O frio da noite que rodeia Artur parece estar agora dentro dele. O seu estômago, pulmões, garganta ficaram gélidos com a visão de Alice correndo para dentro das Urgências. As suas Urgências. O coração bate agora descompassado e as pernas tremem quando inicia a marcha. Ao entrar no hospital é bafejado pelo calor do ar condicionado e pelo ruído das vozes misturadas com as máquinas e os intercomunicadores, roucos e imperceptíveis. Ali sentia-se bem, era como um espectro que vagueia sem ser visto, estava no seu território e isso deu-lhe a coragem que iria precisar para encarar Alice.
Dirigiu-se ao guichet das incrições, "Aquela menina ali, que acabou de se inscrever? Como se chama?" -"Olá Enfº Artur... Olha, chama-se Maria como..." a voz da secretária hesitou e esmoreceu antes de terminar "... como a sua esposa." Maria. Maria estava em coma há mais de 4 anos. Artur sentiu-se vergado por um sentimento de culpa e desonestidade. Ver Alice no café era uma coisa, sentir-se entusiasmado por a ver ali, debaixo do mesmo tecto que protegia também a Maria era outra. Quase pecaminoso. "Mande entrar a menina, por favor."
Alice estava desesperada. Bem diferente da mulher altiva e orgulhosa que conhecia do café. O cabelo desalinhado, pálida, segurava no colo uma menina de cerca de 5 anos. Maria estava lívida, os lábios negros e respirava ruidosamente. "Olá Ali... errgg... minha senhora. O que se passa com a menina? perguntou Artur, sentindo que a língua seca não lhe queria obedecer. "Por favor Enfº. A minha filha está com imensa dificuldade em respirar... já anda doente há uns dias mas hoje..." Artur encaminhou-as para a sala de tratamentos, preparou os aerossóis e administrou tudo mesmo antes de falar com os médicos. Perguntava-se porque aquela auto-confiança que o dirigia naquele ambiente, tão adverso para muitos, não se manifestava noutros aspectos da sua personalidade.
Maria melhorou rapidamente. Artur acompanhou a evolução da menina à distância, fingindo-se ocupado com outros doentes mas sempre atento. Subitamente, Alice surpreende-o quando se dirige a ele, sorrindo "Obrigado, foi muito atencioso da sua parte ter tratado da Maria tão depressa!", Artur tinha as mão frias e suadas e o tempo que demorou a responder pareceu-lhe uma eternidade "ahh... ora essa... não foi nada. As melhoras!" assim que terminou de falar todo o seu corpo lhe gritou: Estúpido!!! Que melhor oportunidade do que aquela para se aproximar de Alice? Merda, merda, merda.... "Não costuma frequentar o café, aqui perto? Sim, agora reconheço-o! Obrigada, da próxima vez que lá for tem o cafezinho pago!" Artur sentiu todas as entranhas a fever! Ela lembrava-se dele, reconhecia-o!!! Alice agarrou-lhe gentilmente a mão, agradeceu e saiu. Artur olhou para a sua mão e, inconscientemente, acariciou a face.
Chegou a casa depois do turno. Daniel, o filho, preparava-se para sair para a escola. "Bom dia pai! Como está a mãe?" Artur estremeceu, não tinha visitado Maria naquela noite. Mudou rapidamente de assunto "Outra vez com essa camisola!! Mas não tens mais nada para vestir???". Daniel revira os olhos e responde "Por favor pai... estás farto de saber que os Nirvana são a minha banda favorita."
Então? Safei-me??? Bom, agora já está, já está!! Está do teu lado agora Ana!!!
9 comentários:
UAU! Temos dueto! Vou continuar a acompanhar esta história escrita a quatro mãos, que isto promete!
Tinhas de introduzir o puto fã dos Nirvana, pois claro! ;-)
Está muito fixe e estou cada vez mais empolgada e curiosa para saber onde tudo isto vai parar! Que desfecho terão estas criaturas... Devo confessar que sinto uma certa pena da Maria que jaz prostada numa cama enquanto o Artur anda a prevaricar, pelo menos mentalmente, para já. A ver vamos o que se segue. ;-)
Mas eu ADOREI ADOREI!!!!!!
Temos noveleiro! Não teria feito melhor, resta agora tentar manter a proeza!
Gostei da camisola dos Nirvana. Conseguiste meter-te na pele de um tímido, estás a ver?
PARABÉNS!
Gostei. Tudo o que envolva sentimentos acaba por me tocar particularmente. :)
Miguel, parabéns, a história foi muito bem continuada. E promete. De facto o Artur está a modos que a prevaricar, mas temos de entender que o rapaz está carente, que é humano e que não está morto nem em coma. Quem está em coma é a sua mulher a Maria e já há quatro anos.É muito tempo! Vá Ana agora és tu. Isto está o máximo. Bjs.
Olha que bem! E aproveitando a tua experiência e tudo :-) Gostei muito!
Impõe-se uma salva de palmas!
Adorei que tivesses "misturado" o puto da tua história nesta, Miguel!
Gosto da sensação de segurança que o Artur sente quando está no seu ambiente e como ao mesmo tempo se acanha perante a Alice: you nailed it!
;)
Caro colega blogonoveleiro, já tens a parte 6 da saga escrita, agora quero ver como te safas desta ;)
Isto promete... : )))
(bravissimo!!!)
Adorei! Agora vou alí ao blog da Ana C. e já volto ao teu para a continuação da novela!
Até já!
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