Acabei dois livros quase em simultâneo, coisa rara! Durante muito tempo digeri lentamente a história de Leni Riefenstahl, a cineasta de Hitler. O livro, uma biografia não-autorizada resultante de um longo e profundo trabalho de investigação, revela uma mulher ambiciosa, calculista, manipuladora, sem- escrúpulos. Desde cedo que Leni desejou a fama. Primeiro através do bailado, tendo um breve sucesso, foi no cinema que atingiu a glória. Na Alemanha pré-Hitler, Leni seduziu realizadores, produtores e actores na tentativa de se tornar uma estrela. Manipulou críticas da imprensa a seu favor, rodeou-se dor melhores profissionais da cinema alemão de então (muitos deles judeus) e, finalmente, à boleia de um papel feito à sua medida por um realizador visionário da época, tornou-se conhecida de toda a Alemanha.
Escreve a Hitler antes da sua ascensão ao poder e torna-se sua amiga e fiel seguidora. É nomeada a sua realizadora pessoal e realiza os filmes dos Congressos de Nuremberga, "A Vitória da Fé" e "O Triunfo da Vontade" e torna-se a responsável por toda a estética e imagética nazi que perdura até hoje. As imagens das paradas e dos discursos inflamados de Hitler que sempre aparecem nos documentários sobre o tema são da sua responsabilidade. Atinge a glória mundial (patrocinada pelo III Reich) com o documentário "Olympia" acerca dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Resumindo: uma mulher sedenta de fama consegue manipular, enganar, falsear todos à sua volta (incluindo à cúpula máxima do Terceiro Reich!), nega e olha para o lado quando milhares de pessoas eram assassinadas, presencia pelo menos um massacre de judeus na Polónia, usa ciganos dos campos de concentração como figurantes num filme e, depois da guerra, consegue sair praticamente isenta de culpa! Aquilo que fez enquanto cineasta pode ter sido inovador e aberto caminho a uma nova abordagem mas o seu trabalha assentou sobre milhões de cadáveres judeus. Judeus como a sua mãe, apesar de ela ter falseado o seu registo de nascimento quando Hitler tomou o poder e declarou guerra aos judeus. Para mim, Leni é a "mãe de todas as cabras" e foi, talvez a mais cabra das mulheres que alguma vez pisou esta terra. Morreu em 2003 com 101 anos. Vazo ruim não quebra mesmo!
Já Dean Karnazes é um ultra-maratonista viciado na dor e na adrenalina. Aos 30 anos, descobre nas corridas de longa distância um escape à sua vida suburbana e rotineira. Num impulso corre durante 50 km na noite do seu 30º aniversário. Daí para a frente a sua vida divide-se: trabalha numa empresa durante o dia e corre maratonas durante a noite! 180 km em menos de 24 horas, 320 km durante o fim-se-semana! Uma maratona (42 km) no pólo-sul com -52º ou 80 km sob o mortífero sol do verão do Death Valley. Impressionante pelas distâncias percorridas a pé, quase sem paragens, o livro é uma viagem aos limites do corpo humano mas, acima disso, às capacidades da mente humana para se elevar acima dos limites físicos. É uma lição de humildade e de como o sentido da vida se encontra nas coisas simples da vida. E este homem encontrou o sentido da sua vida na estrada, no ultrapassar dos seus limites, na libertação da mente. Talvez só os corredores o entendam como lição mas não deixa de ser boa leitura!
E assim se fecham mais dois livritos!
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