domingo, 22 de março de 2009

Jade

Morreu a Jade.
Não conhecia a rapariga antes da avalanche de capas de revista com a sua foto. Aquele aspecto que conheço tão bem, que já não me choca. Não pude deixar de pensar que, afinal, não tem assim tão mau aspecto para quem está em cuidados paliativos. Mas depois ocorreu-me de todas as operações cosméticas que sempre são feitas a quem é figura pública. Porque, mesmo às portas da morte, uma figura pública tem o dever de estar sempre bem para os seus fãs. E quantos fãs eu não ouvi a comentar a vida (morte, neste caso) como se dum familiar ou amigo se tratasse. É curiosa esta dicotomia entre familiaridade e distância que temos com as figuras públicas.
Mas enfim, como dizia, nunca tinha ouvido falar desta senhora até ela me entrar pelos olhos dentro em todas as capas de revista. Muito se falou sobre o caso. Desde a abordagem dramática, populista e sensacionalista, tipo-TVI (aposto que se fará um especial Jade no próximo programa do Goucha!) até à abordagem mais moral e ética do mediatismo dado à morte de ser humano. Houve quem se indignasse com o facto de um canal de televisão ter comprado os direitos de transmissão da morte da rapariga, Quem condenasse a própria por se aproveitar do seu estado para lucrar uns milhões. Ouvi num programa de rádio uma pequena rubrica onde um tipo qualquer e uma outra fulana falavam deste caso como o "elogio da inutilidade", de como uma tipa que tinha sido perfeitamente inútil durante a vida, conquistando a fama sem ter feito nada de registo a não ser ter participado em reality-shows, era agora publicitada pelo simples facto de estar a morrer e, ainda por cima, ganhar dinheiro com isso. O que me chocou foi o tom jocoso e ligeiro como destroçaram o sofrimento daquela mulher. Quase como se deixassem implícito que a sua doença tinha sido uma sorte para ela, mais um argumento para ter as luzes da ribalta. Por momentos achei que iam afirmar que tinha sido ela própria a causar a doença em si mesmo.
Costumo ser bastante crítico com todo o circo voiyeurista à volta das celebridades bem como com programas na senda do Big Brother (já agora, leiam o livro. É excelente e a única coisa de positivo que retirei do programa foi o facto de me ter feito descobrir essa obra!) mas neste caso abro uma excepção.
Alguém que faça tudo para assegurar o bem estar dos seus filhos, sem prejudicar terceiros, mesmo que para isso tenha que se sujeitar ao sofrimento e ao desconforto até no seu leito de morte tem a minha admiração. Qual de nós, pais e mães, não o faria se assim o pudesse?
Ouvi algures que, o que define uma pessoa não é a maneira como se vive, mas sim a maneira como se morre.

12 comentários:

S* disse...

Ia agora mesmo escrever um texto sobre ela. Foi precis grande coragem.

Certamente que se expos por amor aos filhos. Ninguem gosta de ver gravada a sua morte.

Sílvia disse...

Acho que acima de tudo foi um acto de coragem... No fundo deu-se a toda estz exposição mediática para deixar os filhos bem... Não a condeno... Já lhe bastava o sofrimento da doença...

bjo***

rosemary disse...

Mais uma vez, concordo contigo. A escolha foi dela e ninguém deve julga-la por fazer tudo o que estiver ao seu alcançe para assegurar o futuro dos filhos. Foi, acima de tudo, uma escolha muito corajosa.

Bjs*

Ana C. disse...

Eu tinha ouvido falar dela por causa do escândalo que deu no Big Brother com comentários racistas (penso eu de que) e tinha sido expulsa por causa disso.
Conseguiu entrar em mais não sei quantos programas do género cobrando pequenas fortunas e por fim fez da sua morte um Big Brother final. Ela já tinha uma fortuna considerável.
Não a julgo por querer deixar os filhos bem e se essa ideia dela rendeu, foi porque há quem de facto compre este tipo de espectaculo.
Confesso que não comprei nenhuma das revistas onde ela apareceu, precisamente por esse voyerismo mórbido. Fez-me lembrar aquelas pessoas que param sempre para ver o acidente na estrada e os mortos.
Quanto a ela, penso que teve uma forma muito pacífica e tranquila de se despedir da vida. Espero que tenha conseguido transmitir isso aos filhos.

Irina A. disse...

Tenho uma visão deste caso bastante diferente da maioria das pessoas...
Ela teve milhentas oportunidades de "arrecadar" umas massas para os filhos, e arrecadou mesmo, não havia necessidade desta cena deprimente. Esta cobertura da morte dela, serviu para alimentar aqueles abutres da tv e jornais, e mais un quantos anormais que adoram todo o tipo de fofoca nem que seja a morte de alguém...

