sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um pormenor sem a mínima importância.

05:00 da matina. Já estamos todos mais para lá do que para cá, nos Cuidados Intermédios, sítio onde ficam os doentes demasiado instáveis para as enfermarias mas não suficientemente graves para os Cuidados Intensivos. Uma espécie de Limbo ou melhor, Purgatório onde se decide se o doente vai para a Luz das enfermarias ou para as Trevas dos Cuidados Intensivos. Enfim, estava tudo calmo, os doentes menos graves dormem e os monitores dos "afundados" dizem-nos que também estes descansam, através das linhas rítmicas, coordenadas, sem picos ou vales que traduzam dor ou uma perigosa aproximação ao abismo.
Subitamente, um dos monitores irrompe o silêncio com os seus alarmes que sempre se parecem demasiado com gritos humanos ou então com os sinos a tocar os "finados" (porque será??). Um dos doentes menos estáveis estava a tentar escapar-se em direcção ao túnel (aviso: se estiverem num túnel e virem a luz não a sigam, fujam da luz. Bom... a não ser que estejam no Metro e aí talvez seja melhor não me darem ouvidos.) e, enquanto iniciamos todos os procedimentos para o estabilizar ligo ao médico de serviço. Esse médico, embora excelente do ponto de vista técnico, tem uma personalidade com um ligeiro toque esquizofrénico, o que faz dele uma figura mítica neste hospital.
"Dr., venha aqui ao serviço porque o Sr. Fulano está a escorregar-nos."
"Grrrrunffff, hã???"
"O homem está a parar, venha depressa!"
"Gruuunhhhhhh, raio de hora para parar... fo****-se!!! Já vou, já vou!!!"
....
....
Entra apressado no serviço. Olhos remelosos e ainda semicerrados de quem não passou a cara por água, o cabelo desgrenhado, bata desabotoada, roupa amarrotada. Dirige-se ao doente cuja cama é a primeira que se encontra quando se entra e PUMBA!!!!!! Prega um belo murro pré-cordial ao doente (é um simples murro no peito que serve para tentar que o coração recomece a bater antes de se iniciar manobras de suporte de vida. É baseado no mesmo princípio que seguimos quando espetamos uma murraça no computador quando este não arranca!) e ouve-se:
"EI!!! MAS QUE?.... EU ESTAVA A DORMIR!!!!!"
E eu, com enorme dificuldade em conter o riso, digo: "Dr. não é esse doente. É o da cama do lado..."
"Porra, merda pá!! Podiam ter-me avisado!!!!
Acabam as manobras, o doente sobrevive e tem alta do hospital uns dias depois, passamos o resto do tempo a rir que nem maluquinhos. O doente que dormia descansadinho quando foi bruscamente acordado não mais voltou a dormir profundamente enquanto lá esteve, abrindo o olhito sempre que alguém se aproximava. O médico voltou para o seu quartinho e juro, juro que aquele murro foi com um tudo nada mais de força do que é normal e que, por instantes me apercebi de um esgar de ódio na face do médico como se gritasse "Isto são horas de acordar um gajo???"
E tudo está bem quando acaba bem.

7 comentários:

Ana C. disse...

Mcsleepy para ti apenas 3 palavras que exprimem tudo o que é preciso dizer acerca deste post:
AH AH AH

Anónimo disse...

EHEHEHE!!! Parto-me a rir com estas coisas.

Grande história, sei de uma muito semelhante que se passou no hospital onde trabalho mas que em vez de dar um murro a quem estava a dormir... foi fazer um toque rectal a um doente com fractura do perónio. Já ninguém está seguro...

Continuação :)

Sílvia disse...

Não pude deixar de rir loool. O senhor coitado é que não deve ter achado piadinha nenhuma, ser acordado a meio da noite, ainda por cima dessa forma não deve ser nada nada agradável.

bjo***

Joanissima disse...

Não é facil estar doente neste País... : ))))

ana disse...

ahahaha! Fantástico!

S* disse...

Coitado do doente que não estava a sofrer nenhum ataque. :D

Vida dura a de quem trabalha num hospital.

Banita disse...

LOL!!! Ou como dizem os mexicanos: re-ja ja ja!!!
Muito bom post! Muito divertido!