Os meses passaram e a sua relação esfriou. Cada um seguiu a sua vida, mais ou menos indiferente ao rumo do outro. Ela entretanto começou a passar mais tempo com um rapaz. Um fulaninho discreto, face branca, cabelo negro sempre em frente aos olhos, corava cada vez que alguma rapariga lhe falava e fazia umas covinhas na face (adoráveis, segundo ela) as poucas vezes que sorria. Um tipo pseudo-misterioso. Nesta altura, ele sentiu-se ligeiramente incomodado. A atitude dela, com o passar do tempo, alterou-se um pouco. Apercebeu-se que ele não era assim tão arrogante, que ajudava os colegas, que gostava de estudar mas que também gostava de se divertir, se bem que tivesse um estranho gosto musical.
O tal rapazinho misterioso fazia parte do grupo de amigos dele. E ele sentia-se cada dia mais incomodado em vê-los sempre juntos nos intervalos. Isso levou-o a retomar o contacto mais directo com ela. Desta vez mais discreto, menos afirmativo, foi descobrindo os locais que ela frequentava e passou a ir ao mesmo café que ela. Passou a ir para casa no mesmo autocarro que ela, se bem que isso o atrasava cerca de uma hora, aproximou-se de um dos amigos mais próximos dela quando se apercebeu que partilhavam o gosto por alguns grupos de música. Passaram a ver-se muitas vezes e ela foi-se habituando a ele. Certo dia, sem nenhum deles o programar, estavam sentados à mesma mesa!
Ela agora estava curiosa e muito mais confiante!! Estar no seu território deu-lhe mais confiança e tornaram-se, de alguma forma, amigos. Falavam nos assuntos da escola, nos assuntos quotidianos. Sem se darem conta descobriram que estavam muito tempo juntos. Ela já não via tantas vezes o rapazinho-das-covinhas-na-face e ele começou a descobrir novos sentimentos por ela. Escreveu algumas cartas, alguns poemas. Lembrou-se do seu aniversário, roubou uma rosa de um jardim e ofereceu-lha, passou a esperar por ela na paragem do autocarro e a acompanha-la até à escola. E ela dava sinais contraditórios. Ora não gostava do poema, ora gostava da carta. Uns dias sorria ao vê-lo, no dia seguinte não lhe ligava. A rosa estava "ratada", porque umas pétalas não estavam inteiras. Ele insistia, mas havia dias em que não a suportava!! Num dia solarengo, conversavam sentados ao sol no chão do pátio do liceu e ela lembrou-se de riscar o nariz do Kurt Cobain (vocalista dos Nirvana), que os olhava depressivamente num poster que ele tinha colado num dos seus cadernos de capa preta e ele "passou-se"!! Ela riu-se da figura ridícula dele. Ele acalmou e ficou surpreendido por isso.
Os sentimentos dele estavam cada vez mais claros: gostava dela. Mais do que como amiga. Tinha vontade de a beijar, de estar mais tempo com ela. E tinha a certeza que ela também sentia algo por ele. Num daqueles dias em que um dos professores faltou e tiveram um "feriado", conversavam no bar da escola sobre coisas banais e ele soube que estava na altura. A medo disse "Há uma coisa que te quero perguntar há já muito tempo...", o seu coração descompassado batia-lhe nos ouvidos. "Sim?" respondeu ela, sorrindo como se antevisse a pergunta. Ele respirou fundo e disparou "Queres namorar comigo?" O tempo parou, ele olhou para o chão e, quando levantou o olhar e a encarou ela sorria. Não disse nada por um momento. Ele começava a arrepender-se e a pensar em qualquer coisa para dizer quando ela, muito simplesmente, o beijou!
Esse beijo dura até hoje. Passaram 14 anos.
8 comentários:
Oh que lindo Miguel. :D Tenho esperança de encontrar alguem assim. Tenho sim.
Bonita história, Miguel! Gostei! É sempre bom conhecer uma história de amor! Desejo que o vosso beijo se prolongue durante muitos mais anos! No mínimo a eternidade! :D
Também fui eu que beijei primeiro o meu banito! Anda lá que se faz tarde, mulher despachada é o que se quer!! ;)
Que linda história. É tão bonito ver como alguns promenores ficam gravados para sempre. Que o vosso amor permaneça assim para sempre.
Fico feliz que estejas melhor. É muito bom poder continuar a ler os teus posts. Vou ficar "colada" ao rádio a ouvir o programa. Parabéns!
Sanxeri... eu também. Tenho esperança de encontrar alguém que me encha as medidas.
*suspiro*
A esperança é a última a morrer *
Conseguiste transformar uma história de adolescentes na escola, numa narração bonita de amor. E fico contente por saber que o vosso beijo dura até hoje :)
Este desafio foi dos melhores já inventados, sem dúvida. Depois faz bem a quem escrever, porque revive tudo e faz bem a quem lê, pois renova a esperança no amor.
Que bom saber que há amores que duram a nossa vida inteira. Porque é indiscutivel que, 14 anos, são quase uma vida toda.
Tão linda, a tua historia!
Gosto muito de saber de relacionamentos que começaram na adolescência e perduram até hoje, como o teu. Talvez por ter testemunhado o do meu irmão, que também continua muito feliz. :-)
Tinha ficado na parte 2 da história e cheia de expectativa. Que linda história de Amor.
Parabéns!
Enviar um comentário