

Ana C. disse...

Mas se pensares bem não só nos corredores dos hospitais se passa tanta coisa, então e os corredores do liceu?
Mas sim, tens razão, os corredores são antecamaras, cenários, palcos, refúgios, passagens onde tudo pode acontecer e acontece...

Precis Almana disse...

Foi no corredor do piso em que fui operada no Egas Moniz que fui mais feliz. Significou que já podia - e devia - andar depois da minha última - e mais desagradável - operação há pouco mais de um mês. Mesmo significando que andava a arrastar o "candeeiro" onde ia o dreno amarrado... E era dele que eu via, do meu quarto, as visitas a chegar, a comida a vir, etc. ;-)

Precis Almana disse...

O corredor percorrido na minha cama para o bloco, e vinda, não me ficou gravado porque só vemos tecto e cabeças ;-)