Caminhavam lentamente pela cidade, sem rumo, sem objectivo. Um estranho, cheio de pressa e com ar atarefado, como sempre estão os habitantes das cidades, barafustou em surdina "Malditos pombinhos, sempre de mãos dadas a ocuparem o passeio...", pois era esta a imagem que aqueles dois recém-conhecidos davam, a de um casal apaixonado. Vaguearam em silêncio por algum tempo até pararem junto ao rio que banha a cidade. Apesar do frio estava um sol particularmente radioso. Artur olhou para Alice e reparou naqueles olhos verdes, profundos mas tristes e sentiu que já não fazia sentido, não ali, naquele momento, toda a insegurança que sempre sentiu em relação a Alice. "Quem és tu Alice? A minha mão teima em não largar a tua mas não sei nada de ti. De mim já sabes tudo o que há para saber...". Alice não olhou para ele. Mergulhou antes o seu olhar nas águas do rio e parecia falar para ele. "Não sei quem sou... Sei que sou mãe, é isso que tenho sido desde que Maria nasceu. Refugiei-me nesse papel quando me vi abandonada por um homem que julguei conhecer e encerrei o meu coração a outros para além da minha filha. E as coisas andavam bem. Trabalho num local onde poucos me vêem para além da empregada com o avental preto. Ali as pessoas olham-me mas não me vêem, sou... ninguém." Dirigiu o olhar a Artur e continuou "Até tu apareceres. Incomodava-me o teu olhar que tentava penetrar em mim. Tu sempre me viste. Só tu me viste... tentei afastar-te mas tu vinhas sempre, uma e outra vez. E eu fugia mais para dentro de mim. Até que te encontrei no hospital. Senti a ternura no teu olhar e, ao mesmo tempo como foste sério no tratamento que nos deste. Nunca tinha sentido o arrepio que senti quando toquei na tua mão e adormeci nessa noite contigo no pensamento. Foi por isso que hoje te procurei..." Quando terminou, Alice sentia-se a tremer, o estômago parecia contrair-se, o coração batia-lhe nos ouvidos, não sentia as mãos, as pernas não lhe obedeciam. Não compreendia o sentimento que tomava conta dela e que a levou a desvendar-se para aquele homem, um desconhecido. Que convulsão emocional fora aquela? Virou-se para Artur aguardando pela sua reacção e temendo que ele fugisse, achando-a louca.
Artur suspirou e sorriu. Pegou-lhe nas mãos e ficaram assim, frente a frente por uns minutos, cada um perscrutando o outro na tentativa de lhe adivinhar os pensamentos, desvendar emoções. "Esse arrepio de que falas... ainda hoje o sinto!", disse finalmente Artur, quebrando aquele silêncio ruidoso que se instalara entre os dois. Aproximaram-se. Olhos nos olhos. Artur podia agora sentir a respiração acelerada de Alice e ela cheirava já o perfume que Artur tinha colocado naquela manhã. Ela deu um pequeno passo em frente, até que os seus pés encontraram os dele e fechou os olhos. Ele puxou as mãos de ambos de encontro ao seu peito e beijou-a. Alice estremeceu ao sentir o calor dos seus lábios na sua testa. Sentia o corpo de Artur, o desejo que dele emanava, mas a respiração dele era lenta, profunda e controlada. Alice sentiu-se segura e respeitada junto daquele homem cujo corpo tremia de expectativa mas que ele optara por contrariar.
"Sinto que não serei capaz de te largar nunca Alice."
"Sinto que não serei capaz de te largar nunca Alice."
"Eu sei Artur... vamos?"
"Para onde?"
"Lembras-te que deixei a Maria com uma vizinha?"
"Sim..."
"Vens comigo?"
"Sim."
Uffff. Este foi o que mais me custou a escrever!!! Sem o contexto do hospital torna-se mais difícil, os diálogos não fluem como deviam, as cenas tornam-se mais desfocadas na minha mente. Ok, Ana, não se beijaram apaixonadamente, achei que seria um pouco precoce, uma vez que são ainda desconhecidos apenas com sentimentos indefinidos um pelo outro e perece-me que são ambos demasiado sérios e com demasiadas amarras emocionais para se lançarem numa aventura dessas!!! De qualquer forma agora é que não sei o que lhes vais acontecer mas tenho a certeza que já tens alguma na manga!!! Trata bem dos nossos pombinhos!!!
8 comentários:
Miguel,
Pode ter sido o que mais te custou a escrever, mas até agora, foi o texto onde acho que estiveste melhor. Mais "despido" do mundo em que te movimentas. Gosto desta tua maneira tímida de relatar os aspectos menos clínicos do amor.
Kudos to you!
;)
Miguel, mas tu és leitor fiél do Nicholas Sparks? Quais interrupções de hospital, qual carapuça. Cada vez estás com menos medo de escrever sobre os sentimentos e isso é muito, muito bom.
Muitos parabéns mais uma vez. Não te preocupes que os pombinhos estão muito bem entregues ;)
Ana C. Não sou leitor do Nicholas Sparks, deus me livre!! Li um livro dele aqui há uns anos, mas fui perfeitamente coagido a isso. E não, não sou muito emocional, trata-se apenas de imaginar uma cena, uma imagem e depois escolher as melhores palavras para a descrever!! Não te esqueças dos anos e anos de visionamento de telenovelas brasileiras!! E isso é um verdadeiro curso de escrita de romances!
Sei, coagido a isso. Pois...
E eu que já te imaginava um sentimentalão profissional sobre a capa fria de um enfermeiro nazi. Ah Ah
E as nossas saudosas novelas brasileiras. Roque Santeiro, Guerra dos Sexos. Isso sim era novela, também aprendi muito com elas.
Miguel C. Estou pasmada! Fizeste uma descrição de cena impressionante! Afinal temos novelista!!
Eu fujo do Nicholas sparks, parece-me que é meio esotérico e meio lamechas...
Parabéns! Agora vou ver o que faz a Ana C. com a Alice e o Artur! Tenho a certeza que não precisas de te preocupar com eles! ;)
Gostei, sim. Porque saiste do teu meio, é isso mesmo, e aguentaste-te à bronca. Parabéns :-)
Parabéns gostei muito.As coisas entre o Artur e a Alice estão agora a andar depressa. Estou em pulgas para saber o que é que vocês dois vão fazer com a Maria.Irá morrer como nas novelas, para que o casalinho seja feliz, ou vai ficar bem? E o que acontecerá à Alice? Tudo está ainda em aberto. Ele diz que ama a mulher que será sempre a sua mulher. Olha agora só esperando por mais episódios. Bjk
Mariinha, na verdade nem eu sei o que vai acontecer com todas as personagens. Tenho as minhas ideias mas tudo depende daquilo que a Ana me der para trabalhar. e eu a ela!
Bjos
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