quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dr. Jeckyl e Mr. Hyde

Em qualquer um dos meus trabalhos sou colocado em situações em que tenho que assumir a responsabilidade pelo serviço. Num dos lados sou chefe de equipa e no outro substituo o chefe na sua ausência. Tenho, por vezes, alguma dificuldade não em lidar com a autoridade, mas antes a aplicar a autoridade que me é atribuída pelas circunstâncias do serviço. Se no caso do chefe de equipa a autoridade está relacionada com a parte clínica do trabalho e com decisões meramente técnicas, pelo que é fácil explicar aos elementos a razão desta ou daquela decisão, devidamente fundamentados, o mesmo não se aplica quando se é chefe do serviço e as decisões são mais do foro da organização, da burocracia e da gestão própria de qualquer entidade.
No último ano tive de assumir o cargo de enfermeiro-chefe do serviço durante 4 meses. Garanto-vos que foram os 4 meses mais penosos da minha vida profissional! Como disse, o meu problema não é lidar com a autoridade mas sim aplicá-la. Hoje sei que não há nada mais complexo do que gerir recursos humanos e que, por muito que tentemos, é impossível agradar a todos! E, pior, que há pessoas que têm como jogo preferido "vamos lá irritar o chefe"!! Qual a melhor maneira de dirigir uma equipa?
Um colega que tem as mesmas responsabilidades que eu tem uma postura austera, distante, directiva, afirmativa, não pede: manda, pensa sempre no serviço primeiro e no indivíduo depois, a primeira resposta é "não", não dá grande margem de manobra e fica sempre com a última palavra. Eu, por outro lado, tenho uma posição mais democrática, tento decidir em conjunto com a equipa e tento consultá-la sempre que possível, sou mais atento aos problemas pessoais de cada um, tento ser o mais equitativo possível na distribuições das funções e das folgas, tento ter uma mente aberta e ser flexível.
Contudo sinto que esse meu colega tem um muito maior controlo da equipa em situação de conflito. Segundo ele o meu problema é que dou "demasiada confiança", que um chefe deve ser distante da equipa para esta não se "alargar" e que devemos sempre desconfiar das razões que nos são apresentadas, que o serviço está acima dos problemas pessoais e que, em último caso, a explicação para determinada decisão é "porque eu é que mando"!
Pergunto: será melhor ser o bom Dr. Jeckyll ou o malvado Mr. Hyde? Qual deles obterá melhores resultados?
É que não me pagam para me andar a maçar com os meus colegas...

9 comentários:

Ana C. disse...

A arte de mandar/governar não é de todo fácil de dominar. Manter a distância sem no entanto perder a acessibilidade é muito complicado.
Penso que há que manter a distância, mas sem perder a sensibilidade e ir repescá-la quando ela for mais necessária que a razão. E aposto que ficaste na mesma.
Po algum motivo as ditaduras são mais fáceis para os governantes, há repressão e vive tudo aterrorizado e obediente... Mas ninguém gosta das ditaduras :)

Miguel disse...

Mas será que uma ditadurazinha "das 8 às 4H" não será eficaz? Assim anda tudo na linha!! Constestam apenas na sombra mas o trabalho aparece feito!! É feito por medo, mas feito!!

Ana C. disse...

Cá para nós que ninguém nos lê. Há pessoas que gostam de ser mandadas com braço de ferro sim. Não sabem responder a outro tipo de chefia e abusam...
Heil Hitler!!!!

Miguel disse...

Eu tenho a perfeita noção disso Ana!! O problema é que eu passo-me dos carretos, salta-me a tampa e depois... perco a razão!!

rosemary disse...

Tem de haver meio termo. Mas isso necessita de um equilíbrio muittoooo difícil de se conseguir! E depois também acho que é preciso um talento especial para isso. Há pessoas que são lideres natos, conseguem criar empatia com todos de forma a que olhem para eles com admiração. Outras não têm esse talento (como eu...).

Acho que a confiança faz muito aqui neste caso. Tens de transmitir confiança e segurança em todas as situações. Isso faz muita diferença.

Bjs*

Banita disse...

É muito, muito complicado, mandar e não ser visto como o "chefe mandão" ou o "armado em chefe"... Miguel: Estou contigo e não abro. É difícil escolher qual funciona melhor para ti, né? Já experimentaste ser o chefe porreiro, experimenta aos pouco ser menos compreensivo e borrifar-te mais nos interesses pessoais de cada um focando-te mais no "a bem do serviço" e começa a usar essas frases de "inevitabilidade da garantia de funcionamento do serviço", blá, blá, blá, enrolando a malta até eles não entenderem como é que lhes deste a volta! :)
Não é fácil, mas podes sempre tentar...

Miguel disse...

Boa Banita!! A velha técnica de "vencê-los pela exaustão", neste caso retórica!!
E deste-me uma ideia para um texto...

JBrito disse...

Como profissão que tenho, não é fácil gerir, sou sempre visto pelo o *FP* sim aquele nome mais grave que inclui a “minha” mãe.
Preocupa-me?
Não.
Porquê, porque não, não quero saber o que as PESSOAS pensam de mim (porque até nem gosto delas), faço o meu trabalho e zip, zap!?
Se fizeres o teu trabalho para qual estás destinado, não me vês e nem falo contigo.
Não quero agradar a gregos, nem vou agradar ao troianos, que se lixem os dois sozinhos.
Caso complicados; “inevitabilidade da garantia de funcionamento do serviço” PAM!!! Arrumados!
Banita tu estás lá!

Anónimo disse...

boas
entrei assim de repente e achei este post de uma sensibilidade extrema, pois só uma pessoa sensivel se preocupa com o seu pessoal, tentando chegar a eles de acordo com as necessidades de todos. Concordo no entanto, com alguns comentários que para alguns é necessário mão de ferro, certamente saberá distinguir aqueles colegas que passam o tempo de serviço encostados à máquina de café (mão de ferro) e aqueles que, como o Miguel, dão mais que muitas das vezes deveriam dar.
Por tudo o que tenho lido no seu blog vejo que o miguel é uma pessoa de bom senso e certamente que andará a fazer o correcto.
Mil beijos Mil sorrisos
Luzia