Da minha parte esta atitude dela leva nota zero! Não gostei do show criado à volta desta desgraça toda.
Ainda me lembro da primeira foto dela que foi tirada à porta do hospital após a primeira sessão de quimioterapia...deprimente...muita sede de protagonismo barato...

Miguel disse...

Kitty, não tento sequer rebater que ela teve uma vida fútil. Contudo, sei por experiência própria que a aproximação da morte muda as pessoas. Sinceramente, acredito que foi um acto de amor e não sede de protagonismo.

Miguel disse...

Concordo contigo Ana. Se alguém é mórbido são as pessoas que alimentaram os leões do circo. Continuo a achar que qualque pai faria o que necessário fosse para proteger os seus filho, ainda pequenos, após a sua morte.

Carla disse...

Como mãe não questiono tudo o que a Jade fez para assegurar o bem-estar dos filhos, no entanto, sempre com uma pergunta em mente que não deixa de me incomodar cada vez que ouço falar deste caso.
Será que mais tarde os filhos, sabendo da sua vida desafogada à custa da exploração da morte da mãe, vão conseguir viver com o dinheiro que a morte lhes proporcionou? Até que ponto aquele dinheiro não lhes vai ‘queimar ‘ a vida tanto ou mais que a perda da mãe?
Não estamos a falar de um qualquer seguro de vida, indemnização, que todos os pais 'relaxam' ao saber que em caso de morte lhes assegura um pouco a vida. Falamos de dinheiro realizado à custa de um grande sofrimento e de um circo desmedido por quem pagou porque outros tantos assistiram.
E é aqui que a minha tolerância se esgota…

Irina A. disse...

Compreendo a tua opinião Miguel, mas eu não acho que ter um cancro, vender a imagem, a doença, dançar e gritar à frente de máquinas fotográficas após uma sessão de quimioterapia, e vender a sua morte a troco de dinheiro sejam atitudes de amor... mas claro, cada um tem a sua opinião sobre este caso... eu acho que ela arrecadou milhares de libras com toda a "festa" que fez durante este tempo todo de TV's, reportagens, fotografias, Big Brother's, etc..., não precisava de chegar ao extremo que chegou.

Aliás, tu és pai, graças a Deus que n estás a passar por uma situação destas, mas tenho a certeza que se estivesses aquilo que mais querias era passar o resto dos teus dias em paz a gozar a companhia do teu filho, estarei certa?

Não quero com tudo isto dizer, que não ache bem o facto da rapariga ter alertado tantas mulheres para este flagelo, no entanto as restantes atitudes ficaram muito áquem...

E pronto, fim de opinião :)

Joanissima disse...

Eu não sei se teria coragem para me expor tanto mas, de facto, pelos filhos faz-se qualquer coisa.

Tasha disse...

De maneira nenhuma (acho) desejaria para final da minha vida, um como este, mas compreendo a decisao da Jade. Compreendo, pois, se olharmos para toda a sua vida vemos o que?? FUtilidade, abandono e vicio. Do nada para o tudo. E assim se escreveu a sua vida a té ao fim... Acredito que ela nao quisesse isso para os seus filhos. Que futuro os esperaria? Como poderia ela compensa-los da perda da mae? Porque quereria ela este mediatismo todo e este dinheiro todo? Para gastar em casa, férias de luxo ou carroes? UPSS, nao... Ela estava a morrer, nao é? Acredito, como Dis o Miguel C. que a morte muda as pessoas e ela passou a querer essa fama exacerbada com intencoes bem masi humanas. Proteger os seus filhos da incerteza, da única maneira que ela sabia tao bem. Nao consigo acreditar que o tenha feito só pelo dinheiro e pela fama.
Nao comprei jornais nem revistas com noticias "Jade", aliá, assisti a tudo muito á distancia, mas dou-lhe valor. E acho que no meio disto tudo foi até uma mulher de coragem . E, á maneira dela, fez pelos que amou.
Além do que, aqui em Inglaterra existem muitas miúdas que se identificaram e sensibilizaram com ela e por isso ela até conseguiu que muitas mulheres jovens passassem a querer fazer os tais testes de despistagem da doenca. COisa que é motivo de muito desleixo neste país, infelizmente...

Eumesma disse...

Independentemente de ser ou não correcto expor-se tanto e de realmente ser bastante mórbido o que fez, o que é certo é que o fez para o bem dos filhos e mais alertou as pessoas uma vez mais para o terrivel probelma que teve, "abanou as hostes" como se costuma dizer e isso, bem isso é que interessa na realidade...
Chocou-me mto este caso e se teve na relaidade uma vida menos "própria" agora no fim perdou-se a si própria e consegui o perdão de todos, e é como dizes "o que define uma pessoa não é a maneira como vive mas sim como morre" e ela morreu com toda a dignidade e mais alguma do mundo.