"Pais demissionários, filhos caprichosos."
"Desde sempre e em todas as civilizações, era o filho que fazia tudo para agradar aos pais e ganhar-lhes o respeito. Mas, desde que passou a ter atenção em demasia, a criança deduziu que estava numa posição em que não precisava de dominar os seus impulsos. E com a demissão dos pais, ela multiplica os seus caprichos."
"Hoje, muitas instituições (escolas) comportam-se como se não tivessem alunos mas clientes. E uma criança que consegue tudo sem sequer pedir,vai continuar à espera de receber o que quer, sem qualquer esforço."
(Sobre a dificuldade dos pais em dizer "não") "Prende-se com o facto de terem adoptado uma atitude completamente diferente da que tinham para com eles, quando eram crianças. A sua sensibilidade aos direitos que ganharam com a democracia fizeram-nos rejeitar o modelo baseado na autoridade e acreditar que a criança precisa apenas de amor para crescer. Chegam a pensar que dizer "não" é um resquício do autoritarismo que antes condenaram. Só que, com isso, deixaram o seu filho entregue à tirania das suas pulsões, sem saber como combatê-las. Fará o seu caminho com atitudes cada vez mais provocatórias. E, afinal, os pais podem, e devem, dizer "não", sem ter de explicar tudo e mais alguma coisa."
(Afastando qualquer regresso aos castigos corporais) "O castigo é o meio pelo qual a criança aprende a reprimir os seus impulsos e permite-lhe comparar a falta de prazer resultante de fazer algo que não está certo com o prazer que decorre de fazer algo bom. É um indicador do limite até onde pode ir."
Não consigo deixar de pensar que a genialidade está em exprimir por palavras aquilo que todos sabemos empiricamente. São trechos de uma entrevista a Aldo Naouri, pediatra e investigador francês, publicada na Visão nº 837, de 19 a 25 de Março. E vou a correr comprar o último livro deste senhor de 71 anos, "Educar os Filhos" (Livros d'Hoje).
3 comentários:
Miguel eu tenho que escrever um post sobre a palavra Não. E como o dizer não é sinal de amor.
Eu não assino por baixo apenas uma vez, mas milhões de vezes.
Ana, este senhor traduziu em palavras tudo aquilo que eu sinto sobre o que está mal com a educação dos nossos filhos. E como custa dizer não. Um professor meu, psiquiatra designou este acto de dizer "não" aos filhos, mesmo correndo o risco de os magoar, como "Amor Firme".
Por acaso, li a entrevista e pensei o mesmo. Vou a correr comprar o livro porque ando mesmo a precisar de reforço lá em casa...
Cristina
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