Lá no hospital, para além das reanimações que chegam de fora, também somos nós que temos que responder às reanimações que acontecem nos diversos serviços do hospital. Cada dia há um enfermeiro e um médico des urgências que são portadores do bip de reanimação interna e, se algo acontece somos chamados a intervir. Hoje aconteceu.
O telefone toca para uma reanimação no serviço de medicina no 17° andar. Pego na minha mala de emergência (porque tanto podemos ir a um serviço de internamentos como ao restaurante!) e subo acompanhado da médica de escala nesse dia, por sinal, uma jovem assistente super ansiosa por não saber o que fazer. Siga, quando lá chegarmos logo se vê, digo-lhe. Chegamos, três médicos e três enfermeiros do serviço de volta da senhora (velhota, 86 anos) com ar de ter a cena controlada mas com aquele olhar "tirem-me daqui". Por cortesia pergunto se posso ajudar e ponho-me à disposição pois em casa alheia não te armes aos cágados, um lema para a vida. Ok, pedem-me para ver se consigo canalizar uma veia com um catéter decente pois os que eles colocaram são demasiado pequenos. Entretanto chega o médico dos Cuidados Intensivos (que completa a equipa de reanimação interna) e começa a dar ordens, quero sangue, preparem os soros, preparem os medicamentos para entubar, chamem os anestesistas. Foi o caos. Os meus colegas do serviço (os tais 3 que já lá estavam) começam a correr de um lado para o outro sem que nenhum fizesses as coisas completamente e chamam ainda mais pessoas para ajudar. De repente tinha aí uns seis ou sete a ocupar espaço e a gastar oxigénio mais a produzir muito pouco. Casa alheia ou não, era a minha reanimação...
Dirigi-me a uma das minhas colegas, qual é o teu nome? Mélanie. OK, eu sou o Miguel, ouve: a partir de agora a tua única função é preparar os medicamentos que o médico pedir OK? OK. Yann, tu vais tratar de tudo o que é soros: sempre que um saco acabar quero outro a ser pendurado. Certo. Anna, a tua única função é ventilar a doente, mais nada ok? OK. O resto do pessoal que não tem nada para fazer: pirem-se! A partir daqui, sempre a rolar! Doente sedada e intubada, partimos para os cuidados intensivos.
Na volta, a médica novinha (que acabou por ficar num canto) que me acompanhava estava de queixo caído, fónix, foi impressionante como lideraste a equipa sem sequer os conheceres! E sem nunca perderes o que se estava a passar com a doente (acho que se apaixonou a miúda)! Mas a pérola do meu dia foi quando apanhámos o elevador para regressar ao nosso serviço encontrarmos um dos chefes dos cuidados intensivos que tinha estado lá a observar a cena e que me diz simplesmente: trabalho fantástico que fizeste ali dentro. E faz-me um high five!
7 comentários:
Boa!!! Parabéns!!!
Bjs
Márcia
Muito bem!
É tão bom quando conseguimos fazer bem o nosso trabalho. Melhor ainda quando os outros o reconhecem! :)
Miguel, perante este texto fantástico, sabes qual foi a imagem que veio à minha cabeça no final? Estar lá, a rebentar de orgulho, e a dizer "O homem é bom, não é? Pois é! É TUGA!!!!"
Não te conheço de lado nenhum, é um facto. Mas é enorme o orgulho que sinto de cada vez que relatas os teus sucessos por terras helvéticas! Um abraço,
Patrícia
até fiquei de lágrimas nos olhos.Juro!
É isso mesmo!
(eu tenho ataques de panico ou ansiedade ou lá o que seja - se poderes dar umas dicas, das boas!!!!Agradeço)
Oh yeahhh Miguel rocks :) ahahah
Salvar vidas não é para todos...mas é bonito de se ver =). Parabéns!
Só para quem merece! ;)
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