domingo, 1 de fevereiro de 2009

Hora da Visita.

Todos os hospitais têm a hora da visita. Tempo não muito apreciado por muitos enfermeiro, que se fecham na sua sala de trabalho assim que as primeiras visitas entram no serviço, é um óptimo campo de estudo social.
A hora da visita é esperada por muitos dos doentes, mas também temida por uns outros tantos. É comum observar o brilho nos olhos de um doente que, de repente se vê rodeado de filhos, noras, genros, netos, amigos. Para essa pessoa, a hora da visita é o momento alto do dia. Passam a manhã a arranjar-se, descançam para poderem estar despertos durante essas (poucas, pouquinhas) horas e ficam ansiosos se os familiares se atrasam. Identificam-se facilmente pela vida e alegria que transmitem ao serviço.
Contudo, estes não são os mais comuns. A maioria dos doentes não gosta da hora da visita. Porque fazem muito barulho. Porque fico cansado. Porque me dói a cabeça, porque fico nervoso. Estas são as suas razões. Aquilo que depreendo é, no entanto um pouco diferente: porque me lembra que estou só, porque me mostra que não sou querido no seio da família, porque me faz sentir um fardo que obriga a família a deslocar-se para me visitar, porque não conheço os meus filhos e não sei que lhes dizer (e assim o tempo pesa), porque sinto inveja do meu colega de quarto e da sua família, grande, unida e feliz à volta do seu ancião.
Hoje assiti a uma cena que me fez reflectir nisso:
Filho: -"Olá Mãe. Como se sente hoje?" enquanto a beija
Mãe: -"Boa tarde filho. Sinto-me... na mesma"
Filho, enquanto se senta e pega numa velha revista cor-de-rosa:-"Nunca pior mãe, nunca pior..."
.... passa a hora, o filho levanta-se e diz:
Filho: -"Pronto mãezinha, gostei de a ver. Adeus, até amanhã."
Mãe: -"Adeus filho. Não voltes amanhã, é muito transtorno para ti. Vem para a semana."
Filho: -"Adeus mãe. Até para a semana."

6 comentários:

S* disse...

Que horror, que gente insensível. :| Como é possível tratar assim a própria mãe.

Deve ser uma profissão pesada.

Ana C. disse...

Este texto bateu-me fundo. Vi o quadro todo, o filho a desfolhar a revista, evitando olhar a mãe. A falta de intimidade, de cumplicidade. Tu que és pai e eu que sou mãe (e também somos filhos) temos que fazer destas coisas motivos para reflexão...
Obrigada por me pores e pensar.

LadyBug disse...

=S

K horror...

Também noto isto todo os dias... não sei como é possível!

Às vezes até noto que eu, como (futura) enfermeira consigo ter maios cumplicidade com os doentes do que a própria família... E é triste.... :(

Beijinho

Banita disse...

A solidão é muito triste e já dizia Pessoa: é um andar solitário entre a gente. Essa, quanto a mim é a tristeza pior, a solidão quando acompanhada...

JBrito disse...

A mim, por incrível que pareça aconteceu o contrário...
Mãe internada numa quinta á tarde.
Filho eu, em Marbella (EM TRABALHO) recebe um telefonema do Pai nessa noite 22h em España 21h em Portugal.
- Ah és tu? Enganei-me, queria ligar para a tua irmã, mas olha a tua mãe foi ao hospital e ficou internada.
- Ha?!? Como, porquê?!
E conta-me o sucedido.
No dia seguinte, Marbella a Málaga , avião atrasa-se, finalmente Lisboa, engano-me no parque onde supostamente deveria estar o carro estacionado e não estava e durante 40 minutos de troly para a frente e para trás, ops!? Piso errado, siga para o Hospital, durante 7 dias, assim num lufa, lufa de todos dias ao Hospital á hora de almoço, pois só temos 30 minutos para falar com médica, e viagens e gasolina e portagens que se lixe, e no ultimo dia… ou seja e em suma, a Mãe chateadíssima porque… bem fica só esta frase para “vocês” num telefonema de os quase 4 diários -
Eu - Está mãe!?
Mãe – Sim, O QUE FOI AGORA?!

Bypassone disse...

Lol, gostava de ver como se arranjavam se a hora da visita fosse como aqui, das 14 às 20. Hehehe...